A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Arrumações


Estava frio e chovia copiosamente. Qualquer ideia de uma retirada para o exterior estava fora de questão, por isso teria mesmo de se distrair por ali.
As caixas tão lustrosas e escrupulosamente arrumadas naquele canto empoeirado chamaram-lhe a atenção. Como seria possível estarem tão limpas e brilhantes sendo aquele o canto onde mais pó caía? Tacteando na penumbra tentou alcançá-las, mas a fraca luz fê-lo tropeçar numa qualquer bugiganga perdida pelo chão e a queda sobre as caixas como um peso morto foi inevitável. Levantando uma enorme nuvem de ácaros e provocando o maior alarido por todo o espaço percebeu finalmente que as tinha alcançado e iria perceber o que guardavam para estarem tão virgens.
Curioso remexeu sem saber bem no que tocava e mal percebia o que afinal eram aquelas matérias. A fraca luz não lhe facilitava a tarefa e, durante o tempo que distraído se deixava levar pela bisbilhotice, esquecera-se que o mais certo seria que o estrondo da queda a tivesse acordado. O som dos passos em direcção ao sótão, no entanto, não o impediu de continuar a agitar o conteúdo das caixas no ar, espalhando tudo por todo o lado e criando um caos irreversível.  
Quando finalmente ela ali chegou e se apercebeu da desarrumação que aquela intempestiva curiosidade tinha provocado viu as cores garridas da insuficiência dos seus esforços por manter tudo no lugar. Gritou e protestou porque ele já sabia que ela gostava de ter tudo organizado e, mexerem-lhe indevidamente nas coisas era uma das ofensas que levava mais a peito. Ralhou-lhe e chegou ao ponto de lhe lembrar que aquele excessivo controlo pela ordem das coisas fazia parte da influência do signo sob o qual nascera, portanto nem sequer se punha a hipótese de ser de outra maneira.
Tanto alarido baralhou-o e já não percebia mais se tinha realmente abusado desnecessariamente da confiança ou aquela reacção se prendia no facto de lhe poder descobrir algo que estaria escondido naquelas caixas. Mas também não quis saber. Se estavam arrumadas naquele buraco poeirento é porque as caixas já não guardavam nada de importante.

  

sábado, 29 de outubro de 2011

Da Cimeira Europeia de 26 de Outubro

A aclamada Cimeira Europia desta semana terminou tal como havia começado – com muito ruído de fundo, mas sem efeitos práticos. A cada Cimeira salientam-se os avanços históricos que são firmados pelos Estados-Membros no caminho da progressiva integração. Avanços históricos certamente, mas avanços históricos curtos tendo em conta a exigência do momento da história com que a Europa se depara e ao qual os líderes europeus não têm sabido ou simplesmente não sabem erguer-se.
No dia seguinte ao acordo celebrado na Cimeira Europeia de 26 de Outubro aconteceu exactamente o mesmo que vem acontecendo no dia seguinte de cada Cimeira: as bolsas sobem, as taxas de juro das obrigações soberanas descem. E é tudo o que consegue a acção estreita dos líderes europeus – obter efeitos positivos que se cingem ao dia seguinte da Cimeira. A prova de que a Europa está ainda longe de resolver a crise está no que aconteceu esta sexta-feira: a Itália recorreu aos mercados para se financiar e financiou-se a uma taxa de juro nunca antes vista e, pela primeira vez, entrou na barreira dos 6%. E se a Itália prosseguir neste caminho, e se eventualmente recorre à ajuda externa, a crise europeia será de contornos bem mais graves.


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Com esta Cimeira decidiu-se apenas o imprescindível para que a Europa sobreviva mais umas semanas: decidiu-se a reestruturação da divida grega com um perdão voluntário de 50% dos bancos membros do Instituto das Finanças Internacionais. Um acordo não vinculativo, diga-se, pois o Instituto terá ainda de negociar a participação dos seus bancos membros que não estão obrigados pelo acordo. E ainda assim, a divida pública grega será de 120% do PIB. 120% do PIB de divida pública é a percentagem da Itália – e, caro leitor, deixe-me que lhe diga, a Itália também não anda lá muito bem com esses 120% e não tem a dimensão dos problemas da Grécia. Se a tudo isto adicionarmos os fracassos dos sucessivos pacotes de austeridade que vão sendo teimosamente despejados sobre a Grécia sem coerência, sem lógica, sem razoabilidade, logo nos apercebemos o quanto esta Cimeira resolveu os problemas da Europa.


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Em consequência da reestruturação da divida grega e do haircut voluntário, os bancos europeus terão de ser recapitalizados. 100 mil milhões de euros avança a Europa para a recapitalização dos bancos. Mas note-se a ironia desta situação: há vários países na Europa que com dificuldade crescente se financiam nos mercados. E esses mesmos Estados vão agora recapitalizar os bancos que não lhes concedem financiamento precisamente porque têm sérias dúvidas acerca do seu pagamento certo.


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E por fim, decidiu ainda a Ilustre Cimeira o reforço do FEEF para um bilião de euros. Parece muito dinheiro? Não é. A Itália está sob pressão crescente dos mercados e em risco de recorrer a ajuda externa. Um bilião de euros não chegará para cobrir o resgate da Itália que é a terceira maior economia da zona euro. Portanto, apesar de recentemente aprovado, o aumento do FEEF poderá em breve estar desactualizado.

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Ou seja, em breve poderemos esperar nova Cimeira Europeia, anunciando mais uma vez a salvação da Europa. O problema é que a cada Cimeira, a margem de manobra dos líderes europeus estreita-se e com ela as hipóteses de sobrevivência da Zona Euro. E das duas uma: ou consegue-se a sobrevivência da Zona Euro, mas a um preço cada vez mais elevado ou chegará o dia que, mesmo querendo, os líderes europeus não serão mais capazes de resgatar a Europa da voracidade dos mercados.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

6ª feira Fashion

Hoje é sexta-feira. Neste fim-de-semana comemora-se um pouco por toda a parte, porque isto o que custa é pegar, depois toda a gente gosta, o Halloween, vulgo dia das bruxas. Mas como nós, aqui no Opinador, somos pessoas muito mais tradicionalistas e não vamos na onda das tradições alheias, em vez de hoje pegarmos previsivelmente nessa temática decidimos focar-nos num outro assunto que, por força da passada semana da moda de Paris e dos desfiles realizados em Lisboa e no Porto nesse evento cheio de glamour e pessoas bonitas, o Portugal Fashion nos pareceu bem mais interessante, a moda.
Ora, para mim e para a cara Marquesa é um tema que muito apraz, já quanto aos cavalheiros...não sei, é melhor ver.


Leticia, a Marquesa



Um conselho, minhas beldades, se alguém cair, ao menos que caia com estilo!


Lord Nelson

Nestas alturas de aperto económico é fundamental ter cuidado em todas as compras que se fazem, roupas incluídas. Assim, e para evitar que o Ilustre leitor gaste dinheiro em trapos que lhe fiquem mal, deixamos aqui os conselhos da nossa personal stylist.





M. Pompadour


A moda corrompe a inocência da idade mais bonita de todos nós... E torna crianças alvos apetecíveis de um qualquer objecto que, projectado, faça estragos.





