A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Um Mundo pouco Rosa

A imprensa cor-de-rosa é o lago onde Narciso se contemplou. Ela é a apologia da vaidade. É o universo da futilidade e da mundanidade. São as páginas pelas quais o pensamento se esmaece e se dilui fatalmente. Ela é o conjunto das mais abjectas frivolidades que agradam aos frígidos de espírito. A imprensa cor-de-rosa é a nulidade.

A grande magia dessa páginas ornadas em topes rosa consiste em aparecer. Mas aparecer por nenhum motivo em particular. Simplesmente aparecer. Não se celebra nenhum feito extraordinário a não ser a simples aparição. Tal pode servir os intentos de Nossa Senhora de Fátima aos pastorinhos, mas O Opinador de Veludo é exigente e interroga-se se tal é susceptível de alargamento a outras personagens. Por algum motivo igualmente divino, mas desconhecido para nós, os indivíduos lá aparecem nessas páginas – porventura, terá sido o próprio Deus que desceu do Alto dos magnânimos Céus sobre essa pessoa, tocou-lhe com o dedo omnipotente sobre o ombro, dotando-a automaticamente de uma auréola branca e dourada e disse:
- Ide e brilhai sob o firmamento!
E logo essa nulidade é considerada uma Iluminada e merecedora da atenção da dita imprensa. Que fizeram todas essas pessoas para aparecerem? Nada… Simplesmente envergam uma bela farpela, na maior parte das ocasiões. Mas nós também andamos por este mundo envergando toilettes, ao contrário de Adão que apenas ostentava uma simples couve. Pois não somos nós também merecedores de atenção? A essas pessoas não se lhes conhece uma Ideia, um Projecto, um Achado, uma Contribuição para a sociedade portuguesa. Tudo o que fazem é pelo brilho da sua toilette.
E olhando para o seu exterior completamente postiço não se disfarça um interior completamente vazio.

Tal, porém, é o gosto dos portugueses. Estes, ávidos pela vacuidade, são atraídos pelo brilho que emana dessas estrelas. O português não gosta de se aborrecer com os aborrecimentos do País, limitando-se a desdizer de tudo e todos quando o aborrecimento se torna inevitável. Uma vez completa essa verborreia voltam, submissos, para as preocupações da vida alheia.

No decorrer desta semana, uma dessas rosas e chiques revistas noticiava que nosso charmoso e sedutor Primeiro-Ministro havia seduzido Guta Moura Guedes e Maria Célia Tavares. Enquanto numa manhã, calmamente, bebericávamos o nosso café e folheávamos o nosso jornal, duas mulheres na casa dos 50 anos, muito aprumadas nas suas saias e nos seus casacos que deixavam, ainda assim, entrever, o colar de ouro que lhes enfeitava o pescoço, de cabelos severamente penteados e imóveis a qualquer movimento e ondulação do ar, sentadas muito rectamente sobre a cadeira, discutiam sobre essa noticia:
- Eu não o acho nada de especial. – dizia uma, de nariz empertigado e de expressão indiferente aos encantos de José Sócrates.
A outra, pondo a sua mão por cima da mão da sua amiga, toda ela sorrindo, sem corar, achava José Sócrates picante. E com essa expressão dava uma risadinha patética.

Numa altura em que no País se discutem Orçamentos e moluscos amordaçantes da Comunicação Social eis como no País se desvanece todo o Pensamento. Esta imprensa não é mais do que a corrupção da Ideia, o definhamento da Razão. E assim segue o País.

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