A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 31 de março de 2011

Palhaçada Nacional

Numa altura de aperto, já quase bancarrota, os maquinistas da CP anunciam nova greve, desta vez nas primeiras três sextas-feiras de Abril.

Tal comportamento é no mínimo idiota, por dois motivos essenciais:

1.º Não há motivo para dar um tratamento distinto àqueles senhores: num momento de crise em que todos os portugueses andam a pagar os desvarios socialistas, por que motivo hão-de os maquinistas da CP ter um tratamento diferente? Acaso há algum risco social? Ou a situação deles é distinta dos outros portugueses?

2.º A CP e a REFER são responsáveis por centenas de milhões de euros de prejuízos anuais. Só não são insolventes porque o Estado injecta, ano após ano, dinheiro dos contribuintes (o seu e o meu). Posto isto, é anedótico que quando um dos financiadores da empresa (o contribuinte) necessite de um comboio, não o tenha!

Se é para não haver comboios, não seria mais fácil (e barato) acabar com a CP? Ou então se não se quer isto, se se quer uma empresa pública de caminhos-de-ferro, então que se estabeleçam fortes limitações ao direito à greve, de forma a garantir aos contribuintes que o confisco de que são vítimas não serve para pagar o salário a grevistas.

Toda esta situação (relembramos que as perturbações na CP já vêm do início do ano) denota um total desrespeito dos sindicalistas pelos seus concidadãos. O que podemos fazer é retribuir a indiferença de que somos vítimas, não apoiando as reivindicações injustas dos maquinistas: os sacrifícios não podem conhecer excepção. E já agora votar em quem pode vir a privatizar (ou pelo menos disciplinar) o forrobodó que por ali vai.

Permita-nos o leitor ainda outro tópico:

O IP8 vai ligar Sines a Beja. Até aqui tudo bem. Mas o desgoverno socialista fica bem patente quando analisamos o traçado e verificamos que, quem o decidiu fazer, vai ser responsável por cortar a meio a quinta que produz uns dos melhores azeites do mundo, com a produção voltada especialmente para as exportações. A Quinta de São Vicente, que já desde 1738 produz azeite, vai ser irremediavelmente afectada por uma estrada (cuja utilidade é duvidosa) porque assim foi decidido. E nem puderam dizer nada: "Nunca consegui perceber quem é o interlocutor ou com quem podia discutir o problema do traçado” diz Filipe Passanha um dos responsáveis pela exploração. E teria contributos a dar: “o traçado [deveria ser mudado] para a periferia da exploração, onde até o solo é de má qualidade, ao contrário da Quinta de São Vicente - que integra a zona dos barros de Beja, um dos solos mais férteis do país”.

A reacção do Ministério da Agricultura? Não tem comentários. Notícia aqui.

quarta-feira, 30 de março de 2011

A Acção do Sr. Presidente da República

Estimado leitor,

A imprensa portuguesa tem sido condescendente. Queira o amigo leitor saber porquê. V. Ex.ª que nos lê tem ouvido falar abundantemente de uma crise política, certo? Crise política essa protagonizada por PS e PSD ou, se preferir, entre o Governo e o maior partido da oposição, certo? Pois bem: o que o leitor não tem ouvido falar estranhamente é de uma certa pessoa que actualmente reside em Belém e que é um dos principais responsáveis pela situação política que vivemos: o Sr. Presidente da República. Da actuação do Sr. Presidente da República em todo este processo a imprensa nada tem dito. O PS atira as culpas para cima do PSD; o PSD atira a lama para cima do PS; a imprensa é respingada por um pouco da lama – e assim vai a mula arrastando a carga. E o Sr. Presidente da República? Que dizer dele?

Caro leitor, antes de mais deixe-me dizer-lhe que o decoro, a decência e sobretudo o receio de um processo judicial por difamação impedem-nos, porém, de dizer tudo o que achamos do Sr. Presidente da República. Este Sr. tomou posse no dia 9 de Março de 2011 na sequência das eleições realizadas no dia 23 de Janeiro. Nesse mesmo dia, consciente do clima político crispado que se viveu durante cerca de um ano e meio desde as eleições legislativas de Setembro de 2009, e que resultaram na formação de um governo minoritário do PS, Sua Excelência, o Sr. Presidente da República, chega à AR e esbandalha tudo. Este senhor que promulgou o casamento homossexual por a ética da responsabilidade se sobrepor às suas convicções pessoais, para evitar um confronto institucional com o Governo, foi um dos instigadores da crise política; este senhor que nas vésperas das eleições presidenciais, aquando das negociações para o Orçamento de Estado para 2011, teve um papel decisivo como mediador entre PS e PSD, obrigando-os a atingir um consenso em nome do interesse do País; este senhor que aquando da questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, convocou uma conferência de imprensa, interrompendo o jantar dos portugueses, para dizer absolutamente nada; este senhor que fez campanha há um par de meses acusando o seu principal adversário, o Sr. Manuel Alegre, de prejudicar os interesses de Portugal face às suas posições quanto aos mercados – este senhor nada faz, depois de eleito, para evitar uma crise política que mergulha Portugal numa crise económico-social profundíssima. Este senhor, primeiro pela sua acção, pelo discurso que fez no Parlamento, pelo tom, pela retórica, pela agressividade, logo instigou nos deputados do PSD a vontade de provocar uma crise política; imediatamente, os deputados do PSD, esfregando as mãos, se sentiram tentados a votar favoravelmente a moção de censura do Bloco com o empurrãozinho presidencial que lhes fora dado. Não o fizeram, mas uma semana depois a crise reapareceu. Este mesmo senhor, depois, pela sua inacção foi um dos responsáveis directos pela situação que vivemos – porque nada fez, nada disse, nada interveio, nada mediou para contrariar a crise política que se desenhava.

Em lugar de ser factor de união e de consenso na vida política, o Sr. Presidente da República assumiu-se como facção, como parte, como desestabilizador; em lugar de fomentar a estabilidade política, forçando os partidos políticos a entenderem-se quanto aos interesses do País, dividiu-os. Este senhor que prometeu uma magistratura activa para a sua legislatura que agora se iniciou estridentemente a cumpriu no seu discurso da tomada de posse, e depois, nos bastidores, numa jogada palaciana, prosseguiu os seus desejos com o derrube do Governo em funções. Com que credibilidade fica o Sr. Presidente da República quando age de modo tão contrário, perante situações semelhantes como a negociação do Orçamento e a negociação do PEC, tendo como única diferença o factor temporal uma vez que sobre esses acontecimentos decorreu precisamente a eleição do Sr. Presidente da República? Ficou V. Ex.ª ressentido por o Governo não o ter informado da negociação com Bruxelas? O ressentimento pessoal não lhe fica bem, V. Ex.ª, sobretudo quando colocado à frente do interesse do País…Se V. Ex.ª ficou rancoroso, V. Ex.ª convocava o Sr. Primeiro-Ministro a Belém e como menino malcomportado que é, dava-lhe um puxão de orelhas e quiçá, uma reguada em cada uma das nádegas. Agora aceitar tácita e expressamente uma crise política por amuo, V. Ex.ª? Não lhe fica bem…

E agora em que ficámos, Sr. Presidente? Com certeza, V. Ex.ª. Vamos ter eleições; entretanto, vamos ter aí o FMI também. Mas e se das eleições antecipadas não resultar um governo de maioria absoluta? Que fará, V. Ex.ª? Tem legitimidade depois para pedir um governo de maioria, por iniciativa presidencial? Pois se não o fez até agora… Pois se V. Ex.ª em vez de unir, apenas dividiu…

terça-feira, 29 de março de 2011

Medidas à Medida

Este Governo já nos habituou a muitas medidas, umas más, outras péssimas. Mas sempre que algo de novo se perfilhava no horizonte havia uma catadupa de anúncios, inaugurações e cerimónias, para o povo ver como se trabalha.

Com este histórico, não compreendemos o silêncio que rodeou uma das maiores inovações deste executivo. Com efeito, nestes dias conturbados, o Governo pariu em Diário da República um curioso diploma: trata-se do Decreto-Lei n.º 40/2011 de 22 de Março.

Este instrumento vem na prática aumentar o planfond que certas excelências têm para poderem adjudicar directamente, sem a chatice dos concursos públicos. Assim:

1. Os Directores regionais podem autorizar despesa até € 100.000; 2. Já os Directores-Gerais podem autorizar € 150.000; 3. Os Conselhos Directivos dos institutos públicos, o dobro, € 300.000; 4. Um ministro, € 5.625.000; 5. O primeiro-ministro € 11.250.000; 6. E o Conselho de ministros aqueles valores vezes infinito… Tal diploma torna-se mais interessante se atendermos aos valores anteriormente previstos: directores-gerais - 100 mil euros, 3,75 milhões de euros para os ministros, e de 7,5 milhões de euros para o primeiro-ministro. Alguns argumentarão que tal não passa de uma actualização dos valores. Mas tal argumento não colhe por dois motivos: primeiro porque no actual cenário o que se pretende é a diminuição da despesa pública e não suas actualizações e, em segundo lugar, se fosse esse o caso, Portugal viveria uma hiper-mega inflação.

Portugal (como muitos dos países do sul da Europa) tem um grave problema com a corrupção: não só porque ela é um crime comum nos responsáveis pela coisa pública mas também porque a consciência social não a reprova. Assim sendo, será normal que um Governo crie um ambiente propício ao seu desenvolvimento, quando o que se pretendia era uma postura transparente? Foi muito triste a forma encapotada como se quis passar este diploma, sem nenhuma discussão relevante, e no fim de um ciclo governativo. A prioridade nacional não deveria ser a agilização dos procedimentos de adjudicação mas sim o combate à corrupção e, para isso, tem vindo a alertar há algum tempo o Tribunal de Contas.