Carlos Jorge Mendes


Porque há assuntos com os quais não devemos brincar, duas palavras apenas: Victoria's Secret. PS: Aconselhada descrição na visualização das imagens.


quinta-feira, 27 de outubro de 2011

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Requiem Líbio




Estes tempos que vivemos são bastante tristes para os entusiastas do campismo e caravanismo, já que um dos seus maiores aficionados, foi assassinado. Falamos, como é óbvio do sócio do parque de campismo do Forte de São Julião da Barra, o Coronel Khadafi, a mais recente vítima da primavera árabe.

Antes de mais convem referir que o termo primevera árabe é basfante infeliz: primeiro porque também abrange países que não são árabes, antes berberes, como a Tunísia; mas também porque transmite a ideia de um movimento homogêneo que está a varrer aquela parte do globo - o que não está correcto.

Os factores que têm desencadeado as contestações são maioritariamente endógenos. Se a carestia de vida pode ser um ponto comum (mas próprio visto que as economias não estão inseridas num mercado comum como o europeu) o desenvolvimento dos movimentos depende muito do Chefe de Estado: na Tunísia, Ben Ali, vendo a sua situação política muito comprometida, preferiu optar por um exílio dourado; no Egipto, Mubarak, muito por causa da sua idade, não conseguiu ter mão no exército, o que ditou a fortuna dos manifestantes; em Marrocos, um Rei astuto chutou para canto, acalmando as contestações com promessas de revisão constitucional. Já na Líbia, como todos sabemos, o Coronel optou pelo confronto.

Tê-lo-á feito talvez porque era o ditador menos frágil do Magrebe; convém lembrar que a Guerra só foi ganha por Benghazi com o auxílio da NATO que, talvez precipitadamente, tomou o lado rebelde. Mas, esse lado não constitui, por si, um sinónimo de democracia - dois indícios recentes assim o apontam: por um lado, o antigo ditador deveria ter sido capturado vivo e entregue às instâncias internacionais (o Tribunal Penal Internacional tinha um mandado de captura emitido). Mesmo admitindo que existem dificuldades em controlar multidões armadas e que, por tal, a morte de Khadafi foi inevitável, a confusão que se segiu lança muitas dúvidas sobre o Governo de Benghazi: entre recusas de autópsia e contra-informações, houve de tudo.

Porém, o que mais revela para estas nossas dúvidas foi o recente anúncio da base jurídica para a próxima Constituição: a sharia.Ora uma democracia, o regime que maior estabilidade poderia dar à região, dificilmente se consegue alicercar num ordenamento jurídico não laico. E uma Líbia estável é de todo o interesse para a Europa, visto que a maioria do petróleo e gás natural aqui usados, provém do Magrebe.

A pressa em remover Khadafi pode vir a revelar-se muito nociva para os interesses Ocidentais. Tudo isto sem contar com a tarefa hercúlea que espera o novo Governo: desarmar uma população pouco instruida, que não viveu em democracia e que está organizada tribalmente - e daí a nossa relutância em ver a morte de Khadafi como o fim da Guerra Civil Líbia.

De qualquer das maneiras, esperamos que naquelas paragens uma nova (e melhor) era se inicie.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Toca a animar!!


Todos os santos meses vem a lume uma notícia baseada num qualquer estudo sociológico sobre a (in)felicidade do povo português. Já se perdeu a conta a quantas vezes se disse em pleno horário noticioso que somos todos uma cambada de pessimistas e que, em comparação com outro povos europeus, não somos tão felizes. Pudera…!
Mas enfim, contrariando essa aparente inevitável tendência, até o IKEA já publicita que a felicidade vem de dentro (no caso deles, de dentro de casa, especialmente quando mobilada com tralha da loja) deixando pendente a ideia que acabamos por ser infelizes, não porque não tenhamos outra opção, mas porque não sabemos procurar a verdadeira felicidade.
Quem trabalha não gosta do que faz ou simplesmente sente que o interesse de outrora se perdeu e quem não trabalha deprime e desespera porque os longos meses sem objectivos concretos deitam abaixo o mais optimista dos seres humanos. Uns acreditam que têm motivos mais que suficientes para viver uma vida cinzenta e doentia, outros acreditam que a felicidade se retira das pequenas coisas que compõem o dia e há ainda os que maldizem a felicidade dos outros porque simplesmente ainda não descobriram como se faz para se sentirem igual.
Recentemente li um livro sobre motivação humana. O livro chama-se Drive e considerem sugerido. Nele está provado que, em parte, o interesse e o gosto que inicialmente se tem pela prática de uma actividade profissional se perdem no tempo devido a falhas de gestão e que olhamos para aquilo que move o Homem de uma forma errada, sendo por isso que progressivamente nos vamos tornando em profissionais desanimados e desinteressados pelo que fazemos diariamente.
Para quem se move nas artes a motivação pode ser constante, desde que preservado o espaço adequado para se criar sem entraves, sem pressões, deixando-se apenas que o “dom” flua e surjam as obras mais ou menos primas. E para os outros? Para os que o trabalho não tem tanto que ver com a optimização do funcionamento do lado direito do cérebro e se vêem presos a rotinas enfadonhas e desnecessárias de criatividade? O livro dá algumas ideias, mas eu já pensei em alternativas igualmente viáveis.
Portugal está repleto de propulsores de alegria para quando chega aquela hora do dia em que olhamos de cima para nós mesmos e nos vemos desanimados e tristes. É ela que chega quando a festa está a cair na monotonia pronta a levantar a moral de todos e levar os pés de chumbo a provar a leveza do ser e que, certamente não deixará mal um escritório onde entoam os mais harmoniosos suspiros e bocejos. Como é segunda-feira, dia escolhido por tantos para se praguejar a infelicidade de mais uma semana de trabalho, deixo uma outra sugestão para despertar existências.


domingo, 23 de outubro de 2011

Quanto mais velha...

Pois foi ontem. 24 aninhos. Digo à minha avó que já conta com o triplo da minha idade que estou a ficar velha e ela, com aquele sábio e maravilhoso sorriso, pergunta-me: "Estás a brincar comigo, rapariga, não estás?".

Tenho a certeza que alguém anda a adiantar o relógio, mas como não vislumbro quem seja, não posso andar a imputar responsabilidades a ninguém nem sequer a equacionar indemnizações por danos extrancontratuais. Desde que atingi a maioridade, os dias parecem horas e as semanas sucedem-se a uma velocidade de anos-luz ou parsecs que não consigo conceber. Então já nem sequer falo do tempo que passa (ainda) mais depressa desde que comecei a trabalhar. Enfim...

Tenho este medo (in) explicável de não viver cada minuto da minha vida de forma a aproveitar o melhor possível cada instante que passa. Ontem, em conversa com uma amiga do coração, ela dizia-me: "Sabes, também tenho esse medo, mas sabes o que comecei a fazer? Deixei de pensar nesse medo e passei pura e simplesmente a viver".

Talvez seja mesmo assim, querida C. Entre escritório-casa, casa-escritório, família-ele-amigos, ele-amigos-família, passou-se mais um ano. Um ano de muitas mudanças, um ano em que deixei de fazer rascunhos a lápis para passar a escrever com caneta, como gente grande.

Hoje, que já recomeço a contagem para os 25, foi um daqueles dias memoráveis, um prolongamento do de ontem, com direito a paisagens maravilhosas e a momentos inesquecíveis com quem trago no coração, no corpo e na alma. Porque, como dizia a minha querida C., o que importa mesmo é viver! E eu apenas acrescento, "viver encantadamente".

