A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Olhai aqui uma questão fracturante!

Nota prévia: hoje, sábado, escreve esta metade d’ Opinador por motivos de agenda. A normalidade voltará em breve.
.
.
.
.
Em Portugal tanto o tabaco como álcool são produtos cuja venda é legal, cujo cultivo até é por vezes subsidiado e que permitem aos cofres públicos arrecadar alguns euros, tão necessários nestes tempos conturbados…
.
Contudo, e apenas por motivos paternalistas tal não se passa com a cannabis. Apesar de já ter havido avanços com a desciminalização operada pela Lei n.º 30/2000 de 29 de Novembro, um novo passo se impõe: a legalização e regulamentação da sua produção, venda e consumo.
.
O Direito deve estar ao serviço do interesse público e garantir a defesa dos direitos e interesses legítimos dos cidadãos. É desta forma que se compreende que a produção, a venda e o consumo de outro tipo de drogas sejam criminalizados – pois importam em si um grau de danosidade social que seria incomportável e toleram essa limitação da liberdade do indivíduo. Não poderíamos viver numa sociedade com inúmeros indivíduos a se auto-destruírem, inviabilizando a vivência dos outros e a sua. Permitir tal situação seria ceder a um egoísmo próprio do neo-liberalismo mais extremo, quase anárquico.
.
No entanto, no caso da cannabis sativa, tais preocupações não se colocam. É certo que o seu consumo regular traz prejuízos ao indivíduo, nomeadamente ao nível das capacidades cognitivas. Porém, tais prejuízos, quando comparados com a limitação que implicam ou com aqueles provenientes do consumo regular do tabaco ou álcool não justificam o actual quadro normativo. O Opinador, gostando de ajudar na formação das opiniões do seus leitores deixa aqui, aqui e aqui sugestões de leitura (um pouco mais técnica) sobre o tema.
.
Poderão perguntar os leitores mais cautleosos: “Mas tal legalização não gerará o caos na nossa sociedade?"
.
A essas questões respondemos com a História:
O consumo de cannabis remonta ao terceiro milénio a.C. tendo ocorrido, tanto na Europa como na Ásia; tal se afirma em virtude de terem sido encontradas sementes desta planta em túmulos dessa época. Civilizações antigas também recorreram ao seu consumo, tendo sido inclusive utilizada na civilização grega em cerimoniais de culto ao deus Dionísio. Mas esta planta não era só consumida em cerimoniais religiosos; o seu uso medicinal foi contínuo ao longo de séculos sendo apreciada pelos seus efeitos analgésicos.
.
Países há que já procederem à sua legalização e ainda não tivemos notícia de caos generalizado (a este respeito, veja a imagem). Pelo exposto podemos concluir que: i) a cannabis já cá anda há mais tempo que nós; ii) o seu consumo nas antigas civilizações não provocou o caos social nem criou mais mentecaptos do que é normal existirem. Tal pode também ser comprovado mediante a análise de países onde já se procedeu a esta alteração legislativa – eles, tal como aquelas civilizações da antiguidade não resvalaram para o caos. Isto é facilmente comprovável – aproveitai, ide lá e comprovai. Enquanto fordes passeais e a Rayanair até tem voos baratos.
.
Os incómodos para o Serviço Nacional de Saúde no tratamento de eventuais problemas poderiam ser minimizados através da criação de um imposto especial sobre o consumo deste produto. Tal sempre seria melhor que a situação actual em que se trata mas não se taxa.
.
Concluímos assim com uma mensagem: já somos grandinhos e sabemos pensar por nós próprios. Deixem-se de atitudes paternalistas e legalize-se (e regulamente-se) a cannabis sativa. Agradecem os portugueses, agradecem as finanças públicas e agradece a justiça que fica com mais tempo para as coisas que realmente importam.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Solidariedade Tributária





Para além d’ Opinador e da morte, há apenas uma outra coisa certa na vida – os impostos!
.
Com efeito, tal flagelo atinge-nos todos os anos por esta altura e leva-nos os nossos suados euros para locais longínquos e mãos estatais… nunca mais vemos esses euros nem sabemos para que serviram (talvez para financiar uma ópera no S. Carlos?). Pois bem, isso pode mudar… não totalmente mas pode mudar em 0,5%. Passamos a explicar:
.
É já no início do próximo mês que tem início a entrega, via net, das declarações de rendimentos. Com efeito, começa a 10 de Março o prazo para a entrega electrónica. E este ano porque não doar 0,5% do imposto que se tem que pagar ao Estado, relativo aos rendimentos de 2009, a uma instituição de solidariedade social à nossa escolha?
.
É uma boa forma de ajudar quem merece e que nada nos custa, pois o montante destinado àquelas instituições terá de ser pago de qualquer maneira, visto estar englobado no imposto a pagar. Simplesmente, o Estado transfere 0,5% para uma instituição à nossa escolha do montante pago.
.
Para efectuar a esta consignação, o leitor apenas terá de preencher o quadro 9, do Anexo H, indicando a entidade e o número de contribuinte da instituição beneficiária. Nada de muito difícil… Basta um “x” e um número de contribuinte.
.
O “x” destina-se a distinguir as instituições religiosas das instituições particulares de segurança social ou pessoas colectivas de utilidade pública.
.
Quanto aos números, o Opinador, imbuído do espírito do serviço público, deixa pois aqui um link no qual o benévolo leitor poderá consultar a de identificação fiscal de uma série de entidades, muitas delas bem conhecidas do leitor e com um historial bastante meritório.
.
Esta metade do Opinador promete que não fará tão cedo outro post sobre matéria tributária, pois sabe muito bem que tal assunto não será do agrado da maioria dos seus leitores. Mas este até foi por uma boa causa!
.
.
P.S. – Mais se informa que não haverá qualquer comentário relativo à recandidatura de líderes sindicais, com tiques de Evita Perón. Quem percebeu, percebeu. Quem não percebeu, percebesse.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Exceptio Veritas



Em Portugal, nesta data em que escrevo, ainda existe liberdade de expressão. Digo ainda porque segundo alegado pelo director do expresso, pressões para a limitar não faltam, mesmo junto das mais altas esferas do poder.
.
Ontem ficamos a saber, nas palavras de Henrique Monteiro, director do Expresso que: "na noite de uma quinta para sexta-feira o senhor primeiro-ministro telefonou-me e pediu-me por tudo para não publicar uma notícia sobre a sua licenciatura”. Também foi apurado pelo Opinador que tal pressão não foi no sentido de esclarecer a situação (reputando-a como falsa) mas sim para impedir a sua divulgação.
É característico dos poderes mais autoritários adoptarem uma posição paternalista da opinião pública, tentando-a proteger de eventuais “contaminações”. Mas se aqui se poderá ainda descortinar algum mérito – nomeadamente no altruísmo do fim – nas pressões alegadamente levadas a cabo pelo primeiro-ministro mérito é coisa que não existe.
Com efeito, as pressões que aqui tratamos ocorreram aquando da publicação da história da licenciatura, sobejamente conhecida pelo leitor. Quis o chefe do nosso executivo proteger-nos de alguma coisa?
Pois no Opinador nós dizemos claramente: NÃO!
O senhor primeiro-ministro aplicou pressões sobre o director de um jornal para se proteger politicamente. Tal conduta é inaceitável.
Se fossemos um país civilizado – e não a piolheira que somos – haveria grupos de cidadãos indignados a manifestar-se e as instituições estariam a agir. Do Sr. Presidente da república, apenas ouvimos silêncio. O PS não se demarca deste caciquismo, apoiando cegamente o líder.
Este primeiro-ministro perdeu toda a credibilidade, mostrando que recorre a instrumentos menos éticos para cumprir a sua agenda. Se tiver ainda alguma dignidade, se não recusar taxativamente o que lhe é imputado numa comissão parlamentar de inquérito, só lhe resta uma solução – demitir-se. Não esperamos menos.
Aos nossos leitores, apenas pedimos o seguinte: quando for altura de novas eleições lembrem-se de tudo isto. Lembrem-se porque não sei até quando n’ Opinador e nos jornais haverá liberdade de expressão… A podridão vai alastrando.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