Esta medida vai no sentido contrário e parece ser à medida para providenciar futuro sustento a alguns boys que passarão agora a gravitar junto das autarquias e institutos, já que se prevê uma mudança de cor em São Bento.

Triste epílogo para este (des)governo… O Povo é que sabe….

segunda-feira, 28 de março de 2011

A incoerente leveza do ser

Se há coisa que consegue apoquentar-me e aborrecer-me mais do que a actual situação politico-financeira da Europa, retratada soberbamente no nosso pequeno país, é a indiscutível facilidade que o ser-humano tem de se revelar incoerente em todo o princípio, meio e fim dos seus ideais, convicções ou meras opiniões.
Serão os representantes da cena política os supra-sumo desta constatação, abanando as suas bonitas cabeças de acordo com as preferências dos ouvidos populares até chegarem ao poder e, uma vez lá instalados ou prestes a instalar, abanando freneticamente as, já não tão bonitas, cabeças em sentidos completamente opostos aos que iluminaram outrora os apoteóticos discursos. Quer-me parecer que esses senhores, cujo poder crê-se ser-lhes duvidosamente apelativo, se aproveitam de alguma falta de clareza de consciência que a população já confusa com tanto conceito depressivo e fatalista que a todo o momento é lançado que nem petardo pela comunicação social para o meio da rua revela ao não conservar na memória o que os bonecos do poder dizem. Atentos ao vai e vem democrático de marionetas vestidas de Armani, os Zé Povinho do nosso Portugal dificilmente captam mais do que: FMI, Moodys, rating, dívida, dívida enorme, dívida insustentável, tudo para o burcao, qualquer dia não há dinheiro para comer...
Preocupa-me o que entenderá a terceira idade, ou seja, a maior parte da população nacional, da crise que hoje se vive, se sequer acompanha a velocidade da mudança de estratégia política dos nosso representantes antes mesmo de mudar de canal e soltar o típico: Estes políticos...são todos iguais!
Adiante, este assunto é aborrecido por demais, quase que eu própria me enfado ao falar dele. A política é importante, imprescindível, fundamental e tudo isso que se pode dizer de algo quase tão necessário quanto o próprio ar que se respira, mas a verdade é que, entre as entrevistas e debates televisivos em que os vemos, aos políticos, a tactear a verdade e a empoeirar-nos a vista com os seus desvios de rota de acção e as sessões pós-jantar do Baby Tv, posso garantir com toda a certeza, já tive melhores momentos neste segundo.
E no seguimento disto, nunca expelindo do nosso pensamento todas as crises que governam o mundo neste momento, um milagre da natureza acontece para nos provar, reles imbecis reclusos das convenções que nos regem o destino, que estamos longe de compreender os meandros da existência animal. Pois que, na China, nasce um ovelhão! Ou uma cãolhorca, não sei o que os cientistas chamarão àquilo mas, pronto, fica aqui o registo de que, se os humanos não derem cabo do planeta de vez, enquanto aqui andamos a pastorar, baralhados com as dívidas públicas, o reino animal reserva-nos surpresas mil.


domingo, 27 de março de 2011

O fim

Não, esta não é a minha última contribuição aqui no blog, desenganem-se. Enquanto as palavras me permitirem, no me calo!

Neste domingo, resolvi partilhar um pouco dos meus medos com todos aqueles que queiram ganhar (e não perder, obviamente!) um pouco do seu tempo a ler este texto.

Como todos sabem, infelizmente ocorreu a 11 de Março um violento sismo no nordeste do Japão. Este terramoto provocou o deslocamento do eixo da Terra em 25 cm. E, meus Caros, desde então, fomos invadidos por uma série de profetas do Apocalipse que vieram apresentar as suas teorias ou reafirmar as já existentes acerca do fim do Mundo.

Decididos a alertar todo o Mundo para a conjugação destes últimos acontecimentos que têm abalado o Mundo, como sejam o sismo no Japão, a crise no Médio Oriente e a operação militar na Líbia, são inúmeras as teorias que parecem apontar como inevitável o fim de toda a Humanidade, a breve trecho.

A profecia mais famosa é a do profeta Nostradamus que previu que o fim do Mundo aconteceria com um grande conflito, conflito esse que seria uma 3.ª Guerra Mundial, a iniciar após o falecimento não do actual, mas do próximo Papa (como se não bastasse, Nostradamus ainda profetizou que quando Bento XVI falecer, o Papa que lhe irá suceder irá falecer poucous meses após ter sido eleito).

Existem igualmente profecias Maias que asseguram o final da vida humana para o dia 21 de Dezembro de 2012. Segundo tais teorias, o sismo no Japão, que provocou o deslocamento do eixo da Terra, está relacionado com o cumprimento da primeira profecia: “A Terra ver-se-á afectada por mudanças no sol mediante uma alteração no seu eixo de rotação”. A partir deste acontecimento, irão começar a ocorrer grandes cataclismos. Existem mais profecias Maias quanto a tudo isto: 1 – Em 2012, a Terra, tal como nós a conhecemos hoje, deixará de existir; 2 – O que restar da Humanidade passará a viver em crise absoluta; 3 e 4 – Mudanças climáticas vão assolar o Planeta; 5 – Aprenderemos com os nossos erros; 6 – Através de um Apocalipse, um cometa anunciará uma nova forma de vida; 7 – O Homem e o Mundo aprenderão a ser um só. A Humanidade voltará a dar valor à Natureza.

Surgiu também uma vidente latino-americana que assustadoramente publicou no seu blog uma série de referências ao Japão nos dias antecedentes ao sismo. Mensagens como “Rezem pelo Japão” ou “Rezem, a água causa grandes destruição” foram publicadas online um mês antes da tragédia que provocou esta catástrofe no Japão.

Estas são as teorias que mais circulam nos sites. Todavia, nos últimos tempos, foi divulgada mais uma profecia, desta feita, completamente surpreendente, porquanto se trata de um brilhante cientista do século XVIII que pugna por uma teoria apocalíptica. Isaac Newton previu o fim do Mundo para 2060. Numa carta de 1704, Newton dá conta de uma realização de cálculos, de acordo com os quais, deveriam passar 1260 anos entre a refundação do Império Romano, por Carlos Magno, no ano 800, e o fim dos tempos.

Caríssimos, yo no créo en brujas, pero que las hay, las hay! e se tudo o que tem princípio, tem fim, até pode ser que toda esta gente tenha razão e o Mundo até pode acabar amanhã. No entanto, se acabasse, se é certo que eu ficaria muito triste por, pelo menos neste Mundo, não ter podido casar de véu e grinalda nem de ter chegado a Desembargadora, o que me iria inundar a alma de tristeza, caso o Mundo já tivesse acabado, digo-vos de minha plena justiça, era não ter logrado ver, com estes lindos olhos que Deus me deu, o Eng. José Sócrates a pedir a demissão!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 26 de março de 2011

O PSD e o aumento do IVA

Apenas um dia depois de ter provocado uma crise política em Portugal, apenas um dia depois do PSD ter condenado irreversivelmente o seu País a um pedido de ajuda externa, apenas um dia depois do PSD ter colocado o seu próprio interesse à frente do interesse nacional, eis que o PSD começa a revelar o seu verdadeiro rosto. Provocou o PSD uma crise política, rejeitando o «PEC 2012» cuja medida emblemática seria um corte progressivo das reformas superiores a €1500.
Pois bem: precipitada a crise política, iniciando-se o calendário eleitoral, que medidas apresenta o PSD? Que medidas apresenta aquele partido que, estando na oposição, sempre disse que a consolidação orçamental se deve fazer pelo lado da despesa? Que medidas apresenta aquele partido que criticou o Governo pela distribuição injusta dos sacrifícios pelo País? Que medidas apresenta aquele partido que prometia revolucionar a política portuguesa? Que reformas apresenta esse partido?

O PSD propõe-se nada mais, nada menos, do que a aumentar o IVA para 24 ou 25%. Aqui proponho ao leitor uma pequena viagem no tempo: negociações para o Orçamento de Estado para 2011 entre PS e PSD. O Governo propõe o aumento do IVA para 23%. O PSD indigna-se: não admite aumento de impostos. Façamos outra viagem no tempo, caro leitor: livro «Mudar», do Sr. Pedro Passos Coelho. Neste livro, o Sr. Passos Coelho afirma-se contrário à subida do IVA porque é um imposto socialmente injusto: porque trata pessoas com maiores rendimentos da mesma forma que trata aqueles com menores rendimentos. Caro leitor, que diz isto da liderança do PSD? Diz muito, caro leitor, diz muito: revelam.
Revelam que um partido de responsabilidade governativa cuja marca de liderança é a defesa da redução da despesa do Estado inicia a consolidação das finanças públicas pela receita; revela que esse partido que provocou uma crise política, rejeitando uma medida socialmente justa, aplica antes um aumento de impostos, precisamente sobre o imposto mais regressivo de todos e, portanto, socialmente injusto; revela que um partido que prometia revolucionar a vida política portuguesa, que pretende romper com a direita que o precedeu, em nada se distingue dela; revela que um partido que durante um ano e meio se escudou no seu papel de partido da oposição para não apresentar qualquer proposta, qualquer reforma, não tem, na verdade, nada a propor, nada a reformar. A sua grande proposta, o seu grande projecto resume-se a um projecto de revisão constitucional que pretende alterar a gratuitidade tendencial do ensino e da saúde. E que diz novamente este singelo projecto de revisão constitucional? Volta a revelar, caro leitor. Revela as linhas programáticas de um governo PSD: a juntar àquelas que referimos, temos agora um governo que pretende não reformar o Estado Social e assegurar a sua sustentabilidade, mas acabar definitivamente com ele. Repare o leitor: falamos em reformar o Estado Social porque não negamos que o Estado Social nas suas actuais feições necessita de ser reformado. Coisa diferente quer o PSD que pretende acabá-lo. E fá-lo acabando com a gratuitidade do ensino superior. O mesmo foi feito recentemente no Reino Unido com as consequências que sabemos. E fá-lo ainda acabando com a gratuitidade tendencial da saúde: fá-lo acabando com o SNS que é uma das instituições portuguesas mais respeitadas e mais elogiadas internacionalmente.

