A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Da República à Monarquia – Cambodja um case study

Na foto: Sua Majestade, o Rei Norodom Sihamoni.

O amigo leitor terá porventura a ideia que o derrube das monarquias e a implementação subsequente das repúblicas é uma consequência irreversível do progresso das sociedades. Se não tem esta ideia conhecerá alguém que tenha e mesmo que não conheça, diga lá que sim para este post correr bem.
Recentemente, tão recentemente como em 1993, data na qual o longínquo Cambodja aboliu a República e restaurou a Monarquia, provou-se a inexactidão da afirmação inicial.
Ora vejamos,
Em 1975 inicia-se o regime do Sr. Pol Pot, um político original que tentou construir uma sociedade socialista, iniciando uma colectivização agrária, tentativa na qual se lembrou de matar 2 milhões de pessoas em 4 anos, o equivalente a cerca de 25% da população do seu país.
Este regime tende a acabar em 1978, tende pois nessa data inicia-se a guerra civil que dura precisamente até à década de 90, juntando mais umas mortes àquele número. De referir a ocupação vietnamita pelo meio… Não bastou a guerra civil, tivemos também uma ocupação estrangeira entre satélites de potências distintas. Quase um URSS vs. China versão juniores.
O país só conhece alguma estabilidade com a criação do UNTAC - United Nations Transitional Authority in Cambodia, a força de manutenção de paz responsável pela organização, em 1993, das primeiras eleições livres. Nestas eleições, em que a participação rondou os 90%, o povo cambojano decidiu pela monarquia…
Talvez isto tenha ocorrido por o regime monárquico permitir uma maior estabilidade no cargo que funciona como garante dos poderes do Estado, bem como permitir um sentimento de nação mais vivido, dado esta ser personificada na figura do Rei, símbolo e exemplo para o país.
É certo que o país ainda não estará entre os mais estáveis, nem eu julgo que há monarquias eternas, mas espero que, em face do exposto, possamos, ó leitor, chegar a esta conclusão:

a opção monarquia/república não se insere numa ideia de progresso da humanidade, sendo aquelas relíquias de um passado distante e estas o nosso futuro, mas antes num contexto histórico determinado, podendo haver mudanças em qualquer dos sentidos, dependendo da conjuntura política e o sentir do Povo.

Coube-me a mim a responsabilidade do último post deste ano que agora termina e, por tal, queria registar os meus votos de uma boa passagem de ano para todos os que nos lêem. Que a mudança de década permita fecundas reflexões acerca dos vossos objectivos!
Ide agora para o réveillon que de blog para hoje já chega!

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

C'est l'Ennui!

Caro leitor,
Por certo que não queremos defraudar as expectativas que, fecundas, brotaram nos vossos atentos e exigentes espíritos aquando da inauguração deste singelo, porém sério blog. Na verdade, eis-nos assim, serviçais e submissos, prostrados e curvados, aos desejos do leitor e importa, portanto, cumprir aquilo a que, impetuosamente, nos sugerimos. Desde logo, o nosso humilde juízo considerou por boa resolução que o início desta gloriosa ventura prestasse a merecida homenagem a este nosso País.
Ao contrário de certos colunistas investidos nessa fácil tarefa da vergastada furiosa e entusiástica contra tudo e todos, nós, altivamente, pretendemos fazê-lo com a elevação e o engenho que a Mãe Pátria merece e não com o desdém de nos sentirmos dela filhos bastardos.
A meteorologia não foi nossa leal amiga... De facto, a nossa pitoresca metáfora que tinhamos cuidadosamente preparado para demonstrar o nosso ponto de vista foi ignobilmente votada ao ostracismo por essa terrível ciência malévola que se dedica aos fenómenos da atmosfera... Mas o leitor merece a nossa persistência! E nós somos também merecedores da sua piedosa condescendência... E persistiremos na afirmação da nossa radiante metáfora. Na realidade, O Opinador de Veludo toma Portugal como um belo recanto mimoso que se deixa, suavemente, banhar aos doirados encantos afáveis do sol sobre a graça de um cadeirão macio, de cabeça tombada sobre o ombro, vertendo viscosos fios de baba por entre as extremidades de uma boca sonolenta, roncando, sonoramente, em corpo inerte. Baudelaire apelidava essa magnífica coisa de Ennui, o estupidificante tédio. O Opinador de Veludo, regiamente, despreza os percevejos e eis-nos lançados nesta bravata e aventura contra as varejeiras que corrompem a mamadeira nacional, que também, por vezes, toma o nome de Estado. O leitor não queira deturpar as nossas palavras. Apelidamo-nos, modestamente, de socialistas. Embora não nos termos em que o nosso amigo Lord tão vilmente descreve o cavalheiro Chávez.
"Nada há no homem mais delicado, mais melindroso do que as ilusões", disse-nos Antero de Quental. Com isto pretendemos dizer que importa ver mais além. Importa sair de uma boçalidade melancólica. Pode o leitor apelidar-nos de romântico utópico. Pois nós aceitaremos o epíteto e faremos a devida vénia a quem, gentilmente, nos apelidou de tal. Ao dispensarmos um olhar invejoso para o nosso amigo Brasil não evitamos um sentimento de simpática cobiça. Na posse do seu destino, o vemos florescer rumo à ordem e progresso, liderada por um homem de Garanhuns que cresceu pela força das suas ideias. E depois, dispensando um olhar frouxo sobre o nosso País não evitamos um sentimento de mole abatimento. Na posse do nosso destino, o vemos murchar liderado por um homem de Boliqueime, mais velho pelas suas ideias do que pela sua idade...
A nossa breve idade concorda, enfaticamente, com o Mestre. E ela mesmo nos ensina a arte da rebeldia contra a obediência. E assim nos pretendemos conservar. Tal como o leitor.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Y ahora, señor Chávez?