A Transparência nas Sociedades

Estimado leitor,

É, por demais, conhecido que dois dos administradores da PT se encontram no vórtice do mediatismo, e não pelas melhores razões. A sua culpabilidade será, mais tarde, discutida e a nós não nos compete tal julgamento. Todavia, num simples facto a PT, como entidade, é culpada.
Há praticamente 3 semanas foi noticiado que um conjunto de empresas que integram o PSI 20, entre elas a PT, recusaram a assinatura de um Código de um Bom Governo das Sociedades. Leigos como somos nestas questões, fomos averiguar o problema mais detalhadamente a fim de nos pronunciarmos sobre ela com maior conhecimento de causa.
Em primeiro lugar, segundo lemos, o governo das sociedades consiste numa arquitectura de responsabilização – as estruturas e os processos para garantir que as empresas são geridas de acordo com os interesses dos seus proprietários. Mas possui ainda uma dimensão mais alargada, dimensão essa que vem sendo defendida em teorias mais recentes, que se estende para além dos próprios accionistas e que deve portanto, ter em conta, os interesses, por exemplo, dos clientes, dos trabalhadores, dos fornecedores ou da comunidade. Muitos objectarão que a esta dimensão corresponderá uma visão socialista da sociedade e que ela será, absolutamente, desadequada com o fim a que ela se dirige – o lucro.
O bom Governo das Sociedade e, neste caso, o Código proposto pelo Instituto Português de Corporate Governance (IPCG) viria apenas a positivar alguns princípios que devem conformar a actividade destas sociedades, e que devem ser observados, independentemente dessa positivismo. Ou seja, o Código do Bom Governo das Sociedades iria dotar de outra força o normal funcionamento das Empresas. Entre esses princípios constam a equidade, a transparência, a responsabilização ou a responsabilidade.
O Presidente do BES, sua excelência Dr. Ricardo Salgado, não apreciou o Código do IPCG. E que sugere sua excelência? Que se sugira outro Código. E altruísta como é sua excelência ofereceu, dedicado e devoto, o auxílio de uma equipa para a elaboração do dito Código indicada por ele próprio, sua excelência Dr. Ricardo Salgado. Com certeza que tal não afectaria a independência da elaboração do Código.
É certo que existe já o Código de Governo das Sociedades da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, mas como nota António Sampaio e Mello, a diferença entre os dois Códigos é que enquanto um “enuncia os princípios justificativos das recomendações e os operacionaliza, dando-lhes aplicação prática detalhada”, o outro “opta, muitas vezes, por recomendações genéricas sem explicar porque as propõe”.
Um Código desta natureza, detalhado e rigoroso, seria útil em situações como as que sucederam com o BCP, o BPN ou BPP. E, mais concretamente e recentemente, com a própria PT. Ou tal não seria útil para situações tais como:
i. o polémico financiamento de Soares Carneiro à Ongoing que não obtivera um parecer positivo do Comité de Investimento;
ii. o polémico contrato celebrado entre Luís Figo e a Taguspark e que só no passado dia 18 de Fevereiro chegou às mãos do Presidente do Conselho de Administração;
iii. a polémica ligação da PT ao negócio com a Prisa;
iv. a polémica nomeação de Rui Pedro Soares para o Conselho de Administração.
De momento, todos estes casos não passam de polémicas. Porém, os sinais emitidos pelas grandes Empresas são inequívocos e não é possível evitar um julgamento sobre estes actos. E a verdade é que a PT foi uma das empresas que impossibilitou a entrada em vigor de um Código de Bom Governo das Sociedades e uma maior transparência nos seus processos de funcionamento.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Uma nação vive porque pensa

Economia é cultura. Assim titulava o Expresso, no seu suplemento de Economia desta semana. As bocas abrem de espanto, de pasmo, de surpresa! Rejubilem! Todos, menos os economistas, para quem a cultura é um empecilho da pior espécie. Alguma direita, em particular aquela enamorada dos números e que olha para o mundo das letras como um católico olha para o Diabo na Cruz, deve, com certeza, estar atónita.
O estudo realizado pela Augusto Mateus & Associados por instrução do Ministério da Cultura apresenta os factos:
1. em Portugal, o sector cultural e criativo cresceu mais do dobro do que a própria economia;
2. um crescimento anual de 2,9% torna esse mesmo sector como um dos mais dinâmicos da economia nacional face a uma taxa média de crescimento da economia situada nos 1,3%;
3. o património, as artes visuais e performativas, a música, a criação literária, o cinema, a rádio, a televisão, o software educativo e de lazer, a publicidade, a arquitectura e o design são responsáveis pela criação de 2,8% da riqueza do País.
Este estudo constitui um importante e renovado fôlego para o Ministério da Cultura que se ameaçava tornar, cada vez mais, numa Secretaria de Estado e não num verdadeiro Ministério. Para aqueles que o questionam, aí têm os factos concretos. Números como tanto gostam. Redondos. O OE 2010 contempla já um reforço do orçamento do MC o que em ano de apertos económicos, constitui um sinal encorajador para o futuro.
A direita puramente económica, aquela que em vez de uma íris tem um cifrão no globo ocular, dirá que a cultura é uma actividade para ociosos, para indivíduos inertes, que tal se trata de desperdício de recursos, um crime à eficiência e concluem, enfim, que ela é dispensável à esfera do Estado. Pois bem, Direita! Vocês mesmos que reivindicam a mão protectora do Estado para as empresas verdadeiramente produtivas foram agora esbofeteados nos vossos rostos numéricos.
Cogito ergo sum. Foi Descartes quem o disse, Direita. O que vossa excelência pretende é que o Estado não incentive o pensamento dos cidadãos pois a Cultura não é mais do que a emanação do pensamento dos indivíduos que compõem o Estado. Para eles as Escolas e as Universidades são suficientes. O resto da instrução não existe fora do âmbito dos Doutores e dos Mestres – fora destas instituições não há mais lugar ao saber. E esquecem-se que o Homem pode procurar, livremente, o refúgio nas Artes e nas Ciências, plasmadas em Museus, Teatros, Livros, na Pintura, na Arquitectura, na Escultura, e por aí em diante. Para essa Direita, o único saber que existe é aquele que nos é ministrado e não aquele que é, desinteressadamente, procurado. O resultado é simples, como diz Spencer: a aceitação dos factos sem questionamento. Para eles, o investimento na cultura é estéril e inútil, pois como se há-de justificar o investimento num teatro e não num museu? Os parâmetros de avaliação são subjectivos e não objectivos. E assim, eles, objectivos, argumentam pela ineficácia destes investimentos. E porque não investir mais em auto-estradas? O cidadão necessita de asfalto. Que se unte o cidadão de alcatrão!
Caro leitor, a riqueza de um País não se mede apenas nas suas manifestações físicas, concretas, palpáveis, tangíveis. A Grécia Antiga é lembrada por Sócrates, Aristóteles e Platão. Vejam o que os números fizeram da Grécia actual. Roma, para além do seu Império, tinha Tito Lívio, Cícero, Séneca. As emanações físicas de riqueza não são suficientes para uma nação ser posteriormente recordada. A Cultura incentiva o pensamento e uma nação vive também porque pensa. Caso contrário, ela é composta por um bando de animais visto que é isso que nos separa deles – a racionalidade.
E para aqueles ainda pouco convencidos e incertos, relembramos o dito Estudo. A Cultura manifesta-se directamente sobre o individuo, sobre ele exerce uma influência imediata e fecunda, e uma nação dotada de um conjunto de Homens que saber exercer na plenitude as suas faculdades – pensar – é uma nação superiormente preparada para enfrentar os desafios que se lhe deparam.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SUPER mário

Caro leitor,

A Assembleia da República poderá, por certo, ser acusado de muitas coisas. Nós que somos, malevolamente, oportunistas aguardamos apenas (e ansiosamente) que o momento chegue, se proporcione, para podermos atacá-la, inclementemente. Segundo o padrão de comportamento da AR, tal momento não deverá tardar.

Não é, contudo, propriamente da AR que trataremos hoje. Ou, pelo menos, não directamente. O cenário de fundo é, de facto, a AR, mas não tem por protagonistas habituais os deputados. O leitor atento e zeloso da liberdade de imprensa saberá que na Comissão de Ética têm sido realizadas audiências de forma a apurar do grau da dita liberdade. Precocemente, uma vez que ainda não foram realizadas muitas audiências, diremos que ela parece estar de boa saúde, segundo apuramos. Já a liberdade de comédia, essa, está óptima e recomenda-se. Alive and kicking, como dizem os ingleses.

José Manuel Fernandes, uma das personalidades escutadas, antigo director do Público, manteve a seriedade e rigor de comportamento a que nos habituou nos tempos em que chefiava a direcção daquele jornal (beliscada apenas no célebre caso das escutas a Belém). Apontou casos concretos de comportamentos incorrectos do Governo. Factos portanto, e não delírios exponenciados.

O nosso alvo não é, todavia, José Manuel Fernandes, mas sim Mário Crespo e Felícia Cabrita. Mário Crespo, jornalista que admiramos pela seriedade e acutilância incisiva do seu trabalho, foi, no entanto, na sua audição, tudo o contrário do que mencionámos. Ele era o único colunista do JN que, habitualmente, líamos pela construção da sua opinião com independência, autonomia e propriedade, pelo seu estilo próprio e olhar atento às situações que mereciam ser referenciadas. E fazia-o num estilo agressivo, mas reportando-se sempre a factos concretos e, expondo sempre, dentro de um fundamento justificável, os seus pontos de vista.
Desde o episódio da crónica não publicada, Mário Crespo encadeou-se. E porquê? Subitamente, trazido para a ribalta dos holofotes televisivos do País (e não só como colunista do JN, ou como participante do Plano Inclinado, ou como a face do Jornal das 9), Mário Crespo enamorou-se das luzes e baqueou. Viu as luzes iluminadas, claras e brancas, mas tudo nele escureceu, e agora, nada enxerga.

O número produzido na Comissão foi ridículo – entre a distribuição de fotocópias da crónica aos deputados, a promoção gratuita do seu novo livro ou a sensualidade do seu pijama, o leitor escolha.

Felícia Cabrita, excepto a crítica ao BCP e seu comportamento com o Sol (que nos pareceu bem esclarecida depois por Armando Vara) também nada apontou. Apenas foi capaz de dizer aos deputados do PS que estes eram racistas por estarem demasiado interesses na identidade dos accionistas do jornal. Lamentável. Positiva foi a pronta actuação de Marques Guedes a sanar a situação.

A concorrência entre as pessoas que vão sendo ouvidas na Comissão para apurar aquela que produz a declaração mais ventosa e triunfante tem comprometido o sucesso dos trabalhos. Ao contrário do que diz Pacheco Pereira, a culpa disso não é do PS. A culpa está na sede de protagonismo, em aparecer, por parte dos intervenientes que ao invés de basearem as suas perspectivas em factos concretos e auxiliarem no esclarecimento da matéria, procuram apenas o Destaque.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Um Novo Realismo

“Aturdido, rindo, perguntei àquele feroz insatisfeito que prosa pois concebia ele, ideal e miraculosa, que merecesse ser escrita. E Fradique, emocionado (porque estas questões de forma desmanchavam a sua serenidade) balbuciou que queria como prosa alguma coisa de cristalino, de aveludado, de ondeante, de marmóreo, que só por si, plasticamente, realizasse uma absoluta beleza – e que expressionalmente, como verbo, também pudesse traduzir desde os mais fugidios tons de luz até aos mais subtis estados de alma.”
“- Enfim – exclamei – uma prosa como não pode haver!”
“- Não! – gritou Fradique – uma prosa como ainda não há!”