Mas não é só o PSD. Sabemos bem qual tem sido a posição do CDS nestas questões, sempre se demitindo de participar nas decisões do País. Ainda recentemente, quando foi anunciada a intenção do PSD aumentar o IVA, o CDS demarcou-se desta posição. Mas sabemos que o CDS é o aliado natural do PSD para o poder. Manterá a sua posição em caso de aliança governativa?

Mas mais, caro leitor. Quer o leitor notar até que ponto está o PSD comprometido em reformar o Estado? Em acabar com a mamadeira? O PSD (e o CDS) uniu-se à esquerda radical para revogar a avaliação dos professores. O PSD uniu-se à esquerda radical para revogar uma medida que incentivava o mérito, que recompensava o trabalho, que premiava o esforço. Ao revogar a avaliação dos professores que pretende o PSD? Tudo o contrário do mérito, do trabalho, do esforço? Quer o PSD, porventura, caçar o voto dos professores? Quer o PSD resvalar para o populismo agora que se inicia o calendário eleitoral?
Por aqui se vê que o PSD não está comprometido com as reformas que são necessárias ao Estado português. Caso contrário não teria revogado o processo de avaliação dos professores, mas antes contribuído para a reforma do actualmente em vigor. Não teria tornado inútil a avaliação de todos aqueles professores que se esforçam, que se dedicam arduamente à sua profissão e que em função disso merecem destacar-se dos restantes. O PSD optou simplesmente pela revogação da avaliação.
Caro leitor, é este o PSD que se propõe ao voto dos portugueses: diferente na forma, mas igual na substância a todos os outros.

sexta-feira, 25 de março de 2011

De Pax

Numa altura em que o Mundo anda em guerra por motivos imputáveis a essa força que move o Mundo, como seja, o dinheiro,

Numa altura em que as guerras são mais do que muitas na Líbia e no Médio Oriente,

Numa altura em que Portugal anda em guerras partidárias e PECaminosas,

Numa altura em que, mais uma vez, gostamos de ser do contra,

Caríssimos, esta sexta-feira, os nossos Humores são dedicados à bendita e tão ansiada PAZ!

Por Carlos Jorge Mendes

Problemas no Iraque? Problemas no Afeganistão? Problemas na Líbia? Problemas entre Israel e a Palestina? Aplicando a receita do Leandro e do Leonardo, eles também brigam de dia com as respectivas, mas de noite resolvem o problema - na cama. Portanto, líderes do Iraque, do Afeganistão, da Líbia, de Israel e da Palestina - vocês sabem o que têm de fazer para alcançar a paz.




Por M. Pompadour

Determinar o conceito de paz é extremamente complicado, especialmente para as crianças cujo entendimento global do mundo se processa, supostamente, de forma gradual. Mas, em termos gerais, essa obra prima da banda desenhada "Calvin and Hobes" define-a de forma clara e simplista, sob a visão pouco inocente de um petiz.



Por Lord Nelson

Conhece o leitor o famoso jogo Angry Birds? Pois fique então a saber que se iniciaram as conversações de paz entre os pássaros e os porcos. O Opinador esteve lá:



Por Letícia, a Marquesa

O que é a paz? Para mim, é o silêncio da alma serena ou então a tomada de posse de um novo Governo a breve trecho. Vejamos infra mais conceitos criativos de paz. Sejam pacíficos, mas não morninhos, sim?





A paz esteja convosco. Bom fim-de-semana.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Acabou!



É com a voz embargada que hoje nos dirigimos ao leitor. Com efeito, ainda estamos de ressaca das comemorações pela demissão daquele que foi (e ainda é) uns dos piores primeiros-ministros do pós 25 de Abril.

Toda a retórica deste José Sócrates contribuiu decisivamente para um alheamento e até uma antagonização dos eleitores com os eleitos – promessas vãs, mentiras, coisas mal explicadas. Tudo foi apto a gerar um enorme cepticismo com os detentores do poder. Mas pior: a forma como o primeiro-ministro demissionário mentia descaradamente, a forma criminosa como aumentou os salários da função pública em ano de eleições para os baixar no ano seguinte, toda a corja que gravitava naquele círculo e que agora se vê acusada pelo Ministério Público e pronunciada pelo Juiz de Instrução, tudo isto vilipendiou e fez esquecer a ética necessária ao governo da coisa pública. (Mas aqui Cavaco também não é isento de culpa, especialmente nas suas relações com figuras como Dias Loureiro que muito devem ao conceito de governo justo).

Este primeiro-ministro encontrou o país economicamente mal, é certo, mas deixa-o pior. Encontrou uma classe política desacreditada mas deixa-a com fama de máfia. Afastou os portugueses e tratou-os como imbecis. Haverá ainda alguém capaz de o defender?

Portugal, diga-se com frontalidade, segue há muitos anos (com PS ou PSD) uma linha social-democrata, protectora de uma ideia de Estado Social bastante forte. Aqueles dois partidos alternaram na governação mas a linha ideológica seguida foi a mesma – as diferenças foram apenas na execução política, não na definição das suas linhas orientadoras.
Agora, finalmente, o nosso país pode reencontrar-se com o seu passado liberal. Temos, pela primeira vez em muitos anos, uma nova direita, que não tresanda a sacristia e sem qualquer tipo de ligação ao antigo regime – esta nova direita é liberal, tanto na economia como nos costumes, e está aqui para romper com a tradição socializadora da economia que tem marcado o tom das últimas décadas, tenha sido com Soares, Cavaco, Guterres, Durão, Santana ou Sócrates.

Temos agora uma oportunidade única para nos reinventar: urge repensar o nosso sistema político e as nossas grandes escolhas enquanto país e a próxima campanha eleitoral pode ser decisiva. Os eleitores, martirizados por 6 anos de um primeiro-ministro sem qualquer tipo de ética, precisam de superar esse divórcio e participar activamente de forma a evitar que uma pessoa com tão pouca formação moral possa voltar a ocupar São Bento.
Pelo fim dos tirantes e por uma democracia participada, vamos lá então reassumir o papel que nunca devia ter sido tirado aos cidadãos por gente mal formada, arrogante, prepotente e, salvo melhor opinião, mentirosa (e não falo só do PS).

quarta-feira, 23 de março de 2011

As consequências da posição do PSD no PEC IV

O chamado «PEC IV» irá hoje ser chumbado na Assembleia da República pelos partidos da oposição.
No seu site, o PSD divulgou uma mensagem destinada aos mercados – supostamente no intuito de os acalmar. Não deixa de ser algo irónico que o principal partido da oposição, um partido com responsabilidades governativas, dirija uma mensagem àqueles a quem hostiliza. Dirá por esta altura o leitor: «Hostiliza os mercados e faz muito bem! O PSD responde perante os portugueses!». Aqui já diz mal o leitor. Porque ao hostilizar os mercados, o PSD está a hostilizar os portugueses; porque os portugueses dependem dos mercados para se financiarem. Ou então não dependem: nesse caso, recorrem a um pedido de ajuda internacional. Mas ironias à parte, que conteúdo tem esta mensagem do PSD?
Em primeiro lugar, o PSD reafirma o seu compromisso perante as metas orçamentais, saudando o Pacto de Competitividade firmado no recente Conselho Europeu. Ora, ao reafirmar o seu compromisso perante as metas orçamentais de 4,6% de défice em 2011 e 3% em 2012, o PSD decerto não ignora as medidas que serão necessárias para colocar o défice nesse nível. O PSD, decerto, não ignora que o Governo, colocando um pano preto diante do défice, ocultando-o, rufando os tambores, e pronunciando umas palavras mágicas, destapando depois o pano, o faz desaparecer, pois não? Pois bem: se o PSD é sério, porque reafirma o seu compromisso com a consolidação das finanças públicas e, simultaneamente, chumba o propósito com que se afirma comprometido? Faz isto sentido? Não concorda com as medidas? Pois que apresente medidas. Além do mais, ao recusar a aprovação destas medidas o PSD está ciente das implicações da sua posição para o País – o FMI. Suponhamos que o Governo cai, que eleições antecipadas são convocadas, que o PSD as vence – que medidas irá tomar o PSD? Como consolidará o PSD as finanças públicas? E aqui chegamos ao segundo ponto do comunicado do PSD. O PSD afirma que as medidas agora apresentadas foram tomadas não pelo Governo, mas por Bruxelas. No cenário que descrevemos, quem julga o PSD que decidirá o futuro do País? O próprio PSD? O PSD está disposto a sacrificar a réstia de soberania que ainda temos para chegar ao poder? E chegado ao poder aplicar não o seu programa de governo, mas o programa de governo das instituições europeias e internacionais? Que legitimidade tem um partido que envia um País para um pedido de ajuda internacional, obrigando-o a adoptar posteriormente as medidas que forem especificadas pelas instituições internacionais, precisamente porque não adopta medidas próprias?
Por esta altura dirá o leitor (especialmente se for do PSD): «Mas aplicar o programa da União Europeia e do FMI, isso já está este Governo a fazê-lo!». Engana-se novamente o leitor. Este programazinho de austeridade é uma pequena amostra daquilo que nos espere se o FMI entrar em cena. Cortes progressivos nas reformas superiores a €1500 serão apenas o começo.
E pior, caro leitor: Está a ver a Irlanda? O pedido de ajuda internacional não os ajudou muito: estão a pagar juros de 6%. Está o leitor a ver Grécia? Só agora no último Conselho Europeu conseguiu uma redução da taxa de juro do seu empréstimo – porque era isso ou a Grécia não pagava. As taxas de juro a que nos financiamos continuarão elevadas – mas já sem réstia de soberania política.
É, pois, perante este cenário que nos coloca o PSD. Porque sejamos claros: o PSD não ignora as consequências da sua posição. O PSD sabe que Portugal tem vindo a financiar-se desde o início do ano a uma taxa de juro insuportável a médio/longo prazo, apenas suportável temporariamente, e que tinha por objectivo evitar um pedido de ajuda internacional, aguardando pelas decisões do Conselho Europeu no sentido de tranquilizar definitivamente os mercados. Os primeiros passos foram dados na reunião de há duas semanas atrás: reforço do Fundo de Estabilidade Europeu e o Pacto da Competitividade. Medidas ainda curtas, decerto, mas ainda assim, importantes para Portugal que logo nos dias seguintes se repercutiram na sua taxa de juro. Tudo isso se revelou em vão precisamente na véspera da decisiva reunião do Conselho Europeu pela qual Portugal tanto aguardava. Tudo em vão em nome do oportunismo político. Tudo em vão em nome do interesse partidário.