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Défices e Dívidas Públicas

Não se fala de outra coisa - esta semana foi entregue na Assembleia da República a proposta de Orçamento para 2012, o Orçamento mais austero da história da democracia portuguesa, com avultados cortes nos rendimentos dos portugueses, aumentos de impostos, cortes nos rendimentos dos portugueses, aumentos de impostos, aumentos de impostos e...já dissemos cortes nos rendimentos dos portugueses?Pois...Não existem muitas razões para sorrir...Ainda assim, e para o tema de hoje, e numa perspectiva diferente, propomos ao leitor analisar a conjuntura económica a partir duma perspectiva mais suave para animar o espírito dos portugueses, sendo que o tema é precisamente o défice e o endividamento.

De Letícia, a Marquesa

Descobri a solução para esta dívida que não pára de aumentar! Serei eu a próxima contemplada com o Prémio Nobel da Economia? É que a solução está mesmo à frente dos nossos olhos e nós é que não a vemos, já vistes?



De Lord Nelson



De Madame Pompadour

Ora, já nem se esperam 3%, mas ainda assim, será que no fim podemos dizer que "Valeu a pena!"?




De Carlos Jorge Mendes

Com as devidas honras para o Sr. Luís Afonso...



quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Outras explicações que justificam a situação de Portugal

Explicações simples para justificar a situação de Portugal

Todos o conhecemos - o Sr. Carvalho da Silva é um intrépido e feroz defensor dos direitos dos trabalhadores. O Sr. Carvalho da Silva tem sido uma das vozes mais firmes da oposição da política que vem sendo seguida nas últimos anos pelos governantes portugueses (essa sacana da política de direita...). Ao mesmo tempo, simultaneamente, o Sr. Carvalho da Silva tem-se alimentado das políticas que critica. O leitor tome atenção ao termo que deliberadamente usámos - alimentado. De facto, o Sr. Carvalho da Silva, tem sugado os recursos públicos. Noticia a imprensa de hoje que ao mesmo tempo que o Sr. Carvalho da Silva critica a política do Governo e as opulências orçamentais, ele mesmo beneficia dela, mamando 600€ por semana do erário público, cada vez que Sua Excelência se digna a prestar comentários na estação televisiva pública. É por esta contradição insanável entre aquilo que se diz e aquilo que se faz, que as posições públicas perdem toda a credibilidade e toda a sua solidez. O Sr. Carvalho da Silva é escandalosamente pago com avenças de 600€ por semana em função dos comentários prestados. E ao mesmo tempo que suga esse dinheiro que é transferido para a televisão pública através do Orçamento do Estado e, portanto, através do dinheiro dos contribuintes, Sua Excelência vem chamar a atenção para os problemas dos trabalhadores.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Como em Portugal se importa toda a espécie de coisas

Já dizia o Sr. Eça de Queirós – em Portugal, importa-se tudo: filosofias, ideias, sistemas, teorias ou mulheres. Sua Excelência, o Sr. Ministro da Economia, o Sr. Álvaro Santos Pereira, honra essa velha e secular tradição portuguesa. Se desconhecemos a situação conjugal de sua excelência e, portanto, se o Sr. importou a sua mulher, sabemos porém, que V. Ex.ª decidiu importar uma velha ideia do Sr. Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI – fazer de Portugal o destino de sonho dos reformados. Ouvindo os rumores de uma ideia vinda do outro lado do Atlântico chegando à ocidental praia lusitana, o Sr. Álvaro Santos Pereira assumiu uma postura parental e embalou essa ideia no seu colo e enterneceu-se com ela.
A partir de então, nunca mais V. Ex.ª largou aquela ideia e cismou em fazer de Portugal um destino preferencial para os reformados esbanjarem as suas reformas. A mim sempre me ensinaram: devemos reverenciar e louvar as ideias pelo seu mérito e pelo seu valor, nunca directamente as pessoas que as emitem ou que as produzem. E da ideia do Sr. Blanchard que V. Ex.ª tão reverentemente, tão submissamente adoptou, temos a tecer as seguintes considerações.

Como fonte geradora de riqueza conhecemos um instrumento – o trabalho. É através do trabalho que se aumente e se desenvolve a prosperidade, a produtividade, a competitividade e com elas a civilização e o progresso. V. Ex.ª pelo contrário, desafia esta nossa ideia. Ao pretender fazer de Portugal um destino para reformados, V. Ex.ª está a dizer-nos uma coisa que nós consideramos insultuosa – que a fonte geradora de riqueza da economia portuguesa é a ociosidade. Sim, excelência – a ociosidade. Porque julga V. Ex.ª que os reformados vêm para cá fazer o quê? Trabalhar? Não seja ingénuo e pueril, excelência. Os reformados vêm para cá descansar de uma vida árdua e cheia de trabalhos. O que eles menos desejam é aquilo que fizeram toda a vida – trabalhar. O reformado não vem, pois, produzir – vem descansar.
Ora, nós pessoalmente, temos algumas objecções a colocar a quem pretende fazer do descanso a fonte geradora de riqueza. A nós, excelência, porventura erroneamente, sempre nos ensinaram que é a indústria, o comércio, a cultura que geram riqueza. O instrumento pelo qual se exercem todas essas actividades é o trabalho, não o descanso, excelência. Isto foi o que nos transmitiram, excelência. Lamentavelmente, excelência, fomos educados cá em Portugal e foi isto que nos ensinaram. Por isso, é possível que estejamos enganados. Por algum acaso do destino, é possível que em Toronto, onde V. Ex.ª residia, se produza riqueza a partir do nada.

Enquanto V. Ex.ª range a sua cabeça a tentar fazer de Portugal um destino para reformados e um harém de ócios, mensalmente saem deste País milhares de jovens que vão dar o seu trabalho a outros países (idiotas, obviamente) que fazem do trabalho o motor da sua economia. Esses jovens saem porque V. Ex.ª está demasiado ocupado e compenetrado a espanar o País para receber condignamente os reformados, nada fazendo pela sua economia – não cria trabalhos, não diminui as falências, não aumenta a sua competitividade e não lhe institui o progresso.
Mas mais Excelência: para lhe mostrar que nós até gostamos dos estrangeiros, nós dizemos-lhe: venham de lá esses estrangeiros, mas os estrangeiros com o capital com o qual se medram as indústrias, o comércio e a cultura. Mas nem esses V. Ex.ª os deseja porque V. Ex.ª nada faz para tornar Portugal um destino competitivo atractivo para esses capitalistas – porque V. Ex.ª está com o crânio ocupado em fazer de Portugal um destino para reformados.
E não, excelência: não venha com essas balelas de privatizações e da abertura da economia portuguesa ao estrangeiro. Porque há privatizações e privatizações: há sectores da economia onde o Estado pode perfeitamente deixar de estar presente sem que daí resulte prejuízo para o bem público, outras em que V. Ex.ª sob o pretexto de despedaçar uma economia estatizada, vende o capital das nossas empresas públicas por tuta e meia e a outras empresas…públicas.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

21 Economic Models explained with cows...




Nos últimos dias, muito se tem bradado contra a nossa economia "capitalista", vociferando coisas como democracia directa (na esteira, talvez, de algum modelo albanês) e novos modelos económicos.