Estimado leitor, não deixa de ser curioso que estas linhas sejam produzidas pelo maior autor de prosa portuguesa de todos os tempos, aquele que melhor encarna quer a Beleza da Forma, quer o Génio da Ideia – Eça de Queiroz. E elas são o ponto de partida para o discorrer do nosso pensamento – a prosa ainda não descoberta por Fradique, ideário de Eça, é a nossa ver, encarada pelo próprio Eça. Mas desde esses tempos, quem encarna essa prosa cristalina, aveludada, ondeante, marmórea de que fala Fradique (ou Eça)?

Com efeito, quem aparece hoje como o legitimo herdeiro da intensidade do verbo, da plasticidade do substantivo, do brilho do adjectivo? E quando vemos em algum autor pulsar o relevo e a vida de cada um desses elementos é a Ideia que lhes falta de todo. E quando a Ideia vem, assim, cheia de luzes e claridades e Sóis é a forma que lhe falta. Quem conjuga, então, Ideia e Forma? Pois se sem a forma, a verdadeira Literatura, não se distingue de um mero livro de culinária. Mas os tempos são feitos de materialidade e o estômago delicia-se com a carne. Como dizia o mesmo autor das linhas acima transcritas, “ Come, ao cair da tarde, sem testemunhas impiedosas, quando sabe que os astros vêm longe, que as asas sonham com o vento, que os olhos das flores se fecham de sono.” E acrescenta, em seguida: “Depois, à noite, quando sai do alimento como de uma vitória, os olhares são gritos de luz, os cabelos plumas gloriosas, o peito arca de ideias: comeu!”. Dê-se pois a carne ao estômago e ao espírito para que ele se farte, para que ele inche, para que ele se torne obeso, gordo, mas com uma Alma vazia e despida de Ideias. Pois senão existe um prosador que não besunte o espírito que não de manteiga e depois lhe aplica o respectivo preparado (o livro), e o espírito, esfomeado, lá recebe a iguaria com gula e a devora sem mais questionar. Um escritor não é um cozinheiro, nem um cozinheiro é um escritor. Diremos, como Ramalho Ortigão disse que “todo o pretendido escritor que não tem dentro um sábio, um filósofo ou um artista, não é bem assim um escritor, é um escrevente, e isto ainda na hipótese de que tenha ortografia e boa letra. Faltando-lhe esses dois predicados nem escrevente é, é um esvaziador de tinteiros em prelos e de prelos em papel de impressão, o que verdadeiramente apenas se deve chamar um troca-tintas.”
Um escritor é um sábio, portanto. E um sábio é, em princípio, uma pessoa que possui conhecimentos vastos. Estes conhecimentos vastos não se reflectem apenas na história e, logo, no mero romance histórico; estes conhecimentos vastos não se reflectem apenas na filosofia e, logo, nas grandes indagações literárias sobre as mais profundas convicções do homem; e assim por diante.
Nós perguntamos então, como Ramalho Ortigão, questionava há uns anos atrás, onde está o escritor que se possa considerar o intérprete legítimo do gosto, das ideias, das convicções, dos sentimentos do público?

Nós decerto adoramos a Ideia, mas quanto mais a Forma que lhe encarna e matiza o Espírito. E assim descobrimos o poeta do mal, Baudelaire, com todas as suas aflições e dores de alma, e descobrimos as horas de ócio de Byron e o prazer do efémero feminino, e assim descobrimos ainda Florbela Espanca onde toda a grandeza da alma da mulher se abre, como uma rosa com os seus espinhos, dolorosa, sangrando, mas vermelha de sentimento.
Não vemos hoje alguém com o brilho de outros que viviam para além das friezas e das mundanidades humanas e que iam buscar na Literatura o consolo das dores da vida dos mortais. Alguém como Musset que da sua relação com George Sand forjou páginas cheias de fulgurações como “Confession d’un enfant du siècle”. Alguém como Baudelaire, em cuja linha nervosa e intensa pulsa e vive a inquietação entre Deus e Satã, entre Jeanne Duval e Madame Sabatier. Alguém como Byron que nos seios de âmbar das suas amantes encontrava a inspiração para os seus mais belos e autênticos versos. Alguém como Hemingway que nos braços de Agnes von Kurowsky encontrou as justificações do “Adeus às Armas”. Onde pára esse alguém? Esse alguém que vive longe das preocupações puritanas destas sociedades, que se distancie das banalidades e das frivolidades do mundo, e que vive com toda a emoção, o ardor, o calor do sentido da vida, sem os receios dessas almas gordas, mas afinal castas, para depois despargir nas suas páginas as mil cores da existência.
E depois, vimos a Ideia que atormentava as almas de Antero com as suas Odes Modernas e a sua ânsia de uma verdadeira Regeneração de Portugal, o mesmo de que padecia Pessoa na sua Mensagem sebastianista.
Actualmente, a alma torce, sofre, luta e, por fim, cede, rende, gangrenada ao vácuo.
Nós abandonávamo-nos à emoção onde os outros, positivistas e estreitos, não viam senão linhas e versos e rabiscos! Nós inclinávamo-nos, prostrados, a escutar o rebate que cada verso tinha na nossa alma tal era a sede e a vida nela palpava.
Ao contrário de outros, nós buscamos no livro a mais pura emoção. E procuramos na linha, a beleza que, mesmo afastada do valor do pensamento, derrama sobre nós a Perfeição da Palavra, recortada com requintes e os labores de um escultor. E se a essa Perfeição do Verbo, do Adjectivo e do Substantivo, se juntar o palpitar da Ideia, teremos então um Livro digno desse nome. Por isso, Eça de Queiroz está num espaço mais alto do que Camilo Castelo Branco – pois ele é a mais real Encarnação da Perfeição da Ideia e da Forma.

É isso que nós procuramos. Um novo Realismo. Mas em vão. Somente nos grandes clássicos o vemos.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Sócrates dixit


Ontem cerca das 20 horas o nosso primeiro quis fazer e fez uma declaração ao país. Como produto nacional que é, o Opinador ouviu com atenção o que Sua Excelência queria dizer. Eis o que percebeu:

Continua a afirmar o desconhecimento do negócio da P.T., tese que cada vez menos adeptos reúne. Sobre este aspecto ouçam-se as declarações de Felícia Cabrita à Comissão Parlamentar (menos a parte infeliz em que se questiona se os deputados são racistas). Eloquente nesta matéria foi o deputado Pacheco Pereira com a sua distinção entre conhecimentos formais e informais.

Existe liberdade de expressão. Quanto à análise deste facto o primeiro mal andou. Com efeito ela existe… mas também parecem existir tentativas (mais ou menos falhadas) para a limitar. Uma coisa não invalida a outra. Também este primeiro ministro pode ter legitimidade de título mas, com as eventuais pressões e planos, a sua legitimidade de exercício está a fugir-lhe pelas mãos… Santana Lopes saiu por menos!

E jura a pés juntos que está inocente. É triste ver o executivo preocupado com a sua própria pele em momentos como o que o nosso país atravessa e que me vou abster de enunciar. Todos sabemos que os tempos não são propriamente de vacas gordas, e se não o sabem, queiram por gentileza ler posts anteriores deste blog e agradeçam também a Deus o não notarem…
.
Em momento de aflição, em que seria preciso um líder determinado para conduzir os nossos destinos vemos em Belém um silêncio sepulcral, em S. Bento, Sócrates que always complain, never explain.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Mon AMI

A república aos 100 anos
Imagem não aprovada pelo Dr. Carlos




O Opinador de Veludo acaba de tomar conhecimento de mais um corredor para a corrida a Belém. Trata-se, caro leitor, do Sr. Dr. Fernando, o Nobre, que quer ser Presidente da República. Mas quem é este nobre Nobre? perguntará o leitor.
.
Trata-se do Presidente da AMI, que vem falar à televisão sempre que há uma desgraça lá longe. Qualificações para o cargo? Desconheço… Apoiantes? Desconfio… Posicionamento político? Oscilante… (entre BE e Mário Soares)
.
Esta terá sido a melhor notícia que o Prof. Cavaco recebeu desde que lhe disseram que tem um novo anti-vírus nos computadores da presidência…
E assim é porque esta candidatura ao situar-se no centro esquerda, vai dividir aquele eleitorado soarista que não votaria de forma muito feliz no Sr. Alegre. Será este o candidato da preferência do Dr. Soares? (o Opinador lembra que o Dr. Nobre apoiou o Dr. Soares em 2006)
.
Agora uma pergunta para o Bloco de Esquerda: vós haveis apoiado o Sr. Alegre, não é verdade? E agora? É que convém não esquecer que o Dr. Nobre apoiou-vos nas últimas eleições europeias…
Segundo o Público o candidato anunciará a sua candidatura na sexta-feira. Desta tribuna lançamos um apelo:
- Sr. Dr., Sr. Dr., anuncie já!
- Já? – perguntais vós
Já! – dizemos nós. E ao fazê-lo entraria para a história como o primeiro cidadão a anunciar a candidatura à Presidência portuguesa, a partir do Senegal, país onde se encontra. N’ Opinador vamos seguir atentamente esta corrida. Apenas na sexta-feira conheceremos quais os motivos e as propostas que movem o candidato. Por agora sabemos apenas que foi uma “decisão de fundo que [tomou] enquanto cidadão independente e em nome dum imperativo moral e de consciência para Portugal”.
.
Esta metade do Opinador não se situa à esquerda do espectro político nacional – o que talvez não seja novidade nenhuma. E esta metade confessa a sua incapacidade de perceber como é que a esquerda não se consegue unir em torno de um só candidato, mesmo quando existe um “inimigo comum”… Talvez a esquerda seja um mito e o que exista sejam muitas pequenas esquerdas…
.
Este centenário da república está a revelar-se muito mais interessante do que alguma vez imaginou este vosso amigo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Do poder espiritual