terça-feira, 22 de março de 2011

Adio, Adieu, auf Wiedersehen, Goodbye!

“Este Governo não vai cair porque não é um edifício… Vai sair com benzina porque é uma nódoa!”
Eça de Queiroz, O Conde de Abranhos




O fim podia ter vindo antes, mas parece que vem agora. Portugal não vai acabar (pois, como todos sabemos, o mundo finda em 2012) com Sócrates ao leme. Muitos já estranhavam a demora de Passos Coelho…


Imagine o leitor o seguinte cenário: consegue o número da sua actriz/modelo favorita, leva-a a jantar, vão tomar um copo, ela convida-o a subir ao apartamento, mais uma conversa, mais uma bebida e quando dá por ela, está deitada na cama, nua! E V. Exa. paralisa (quiçá com medo dos mercados ou então com o medo das sondagens), não tira as calças! Esta alegoria bem que se podia aplicar à situação política: Portugal, já sem tanga, está de gatas; as sondagens dão a maioria ao PSD; o Sócrates conhece o seu mais baixo índice de popularidade… E o Passos nada? Arre! Rua com o Governo!


Mas agora é que é – o fim está iminente. E nas últimas horas deste Governo queremos reafirmar (como muitas vezes já foi aqui dito) que o melhor ministro deste governo é Luís Amado. Mais uma vez, pela sua clarividência, merece aplauso.


Ao senhor engenheiro recomendamos agora uma dieta rica em robalos que, como toda gente sabe, é um peixe bastante nutritivo, capaz de sustentar políticos na reforma.
Os nossos amigos do CDS já têm também a casa arrumada, por isso vamos lá mandar o socialismo para uma gaveta bem funda! Toca a reunir para a campanha, vamos lá “voltar a crescer”.

O nosso único receio é que, após o já anunciado chumbo do PECIV, o primeiro-ministro não se demita como já prometeu… É que de promessas incumpridas, aldrabices pegadas e coisas mal explicadas, já temos a nossa conta!
Mas não fique o actual senhor primeiro-ministro deprimido… Um dia alguém há-de nomear uma travessa ou uma ruela para o homenagear. Mas enquanto esse tempo não chega, ligue V. Exa. a estéreofonia e ouça esta canção, que lhe dedicamos!



segunda-feira, 21 de março de 2011

Uma singela história de um bêbedo


Superadas as ânsias e acautelado o medo, o herói Alfredo salta da porta do seu lar vestido de Lycra e preparado para amar. Calcorreando as ruas da cidade, sob a luz alaranjada dos candeeiros luminosos, vai determinado em espalhar a magia condicente com o brilho radioso do seu acanhado traje, desfilando confiante e assobiando sinfonias.
Ultrapassada a mágoa do desastre e a dor da revolta, a sensação de solidão não sabe bem, amarga na boca. Então o aperaltado Alfredo desce as avenidas, procura o doce sabor da companhia. Baralhado com tanta purpurina e o tilintar estridente dos saltos no chão, a alma vazia de coração a latejar não consegue mais ver as damas em apuros, fica prestes a colapsar. Olha à sua volta, corre desenfreado, mata a sede com dois goles de uma má aguardente e pensa: És tu que já estiveste a ver melhor! Decide-se a procurar de novo, desta vez com renovada esperança, embora já com trôpegos passos e com algum peso na pança.
Adiantada meia-dúzia de copos, pensando alto demais para o seu habitual dolorido estado de apatia emocional, o herói da noite atenta, aparentemente, a mais formosa donzela daquele estrépito e acanhado espaço. Suando já em bica e tropeçando na própria existência, aproxima-se e chega-lhe ao ouvindo, forçando uma audição ruidosa num lugar pouco dado a conversas e expelindo o seu alcoólico bafo:
- Menina... Reparei que os seus delicados traços me fascinam. Arrancaria todas as flores do mais belo jardim do mundo apenas para a ver florir. Soar-lhe-ei tolo, alucinado e descompensado, mas na verdade apenas me sinto apaixonado.
Atarantada com a confissão e surpreendida pela erudição, a esguia moça assim ficou. Revirando-se em si mesma e fazendo esvoaçar altivamente os longos cabelos ondulados, deu as costas ao pobre coração embriagado.
Desfalcado de argumentos e abandonado de sobriedade, o herói bebeu mais três e, embora intermitente, voltava-lhe a confiança necessária novamente e, babadas, assim lhe saíram as palavras:
- Senhora. Estarei a ser inoportuno ao revelar-lhe tão nobre sentimento? Pois o que sinto por dentro será a maior pura das relíquias! Não verão nunca os teus olhos a pureza das minhas intenções?
Farta de ali estar, cansada pelo passar das horas e exasperada por tamanha inconveniência, a senhora, que mais de menina teria, rodou uma vez mais nos saltos dos seus sapatos e olhando-o de frente disse:
- Falas como um velho e estás a chatear-me! Se não te pões a mexer obrigas-me é a furar-te os olhos com os meus próprios dedos. Põe-te a andar bêbedo!
Atrás dele dois seguranças surgiram, com cara de poucos amigos e corpo a abarrotar pelas costuras das negras vestimentas. Atordoado pelas aparições o herói Alfredo apelou à paz, não queria sair a mal, embora a ajuda lhe conviesse já que os pés lhe falhavam o chão.
- Calma amigos... Calma... Eu vou já! Ajudem aqui se faz favor, que este vosso irmão já bebeu mais da conta.
Adiantada ia a madrugada quando, sozinho, abandonado e desprezado, o desbotado herói se arrastava pelas ruas à procura do caminho para casa. Nada ganhara e assim continuava. Outra noite viria e, o lustroso fato, decerto reapareceria.


domingo, 20 de março de 2011

Vou ali comprar uma carroça e já volto!

O Governo pretende aumentar o imposto sobre veículos (ISV) já no próximo ano (isto poderá acontecer se este Governo permanecer em funções o que, confessemos, duvidamos que aconteça!). O objectivo preconizado é, mais uma vez, aumentar a receita fiscal.

O Estado pretende arrecadar mais receitas subindo os impostos ao invés de tentar conter e diminuir a despesa. Sob a capa de que esta subida se deve à necessidade de travar a importação de automóveis, o Governo justifica-se, afirmando que esta medida não irá agravar as situações económico-financeiras das famílias e das empresas portuguesas. O ainda mais caricato é uma tirada de alguns membros governamentais que chegam mesmo a referir que as famílias e as empresas têm de se consciencializar que fazem despesas insustentáveis e que devem conter-se mais.

Ora, se atendermos bem à nossa realidade presente, logo concluiremos que esta é mais uma manobra do actual executivo que conduzirá à agudização da já grave situação dos agregados familiares e empresas portuguesas.

É mais do que notório que numa qualquer família portuguesa o automóvel é um bem de primeira necessidade. A família precisa dele para ir às compras, para transportar as suas crianças de/para a escola, para poder deslocar-se de/para o seu local de trabalho. Todavia, parece-me que o automóvel está faseadamente a transformar-se num bem de luxo. Os preços dos combustíveis estão em constante crescendo, já tendo mesmo atingido esta semana recordes históricos, custando cada litro de gasóleo cerca de € 1,50.

Ademais, as portagens das ex-SCUTS são cada vez mais caras e as isenções em grande parte delas já vão deixar de existir a partir de 15 de Abril de 2011, já no próximo mês. A par do gasóleo e das portagens, todos os anos tem de ser pago o ISV, antigo Imposto Automóvel. Este imposto é pago durante o mês da matrícula do veículo e pode ascender a montantes cujo limiar mínimo é € 10.

Se o imposto é obrigatório, vamos agravar ainda mais a situação dos portugueses, aumentando-o, sobretudo quando se trata de um imposto que incide sobre um bem imprescindível para todas as famílias portuguesas já tão assoberbadas de encargos? E as empresas portuguesas que estão com uma carga tão pesada de tributos e que necessitam de veículos para efectuar as suas trocas comerciais? Vão ter de sofrer (mais) um abalo nas suas contas com este aumento dos impostos sobre as suas viaturas?

Se tudo funciona por ciclos, muito provavelmente voltaremos ao tempo dos nossos bisavós, uma era em que ter um carro era um sinal de ostentação e em que o mais comum dos meios de transporte era o burro.