Antes de mais, diga-se que esses cidadãos indignados, que têm todo o direito a exprimir a sua opinião, tanto como eu, felizmente constituem uma franja marginal da população, como bem se viu nas últimas legislativas: PS+PSD+CDS (ou os alinhados com o "grande capital") receberam cerca de 80% dos votos. As medidas de austeridade geraram um grande consenso na sociedade portuguesa e, tendo sido sufragadas em eleições livres e democráticas há que, portanto, respeitar (mas, se vos faz feliz, berrem à vontade!). No entanto, eles continuam a clamar contra o capitalismo!

Mas se é para mudar de modelo económico, vamos lá então!

Ora, dizer capitalismo é o mesmo que dizer mercado - trata-se do sistema económico onde se procede à distribuição dos recursos existentes, de forma espontânea, pela interacção das pessoas em concorrência e liberdade; em alternativa a este modelo temos o socialismo, onde, entre muitas outras coisas, algumas bem desagradáveis, substitui-se a liberdade individual pela imposição do Estado. No meio disto, há todo um conjunto imenso de opções... E se o leitor se sente perdido, com esse infindável catálogo para modelos económicos, o Opinador ajuda:

SOCIALISM You have 2 cows.
You give one to your neighbour.


COMMUNISM You have 2 cows. The State takes both and gives you some milk.

FASCISM
You have 2 cows. The State takes both and sells you some milk.

NAZISM
You have 2 cows. The State takes both and shoots you.

BUREAUCRATISM You have 2 cows. The State takes both, shoots one, milks the other, and then throws the milka way…

TRADITIONAL CAPITALISM
You have 2 cows. You sell one and buy a bull. Your herd multiplies, and the economy grows. You sell them and retire on the income.

SURREALISM
You have 2 giraffes. The government requires you to take harmonica lessons

AN AMERICAN CORPORATION
You have 2 cows. You sell one, and force the other to produce the milk of four cows. Later, you hire a consultant to analyse why the cow has dropped dead.

ENRON VENTURE CAPITALISM
You have 2 cows. You sell three of them to your publicly listed company, using letters of credit opened by your brother-in-law at the bank, then execute a debt/equity swap with an associated general offer so that you get all four cows back, with a tax exemption for five cows. The milk rights of the six cows are transferred via an intermediary to a Cayman Island Company secretly owned by the majority shareholder who sells the rights to all seven cows back to your listed company. The annual report says the company owns eight cows, with an option on one more. You sell one cow to buy a new president of the United States , leaving you with nine cows. No balance sheet provided with the release. The public then buys your bull.

A FRENCH CORPORATION
You have 2 cows. You go on strike, organise a riot, and block the roads, because you want 3 cows.

A JAPANESE CORPORATION
You have 2 cows. You redesign them so they are one-tenth the size of an ordinary cow and produce twenty times the milk. You then create a clever cow cartoon image called ‘Cowkimon’ and market it worldwide. You retire as a Millionaire.

A GERMAN CORPORATION
You have 2 cows. You re-engineer them so they live for 100 years, eat once a month, and milk themselves.

AN ITALIAN CORPORATION
You have 2 cows, but you don’t know where they are. You decide to have lunch.

A RUSSIAN CORPORATION You have 2 cows. You count them and learn you have 5 cows. You count them again and learn you have 42 cows. You count them again and learn you have 2 cows. You stop counting cows and open another bottle of vodka.

A SWISS CORPORATION
You have 5000 cows. None of them belong to you. You charge the owners for storing them.

A CHINESE CORPORATION
You have 2 cows.. You have 300 people milking them. You claim that you have full employment, and high bovine productivity. You arrest the newsman who reported the real situation.

AN INDIAN CORPORATION
You have 2 cows. You worship them and continue eating curry rice.

A BRITISH CORPORATION
You have 2 cows. Both are mad.

AN IRAQI CORPORATION
Everyone thinks you have lots of cows. You tell them that you have none. No-one believes you, so they bomb the **** out of you and invade your country.. You still have no cows, but at least now you are part of Democracy….

AN AUSTRALIAN CORPORATION
You have 2 cows. Business seems pretty good. You close the office and go for a few beers to celebrate.

A NEW ZEALAND CORPORATION You have 2 cows. The one on the left looks very attractive.
Direitos de Autor - desconhecidos

E pronto, agora é só escolher o modelo que mais gosta, compre um lençol, escreva lá meia dúzia de palavras de ordem, vá para a praça da sua freguesia e dedique-se a aborrecer o seu semelhante!

Quanto a movimentos de indignados e outros que tais, recomendamos esta leitura. Convém é notar que, ao contrário do que ali se passa, aqui a ala direita deste painel opinativo, não se meteu em manif's, nem então, nem agora, estando pois, que nem virgem impoluta!

Para quem esperava comentários ao OE2012, calma... Ainda temos que analisar o documento! Entretanto, hoje joga o Benfica, vejam a bola e deixem lá o Governo!

domingo, 16 de outubro de 2011

O que os trabalhadores devem fazer quando o patrão é declarado insolvente

Nos dias que correm, muitas são as empresas, ou sendo juridicamente rigorosos, as pessoas singulares ou pessoas colectivas, que fecham portas por terem sido declaradas insolventes.

Assim sendo, o que deverão os trabalhadores fazer quando se deparam com esta situação?

Com a declaração de insolvência da sua entidade empregadora e com o encerramento definitivo da empresa onde trabalhavam, claro está que os contratos de trabalho cessam por caducidade (há uma impossibilidade superveniente, absoluta e definitiva do trabalhador prestar o seu trabalho). Esta cessação do contrato de trabalho vai ser antecedida de todos os formalismos que o despedimento colectivo envolve.

Mas o que é que acontece aos salários que muitas vezes já se encontravam em atraso há meses, bem como às indemnizações, terão de ser pagos?

Após haver uma declaração de insolvência (que é sempre publicitada no Diário da República, disponível gratuitamente em www.dre.pt), os trabalhadores têm normalmente um prazo de 30 dias para reclamarem os seus créditos. Sugiro sempre o devido recurso a um advogado para que as necessárias peças processuais sejam correcta e atempadamente entregues em juízo. De todo o modo, no processo insolvencial, o trabalhador deve procurar o administrador da insolvência (entidade nomeada pelo tribunal quando alguém é declarado insolvente para gerir todo o activo e passivo do ora insolvente) que não irá pagar os direitos aos trabalhadores (porque não o pode, nesta altura), mas reconhecerá (entregando um papel com os cálculos) aquilo a que o trabalhador terá direito a receber. Assim, o trabalhador, naquele prazo de 30 dias já poderá fazer uma reclamação ao processo do seu crédito reconhecido pelo administrador da insolvência.

O trabalhador pensa muitas vezes “de que vale eu estar com tanto trabalho se há mais credores, sobretudo Bancos e fornecedores? Do pouco que existe deve ir tudo para eles!”, mas não poderia estar mais errado. Os créditos que o trabalhador tem gozam dos chamados privilégios creditórios, o que, na prática, permite que da venda dos bens que eram propriedade da entidade empregadora insolvente (massa insolvente) saia, logo depois de pagas as custas processuais, dinheiro para pagar aos trabalhadores.

Além disso, mesmo quando não exista massa insolvente, ou seja, nos casos em que o insolvente já não tinha bens nenhuns ou em que não haja o suficiente para realizar o pagamento integral dos créditos, os trabalhadores podem reclamar o pagamento dos seus créditos ao Fundo de Garantia Salarial. Contudo, este fundo tem certos limites: a retribuição mensal não pode exceder o triplo do salário mínimo nacional e o máximo pago pelo Fundo são 6 meses de salário.

sábado, 15 de outubro de 2011

Povo brando de costumes

Àqueles que acusam o povo português de serem um brando povo de costumes por se manifestarem placidamente, não devem certamente medir o peso das suas palavras e dos seus desejos. O que se viu hoje na Itália, em Roma é um bom exemplo disso.