José Conceição é, por estes dias, um homem triste e decepcionado com a religião. Que motivos superiormente divinos e sagrados estarão na origem da desilusão do Sr. Conceição? A resposta vem do próprio, citando: “Nessa altura (13 de Maio, dia de Nossa Senhora de Fátima) há sempre magotes de gente a entrar, mas cada vez se compra menos. Levam só terços chineses a 50 cêntimos, um euro e pouco mais”.
E termina dizendo, pesadamente, olhando o céu com o olho turvo, e depois ao baixá-lo, novamente, riscando o chão com a ponta do pé, com mágoa, suspirando:
- O ano passado, então foi o pior.
José Conceição é um homem preocupado com a fé alheia. É, por isso, um verdadeiro católico. Não só se preocupa com a quantidade de terços que o fiel exibe enquanto se encontra a rezar, como também com a qualidade empregue nesses terços. Aos olhos do Sr. Conceição é óbvio que o terço de 15 euros exibe uma qualidade infinitamente superior para o acto da reza que permite uma comunhão intangivelmente superior com o respectivo Deus, atento ao preçário do terço do fiel que lhe roga. Torna-se, portanto, bastante claro a partir das palavras do Sr. Conceição que o bondoso Deus apenas escutará as preces que lhe são dirigidas em função do montante despendido no respectivo terço. Assim, quanto maior for o valor gasto no terço maior será a probabilidade de obter de Deus o pedido de favor que lhe é dirigido.
Neste aspecto, Cristiano Ronaldo é, de facto, um privilegiado dos Deuses. Ele é a prova concreta do raciocínio que acabamos de expor. Na realidade, Cristiano Ronaldo, ciente das exigências dos Deuses, ordenou à Farportugal a produção de cinco mil rosários com as suas iniciais. Assim, o CR9, como carinhosamente gosta de ser apelidado, não só corresponde aos desejos quantitativos e qualitativos das Altas Instâncias dos Céus, como também, delicadamente, Lhes recorda, expressamente, donde vem o pedido de favorecimento. Ora, essa prece, vem, precisamente, dele, o CR, como, diligentemente e em boa hora, ordenou embutir no seu rosário.
Caro leitor, o Sr. José Conceição se, porventura, por algum motivo, não se apercebeu é comerciante de objectos religiosos – dono de um pequeno império constituído por três lojas de artigos religiosos, uma fábrica de terços e imagens e um restaurante para grupos de peregrinos é um homem triste e decepcionado.
O Sr. Conceição não é, porém, um homem só no que toca a corações destroçados com a religião. O mesmo sentimento é, igualmente, partilhado por Manuel Espigueiro. Este bom homem temente a Deus encontra na figura do Papa Bento XVI a causa das suas mágoas. Com efeito, Manuel Espigueiro, desloca-se mensalmente a Fátima devido a uma promessa que em tempos efectuara, mas assegura, a pés juntos, que não o irá fazer no dia 13 de Maio, quando o próprio Papa, Bento XVI, se deslocar àquela terra sagrada.
Para o Sr. Espigueiro a sua ligação com o Papa Bento XVI é significativamente mais mole e frouxa do que aquela que sentia em relação a João Paulo II. Então, todo ele sorrindo, o olhinho pisco e feliz, diz, radiante:
- João Paulo II era mais popular, mais especial e mais próximo do povo.
O Sr. Espigueiro é um homem dos antigos. É um daqueles que respeita, efectivamente, o poder espiritual. Assim, e como o Papa Bento XVI é um homem menos entusiástico, ele prefere, simplesmente, não se deslocar a Fátima. Para o Sr. Espigueiro, a relação com o seu Deus só é possível através desse intermediário de Deus na Terra: o Papa. Como no momento presente, o Papa é um homem menos comunicativo, Manuel Espigueiro abstém-se de comunicar com o seu Deus, tarefa que se revela impossível sem o correspondente comunicador adequado ao perfil que ele, Manuel Espigueiro, previamente traçara. A oração directa com o seu Deus é, portanto, inútil com um Papa como Bento XVI e insusceptível de ser correctamente realizada sem essa participação. Para o Sr. Espigueiro, a sua oração é, em primeira instância, dirigida ao Pontífice e este como representante de Deus na Terra encarregar-se-á de transmitir a respectiva mensagem ao Altíssimo pela linha telefónica privilegiada que partilham.
Manuel Espigueiro é também ele um homem diferente. Não inicia as suas orações pelo tradicional “Pai-nosso que estais no Céu…”, mas sim pelo “Papa nosso que estais na terra e depois dirás estas palavras ao nosso Deus exactamente como eu tas rogo…”.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

O Re-achamento do Brasiu

Começo por um esclarecimento: não tenho comentado, nem vou comentar situações relacionadas com processos pendentes. Não porque o não queira ou porque não tenha opinião, mas porque estou legalmente impedido de o fazer (a quem interessar: artigo 88.º e 107.º n.º1 c) da Lei n.º 15/2005 de 26 de Janeiro).
Respondo assim aos pedidos para me pronunciar sobre uns certos casos mediáticos - que se está bem a ver quais são.

.
Quanto ao post:

Na edição do londrino The Times, a nossa piolheira volta a ser notícia (http://www.timesonline.co.uk/tol/news/world/europe/article7026269.ece).
Segundo parece, estamos a redescobrir a nossa vocação atlântica, procurando no Brasil forma de sairmos desta bonita situação em que nos encontramos. É certo e sabido que a nossa dívida externa está a atingir níveis alarmantes. Já longe vai o tempo em que nos mantínhamos dentro dos 60% do PIB, imposto pelo Pacto de Estabilidade e Crescimento…
.
Essa bonita nação tropical já foi a tábua da salvação da “terrinha” e pode bem voltar a sê-lo. Foi o que pensou o Opinador, tendo assim delineado um plano para salvar a Nação – enquanto se empanturrava de doces conventuais – e partilha agora aqui o seu já delineado plano para voltarmos ao tempo das vacas gordas:

  1. Deixamos de cumprir as nossas obrigações, e quando vier alguém para nos notificar, fazemos como passou recentemente na televisão: mandamos um segurança dizer que não estamos;
  2. Enquanto frustramos a tentativa de notificação, atulhamos os nossos dois novos submarinos com a papelada da Biblioteca Nacional e da Torre do Tombo e com os tarecos do Palácio de Queluz e rumamos para esse “país tropical, abençoado por Deus e pela natureza”;
  3. Mantemo-nos duas décadas nos trópicos, a sol e caipirinhas, explorando novamente a nossa Ex-Colónia.
  4. Ao fim deste tempo, depois de prescrita a nossa dívida, alguém dá um grito (pode ser em Ipiranga ou noutro sítio qualquer), voltamos a meter a papelada da Biblioteca Nacional e da Torre do Tombo e os tarecos que ainda não estiverem partidos e voltamos ao nosso país, ou sítio, para um fresh start.

Sim, o Opinador admite ter roubado a ideia a D. João VI, que se pirou para o Brasil quando a crise apertou. Ora bem, a crise está a apertar e este plano tem duas óbvias vantagens: por um lado, permite ao nosso país sair do lodo no médio prazo, por outro permite que o pessoal comemore o Carnaval de uma forma mais quente. Por isso, não é altura para ter vergonha de plágios!


O Sr. Vítor Constâncio parece que vai para vice do BCE, pelo que não está convidado. O Sr. Sócrates só vai se prometer que se porta bem e não volta a dizer mentiras…

.
Convido também a Espanha, a Itália e a Grécia (que estão em situação igual ou pior que a nossa) a se juntarem a nós, até porque o Brasil é grande e cabemos lá todos. Podíamos até criar um novo grupo – os PIGS (Portugal, Italia, Greece and Spain).
.

E agora, aproveitem que vão ao armário buscar a roupa de matrafonas e comecem já a fazer a mala… Eu este carnaval vou de polvo!

.
Termino com uma citação que li e gostei mas não sei do que se trata: “É muito difícil manter um mentiroso como primeiro-ministro”. (Marcelo Rebelo de Sousa no jornal “i” de 15.02.2010)
.