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 19 de março de 2011

Da intervenção militar na Líbia

À excepção do Reino Unido e da França – os grandes defensores e promotores da recente resolução das Nações Unidas que permite uma intervenção militar na Líbia –, os aliados não anseiam por uma solução deste tipo. Os Estados Unidos estão já activamente envolvidos em duas guerras dispendiosas; depois das primeiras declarações de Obama acerca de uma participação activa dos EUA na resolução deste conflito, nomeadamente militar, a posição da Administração americana parece ter mudado para uma maior prudência: a sua Secretária de Estado, a Sra. Hillary Clinton apenas fala da inevitável “colaboração com os aliados”. A Alemanha, por exemplo, representando a força mais viva da União Europeia, tão-pouco votou favoravelmente a resolução do Conselho de Segurança da ONU. Estranhamente, são os próprios países árabes que manifestam maior interesse na resolução rápida do conflito: o Qatar, os Emiratos Árabes Unidos e a Arábia Saudita já se perfilaram para serem parte activa na intervenção. O seu papel é determinante, tal como já o havia sido para o entendimento a que se chegou no Conselho de Segurança. A inclusão de forças dos Estados árabes entre as forças da comunidade internacional é importante para que esta intervenção não seja encarada como uma operação que envolve todos os Estados e não apenas uma intervenção colonialista do Ocidente. Neste caso trata-se de uma intervenção que é vista com bons olhos pelo próprio povo líbio – não é isso que está em causa: é antes a garantia de estabilidade para o futuro da Líbia pós-Kadafi.
Apesar da relutância dos Estados Unidos e, em parte, da União Europeia, a opção militar parece inevitável. Não obstante o anúncio imediato de cessar-fogo do regime líbio como reacção à decisão do Conselho de Segurança da ONU, os ataques ao povo líbio permanecem. Benghazi, a capital dos revoltosos líbios, está a ser alvo de ataques intensos das tropas de Kadafi que conseguiram já penetrar na cidade.



À luz do direito internacional, a intervenção da comunidade internacional está, pois, legitimada: não só ao abrigo da recente resolução do Conselho de Segurança da ONU, como também ao abrigo da noção de «responsabilidade de proteger», que consta da resolução 60/1 da Assembleia Geral da ONU. A recente resolução do Conselho de Segurança da ONU, no entanto, é, do ponto de vista político, importante para reforçar a legitimidade da intervenção que era já válida do ponto de vista do direito internacional. Segundo a resolução 60/1 da Assembleia Geral das Nações Unidas, a soberania de um Estado não é absoluta, ou seja, a comunidade internacional, através das suas instituições, tem o direito de agir sobre todas aquelas situações que possam colocar em perigo grave a população de um Estado ou parte dela: aqui se incluem os crimes contra a humanidade, ou os atentados aos direitos do Homem.
Não restando, pois, outra possibilidade, a comunidade internacional tem de agir – e agir rapidamente. As forças de Kadafi estão à porta de Benghazi e um massacre da população é eminente. Ora, sendo o mandato conferido pelo Conselho de Segurança da ONU precisamente para defender a vida do povo líbio e esgotadas todas as outras possibilidade de resolução pacífica do conflito, como o regime vem demonstrando, os aliados precisam de se entender rapidamente quanto à forma e ao alcance da intervenção. Nesse sentido, decorre hoje, em Paris, uma reunião crucial para definir os termos dessa mesma intervenção.
O Ocidente não pode adiar mais a sua resposta; a sua credibilidade está já abalada pelo apoio tácito que foi dado a Kadafi durante mais de quarenta anos de regime. A inacção, neste momento, terá um preço elevado para o Ocidente, mas não só: está também em causa a permanência do ímpeto das revoluções no mundo árabe. A sobrevivência do regime de Kadafi seria uma terrível derrota. O triunfo da Revolução, pelo contrário, manteria viva a esperança do alargamento dos movimentos democráticos a Estados despóticos.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Sobrenatural à sexta

Não meus senhores, são se trata de publicidade a série televisiva alguma, o tema desta sexta que antecede a noite da maior lua cheia dos últimos 18 anos é o Sobrenatural no seu estado mais puro. Bruxaria, espiritismo, metamorfos, vampiros e bichezas no geral, é o que hoje assombra o Opinador. Com certeza que todos terão qualquer coisa a dizer sobre o tema, dos mais cépticos aos mais crentes e, por isso, espero encontrar aqui a esperança de, nessa noite de gigantesca lua cheia que se aproxima, ter a oportunidade de ver passar na rua um igualmente gigantesco lobisomem, condicente com a lua que o transformará.
Sem mais delongas, atentemos nas fantasmagóricas contribuições dos caros colegas:

Lord Nelson

Nisto do sobrenatural a preferência deve ser dada ao cepticismo. Mas quando somos confrontados com vultos deste tipo, necessariamente começamos a acreditar no oculto...


Leticia, a Marquesa

Bruxas, fantasmas, misticismo, tarot e mesas pé-de-galo... Portugal está a precisar de tudo isto. Portugal precisa de ir à bruxa, porque alguém lhe lançou um mal olhado e cá para mim foram os rosinhas. Será que veremos o FMI quando olharmos para a bola de cristal?


Carlos Jorge Mendes

Espíritos? Eu até aposto que havia pessoas que nem se importavam de ser fantasmas...


M. Pompadour

A prova de que Portugal também tem os seus tesouros do ocultismo e, de que, qualquer rei da sua aldeia pode esconder poderes de premonição e outros. Espero ansiosamente a vinda do lobisomem XL.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Crise Política em Portugal?

A semana passada, o Governo Português apresentou o que a imprensa incorrectamente designou por «PEC4». Na verdade, este dito «PEC4» não constitui mais do que as grandes linhas orçamentais para 2012 que deverão ser apresentadas em Abril a Bruxelas por todos os Estados-membros da Zona Euro, depois de ano passado, na sequência da crise da zona euro, a União Europeia ter reforçado a coordenação orçamental entre os Estados. Este «PEC4», portanto, não é mais do que o respeito pelas regras europeias de coordenação orçamental dos Estados. É certo que a apresentação apenas tem lugar em Abril e não em Março como o Governo acabou por fazer, mas a antecipação da apresentação é bem compreensível: conciliar as decisões saídas do Conselho Europeu com o esforço de consolidação orçamental português de forma a reassegurar definitivamente os mercados para que isso se reflectisse nas taxas de juro da dívida pública portuguesa. Isso constituía inclusive, segundo se diz, uma exigência dos parceiros europeus, da Comissão e do BCE para que do Conselho resultassem decisões quanto ao reforço do FEEF e uma declaração conjunta de confiança no esforço de consolidação português.
O que não nos pareceu correcto foi o desprezo a que o Governo Português sentenciou os órgãos de soberania. É verdade que Bruxelas é cada vez mais importante para as decisões que se tomam em Portugal; é verdade que grande parte da nossa soberania está já alienada aos nossos credores; mas o Governo Português ainda é politicamente responsável perante a Assembleia da República; e ainda existe um poder moderador que controla a vida política portuguesa – o Presidente da República. A atitude do Governo português só pode ter uma intenção: hostilizar a Assembleia da República e o Presidente.
Imediatamente após o anúncio das linhas orçamentais para o próximo ano, logo o PSD levantou o espectro de uma crise política. O que o Governo anunciou, essencialmente, foi a recuperação da proposta da limitação das deduções fiscais (que deixara cair aquando da negociação do OE 2011 com o PSD) e o corte nas reformas superiores a €1500 de forma progressiva – à semelhança do que aconteceu este ano no corte da remuneração dos funcionários públicos.
Obviamente que o PSD, estrategicamente, se posiciona do lado do chumbo. Desde logo pelo conteúdo da proposta. A limitação das deduções fiscais foi liminarmente rejeitada aquando da discussão do OE 2011; já neste ano, o PSD sempre se demonstrou crítico com a imposição de novas medidas de austeridade, remetendo o sucesso da consolidação para um escrupuloso cumprimento do Orçamento, pelo qual o Governo era responsável. Pouca margem resta, pois, ao PSD para voltar atrás nas suas palavras sem suportar os devidos custos eleitorais de um recuo. Mas mais do que o conteúdo da proposta, a questão é sobretudo de oportunidade para o PSD. Como dissemos, este PEC representa a base daquilo que será o Orçamento do próximo ano. Manifestando concordância com o mesmo, ou abstendo-se, o PSD fica vinculado pela sua escolha agora, quando for necessário aprovar o OE para 2012 por uma questão de coerência. Não poderá rejeitar a posteriori aquilo com que concordou a priori. E assim se perde uma boa oportunidade para provocar a crise política que o PSD tão ansiosamente deseja. Por outro lado, aprovar estas medidas no Parlamento português será um sinal de confiança para os mercados que ajudará a aliviar a pressão dos juros da dívida pública portuguesa e afastar o espectro do FMI. Estará o PSD comprometido a esse nível? É que caso isso se verificasse, tal não poderia deixar de ser encarado como uma vitória do Governo. Provocar uma crise política nessa altura será perigoso para o PSD.
O Governo, por estes mesmos motivos, está também interessado numa situação de instabilidade política mas não em eleições antecipadas. Esta situação de instabilidade é favorável ao Governo porque permite deslocar o ónus de uma crise política para o PSD numa altura delicada para o País. Caso o PSD ceda, a estabilidade estará assegurada para os próximos tempos.
Mas e que tem o Presidente da República a dizer de toda esta situação? Ora, Sua Excelência declara que não tem nada a comunicar ao País. Sua Excelência, com efeito, já comunicou tudo ao País no discurso da sua tomada de posse. Sua Excelência, com efeito, que devia representar uma instituição que vela pelo interesse público provocou precisamente o efeito contrário. Se a magistratura activa for, de facto para isto, então faz V. Ex.ª bem em agir como agiu agora: calando-se.

terça-feira, 15 de março de 2011

Geração à Rasca: o Porque Não


Imagem daqui

O direito a manifestar-se é constitucionalmente consagrado e não o pomos em causa. Não está dependente de autorização (apenas de comunicação) e assim deve continuar. Mas não é por haver manifestações que temos de concordar com os seus pressupostos.