E para aqueles cuja memória seja mais curta, recordamos-lhes os acontecimentos na Grécia, cujo povo não se tem mostrado tão brando.






Acerca do Orçamento de Estado para 2012

As exigentes e severas medidas anunciadas pelo Primeiro-Ministro, o Sr. Passos Coelho, são difíceis, mas inevitáveis se as mesmas forem imprescindíveis para o cumprimento das metas orçamentais acordadas no programa de reajustamento financeiro. O cumprimento das metas orçamentais e o respeito pelos compromissos internacionais assumidos é a única coisa que medeia entre Portugal e a sua declaração de insolvência. E qualquer declaração de insolvência comportará sacrifícios bem mais gravosos do que aqueles que foram anunciados.
Portugal está a expiar a sua culpa pelos pecados e excessos de muitos anos. Como consequência directa desses pecados e desses excessos, perdeu a sua soberania e a usa independência que neste momento se resume a obedecer aos ditames que lhe são impostos pelos seus credores. A principal missão do Governo é manter o Estado solvente e para manter o Estado solvente, porque não o pode fazer pelos seus meios, o Governo necessita do auxílio dos outros. Esse auxílio, porém, não surge sem custos e o Governo tem de se conformar e resignar com os custos exigidos por uma Europa sanguinolenta que no seu piedoso espírito de solidariedade, apenas deseja que os pecadores sangrem, mesmo que a Europa como um todo sangre com eles. É por isso que se as medidas cuja publicidade se conheceu na quinta-feira forem imprescindíveis para cumprir com as metas orçamentais e permitir que Portugal mantenha a sua solvência, o seu financiamento e o seu lugar no Euro – pois seja.
Mas isto não impede que se faça o debate e o escrutínio público. Ao demonstrar a sua tenacidade e o seu respeito pelo cumprimento das obrigações internacionais, o Governo não fica privado de demonstrar a insensatez do que lhe é pedido em troca da ajuda externa. Queremos dizer: não basta que os Estados-Membros reduzam as taxas de juro dos empréstimos concedidos aos países em dificuldade, tal como alargar os seus prazos de pagamento – é preciso que se aumente o tempo de exequibilidade dos programas de ajustamento para que o esforço de consolidação orçamental aconteça como é imperioso, mas que não se torne de tal maneira violento que agrave o mal que pretende remediar.
Mas neste aspecto, Portugal não é isento de culpas. Não é porque teve um Governo incompetente que não soube controlar a execução orçamental em 2010 nas vésperas da ajuda externa, quando já se sentiam fortemente os efeitos da crise de dívida pública, e não o soube fazer também quando essa ajuda se concretizou, continuando a ter as mãos untadas em banha para controlar as contas públicas. E Portugal tem ainda culpa porque tem um Governo inepto que, não obstante o seu estreito tempo de legislatura, ainda nada fez para que País altere a sua estrutura produtiva e competitiva.
Portugal olha para Norte, para a Irlanda e só pode corar de vergonha. Porque a Irlanda também sofreu uma alteração governativa no seu processo de reajustamento: caiu o Governo do Sr. Cowen, ergueu-se o Governo do Sr. Kenny. Mas nessa transição governativa nunca o controlo das contas públicas foi descurado e desprezado, não houve buracos, derrapagens, descontrolos, incontinências, surpresas, truques, desvios – a Irlanda, discretamente, lá foi cumprindo com aquilo que lhe é pedido, tem passado ao lado dos destaques dos jornais, excepto para merecer louvores elogiosos, e já vai crescer 1,2% este ano.
Entre Portugal e Irlanda existe um tremendo potencial competitivo a separar-nos: a Irlanda está entre os três países mais produtivos da EU; Portugal não está nos três últimos lugares, mas quase – está em sexto. Até por isto se vai vendo que a governação do Sr. Passos Coelho vai sendo uma nulidade: por exemplo, a decisão de permitir trinta minutos adicionais de trabalho diário não remunerado. Diminui os custos unitários de trabalho? Diminui, sim senhor. Aumenta a produtividade ou a falta dela que é um problema crónico de Portugal? Não aumenta, não senhor; aumenta a produção, mas não a produtividade que continua a ser um problema por solucionar. De resto, a única medida de estímulo à economia prevista no memorando de entendimento acaba agora de ser ostracizada.
Concluindo, o Governo tomou medidas importantes para o cumprimento das metas orçamentais que são o único modo de assegurarmos a nossa solvência e o nosso financiamento. Mas a acção do Governo não se pode limitar a isto – tomar aquelas medidas exige coragem, mas não exige inteligência. E a acção do Governo não se pode limitar a acções corajosas – o Governo deve ir procurando discretamente, off the record, dialogar com as instituições europeias para um alargamento do programa de ajustamento financeiro de modo a suavizar o esforço de consolidação orçamental que está a colocar em causa o crescimento económico do país, e não apenas no curto prazo. Prosseguindo por esta via, sem mais nada fazer, caminharemos para uma longa e penosa recessão por vários anos. E para o evitar, há que atalhar já o caminho do crescimento económico do futuro e avançar já com as reformas económicas estruturais que precisam de ser realizadas. E não me venham com essa treta de serem Governo há 120 dias: V. Exas. eram oposição antes de ser Governo e à oposição também se exige estudo, programa e ideias que se traduzam em acções concretas quando chegam ao Governo.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Humores de 6a

Os últimos dias foram marcados por dois acontecimentos políticos de suma importância - as eleições da Madeira e a apresentação do OE2011. Como qualquer um é susceptível de alterar os nervos do nosso leitor, deixamos aqui os nossos humores, que esta semana, só poderiam ter um tema - Drogados!


Por Madame de Pompadour:



Por Letícia, a Marquesa:



Por Carlos Jorge Mendes:

É incontornável:quando falamos de Portugal, pensamos no hino A Portuguesa, do Sr. Alfredo Keil; quando falamos de França, pensamos n'A Marselhesa; quando falamos em drogados, pensamos no hino dos Irmãos Catita, enquanto hino representativo dessa nação - os Drogados



Por Lord Nelson:



Se substituírem o "meu filho" pelo "meu presidente do Governo Regional" vêm que o Jardim é uma jóia de moço!



E já sabem: quando quiserem ir-se manifestar e gritar contra o Governo, sentem-se, fumem umas coisas e esperem que passe (o Governo, claro está)...

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

O Cartel...das bananas?

Após graves diligências e investigações, a Comissão Europeia chegou à conclusão que existe um cartel a operar em Portugal. (Sim, a Comissão Europeia, porque se estivermos à espera que a Autoridade da Concorrência Portuguesa faça alguma coisa...) Mas que malvado, maléfico e destrutivo cartel que aniquila a concorrência desvendou a Comissão e que opera em Portugal? Os combustíveis? Nada mais, nada menos do que esse tremendo cartel - o cartel das bananas!

Do Imposto sobre as Transacções Financeiras

Na semana anterior, e como demonstração cabal, das suas acções prontas e velozes aos acontecimentos da crise de dívida pública soberana, a Comissão Europeia surgiu com uma proposta. Isto por si só, merece já um certo destaque porque é apenas de longe a longe que a distinta Comissão nos brinda com um laivo da sua inteligência e sabedoria. E que preciosidade é essa que a Comissão nos atira lá de cima, do alto da sua autoridade, para nós, cavalgaduras, cá em baixo? Um imposto sobre as transacções financeiras.