Bons Carnavais! E juízo que não tarda estamos na Quaresma…

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mamadeira - A Saga

Estimado leitor,
A Opinião Pública tem sido negligente. E nós, O Opinador de Veludo, elevando-se por entre essa massa, procurando os brilhos do Céu e querendo sentir-se dos deuses um filho privilegiado, busca a construção do seu juízo com autonomia e propriedade. Assim sendo, deixando as carnes do Primeiro-Ministro aos abutres da Comunicação Social, O Opinador vai à procura de novas presas. E não precisamos de percorrer um longo caminho. Ainda em função das reminiscências do caso TVI encontramos o nosso alvo: Rui Pedro Soares. E nenhuma providência cautelar nos impedirá de tal. Por isso, caro leitor, para fins puramente provocatórios, iremos usar o nome de Rui Pedro Soares em abundância.
Caro leitor, há uns tempos chamamos a atenção de sua excelência para algo que se vem passando no seio farto do Estado. Na crónica “O Regresso ao Jardim do Éden” chamamos a atenção do leitor para um fenómeno muito comum em Portugal: a imbecilidade de certas pessoas que ocupam cargos no Estado ou atribuídos pelo mesmo.
Rui Pedro Soares ascendeu à comissão executiva da PT com 34 anos, cargo singelo que lhe confere um rendimento igualmente singelo entre 1,2 e 2,8 milhões de euros. Na comissão executiva da PT, dos sete administradores que a compõem, dois são nomeados pelo Estado. Estes dois representantes do Estado são, precisamente, Rui Pedro Soares e Soares Carneiro. Por esta altura, o leitor interrogar-se-á dos feitos extraordinários que Rui Pedro Soares terá feito ao longo da sua vida desde que saiu do ventre da sua mãe e foi, acto contínuo, abençoado com uma auréola de suprema sabedoria que lhe permitiu chegar com esta breve idade a um cargo de tamanha imponência? Sua sapiente excelência Rui Pedro Soares é licenciada em Gestão de Marketing no Instituto Português de Administração de Marketing. Após a sua licenciatura Rui Pedro Soares, brilhantemente, diga-se de passagem, realizou alguns estudos de mercado e passou (o verbo tem uma conotação interessante pois indica uma coisa fugaz), repita-se, passou pela direcção de marketing do Banco Cetelem. Desde Abril de 2001, iniciou funções nos quadros da PT como assessor da PT Multimédia e em 2006 tornou-se um dos homens fortes da PT. E eis tudo. Agora, caro leitor, una-se a nós em assombro e em uníssono e questione-se como diabos é que Rui Pedro Soares conseguiu tornar-se um dos homens chave da PT com este brilhante currículo? Estimado leitor, não fomos sinceros consigo. Por isso, pedimos as nossas desculpas. Rui Pedro Soares conta também no currículo com outras actividades relevantes, entre as quais um papel na vitória de José Sócrates na corrida à liderança do PS ou um cargo de vereador sem pelouro na Câmara de Lisboa ou, ainda, uma derrota numa candidatura à liderança da JS. Nestes factos residem as principais virtudes do currículo de Soares. Mas tal não significa que seja, de todo, inteligente. Senão vejamos: Rui Pedro Soares conseguiu fazer do jornal “Sol” da semana passada um dos maiores sucessos de venda de sempre. Segundo lemos na Imprensa foram vendidos 260 000 exemplares. Para o leitor ter uma pequena ideia, o Correio da Manhã, apesar de ser um jornal diário e não um semanário, líder da Imprensa Generalista tem uma quota de mercado a rondar os 110 000 exemplares por dia. Rui Pedro Soares não só não conseguiu impedir a edição do jornal como lhe deu as honras de publicidade que a Direcção do Sol nem do próprio Redentor poderia esperar, como notificações por Oficiais de Justiça em pleno noticiário ou assistir à simples impressão do jornal.
Ainda a propósito de Rui Pedro Soares questionamos como ele ainda não teve a dignidade de se demitir ou já que, esta também lhe é escassa, como o Estado não teve o pejo de o demitir das funções que exerce na PT? Como nos diz Ramalho Ortigão, suas excelências estão contemplando ou, simplesmente, dormindo?

Caro leitor, alguns analistas argumentam que estas situações são fomentadas pelo Estado que oferece um seio voluptuoso do qual muitos se gostam de alimentar, ou, se preferir, mamar. Neste sentido, preparamos, cuidadosamente, uma metáfora que julgamos adequada: enquanto o Estado desempenha o papel de vaca oferecendo, docilmente, a sua tetinha, vislumbramos, por este País, muitos vitelos a mamar nela, indevidamente. A nosso ver, o problema não está tanto na extensão do seio farto do Estado mas na forma como o Estado o oferece. Esta metade d’O Opinador de Veludo não é particular adepta do Estado mínimo, apesar de defensor de um Estado eficiente. E um Estado eficiente nomeia as pessoas com a devida capacidade e a devida competência para um determinado lugar e não os compadres ou as comadres que melhor lhe convêm de forma a ter alguém próximo com um olhar atento, mas submisso e servil, a zelar pelo bem público.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Sucatagate

Mark Felt morreu em 2008. Graças a Felt, o Washington Post foi capaz de denunciar a teia que se erguia da Casa Branca, então comandada por Richard Nixon e que originou a sua queda da cadeira do poder. Nos nossos dias, poucos ousarão dizer que Felt não foi um grande patriota americano.
Em Portugal, por estes dias, discute-se um eventual plano do Governo para obter o domínio da comunicação social. O jornal “Sol” é, neste momento, o nosso Washington Post. Argumentam alguns contra a divulgação das escutas usando expressões como jornalismo de “buraco de fechadura”. É, de facto, uma questão complexa. Por um lado, a admissão de escutas ilegalmente efectuadas (como as considerou o Presidente do STJ) pode levar a uma intromissão na vida dos cidadãos e originar todo o tipo de abusos. A salutar liberdade é indispensável e é importante que Portugal não admita como regra geral este tipo de recursos como forma de sustentar os seus juízos, sob pena de se tornar numa sociedade como a que George Orwell nos descreve no seu “1984”. Por outro lado, o interesse público aparece a reclamar o seu espaço de supremacia em relação à contrição de algumas liberdades pessoais, em respeito com o princípio da proporcionalidade.
O debate não é fácil pois se optarmos pela validade de escutas obtidos sem a devida base legal a justiça entra num abismo e num descontrolo sem freios. Todavia, a prevalência da forma sobre a substância pode levar a situações de flagrante impunidade.
Rui Ramos escreve hoje no Expresso que Nixon devia ter nascido em Portugal. Seria feliz pois poupava-se às preocupações resultantes do Watergate. Para ele, os americanos são um povo mais cioso da liberdade. É um facto e aponta Afonso Costa e Salazar como provas de que os portugueses preferem homens providenciais e messiânicos, devidamente capacitados para resolver os seus problemas, mesmo que tal implique a perda de liberdade. Indesmentível, dizemos nós. Com efeito, os portugueses recorrem sempre ao seu tradicional Fado, lamuriam-se e, depois, apelando ao Divino e à Providência para que lhes envie o Messias, eis que ele chegado, se constata que é um Ditador e anunciando que para a resolução dos seus problemas é necessária a coerção de parte da sua liberdade, agradecem aos Céus e entregam, numa bandeja a sua liberdade e os seus problemas, desde que no retorno se lhe devolvam os problemas resolvidos. A liberdade não será tão indispensável.

No plano jurídico, o problema das escutas envolvendo José Sócrates encontra-se insusceptível de maiores desenvolvimentos (Noronha de Nascimento não vislumbrou nelas matéria de relevância criminal), mas no plano politico o mesmo já não é de afirmar. Se o Direito é o Direito e não pode ser permeado por considerações éticas para fundar o respectivo juízo, na Política, a Ética, apesar de em vias de extinção, ainda é de alguma utilidade e deve servir de base aos juízos que se façam sobre os indivíduos exercendo funções públicas.

O Governo e, em particular, o Primeiro-ministro não se podem refugiar na simples negação dos factos que concernem com a sua alegada interferência em órgãos de comunicação social, com a PT e Ongoing a servirem de aríete. Quando a argumentação de uma das partes se baseia em factos de tamanha gravidade e concretos, a via para o cabal esclarecimento dos factos não se faz pela negação. Trata-se de demonstrar que, concretamente e efectivamente, o Governo e o seu Primeiro-ministro em nada se relacionam com essas actividades. É necessário que se demonstre. É necessário que se explique. É necessário que se diga em que sentido devem ser interpretadas as escutas publicadas pelo “Sol” senão visaram uma reconfiguração da comunicação social segundo os desejos do Governo. Não se deve limitar a dizer que se tratam de conversas privadas. Tratam-se de conversas de homens nomeadas para uma empresa privada de fundos públicos e de conversas de homens que foram nomeados pelo Estado, fruto da sua golden share, para a administração da empresa e que reúnem aptidões duvidosas para o desempenho das suas funções. Tratam-se de conversas de homens que tinham em mente um plano que visava a reordenação da comunicação social e a sua limitação e controlo, sendo que a Liberdade de Imprensa é um dos pilares do Estado de Direito.

Assim, resta ao Governo dois caminhos:
1. Esclarece o País no sentido da não interferência através de grupos económicos na reconfiguração da comunicação social por factos concretos, ou
2. Não esclarece o País ou o esclarece insuficientemente pela via da negação de factos.
No primeiro caso o Governo mantém a legitimidade intacta para governar.
No último caso apenas vislumbramos uma solução: José Sócrates deve demitir-se.
Tal não implica a convocação de novas eleições. Os tempos são difíceis e reclamam a resolução dos problemas concretos do País e é importante que não se desviem também a atenção destes sob pena do futuro da nação ser, irremediavelmente, claudicado. O PS mantém a legitimidade eleitoral conquistada nas eleições legislativas de 27 de Setembro do ano passado. Segundo o art. 187/1 CRP, o Primeiro-Ministro é nomeado pelo Presidente da República, ouvidos os partidos representados na Assembleia da República e tendo em conta os resultados eleitorais. Estes deram a vitória ao PS e não a José Sócrates. Portanto, caberá ao PS indicar um novo nome para Primeiro-Ministro.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um Mundo pouco Rosa

A imprensa cor-de-rosa é o lago onde Narciso se contemplou. Ela é a apologia da vaidade. É o universo da futilidade e da mundanidade. São as páginas pelas quais o pensamento se esmaece e se dilui fatalmente. Ela é o conjunto das mais abjectas frivolidades que agradam aos frígidos de espírito. A imprensa cor-de-rosa é a nulidade.