E assim é com o caso da manifestação do passado fim-de-semana que reuniu milhares de pessoas (200000 na capital e 80000 na Invicta, segundo algumas estimativas). Ora comecemos por analisar o manifesto que lhe deu origem:

“Nós (…) que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do
país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos
diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas
as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza - políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.”
(…)

Pois bem, foram para a rua reclamar um mercado de trabalho seguro e certo.

Um emprego para a vida pode, ao mais incautos, parecer como uma maravilha, um garante de estabilidade no qual podem edificar a sua felicidade. Mas não nos esqueçamos que essa estabilidade nada mais é do que estagnação, que impedirá a mobilidade social e, também, a produtividade e a inovação. A almejada estabilidade será uma sentença para a vida – proletários de alguém, sem competição, sem chatices, sem maçadas, numa vidinha mediana.

Fui frontalmente contra as razões plasmadas no manifesto pois estão desfasadas dos nossos tempos – a minha geração, deveria era lutar pela liberdade de iniciativa económica, pelo empreendedorismo: eu não quero um subsídio! Quero é o fim do confisco, quero é que me deixem produzir e não me penalizem por isso!

E aqui chegamos a uma contradição – se a nossa geração é a mais bem preparada, também é aquela em que, pessoas com menos recursos puderam prosseguir os seus estudos. E assim sendo, os mais bem preparados não querem competir com os que apelidam de menos preparados? Querem ser como eles, mas não competir com eles? Preferem antes berrar para poder serem criados de alguém!

O que gostava era que o Estado tributasse menos quem quer iniciar uma actividade (e gerar riqueza para o país) e que diminuísse a carga burocrática (todo uma série de regulamentozinhos, desde extintores a facturas que por aí pululam e que tolhem a iniciativa privada).

Mais, se essas reivindicações são um direito de alguém, constituirão um dever de outrem. Mas de quem? Do Estado? A economia colectivizada já mostrou que conduz a situações pouco agradáveis (URSS, Cuba, Coreia do Norte) Ou dos privados? Mas aí pune-se quem corre riscos, já que tem que andar com os outros às costas…

Para além do manifesto, o protesto definia-se como “PROTESTO APARTIDÁRIO, LAICO E PACÍFICO.”

1. Numa outra linha de argumentação, refira-se a perigosa retórica anti-partidos que reinou, com laivos de anarquia. Os partidos são uma ferramenta essencial para a democracia – até agora ainda nenhum filósofo político conseguiu conceber uma democracia sem eles, exceptuando a democracia directa, impraticável num país com cerca de 10 milhões de habitantes. Uma retórica anti-partidos num país sebastianista é a receita para o desastre… Para a ditadura!

2. Mas que raio querem dizer com laico? Acaso a laicidade do Estado está em causa? De onde surgiu isto? O que é que a neutralidade do Estado em assuntos religiosos tem que ver com a precariedade laboral?
Concluíndo,

Queremos um país de proletários, ou queremos um país de proprietários?

Apelidaram-se de “parvos” mas discordo do qualificativo… Deveriam ter optado por “idiotas” já que este adjectivo significa ignorante ou desconhecedor, in casu, das capacidades próprias. Se somos assim tão bons porque não lutamos pela meritocracia?

Os BRIC estão aí e temos de aumentar a produtividade, não a estabilidade. Se formos por esse caminho, em 50 anos a Europa está na cauda do mundo. O mundo mudou, estranho ainda não terem percebido com tantos estudos que têm… Habituem-se! A “precariedade” não é um problema nacional… É uma corrente global.

Triste foi ver a JSD apoiar isto… Enfim!

domingo, 13 de março de 2011

A Beyoncé e o Kadafi

Grandes estrelas internacionais do mundo da música viram-se nos últimos tempos ligados à família Kadafi. E tudo porque o clã Kadafi gosta de música e os artistas internacionais até nem se importam nada de ir dar um concertozinho e ganhar, em contrapartida, uns bons milhares ou, nalguns casos, milhões de euros.

Há muito boa gente, gente rica leia-se, que gosta de receber em sua casa grandes nomes da música para um concerto privado destinado a si e aos seus. Desde ditadores a multimilionários mais ou menos corruptos, todos tratam de contratar cantores, cantoras e bandas para alegrar um pouco as suas festas privadas ou para simplesmente terem “música ambiente” ao vivo enquanto se deliciam com um pouco de caviar e outras iguarias. A família Kadafi não constituiu excepção e teve presenças musicais muito carismáticas nas suas festas.

Normalmente os pedidos para concertos privados surgem em cima da hora e dificilmente são recusados, porquanto o dinheiro em jogo é mais do que muito. Em época de crise até no reino da música, uma vez que as receitas das vendas da música estão pelas ruas da amargura, os concertos voltaram a ser a principal fonte de rendimento dos artistas, artistas estes que não podem dar-se ao luxo de negar a oferta de uns quantos milhares ou até mesmo milhões de euros em troca de uns minutinhos de actuação.

Para o clã Kadafi actuaram estrelas como Beyoncé, Mariah Carey, Nelly Furtado, Usher e 50 Cent. Beyoncé, a diva da música pop, recebeu por uma hora de concerto no Ano Novo, 1,4 milhões de euros. Mariah Carey também actuou na Passagem de Ano 2009/2010 durante 40 minutos, tendo recebido como contrapartida 180 mil euros.

Estes artistas, pressionados pela imprensa, ao verem os seus nomes ligados à família do ditador, apressaram-se a vir a público afirmar que, no caso de Beyoncé, tratou logo de doar o dinheiro recebido pelo concerto às vítimas do Haiti e, no caso de Mariah, irá doar todo o dinheiro a instituições que defendem os direitos humanos. Usher decidiu fazer um comunicado onde se podia ler: “Estou envergonhado, o dinheiro vai todo para organizações de defesa de direitos humanos.”.

Eu só não entendo o porquê destas atitudes de assunção de sentimentos de culpa. É mais do que louvável que artistas com elevados rendimentos doem parte destes a organizações ou instituições de solidariedade social. E não nego que a família Kadafi constitua uma das famílias ditatoriais mais condenáveis da actualidade mundial. No entanto, estes artistas, ao fazerem estas doações, parece que estão a assumir um erro, sendo que apenas receberam o preço do seu trabalho.

Será que também se poderá exigir àqueles que venderam alimentos, bebidas, electrodomésticos, automóveis à família Kadafi que doem o dinheiro que receberam com a venda destes bens? É meritório que o dinheiro doado vá parar aos que sofreram nas mãos do regime de Kadafi. Todavia, o sentimento de culpa que invade a alma dos artistas não é justificado.

Shakira também cobrou por dois concertos para magnatas moscovitas nada mais nada menos que 2,2 milhões de euros num único fim-de-semana em Moscovo. Kylie Minogue cobrou 3 milhões de euros por uma festa dada a um barão do petróleo também na capital russa. Então, meninas, também não doam o dinheiro que receberam, uma vez que quem vos pagou também não é menos ditador nem menos corrupto? Meninas más que sois!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 12 de março de 2011