Esta proposta poderá eventualmente merecer o apreço e a simpatia da opinião pública que numa análise superficial e pouca profunda das consequências desta proposta pensa duas coisas e extrai uma conclusão dessas premissas. Premissa 1: a Europa precisa de dinheiro; Premissa 2: foi o sacana do sector financeiro que nos colocou nesta situação; Conclusão: vamos lixá-los e estabelecer um imposto sobre as transacções financeiras.

É do conhecimento público que o FEEF necessita de ser reforçado. Aqui coloca-se uma questão melindrosa aos Estados: com que dinheiro se aumenta esse Fundo? A Comissão responde: com um imposto.

Esta posição não pode merecer a nossa concordância (ignorando, porém, a questão da justiça social). Desde logo, porque este imposto representa uma delegação de responsabilidades: a delegação da responsabilidades dos Estados em aumentarem o FEEF. Há muito que os Estados delegaram no BCE a responsabilidade da constituição de uma agência de dívida pública europeia, substituindo por um frágil programa de compra de obrigações. Ora, este imposto, em termos de implicação prática no presente, é nula: o imposto apenas se prevê que vigorará no ano de 2014.

Além do que considerar, neste momento, nesta conjuntura, neste tipo de imposto é funesto. Vejamos porquê: a Europa avançará sozinha com este imposto. O Sr. Geitner, Secretário do Tesouro dos EUA, polidamente acenou à Europa com o dedo do meio quando a Europa lhe veio falar de um tal imposto. Disse-lhes - «A recuperação económica é frágil, aumentar os custos do capital, agora, neste momento, não é boa ideia.» Ferida no seu orgulho, altiva, briosa, a Europa decide avançar sozinha, demonstrar iniciativa. Quais vão ser as consequências de este imposto não ser adoptado à escala mundial? Precisamente o mesmo que sucedeu à Suécia quando este país decidiu solitariamente adoptar este imposto – o capital muda-se. No caso da Suécia, mudou-se para Londres que ficou a esfregar as mãos com a extraordinária capacidade de iniciativa da Suécia. Digamos que o capital não reagiu ao imposto e agiu em concordância, mudando-se e mostrando o seu incómodo. Ora, como este imposto será apenas adoptado pela Europa e não por todas as economias mundiais, é esse o destino que lhe aguarda: ver o capital pelas costas.

Mas mais, meus amigos…E os bancos? Como ficam os bancos? Então andam os bancos europeus desesperadamente a necessitarem de ser recapitalizados, porventura até com capitais públicos, e vêm V. Exas. discutir um imposto que pretende subtrair dinheiro a esses mesmos bancos? Nesta altura, Excelências?

sábado, 8 de outubro de 2011

Sugestões de Leitura

Quando alguém decide pela publicidade de um livro revelar aquilo que de mais íntimo, de mais precioso e de mais humano existe em nós, partilhando com os outros um pouco do seu mundo, das suas ideias, dos seus sentimentos, das suas emoções, registando, enfim, para a posteridade a pegada que a sua existência deixou na terra - esse alguém só pode merecer o nosso aplauso. Fazê-lo com a elevação, com a subtileza, com o rasgo, com a verve, merecerá não só o nosso o aplauso, como acima de tudo a nossa admiração. Por isso, ao leitor, aqui fica uma sugestão de leitura - do Sr. Dr. Pedro Ribeiro, que para além de poeta, temos a honra de chamar amigo, encontra-se disponível aqui, o seu livro de poemas, intitulado "X".

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Madeira

Numa semana em que, sabe lá Deus como, só se fala em buracos, nós resolvemos ser diferentes e viemos dedicar os nossos já imperdíveis Humores de Sexta à Madeira. Mas só à Madeira mesmo. Porque buracos na Madeira... Só se for do caruncho!...

Carlos Jorge Mendes

Para o leitor confirmar a elevada inteligência do Sr. Jardim considere esta situação: o Sr. Jardim fala perante os jornalistas, insultando os mesmos jornalistas, mas do continente. Então para ser delicado, sua excelência, chama-os de bastardos porque não os quer chamar de filhos da puta...Ups...Parece que afinal sua excelência acabou de pronunciar o insulto que pretendia omitir ao chamá-los de bastardos.



M. Pompadour

De facto...aqui está uma pergunta pertinente que ainda pouca gente se deve ter lembrado de fazer. Onde raio é o buraco? É que podia salvar muita coisa neste país.



Leticia, a Marquesa

O caso de Alberto João Jardim e do povo do arquipélago do PSD foi já amplamente estudado por biólogos e antropólogos. O próprio Charles Darwin, ao voltar da Patagónia, passou pelo Funchal e relata nos seus apontamentos as observações que fez:



«O elo que faltava entre o homem e uma forma de vida primitiva pode residir nos espécimes que observei num comício do PSD na ilha do Funchal. Em nenhuma ocasião anterior a este comício do PSD Madeira, me foi dado a observar um número tão elevado de caucasianos com traços tão semelhantes, evidentemente fruto de consanguinidade, a mesma que encontramos na Papua Nova-Guiné ou nos nativos da Amazónia. Aqui, o processo de selecção natural não parece ter tido lugar, uma vez que estas gentes vivem protegidas das ameaças normais que afectam os outros povos, como a pobreza e a fome, as invasões militares, liberdade de imprensa ou as condenações jurídicas. Explicam-me que Portugal financia este habitat, transferindo riqueza e recursos para a sua defesa, impedindo que os habitantes sejam exterminados por uma espécie mais desenvolvida. Não encontrando qualquer explicação para este facto, julgo pois tratar-se de uma grande e onerosa experiência científica. Não posso deixar de ficar preocupado. A humanidade contraria frequentemente o processo de eliminação natural. Construímos asilos para os imbecis e os doentes, ajudamos os pobres e a ciência médica faz o impossível para salvar os fracos nos hospitais. Assim, os elementos inferiores da espécie humana propagam a sua fraqueza e impedem o refinamento da raça. Aqui, em nome da ciência, aplicam este princípio a toda uma ilha povoada por militantes do PSD Madeira que, de acordo com as minhas observações, podem muito bem constituir o elo que faltava entre a raça humana e uma forma de vida um pouco mais evoluída que o chimpanzé. Esta conclusão não é final, pois o espécime que tem aqui o estatuto de xamã ou líder tribal, Albertus Joannis Jardinus, parece ser mesmo uma forma de vida inferior aos gorilas mais sofisticados do Zoo de Londres.Levanta-se a questão do próprio gorila ou do chimpanzé ser o elo entre o homem ocidental e o militante do PSD Madeira e não o oposto. Uma coisa parece ser clara: num contexto em que é garantida subsistência a uma espécie e lhe é garantida protecção de todas as ameaças, a espécie dotada de características como a apetência para a corrupção e a pantomina simiesca, pode dominar e procriar com mais velocidade, uma vez que está mais adaptada a um contexto em que as normais ameaças não se fazem sentir.