A grande magia dessa páginas ornadas em topes rosa consiste em aparecer. Mas aparecer por nenhum motivo em particular. Simplesmente aparecer. Não se celebra nenhum feito extraordinário a não ser a simples aparição. Tal pode servir os intentos de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos, mas O Opinador de Veludo é exigente e interroga-se se tal é susceptível de alargamento a outras personagens. Por algum motivo igualmente divino, mas desconhecido para nós, os indivíduos lá aparecem nessas páginas – porventura, terá sido o próprio Deus que desceu do Alto dos magnânimos Céus sobre essa pessoa, tocou-lhe com o dedo omnipotente sobre o ombro, dotando-a automaticamente de uma auréola branca e dourada e disse:
- Ide e brilhai sob o firmamento!
E logo essa nulidade é considerada uma Iluminada e merecedora da atenção da dita imprensa. Que fizeram todas essas pessoas para aparecerem? Nada… Simplesmente envergam uma bela farpela, na maior parte das ocasiões. Mas nós também andamos por este mundo envergando toilettes, ao contrário de Adão que apenas ostentava uma simples couve. Pois não somos nós também merecedores de atenção? A essas pessoas não se lhes conhece uma Ideia, um Projecto, um Achado, uma Contribuição para a sociedade portuguesa. Tudo o que fazem é pelo brilho da sua toilette.
E olhando para o seu exterior completamente postiço não se disfarça um interior completamente vazio.

Tal, porém, é o gosto dos portugueses. Estes, ávidos pela vacuidade, são atraídos pelo brilho que emana dessas estrelas. O português não gosta de se aborrecer com os aborrecimentos do País, limitando-se a desdizer de tudo e todos quando o aborrecimento se torna inevitável. Uma vez completa essa verborreia voltam, submissos, para as preocupações da vida alheia.

No decorrer desta semana, uma dessas rosas e chiques revistas noticiava que nosso charmoso e sedutor Primeiro-Ministro havia seduzido Guta Moura Guedes e Maria Célia Tavares. Enquanto numa manhã, calmamente, bebericávamos o nosso café e folheávamos o nosso jornal, duas mulheres na casa dos 50 anos, muito aprumadas nas suas saias e nos seus casacos que deixavam, ainda assim, entrever, o colar de ouro que lhes enfeitava o pescoço, de cabelos severamente penteados e imóveis a qualquer movimento e ondulação do ar, sentadas muito rectamente sobre a cadeira, discutiam sobre essa noticia:
- Eu não o acho nada de especial. – dizia uma, de nariz empertigado e de expressão indiferente aos encantos de José Sócrates.
A outra, pondo a sua mão por cima da mão da sua amiga, toda ela sorrindo, sem corar, achava José Sócrates picante. E com essa expressão dava uma risadinha patética.

Numa altura em que no País se discutem Orçamentos e moluscos amordaçantes da Comunicação Social eis como no País se desvanece todo o Pensamento. Esta imprensa não é mais do que a corrupção da Ideia, o definhamento da Razão. E assim segue o País.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Os Hesitantes Decidiram-se



No passado dia 9 de Fevereiro foi com surpresa que n’ Opinador ouvimos Paulo Rangel denunciar no Parlamento Europeu a existência de um plano do Governo para controlar os meios de comunicação social, pondo em causa a liberdade de expressão.

Tais afirmações, a nosso ver um pouco exageradas, foram feitas num fórum onde podem ter causado mais danos que benefícios ao nosso país. Tais declarações colocam em causa a boa imagem de Portugal na Europa, aproximando-nos da qualidade democrática de uma Venezuela. Estranhamos tal afirmação mas passamos à frente.

Ontem (dia 10) às 20h30, Paulo Rangel apresentou a sua candidatura a líder do PSD. Foi aqui que deixamos de estranhar aquelas afirmações. Não podemos deixar de notar a triste coincidência entre a prolação daquelas afirmações e o subsequente anúncio. Poderá ter sido apenas coincidência? Ou o eurodeputado aproveitou a sua tribuna para a sua agenda pessoal, colocando a imagem de Portugal atrás dos seus interesses? Queremos acreditar na primeira…
Afinal não foram intrigas as notícias veiculadas há duas semanas que o punham na corrida… Também aqui andou mal o novo candidato. Disse que iria esperar pelo Congresso do próximo dia 12 para discutir lideranças… Leia mais aqui.

Este anúncio também soa a nervosismo, pois desta forma adianta-se à discussão orçamental e ao Congresso marco temporal para os eventuais e hesitantes candidatos da linha actual anunciarem as suas candidaturas. Algo que era desnecessário pois trata-se do candidato mais bem posicionado para vencer.

Desta forma sai fragilizada a posição de Aguiar Branco – este avançando poderá dividir o eleitorado laranja, viabilizando a eleição de Passos Coelho? Aquele falará aos deputados laranjas na sexta-feira e com certeza não será para discutir fatos de carnaval. Muito possivelmente avançará.


Assim, chega o PSD ao carnaval com 3 candidatos: Passos Coelho, Rangel e Aguiar Branco. Não há fome que não dê em fartura…

Este vosso amigo revela ainda não ter uma preferência definida, esperando apenas que o escrutínio eleitoral tenha características terapêuticas para o fragilizado partido, podendo assim assumir o seu papel como líder da Oposição, contribuindo de forma positiva para a evolução do nosso país. O partido, desde os militantes de base aos “barões” mais influentes deverá unir-se em torno do vencedor, pois esta será a única forma de se mostrar ao povo como uma séria alternativa de governação.

Este vosso amigo gostaria de ter abordado a situação política na Ucrânia, mas ao fazê-lo arriscava-se a que o Dr. Carlos deixasse as poesias e nos caísse em cima, acusando-nos de nos furtarmos a esta temática… Contingências da vida.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Eis um post que serve para alguma coisa!


MENSAGEM DE SERVIÇO PÚBLICO
O OPINADOR INFORMA:

A partir do próximo dia 15 será possível carregar diferentes zonas no Andante. Se o caro leitor é de Lisboa, pare de ler este post e volte cá amanhã porque não vai perceber nada...
Segundo avançado pelo Público, a funcionalidade que esteve desde sempre disponível nos cartões Andante Gold, será agora aplicada ao Andante Azul. Desta forma se evita andar com milhentos cartões azuis na carteira e as figuras tristes junto às máquinas de carregamento.
O sistema funcionará da seguinte maneira: em cada cartão poderão ser carregadas duas zonas diferentes sendo que o último título de viagem a ser carregado será o primeiro título a ser utilizado. Fácil. Chama-se clikz e é uma boa ideia.
É assim ao fim destes anos todos que os senhores administradores da Metro do Porto compreendem que o sistema que estava implementado era tudo menos simples e cómodo, principalmente para os turistas que nos visitam e que não compreendem a nossa língua. Mas também levantava problemas às mentes mais simples (ou impreparadas) pertença de nossos concidadãos. Esperam-se menos filas, menos cartões e mais felicidade! Se bem que só atingiremos o nirvana quando conseguirmos ter todas as zonas num mesmo cartão… se é que é possível atingir o nirvana num metro em que das suas cinco linhas quatro acabam na mesma estação, que tem dezenas de quilómetros à superfície por meio de campos de couves e apresenta colossais resultados negativos e bónus chorudos aos administradores! Somos um país muito catita!

Mais se informa que quem tiver vários cartões – como acontece connosco – pode devolvê-los numa loja andante, recebendo €0,50 por cada. Já dá para um café.

Vamos lá todos deixar os carros em casa e andar de eléctrico, quer dizer, de metro.

Para mais informações é só consultar esta página:
http://www.linhandante.com/noticias-det.asp?noticiaid=45.
______

Amigo leitor, não julgue Vossa Excelência que temos cativo o nosso caro Dr. Carlos em alguma catacumba sinistra para lhe fazer uma lavagem cerebral e o aproximar da verdade (ainda não) … Este vosso servidor escreve excepcionalmente hoje, e na próxima sexta-feira escreverá o outro opinador. Tudo isto por razões de agenda.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

A ETA, Portugal e Olivença

Nota ao leitor: Este texto foi previamente aprovado pelo Dr. Carlos, até porque não diz mal do Sr. Eng. Sócrates.




.
O Opinador defende com unhas e dentes a integração da cidade de Olivença em território português. A ocupação espanhola deste território é manifestamente ilegal pois viola o acordado no Congresso de Viena, em 1815...
Com efeito, o documento resultante, assinado também por Espanha, reza o seguinte:
.

  • "As potências, reconhecendo a justiça das reclamações formuladas por S.A.R. o Príncipe Regente de Portugal e do Brasil, sobre a vila de Olivença e os outros territórios cedidos à Espanha pelo Tratado de Badajoz de 1801, e visando a restituição desses objectos, como uma das medidas apropriadas a assegurar entre os dois reinos da península [Ibérica], aquela boa harmonia completa e estável que deve ser mantida entre todas as partes da Europa, … de seus arranjos, se engajam formalmente a empregar dentro das vias de conciliação os seus esforços os mais eficazes, a fim de que o regresso dos ditos territórios em favor de Portugal seja efectuado; e as potências reconhecem, ainda que isso de qualquer uma delas, que este arranjo deva ter lugar o mais prontamente possível."