Foto: Protestos em Teerão (theranlive.org)



A escalada de violência a que se assiste na República Islâmica do Irão é reflexo da evidente “asfixia democrática” que se vive para os lados da Pérsia, apesar de haver ilustres Chefes de Estado que consideram o regime iraniano um exemplo… Caso o amigo leitor não se lembre das baboseiras de um senhor venezuelano, queira fazer o favor de clicar aqui.

Já foram abatidas 8 pessoas e, segundo a edição digital do The Times (28/12/2009), também o sobrinho de Mousavi – que nas primeiras reacções oficiais nem sequer tinha sido morto, mas agora parece que sim, tendo o seu corpo sido confiscado… Coisa estranha mesmo num país em vias de desenvolvimento. E já que estavam numa de medidas cautelares de polícia, aproveitaram e detiveram os líderes da oposição…

De ouro, amigo leitor, é o silêncio que nos chega da Venezuela. Em Novembro, o Sr. Chávez caracterizou o Sr. Ahmadinejad como sendo um “gladiador das lutas anti-imperialistas, exemplo de firmeza, de constância, de batalha pela liberdade de seu povo, pela grandeza da pátria persa, da pátria iraniana”… Mas não acredite em mim, clique aqui e leia… Eu não consigo caracterizar melhor o presidente iraniano… Mas talvez lhe desse o epíteto de Mr. Danger.
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Como democrata só posso esperar que isto seja o fim da tentativa de instauração de uma ditadura militar no Irão e a primeira grande machadada no poder dos ayatollah. Não sei se o Sr. Chávez pensa assim, mas de qualquer das formas,

Os meus parabéns ao Sr. Chávez!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Ao Leitor

O fim do ano aproxima-se a uma cadência galopante... Ora, é do senso comum que esta visão sombria do termo de algo, mais que não seja de um simples final de ano, acarreta um sentimento nostálgico e saudoso que dissipa essas mesmas brumas. Assim, nós mesmos nos deixamos subverter, indulgentes e pesarosos, por este estado de alma romântico dessa coisa vaga, comummente chamada de retrospectiva. E à semelhança de Jano, recordando o passado e vislumbrando o futuro, eis-nos, abandonando a nossa idade de mancebos, dispostos a reclamar, firmemente, o nosso estado de emancipação, com a fincada ideia, porém inútil, de contribuir para a construção da ideia portuguesa através desta soberba obra, O Opinador de Veludo, de proporções enfastiantes, embora sumptuosas.
Sem mais delongas, é nosso propósito arremeter com especial voracidade contra tudo o que o nosso espírito, dotado do nosso criativo livre arbítrio, julgar digno de tal empresa. É nossa opinião que os tempos são favoráveis a tais ventos e a fina ironia também reclama da oportunidade que se lhe concede. Para tal, deixemos o espaço às nossas palavras, ásperas e severas, para que elas sibilem e ecoam ferozmente pelas várzeas deste nosso pitoresco Portugal e, embora plasmadas surdamente, que soltem gritos medonhos da mordaça da linha. Para que a palavra escrita sirva de incentivo à acção feita.