Apesar da minha preocupação quanto ao resultado final desta onerosa experiência científica, admito que a observação desta ilha me forneceu dados tão ou mais interessantes que os recolhidos na Patagónia. Espero que a experiência e as suas consequências se limitem ao estado português. Felizmente, os povos mais evoluídos do norte da Europa não serão afectados por mecanismos tenebrosos do tipo "comunidade económica e financeira" ou, algo ainda mais absurdo, uma "moeda única". Fica aqui, contudo, o meu agradecimento ao estado português e ao povo de Portugal, pelo bem da ciência.» - Charles Darwin, 1833

(com a devida vénia, retirado do blog do Tolan)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Ser Monárquico no século XXI

Fará sentido ser monárquico nos tempos que correm? Defender uma ideia tão velha, coisa ultrapassada da nossa história? E porque não preferir o sistema republicano que parece tão mais democrático e tão mais lógico? Tais são as questões que regularmente nos são colocadas e que demonstram, com o devido respeito, uma abordagem muito ligeira da questão.

Primeiramente julgo que faz sentido defender a restauração monárquica em Portugal, por três grandes ordens de razões: porque é uma forma de Governo mais coerente, porque promove a coesão nacional e porque constitui um garante da liberdade política. Passamos a explicar:

No actual sistema constitucional português o chefe de Estado exerce o poder moderador (funcionando como um vigilante da actividade política e institucional e garante da Constituição) sendo eleito regularmente para o efeito. Ora o poder moderador, é extremamente parecido com a função de um árbitro: deve procurar dirimir os conflitos que, por sua natureza ou gravidade, possam perigar o regular funcionamento das instituições, constituindo tal até um fundamento para a dissolução da Assembleia da República. Mas se olharmos para a nossa experiência política, os cidadãos que exerceram o cargo de presidentes da República tinham atrás de si, um passado político muito intenso, cheio de actividades partidárias que, por definição, são plenas de combate ideológico. Tendo, portanto o chefe de Estado sido, e normalmente durante vários anos, uma parte no xadrez político, surge como muito estranho que, de um momento para o outro, se torne em árbitro totalmente isento, capaz de congregar à sua volta velhos e azedos inimgos.
Mais, essa isenção é completamente virtual no primeiro mandato, pois o presidente, que também actua no jogo político, precisa de não antagonizar a sua base de apoio de tal forma que, no fim do mandato, se recuse a voltar a apoiá-lo. Temos pois que a escolha de um árbitro entre os jogadores e a necessidade da reeleição (e pode colocar-se a questão de saber se a limitação dos mandatos, isto é, a limitação da vontade popular na eleição, está de acordo com os princípios democráticos) fazem com que um chefe de Estado eleito não esteja nas condições óptimas de ser um moderador eficaz.

Não é apenas por a república eleger para presidente o líder de uma determinada facção política que devemos preferir a forma monárquica de Governo. Ela tem que mostrar as suas virtualidades, para justificar uma mudança.

O Rei, enquanto instituição, representa a continuidade de um povo através da História, personificando em cada monarca concreto, o conjunto de valores, experiências e saberes que definem o povo enquanto tal. Se é verdade que tal não é aplicável em qualquer país do mundo, pelo facto de não ter um povo homogéneo ou uma História para tal, o facto é que Portugal é um verdadeiro Estado-Nação, dos mais antigos do mundo e com um sentimento de comunidade verdadeiramente notável, que a figura real bem personificou durante muito tempo – a nossa página mais dourada (os Descobrimentos) andará sempre associada à Ínclita Geração que, em si, representam todo o povo português de quinhentos, unido num desígnio comum.

Por fim, refira-se que a figura Real pode ser uma primeira linha de defesa da liberdade individual, em duas perspectivas: primeiramente nenhuma ditadura de inspiração marxista pode ser instaurada numa monarquia – é sempre necessário derrubar primeiramente o Rei (a Rússia do início do século XX é um bom exemplo). E se olharmos para o mundo actual, com a excepção dos países islâmicos, as Monarquias existentes são sempre democracias (pensemos no Japão, na Suécia, no Reino Unido ou na Espanha aqui tão perto) e nalgumas Repúblicas que por aí pululam (Cuba, Coreia do Norte, Venezuela). Mas no contexto europeu a figura real, pelo menos em Portugal, pode ser um garante contra tiques federalistas que cada vez mais se manifestam na cena política, e que ameaçam tornar-nos uma colónia alemã, num sonho pan-germânico de um IV Reich.

É por demais evidente que só faz sentido falar de Rei se o Rei for constitucional e integrado num sistema democrático de Governo – é fundamental que o Povo possa eleger o seu poder Executivo e Legislativo, pois é aí que se definem as grandes opções políticas e é aí que, por definição, actuam as vontades. O poder judicial e o poder moderador convém estarem entregues a regras pré-definidas para acesso aos cargos: o primeiro por via académica e concursal, o segundo por nascimento.

Não sinto que ser monárquico seja como estar isolado numa ilha política – com efeito, entre as camadas jovens assiste-se a um reviver da Causa, mas sobretudo, quem não se diz monárquico não quer dizer que seja necessariamente um republicano convicto – creio que a maioria dos portugueses não tem uma opinião definida sobre o assunto.

A forma republicana de Governo é tão velha como a monárquica e, ao longo dos tempos tudo é possível: basta olhar para a Espanha. Daqui a algumas décadas poderemos ter a conjuntura ideal para restaurar o Trono. Até lá, há que doutrinar!

Viva Portugal, Viva o Rei!

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Dos Cortes no Ministério da Educação

Sua Excelência, o Sr. Nuno Crato, noticia a agência espanhola EFE, pretende abater 600 milhões de euros no Orçamento do Ministério da Educação. Desconhecendo ainda a natureza dos cortes pois o Sr. Ministro não os descriminou, aguardando-se pela publicidade do Orçamento de Estado para 2012, e falando prudentemente, temos, no entanto, a dizer que estes cortes são perigosos.
Não nos opomos a uma redução do Orçamento do Ministério da Educação estrategicamente pensada e julgamo-la até necessária e indispensável. É possível fazê-lo, sem com isso diminuir a qualidade do ensino.
O leitor considere, por exemplo, o ensino superior, onde o Sr. Nuno Crato pretende subtrair 100 milhões de euros. Se Sua Excelência estiver considerando que essa poupança resultará de uma política de fusão e extinção de instituições de ensino superior, nós aplaudimos V. Ex.ª porque é uma medida bem pensada que consegue um objectivo duplamente salutar – reduz custos e melhora, simultaneamente, a qualidade do ensino. Por isso, Excelência, humildemente, depomos ao cérebro de V. Ex.ª algumas ideias concretas.
Queira V. Ex.ª saber que há umas semanas atrás, lendo uma crónica do Sr. António Gomes Mota no Diário Económico, nos deparamos com um dos erros cometidos com a massificação do ensino em Portugal depois do 25 de Abril – a massificação das instituições de ensino superior. Logicamente que o aumento das redes de ensino não é má, Excelência; sê-lo-á, certamente, prejudicial quando esse aumento não é baseado em qualquer critério racional e não atende às variáveis oferta/procura e oferta/empregabilidade. Assim, pululam por este País fora instituições atrás de instituições, umas vazias, outras sem qualidade e outras ainda vazias e sem qualidade. Este desperdício de recursos públicos num país como o nosso, endividado, depauperado, quase insolvente, é incompreensível e criminoso. Narramos, por isso, a V. Ex.ª alguns exemplos que nos são transmitidos pelo Sr. António Gomes Mota.