-
Nestes termos, o Opinador entende que Olivença é parte integrante da Nação Portuguesa.
-

Posto isto, a recente descoberta de uma base operacional da ETA na bonita cidade de Óbidos, deu a este vosso servidor o elemento que faltava para deslindar um plano para a Reconquista de Olivença – e chatear alguns espanhóis.
.

Tal plano contará com 3 grandes fases:

  1. Negociar com a ETA a compra dos 700 kg de explosivos que estavam em Óbidos, dos quais a organização basca é legítima proprietária, tendo até, segundo apurado pelo Opinador, facturas de compra dos diversos ingredientes;
    Importará também realizar breves acções de formação para dotar os nossos operacionais dos necessários conhecimentos técnicos (os formadores da ETA deverão possuir CAP válido).
  2. Construção da linha de TGV entre Lisboa e Madrid, sendo necessário que a linha passe perto de Olivença, de forma a possibilitar as operações tácticas referidas em 3 (são aqui retiradas todas as criticas por nós feitas a esta obra pública).
  3. Dividir os explosivos em pacotes individuais de 1kg, amarrar os ditos pacotes ao lombo de roliços suínos, transportá-los pela linha de alta velocidade – prós espanhóis não terem tempo para reagir – até Olivença, que invadiriam.
    Com esta fase concluída, faríamos explodir os nossos bravos amiguinhos suínos (bem como os Espanhóis) e depois era só entrar com a fanfarra, tocar o hino e comer as bifanas!
    .

Assim se faria justiça e juntaríamos Olivença com a mãe Pátria da qual foi tão vilmente separada! E também era um dia bem passado, com fanfarra e muitas bifanas à disposição.

.
Não se preocupe o amigo leitor por este texto ter sido tornado público porque os espanhóis não sabem línguas estrangeiras… O nosso plano está seguro!

.
Vamos lá então juntar uns porcos… eu levo a sangria.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Perfume Exótico

Parfum Exotique

Quand, les deux yeux fermés, en un soir chaud d'automne,
Je respire l'odeur de ton sein chaleureux,
Je vois se dérouler des rivages heureux
Qu'éblouissent les feux d'un soleil monotone;

Une île paresseuse où la nature donne
Des arbres singuliers et des fruits savoureux;
Des hommes dont le corps est mince et vigoureux,
Et des femmes dont l'oeil par sa franchise étonne.

Guidé par ton odeur vers de charmants climats,
Je vois un port rempli de voiles et de mâts
Encor tout fatigués par la vague marine,

Pendant que le parfum des verts tamariniers,
Qui circule dans l'air et m'enfle la narine,
Se mêle dans mon âme au chant des mariniers

Perfume Exótico

Quando, cerrando os olhos, numa noite ardente,
Respiro a fundo o odor dos teus seios fogosos,
Vejo abrirem-se ao longe litorais radiosos
Tingidos por um sol monótono e dolente.

Uma ilha preguiçosa que nos traz à mente
Estranhas árvores e frutos saborosos;
Homens de corpos nus, esguios, vigorosos,
Mulheres cujo olhar faísca à nossa frente.

Guiado por teu perfume a tais paisagens belas,
Vejo um porto a ondular de mastros e de velas
Talvez exaustos de afrontar os vagalhões,

Enquanto o verde aroma dos tamarineiros,
Que à beira-mar circula e inunda-me os pulmões,
Confunde-se em minha alma à voz dos marinheiros.

[Baudelaire]




sábado, 6 de fevereiro de 2010

Outros tempos

Maior do que nós, simples mortais, este gigante
foi da glória dum povo o semideus radiante.
Cavaleiro e pastor, lavrador e soldado,
seu torrão dilatou, inóspito montado,
numa pátria... E que pátria! A mais formosa e linda
que ondas do mar e luz do luar viram ainda!
Campos claros de milho moço e trigo loiro;
hortas a rir; vergéis noivando em frutos de oiro;
trilos de rouxinóis; revoadas de andorinhas;
nos vinhedos, pombais: nos montes, ermidinhas;
gados nédios; colinas brancas olorosas;
cheiro de sol, cheiro de mel, cheiro de rosas;
selvas fundas, nevados píncaros, outeiros
de olivais; por nogais, frautas de pegureiros;
rios, noras gemendo, azenhas nas levadas;
eiras de sonho, grutas de génios e de fadas:
riso, abundância, amor, concórdia, Juventude:
e entre a harmonia virgiliana um povo rude,
um povo montanhês e heróico à beira-mar,
sob a graça de Deus a cantar e a lavrar!
Pátria feita lavrando e batalhando: aldeias
Aconchegadinhas sempre ao torreão de ameias.
Cada vila um castelo. As cidades defesas
por muralhas, bastiões, barbacãs, fortalezas;
e, a dar fé, a dar vigor, a dar o alento,
grimpas de catedrais, zimbórios de convento,
campanários de igreja humilde, erguendo à luz,
num abraço infinito, os dois braços da cruz!
E ele, o herói imortal duma empresa tamanha,
em seu tuguriozinho alegre na montanha
simples vivia – paz grandiosa, augusta e mansa! -,
sob o burel o arnês, junto do arado a lança.
Ao pálido esplendor do ocaso na arribana,
di-lo-íeis, sentado à porta da choupana,
ermitão misterioso, extático vidente,
olhos no mar, a olhar sonambolicamente...
«Águas sem fim! Ondas sem fim! Que mundos novos
de estranhas plantas e animais, de estranhos povos,
ilhas verdes além... para além dessa bruma,
diademadas de aurora, embaladas de espuma!
Oh, quem fora, através de ventos e procelas,
numa barca ligeira, ao vento abrindo as velas,
a demandar as ilhas de oiro fulgurantes,
onde sonham anões, onde vivem gigantes,
onde há topázios e esmeraldas a granel,
noites de Olimpo e beijos de âmbar e de mel!»
E cismava, e cismava... As nuvens eram frotas,
navegando em silêncio a paragens ignotas...
– «Ir com elas...Fugir...Fugir!...» Uma manhã,
louco, machado em punho, a golpes de titã,
abateu, impiedoso, o roble familiar,
há mil anos guardando o colmo do seu lar.
Fez do tronco num dia uma barca veleira,
um anjo à proa, a cruz de Cristo na bandeira...
Manhã de heróis... levantou ferro... e, visionário,
sobre as águas de Deus foi cumprir seu fadário.
Multidões acudindo ululavam de espanto.
Velhos de barbas centenárias, rosto em pranto,
braços hirtos de dor, chamavam-no... Jamais!
Não voltaria mais! Oh! Jamais! Nunca mais!
E a barquinha, galgando a vastidão imensa,
ia como encantada e levada suspensa
para a quimera astral, a músicas de Orfeus:
o seu rumo era a luz; seu piloto era Deus!
Anos depois, volvia à mesma praia enfim
uma galera de oiro e ébano e marfim,
atulhando, a estoirar, o profundo porão
diamantes de Golconda e rubins de Ceilão


[Guerra Junqueiro]

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Finalmente a Convergência!


Portugal está a convergir. É um facto.
.
Não pense o amigo leitor que com isto quero dizer que a economia portuguesa está em linha com as suas congéneres europeias… Esta convergência é outra: finalmente, a prestação do nosso ministro das finanças está em linha com as nossas prestações no festival europeu da canção. Ontem pudemos manter o nosso ministro que nos enche de orgulho!

Em ambas as áreas o nosso país ocupa honrosos últimos lugares. Confesso não saber em que lugar ficámos no último festival mas sei em que lugar está o nosso amigo Teixeira dos Santos, no ranking do Financial Times para os ministros das finanças dos países europeus. Esse lugar, surpreenda-se ó leitor, é o último!
.
O último? – perguntais vós;
.
O último! – dizemos nós, já um pouco aborrecidos por nos estarmos a repetir…
.
Pois assim é, ao que parece temos um ministro da liga dos últimos, isto segundo um órgão de comunicação social onde a tentativa de censura do Executivo não chega – o Financial Times; esses loucos e impreparados do Financial Times.
.
Este vosso amigo tremeu com as declarações oficiais que o Sr. Ministro fez hoje ao país… N’ Opinador já pensávamos o pior: que Sua Excelência ia anunciar a sua demissão como tinha dito caso passasse o projecto do CDS-PP sobre as finanças regionais (como passou com os votos do CDS, PSD, PCP, PEV, BE). Parece que não! Ou nós percebemos mal as declarações do Sr. Ministro ou o Sr. Ministro percebeu mal o que aconteceu no Parlamento…
.
Ao Sr. Ministro longa vida no cargo! Ao Sr. Ministro mais respeitinho por parte da Oposição!
Mantém-se o ministro, passam os deficits…
.
Termino com apenas este pensamento: no dia em que a nossa bolsa derrapou quase 4,98% o ministro manda ralhetes à Oposição...
Até 3a!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Nota à Assembleia de Credores:


A Agência Lusa informou esta tarde que o risco de eventual incumprimento de obrigações de Portugal, atingiu um valor recorde, chegando os Credit Default Swaps (que são um seguro, um instrumento de cobertura do risco da dívida), aos 196,2 pontos, isto segundo os dados da Credit Market Analysis.
.
.
Para os leitores que como nós gostam pouco desta linguagem hermética, passamos a dar um exemplo prático do que esta situação importa:
.
  • Tomemos o caso de um seguro pago por um empréstimo de 10.000.000€ em Obrigações do Tesouro com maturidade a 5 anos. Hoje esse valor chegou aos 196000€, Ou seja, é preciso pagar 196000€ - e uns trocos – para fazer um seguro de forma a garantir que o capital investido em títulos do Tesouro vai, em bom português, com um “v” de volta.

-

Desta forma, vão-se apercebendo os investidores estrangeiros, bem como os nacionais, do risco de incumprimento por parte dos Estados periféricos da Zona Euro, entre os quais, o nosso querido Portugal tem a liderança. Esta nossa medalha de ouro (bem, de ouro não será pois não temos dinheiro para isso, será talvez de latão) dever-se-á a uma série de tristes factores, todos bem conhecidos:

  1. O anúncio do deficit de 9,3% aquando da apresentação do Orçamento do Estado;
  2. A emissão de mais €300.000.000 em Bilhetes do Tesouro a 5 anos pelo Instituto do Crédito Público, feita ontem.
  3. A intransigência dos actores políticos em chegar a um acordo sobre a questão das finanças regionais, chegando a levantar dúvidas acerca da estabilidade do governo.
  4. O aumento da taxa de desemprego que este ano pode chegar aos 11%;
    O nível de endividamento das famílias – segundo os últimos dados do INE situava-se em 230% do PIB
  5. A quase ausência de crescimento económico – 0,4 para 2010.

-
Com os novos dados de hoje, será muito mais difícil e caro para o Estado português conseguir financiamento junto da banca internacional para pagar as grandes obras públicas defendidas por este Executivo. Parece ser esta a melhor altura para recorrer ao crédito? Precisamos do TGV com tanta urgência? De um novo aeroporto? De outra ponte sobre o Tejo?
-

-

Mas quando já faltava a esperança, quando este vosso amigo já estava a fazer as malas para fugir da piolheira, apareceu o legislador e disse: Calma! Os bebes portugueses vão emprestar dinheiro ao Estado através da aquisição de títulos da dívida pública. Ora com tal rasgo de criatividade voltei a arrumar as peúgas no armário, calcei as pantufas e sentei-me no sofá a rir – mas não do legislador; só me rio porque desde pequeno me dizem que tristezas não pagam dívidas! Leia mais aqui.

-
Numa história em nada relacionada, hoje a Câmara de Lisboa aprovou a realização da Red Bull Air Race, que custará entre 250 mil a 350 mil euros, isto segundo a Associação de Turismo de Lisboa.

-
Os imperadores romanos afirmavam que o povo precisava apenas que o povo precisa de pão e circo. Pão ainda vamos tendo, mas por este andar… Ficam cá só os palhaços a alegrar a pobreza do nosso triste Portugal.
-

Vamos lá então comemorar estas três repúblicas porque há definitivamente motivo! Eu cá vou é comemorar a beber... para esquecer.
.
.
Por fim, o Opinador regista o seu pesar pela morte da actriz/escritora que nos deixou esta semana, recomendando a leitura deste bom artigo que a recorda. Farewell, Rosa Lobato Faria!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Mais luz!

Estimado leitor,
Apresentamos, desde já, as nossas mais sinceras desculpas. Por vezes, a vida prega-nos partidas. E foi isso que essa malvada nos pregou. Em função da curteza de tempo que essa ignóbil nos vem dispensando, esta metade d'O Opinador de Veludo não tem tido a possibilidade de velar pelo nosso Portugal com o zelo que o leitor merece. Assim, e como o leitor não espera de nós senão uma análise atenciosa da vida do País durante uma semana não iremos meditar profundamente sobre o quotidiano. Não obstante, escolheremos a dedo algumas Obras de Arte que partilharemos com o leitor de forma a que a nossa presença física se mantenha de alguma maneira neste espaço. Para hoje optamos por uma relíquia da Ideia: Mais luz! de Antero de Quental.
Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam, mudos e impassiveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextinguíveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio-dia, em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver, morrendo,
O claro sol, amigo dos heróis!

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Loucos e Impreparados

.
Amigo leitor, permita-me antes de mais tecer um elogio ao último post do Dr. Carlos. Foi com agrado que este vosso amigo constatou que o bom senso prevalece ainda em muitas cabeças – que faltaram àquelas tristes comemorações – e existe em abundância no nosso bom Doutor. Ele ainda é daqueles que não deturpa os factos para encaixar nos seus propósitos. Um bem-haja!
-
Acerca dos discursos do 31 de Janeiro recomenda-se esta leitura:
http://marsalgado.blogspot.com/2010/01/ordem-na-republica-os-republicanos.html
-
-

Ж
-
Agora quanto ao post em si mesmo: Vossa Excelência tem conhecimento da mais recente polémica no mundo jornalístico português? É verdade, ao que parece, o jornalista Mário Crespo viu a sua crónica no JN censurada…
-
Alegadamente e não por mim, esta censura veio na sequência de uma almoçarada com o nosso Primeiro (José Sócrates), o Segundo dele (Pedro Silva Pereira), um parlamentar Jorge Lacão e um executivo que o Opinador ainda não conseguiu apurar. Também ficou por apurar se o almoço incluiu prato de peixe, designadamente robalos.

-
Segundo o Expresso, neste encontro os comensais apelidaram o Sr. Mário Crespo de “louco” e profissionalmente impreparado”.

-
E aqui é que eu me admirei! Olhai que para o nosso Primeiro chamar profissionalmente impreparado é porque a coisa está mesmo preta! Com a sua licenciatura e os seus projectos lá na província… É preciso ser-se mesmo "impreparado".
Quanto a isto, duas notas:

  1. Lembramos que o Sr. Dr. Mário Crespo leccionou na Universidade Independente onde o Eng. Sócrates se licenciou… E esta hein?
  2. Se o amigo leitor já não se lembra ou preferiu esquecer as casinhas assinadas pelo nosso Eng. carregue neste link, por gentileza. Caso ainda se lembre carregue na mesma que vale muito a pena.

..
Ora como nós não somos de todo apoiantes da actual maioria (relativa), e como gostamos do exercício do contraditório, transcrevemos em seguida o texto que se queria censurado e que tem por título “O Fim da Linha”. Assim, em vez da tradicional imagem associada aos posts deste vosso humilde servo, temos hoje um excerto, retirado do Instituto Francisco Sá Carneiro.
.
O Fim da Linha
.
Por Mário Crespo
.

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.
.


Terminamos assim, aconselhando o visado pelos comentários a ponderar um processo por difamação e desejando boa-sorte ao nosso executivo para futuras censuras já que esta não correu muito bem!

.
Não estiveram preparados, não foi? Estiveram pois impreparados… E esta mania da perseguição não é de pessoas saudáveis… É mais de pessoas… falta-me o termo…

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Centenário da República

Caro leitor,

Domingo, 31 de Janeiro, iniciaram-se com pompa e circunstância, na Avenida dos Aliados, Porto, as comemorações do Centenário da República. A pompa esteve de facto presente. A circunstância também. O povo é que não se dignou a aparecer.

Artur Santos Silva, Presidente da Comissão para as Comemorações do Centenário da República, no dia 30 de Janeiro concedeu uma entrevista à Revista Única do Jornal Expresso. Lord Nelson já comentou a escolha de Santos Silva para o cargo e não teve palavras simpáticas para lhe dirigir. Nós então esperávamos, caro leitor, que desta entrevista pudéssemos vislumbrar umas quantas frases luminosas que viessem a justificar a escolha de Santos Silva para presidir às comemorações do Centenário e que esbofeteassem, violentamente, o Lord no seu rosto monárquico. Pois bem, estimado leitor…O que temos a comunicar é que a nossa busca foi inglória e vã. Buscamos, amigo leitor, como Ulisses buscou a sua Penélope, ardentemente, essa frase toda cheia de efeito e de brilho, mas buscamos debalde.
No que concerne à República no seu estado presente, sua excelência presidencial, Artur Santos Silva, limitou-se a dizer o seguinte:
1. “Não tenho legitimidade para avançar opiniões”.
2. “Não estou disposto a responder a essa questão”.
3. “Não tenho legitimidade para fazer juízos comparativos”.
4. “Não é matéria sobre a qual queira dizer mais nada”.
O predomínio do advérbio não no discurso de Santos Silva é, já de si, sintomático. O que sugeríamos a sua excelência era, porém, que, por altura, do convite que lhe foi dirigido para presidir à Comissão usasse o dito advérbio com a mesma chama com que gosta de responder às questões relacionadas com a República: Não.

Na verdade, quando questionado sobre uma sua eventual candidatura a Belém (sim, caro leitor, tal questão foi efectivamente colocada), Santos Silva responde da forma que se transcreve:
- É um desafio para o qual não tenho nenhumas características e em coerência com tudo o que foi a minha vida face à politica.
Compreendemos a renitência de sua excelência em enveredar pelos meandros escabrosos da política. Aliás, Santos Silva himself o confessa. Ele que fora fundador do PPD, diz que não seguiu a carreira politica pois tal não lhe interessava. E o que interessava a sua excelência? O desapego da sua linha profissional. Aos olhos de Santos Silva esta era mais estimulante do que a boçalidade da causa pública. Optando por seguir a sua profissão, Santos Silva colocou a cartola na cabeça e decidiu que, daí em diante, seria capitalista em detrimento da maçada da res publica. Esse era o seu sonho de infância.
No que se refere ao BPI, Artur Santos Silva foi mais expansivo e entusiasta na sua entrevista e falou, dissertou, perorou longamente sobre a epopeia bancária. Afinal de contas, sua excelência republicana é bisneto, neto e filho de republicanos. Mas verdadeiramente, para além de ser bisneto do seu bisavô, neto do seu avô e filho do seu pai, Santos Silva é Presidente não executivo do BPI. É isso que ele é. Os seus antepassados foram o que foram. E tudo o que o que Santos Silva tem para dizer sobre a República é que “devemos construir e reforçar os alicerces de uma República mais moderna, participada, democrática e justa”.