“Há, no país, no ensino politécnico, 8 Escolas Superioras Agrárias (Beja, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Portalegre, Santarém, Viana do Castelo e Viseu), que no conjunto oferecem cerca de 1400 vagas, tendo ficado por ocupar mais de 800, com Escolas com taxas de ocupação inferiores a 15% (Beja e Bragança). […] Outra ilustração, relacionada com a dimensão geográfica. Um primeiro retrata o efeito de proximidade. O Instituto Politécnico de Setúbal tem duas Escolas de Tecnologia, uma em Setúbal e outra no Barreiro e como resultado mais de 60% de vagas por ocupar no primeiro e mais de 70% na segunda. Um segundo caso representa também o movimento das últimas duas décadas de fazer chegar o ensino politécnico junto da casa de cada um. O Instituto Politécnico de Viseu tem Escolas de Tecnologia e Gestão em Lamego (mais de 70% de vagas por ocupar) e Tomar (mais de 60% de vagas por ocupar).”


Diz o Sr. António Gomes Mota que poderia facilmente citar outros casos, mas tal a sua a extensão que se tornam incompatíveis com a limitação das linhas da sua crónica. Ora, se V. Ex.ª actuar directamente nestas instituições, fundindo umas, extinguindo outras, estamos certos que V. Ex.ª obteria a poupança orçamental que deseja e melhoraria a qualidade da educação dos nossos alunos universitários. Afinal de contas, o que pretende V. Ex.ª: uma dúzia de instituições de qualidade medíocre e vazias ou meia dúzia de centros de excelência, com as vagas plenamente preenchidas?
Caso V. Ex.ª não considere devidamente a nossa proposta (ou outra de índole semelhante que atinja o mesmo objectivo), o corte que pretende implementar no orçamento do seu Ministério só pode merecer a nossa reprovação e a nossa censura. Porque note, Excelência – a educação é a fonte da mobilidade social e da redução das desigualdades; é a garantia pela qual alguém assegura melhor o seu sustento, a sua dignidade, o seu emprego, o seu salário; é o modo pelo qual os cidadãos se tornam mais úteis à vida intelectual da sua sociedade, participando das suas ideias e contribuindo para o seu progresso.
Pelo que se V. Ex.ª considerar reduzir o orçamento da Educação e com ele reduzir a qualidade da Educação, V. Ex.ª está a amputar tudo o que acabamos de narrar a V. Ex.ª e a amputar o progresso duma sociedade que necessita desesperadamente de trabalhadores educados e qualificados para desse modo aumentar a competitividade da Nação.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Cadê as Manifs?

Antes de mais dirigimos, em jeito de penitência, uma mea culpa ao leitor pela nossa prolongadíssima ausência destas lides blogosféricas mas África, o Alentejo e a ausência de modem provocaram um blackout na ala direita d’ Opinador. Nas augustas mãos do excelso leitor depositamos, pois, a nossa súplica por clemência.

Quando o governo de José Sócrates não conseguiu manipular mais a realidade porque o dinheiro já se tinha evaporado da tesouraria, Portugal pediu, como todos sabemos, ajuda externa (pela 3.ª vez nesta nossa 3.ª República). Nessa altura, a esquerda mais castiça (para não lhe chamar outra coisa) proclamou solenemente que não seriam colaboracionistas com o agressor estrangeiro, tendo-se recusado sequer a ouvir a troika e a prometer a agitação popular contra os desígnios do grande capital, movido pelas forças da reacção.

Mas os eleitores portugueses, cientes que um Estado que não pague a funcionários, nem a fornecedores, constituiu um grave problema, tomaram tal birra como irresponsável e deram uma banhada eleitoral, principalmente ao BE. (O PS colheu também uma agradável derrota, tendo menos votos que os conquistados por Santana Lopes, convém lembrar).

Das últimas legislativas resultou pois que os partidos do arco da governação que assinaram o memorando de entendimento (José Sócrates assinou dois, mas ele não conta) recolheram cerca de 80% dos votos apurados o que, a nosso modesto ver, significa que se o povo não está com a troika, pelo menos está ciente da necessidade imediata de fundos que, não vindo do mercado, têm de vir das instituições que bem sabemos. Apesar disto, e porque a luta sempre continua, a CGTP (que é o mesmo que dizer o PCP) convocou para o passado dia 1 de Outubro uma grande manif contra as medidas que estão a ser tomadas… E aqui é que e torna caricato. Os manifestantes que dizem representar o povo, não tomam em linha de conta que muitas das medidas que vêm sendo anunciadas resultaram da vontade popular expressa por ele próprio, há cerca de 100 dias.

Posto isto, o raciocínio complica-se… Apesar de ter podido expressar livremente a sua vontade soberana aquele povo clama já contra as medidas que, ele próprio, aprovou. Sob pena de considerarmos o povo português inimputável somos forçados a considerar que aqueles manifestantes não representam de facto o povo português, o mainstream para não chamar a maioria silenciosa, mas antes franjas marginais da opinião política, conotados com partidos anti-democráticos e que cheiram a mofo.
Meus amigos, 100 dias depois de uma eleição, com o governo a cumprir, na generalidade, o seu programa de governo que é decalcado dos objectivos de um memorando que recolhe cerca de 80% de apoio em urnas, fazer uma manif contra as políticas de direita é, convenhamos um pouco absurdo – é certo que estais no vosso direito, mas ó meus amigos, não havia necessidade…

O que o país necessita antes de mais é de estabilidade para conseguir por a economia a crescer – e depois precisa de uma reflexão séria sobre o modelo de Estado que pretendemos para as próximas décadas, pois o que até aqui trazíamos era, como se viu, insustentável.

Quis a Providência que voltássemos a postar apenas no dia a seguir ao da comemoração do infame golpe que derrubou a plurissecular dinastia de Bragança do trono português – portanto avisamos já o leitor que no dia 6 haverá por estes lados propaganda monárquica.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

É por estas e por outras que eu nunca gostei de matemática e de tudo o que lhe esteja ligado

Olá!! Então, como estão? Tudo animado? Para vosso bem espero que sim, porque não vos trago nada que abone a favor da vossa sensação de bem-estar, pelo contrário, o texto que se segue tem todos os atributos para despoletar uma leve espécie, ou uma azia incontrolável, conforme a sensibilidade dos organismos.
Temendo enveredar por um caminho de aborrecimento ao tocar num tema que já arrelia de tanto se falar, mas mesmo assim preocupando-me pouco com isso, vou introduzir-vos: a crise! Mas não é a crise dos coitadinhos que se queixam porque já não sabem mais onde poupar e vêem a situação a sair-lhes do controlo, é antes a crise dos ricos.
Quando todo o mundo anda desesperado por encontrar uma solução milagrosa que impeça a economia de entrar em colapso e salvar tudo aquilo que até hoje foi alcançado em termos de desenvolvimento e autonomia financeira, vem-me este senhor arriscar a própria pele e gozar com a cara de todos deitando uma língua bem vermelha e babada aos governantes mundiais:


Como diria o saudoso Artur Albarran “O choque! O horror…a tragédia!”.
Será possível que haja assim tanta desfaçatez numa pessoa só? Como carrega ele tão pesado fardo sozinho? Chega a arrepiar.
Apesar desta demonstração inebriante de coragem em que o senhor corrector esfrega na cara de todos que é ele e os seus coleguinhas que batem palminhas quando vão dormir, e da louvável, ou questionável sinceridade desejo-lhe muito boa sorte a partir de agora quando decidir atravessar a rua.