Cisne Negro



Das primeiras críticas que tive oportunidade de ler sobre o «Cisne Negro» todas realçavam unanimemente um aspecto da história: o filme de Darren Aronofosky revelava frontalmente a obscura e tenaz competição no mundo do ballet. Nada de mais errado. O filme, com efeito, aborda esse tema, mas tão-só lateralmente; ou melhor, apenas de forma ilusória: a competição, na verdade, existe somente encerrada e confinada à imaginação de Nina (Natalie Portman) e não é mais do que uma das manifestações das fragilidades da personagem. Não existe senão dentro do conflito interior de Nina, agravando-o, dilatando-o, dando-lhe forma. É por isso que Lily (Mila Kunis) existe também. Esta personagem não existe senão em função de Nina: não existe para demonstrar ao espectador a realidade cruel da competição, para demonstrar ao espectador o claro contraste de personalidades, mas sim agindo directamente sobre Nina, para que ela caminhe, irreversivelmente, rumo ao desenlace fatal, alimentando-lhe a ilusão.
A história do filme é, pois, sobretudo, a história de uma bailarina interpretada por Natalie Portman, Nina Sayers, e da sua fraca educação e como ela irá influir sobre o ballet, seu único amor, mas que se irá tornar igualmente a sua perdição.
Centrando-se a história do filme em torno da história de uma personagem, o realizador depara-se com um tremendo desafio: a construção dessa mesma personagem, dotá-la de todas as características que permitam que o espectador se prenda no enredo da sua evolução: a maleabilidade da sua personalidade, a intimidade do seu pensamento, a subtileza dos seus sentimentos, a opressão das suas inquietações, o brilho das suas aspirações.
A tarefa do actor será colocar na prática aquilo que o realizador apenas esboçou esfumadamente sobre o papel: será tornar visíveis os tons de fumo que são sugeridos pelo realizador, revelando, expondo, vivificando a personagem, tornando compreensível e patente aos olhos do espectador aquela que foi a construção do seu realizador.
A apresentação da personagem ao espectador, a sua maneira de ser, deve ser feita principalmente através dos gestos, dos diálogos, das atitudes, dos actos. O cenário em que decorre a acção deve ser um complemento simbólico do seu interior, mas sem o tornar demasiado óbvio, sem recair em clichés, sob pena de parecer postiço. Tudo conflui e se adequa aos intentos do filme na mais perfeita harmonia: tudo representa aquilo que pretende representar. É a constituição física frágil e magra, a vozinha doce e delicada, a personalidade tímida e lânguida de Nina; é o seu quarto, forrado com um papel de parede cor-de-rosa, repleto de ursinhos de peluche; é a figura da mãe, austera, de traços rígidos e severos.
O trabalho de Aronofsky e Portman são soberbos a ambos os níveis. O simbolismo percorre todo o filme: é o preto e o branco, a realidade e o sonho, a penumbra e a claridade, a escuridão e a transparência, a pureza e a volúpia: tudo isto nos chega através de massas de cor, de luz, de formas, de sons, de ritmos.
Para mim, o aspecto mais extraordinário do filme consistiu na reunião dos destinos de Nina e do Cisne Negro. Inicialmente reconhecida por todos pelas suas semelhanças com o Cisne Branco, pela sua pureza, pela sua delicadeza, pela sua fragilidade, pela sua melancolia, pela sua languidez, pela sua doçura, a história de Nina, ao aceitar desempenhar o papel de Cisne Negro no «Lago dos Cisnes», é a sua progressão rumo à encarnação dessa personagem no bailado, mas principalmente no seu íntimo. Enquanto se manteve confinada ao seu lado mais puro e mais original, os seus fantasmas interiores vinham aqui e acolá, mas permaneciam esmagados por uma educação protectora. O papel de Cisne Negro expõe-na abertamente aos seus espectros e revelam a incapacidade da personagem lidar com o conflito interior com que se debate. A história do filme demonstra como a pureza, a delicadeza, a doçura de Nina se vão esbatendo progressivamente enquanto ela encarna de forma cada vez mais profunda o papel de Cisne Negro. Isso nota-se perfeitamente na noite da grande actuação perante o público. A Nina que representava na mais absoluta a perfeição o Cisne Branco comete um erro. Regressa ao camarim desolada quando julga ver Lily: receando que esta lhe roube o papel julga matá-la: é a metamorfose completada. Nina regressa ao palco como Cisne Negro e deslumbra – o público aplaude de pé. Regressa ao camarim: procura o cadáver de Lily, mas não o encontra; ela sangra do ventre. A ilusão desvanece-se, a realidade surge: não foi Lily que Nina cortou com um pedaço de vidro quebrado: foi ela mesmo. Regressa ao palco: é novamente o Cisne Branco, é novamente a velha Nina. É-o porque a ilusão que lhe permitira encarnar fielmente o papel de Cisne Negro se dissolveu. Mas a realidade essa não se pode voltar a defraudar: o Cisne Branco precipita-se do abismo; Nina morre. Os dois destinos, unidos.
A cena com que o filme se inicia é o prólogo de toda a sua história: é o sonho, é a forma como ele se impregna tão veementemente no interior de Nina ao ponto de se tornar imperceptível da realidade. E como essa ilusão, essa obsessão lhe irá custar o desenlace trágico final.

quinta-feira, 10 de março de 2011

A TDT





Cidadãos! Vem aí o "switch-off'" !
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Que raio é o switch-off? Ora, tal estrangeirismo designa o processo de cessação das emissões analógicas de televisão e a passagem ao sinal digital terrestre, que terá lugar do próximo mês a um ano.
Habitualmente, tal assunto não merceria a atenção d' Opinador pois para além de bastante aborrecido em nada contribuirá, pelos menos directamente, para o nosso progresso civilizacional. Com efeito, atendendo à qualidade das nossas televisões, contribuirá isso sim para o retrocesso.

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O que é interessante são as declarações do Sr. Ministro Mendonça:

" Todos os portugueses vão poder assistir [à TDT] independentemente do local onde vivam e dos seus rendimentos, através de um programa de subsidiação aos grupos de menores recursos financeiros, cidadãos com necessidades especiais e instituições de comprovada valia social."

Não temais, Portugal!

O nosso Governo, sempre bom e previdente, qual pai dedicado, está comprometido em assegurar que nenhum dos seus filhos passe sem a anestesia da televisão nacional, sem as novelas deprimentes, nem o futebol (com uns Deolinda e Homens da Luta, pelo meio).

E eis aqui a prioridade deste nosso xuxalismo! A teta nacional, apesar de raquítica ainda vai esguichar meia dúzida de tostões para dar...

Mas o ridículo é maior: Portugal, nas palavras do ministro é pioneiro neste sistema "Somos o primeiro país da Europa com cobertura total", disse António Mendonça. Apesar de falharmos redondamente na maioria dos indicadores europeus, iremos figurar nos lugares cimeiros de tal marco civilizacional - a televisão digital terrestre.

E o fenómeno não ocupa apenas o minsitro das Obras Públicas. O presidente da ANACOM (que bem se habilita a um patrocínio da Multiópticas pela seu brilhante mandato), em vez de se preocupar em investigar uma coisa mais importante, como talvez seja a ausência de concorrência no mercado dos comunicações móvies e os indício de cartelização (que ocorreram na última modificação dos preços dos TAG'S, Extravaganzas e Moches) dedica-se também a esta nobre causa. Diz sua excelência: "o que é decisivo é que nenhum português fique excluído. O caminho é difícil, vamos ter vários pontos de referência, mas também é possível alguns desencantos. O nosso desafio não é só fazer o switch-off é para que cada português não fique sem televisão".

O canto de finados do Estado Social é pois a atribuição de um subsídio para ver o Benfica! Brilhante! Fenomenal! Genial!

E, numa nota totalmente despropositada, uma testemunha que agora vá prestar declarações a uma esquadra de polícia e necessite de um justificativo da sua falta, vai ter que pagar 10 euros, que é a mesma quantia que quem quiser apresentar uma queixa-crime vai ter que dispender. Entre televisão e justiça, priveligia-se a televisão... Porreiro pá!

Ver aqui.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Dos Acontecimentos na Líbia

O ímpeto da Revolução Líbia parece agora inverter-se e começar a favorecer o Coronel Kadafi com os rebeldes a sofrerem reveses importantes nas cidades de Zawiyah e Ras Lanuf.
O entusiasmo genuíno dos manifestantes no Egipto e na Tunísia em torno dos ideais democráticos e da liberdade que se revelou suficiente nesses casos, é estreito na Líbia. Os Líbios deparam-se contra um exército em combate, ao contrário do que aconteceu na Tunísia e no Egipto, onde o Exército não recorreu à força.
O clã Kadafi continua a controlar os pontos chaves da Governação, reduzindo as possibilidades de uma desagregação do regime, sobretudo no caso da Defesa, agora o Ministério fundamental para assegurar a sua sobrevivência.

Mas o que hoje gostaria de trazer ao leitor é, sobretudo, o papel da comunidade internacional na Revolução Líbia. Comecemos por uma declaração do Presidente Obama.
A admissão de uma intervenção militar pelo Presidente Obama foi errada. Errada porque, em primeiro lugar, revela não compreender o que torna estas revoluções únicas e tão dignas: são revoluções que partem do povo e que são feitas pelo povo, nas suas legítimas ambições e nos seus mais nobres ideais. Errada, em segundo lugar, porque quando a declaração foi efectuada, o ímpeto da revolução estava do lado dos rebeldes: ofuscar o mérito da iniciativa popular com a possibilidade de uma ofensiva militar estrangeira é politicamente errado. Em terceiro lugar, errada porque demonstra que os EUA não aprenderam as lições que o Afeganistão e o Iraque lhes deram. Para haver uma iniciativa militar tem de haver comprometimento da comunidade internacional. No caso que nos importa, uma declaração pública de apoio da Liga Árabe e da União Africana, bem como o inevitável apoio interno que terá de partir dos Líbios. Os aliados, e em especial os EUA, têm a imagem machada pela forma como se iniciou e desenrolou o conflito do Afeganistão e do Iraque. Neste momento, o que os Aliados devem evitar é voltar a demonstrar tiques imperialistas. Reunir um forte consenso em torno da intervenção militar é indispensável para construir a futura estabilidade do País e evitar que ele caia num clima de guerra civil, como acontece hoje no Afeganistão e no Iraque. E isto é especialmente verdade no caso da Líbia, onde há grandes divisões tribais. Além do mais, os próprios rebeldes continuam divididos quanto a uma intervenção militar estrangeira, mesmo depois dos ataques recentes da Força Aérea Líbia.
Mas desde a declaração do Presidente Obama, o rumo da revolução inverteu e parece agora favorecer Kadafi. Mas o que aqui importa é a maneira como essa inversão se operou: à custa do massacre indiscriminado do povo líbio. E perante isto a comunidade internacional não pode permanecer indiferente: a solução passa por armar rapidamente os revoltosos líbios para equilibrar as forças no terreno. Mas esta não é uma solução isenta de riscos. Com efeito, as armas acabar não nas mãos do povo líbio que ambiciona a democracia e a liberdade no seu País, mas nas mãos de perigosos islamistas extremistas. Isto foi o que aconteceu, por exemplo, com a Administração Reagan nos anos 80, no caso do Afeganistão e com a emergência do regime Talibã. Neste caso, os serviços secretos desempenharão um papel fundamental.
Por fim, aqui fica uma mensagem do Coronel destinada aos Portugueses. À apreciação do leitor.

terça-feira, 8 de março de 2011

Festivalada Portuguesa

Não temos por hábito seguir aquele espectáculo salazarento do Festival Pop da Eurovisão. Não gostamos especialmente, nem percebemos o fenómeno. Dito isto, como todos já sabemos, a música dos Homens da Luta, chamada Luta é Alegria ganhou a coisa.
Ora vejamos a tal coisa:



Assistir ao que se passa neste país é absolutamente delicioso! Então não é que vamos mandar aqueles tipos, que clamam e reclamam contra a reacção ao festival da canção, que será… na Alemanha? Se Portugal fosse uma novela, nem o mais inspirado escritor se lembraria disto!
Gostaria bastante que a letra fosse traduzida para alemão, para ver a cara dos cidadãos daquele país que nos andam a pagar a ineficiência. Sublime! Este Portugal é verdadeiramente um país infame: abandona quem de nós depende, e cospe em quem nos ajuda.
Estas manifestações são perigosas pois fazem com que se pense que o poder está na rua. Numa sociedade democrática não está, nem pode estar, aí. Tem de estar nas urnas; e quer queiramos, quer não, o actual governo saiu de um parlamento democraticamente eleito e, nem por ele, nem pelo Presidente foi demitido.
Já os Homens da Luta e a Geração à Rasca, epifenómenos resultantes da falência do estado social que pretendem salvar, não têm nenhuma legitimação. São populares? Sim mas a demagogia toda é…

Numa outra nota, o caos líbio está longe de estar resolvido e Kadafi mantêm-se no poder em Tripoli. Precipitadamente, os teóricos do politicamente correcto quiseram passar declarações sancionatórias (como o BE no nosso parlamento) do regime que talvez tenhamos de aguentar mais uns tempos. Portugal, deveria manter o silêncio (como bem faz o criticado Ministro Luís Amado) por dois grandes motivos: imigração e hidrocarbonetos.
Aos teóricos da esquerda fraternal e politicamente correcta, duas palavras: calma Odete!

segunda-feira, 7 de março de 2011

Subjugados

O mundo está cheio de problemas e a sociedade moderna é um deles. O conceito de sociedade moderna, aberta, flexível e dócil está a despertar no dia-a-dia problemas que, antigamente, quando a sociedade era fechada, rígida e austera não se observavam e muito menos eram pensáveis.
À conta de se apaziguarem conflitos aparentemente inevitáveis, tende-se a passar por cima da confrontação directa e abre-se mão do mais imediato, a cortesia. Ninguém se quer chatear, a vida não está para isso e já bastam os problemas que todos temos de encaixar na nossa pequena bolha para ainda termos de encarar o desagradável. Dá trabalho e chatices e ninguém gosta de ter de se confrontar com o pós-guerra.
Porque a nossa capacidade de encaixe cresceu a olhos vistos depois que se aceitou o novo conceito de sociedade, os sapos que engolimos passam a fazer parte de nós e já têm o próprio espaço. O sindicalismo serve para fazer barulho, organizar grandes manifestações e contestar as anormalidades do sistema, mas já ninguém lhe recorre quando as pessoas se vêem presas nesse sistema que as empurra para situações que não lhes competem, porque a mancha do dedo apontado ao que está mal fica sempre a pairar sobre quem tem essa coragem.
O facilitismo de se deixar que as coisas corram para maior conforto de quem no fim assina as contas tornou todas as actividades numa civilizada forma de escravidão. Mais politizada e limpa mas, ainda assim, uma escravidão da sociedade moderna. As filas de desempregados a baterem à porta dos escritórios onde decidem, imaculados, os patronos das pequenas, médias e grandes empresas, fortalecem-lhes os espíritos e insensibilizam-lhes a mente. Ao mínimo desconforto, à mínima legítima reivindicação, trocam-se funcionários exemplares que vão dando a cara pelo bom-nome da empresa e apenas querem sentir a merecida gratidão e o justo reconhecimento pela mera condição humana de quem dá mais horas pelo que faz do que o próprio corpo aceita, pelo primeiro da interminável fila.
Já não há tolerâncias nem mais-valias. Todos são substituíveis e ninguém, por mais que dê de si, do seu próprio corpo e da sua própria alma tem a segurança de poder apelar aos seus direitos sem que isso o torne em mais um número das tristes estatísticas. Vivemos conscientes de que nos enfiamos recorrentemente nesta polida forma de escravatura, mas ainda mais amedrontados pela possibilidade de deixarmos de depender dela.

Portugal, Séc. XXI.

domingo, 6 de março de 2011

Isto não é plágio!

Nesta semana que passou surgiram notícias acerca de dois possíveis plágios de teses de doutoramento: uma quanto à tese do Ministério da Defesa Alemão, Guttenberg, outra quanto à tese de um dos filhos de Khadafi, Saif al-Islams.

Guttenberg viu serem divulgadas passagens da sua tese de doutoramento que alegadamente teriam sido copiadas de várias fontes sem serem citadas. Perante isto, o “Barão do Copy-Paste”, assim apelidado após estas notícias terem vindo a público, demitiu-se do Governo alemão. Esta saída poderá causar problemas à Chanceler alemã, Angela Merkel, e ao seu partido, a União Democrata Cristã, porquanto o Ministro da Defesa era um dos mais populares ministros e políticos alemães.

Saif al-Islams também está a ver a sua tese de doutoramento na prestigiada London School of Economics a ser escrutinada, depois de terem sido levantadas dúvidas acerca da autoria de partes da sua dissertação. Uma pequena nota a este propósito que muito pode indiciar quanto ao facto de decerto não ser Saif o autor da sua tese: a dissertação que apresentou discorria acerca da necessidade de promover uma maior democracia e transparência no sistema global de governação, sendo feitas grandes críticas ao funcionamento dos governos não-democráticos que o ora doutorado apelidava de autoritários, abusivos e não-representativos. Um último apontamento sobre esta tese. A tese intitula-se “O papel da sociedade civil na democratização das instituições globais de governação: do soft power ao processo de decisão colectiva”.

Não se pense que entre nós também não vieram a público casos de plágios de teses de Doutoramento ou até mesmo de Mestrado. O último foi relativamente a uma tese de Doutoramento de uma Professora do Instituto Politécnico do Porto, na Universidade do Minho. A dissertação desta professora, designada de “Desenvolvimento Interactivo Multidimensional: Contributo para o Aumento da Competitividade da PME” foi escrutinada e, após inquéritos internos, concluiu-se que fora plagiada de uma tese de Doutoramento de um brasileiro na Universidade Federal de Santa Catarina com o título de “Potencial Regional de Desenvolvimento de Redes Interorganizacionais”. Consequentemente, a referida tese de Doutoramento foi anulada e o grau de Doutor retirado à docente universitária, o que provocou a sua saída do IPP. Mas as consequências não se ficaram por aqui. Como os trabalhos de investigação têm necessariamente de ser entregues com um compromisso de honra atestando a originalidade e autenticidade do trabalho, todos os plágios de teses têm de ser denunciados ao Ministério Público, dado que podem consubstanciar um crime de fraude.

Pode ser muito aliciante encontrar trabalhos investigatórios com o mesmo tema que escolhemos para a nossa tese de Mestrado ou de Doutoramento. Pode ser ainda mais tentador descobrir textos que reproduzam as palavras que nós ambicionávamos encontrar, mas que não víamos jeito de começar a exprimir nos nossos trabalhos científicos. Contudo, temos de colocar a mão na consciência e pensar nas horas infinitas que o verdadeiro autor daquelas palavras passou até conseguir concluir o seu trabalho. Temos de reflectir acerca do desrespeito e do insulto que constitui para o verdadeiro autor a reprodução ipsis verbis das suas palavras numa tese que permitirá ao plagiador ver ser-lhe atribuído um grau que definitivamente não merece.

É mais do que notório que se podem fazer citações nas teses e trabalhos de investigação, desde que se refira devidamente o seu autor e a obra na qual pode ser encontrado o texto original. Agora quando não se fazem as respectivas citações ou quando são reproduzidas, como foi o caso português, obras na íntegra… Não há paciência que resista!

O único mérito que posso (poderei?) atribuir ao plagiador é a sua capacidade de ser destemido e enfrentar o risco. Em plena era do alerta para esse fenómeno que é o copy-paste e da informatização de muitas obras facilmente acedidas via Internet, como é que ainda pode existir alguém com a coragem suficiente para entregar e defender publicamente uma tese cujo teor foi copiado sem eira nem beira? Haja despudor neste Mundo!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 5 de março de 2011

O Árduo Trabalho dos Grupos de Trabalho e das Comissões em Portugal

Noticiava o “Público” desta semana que “o actual Governo de José Sócrates já criou 42 grupos de trabalho, 20 comissões, dois conselhos, dois grupos consultivos, uma coordenação nacional, um observatório e uma estrutura de missão desde que tomou posse no final de 2009”.
Por vezes, a criação de grupos de trabalho, de comissões, reunindo pessoas de elevada ciência na sua área de conhecimento, dissecando os factos, dele retirando as causas adequadas, constitui um importante instrumento do Progresso pela criação de ideias, as quais, por sua vez, podem resultar em reformas. Desde a tomada de posse do Governo em 2009 e não obstante a criação de todo este aparelho burocrático, recordar-se-á o leitor de alguma reforma introduzida em Portugal? Nada! Um tremendo silêncio! 42 grupos de trabalho, 20 comissões, dois conselhos, dois grupos consultivos, uma coordenação nacional, um observatório, uma estrutura de missão – e tudo o que isto produziu, tudo o que isto criou, tanto o cérebro daquela gente rangeu para nada! Nada produziram, nada criaram: isso não significa, no entanto, que nada gastaram. Mas nesta questão entramos no domínio das musas pois o seu acesso é interdito: é que dos encargos em que incorrem todos estes grupos de trabalho nada se sabe porque os despachos nada dizem quanto aos custos de funcionamento das mesmas. É o Estado alimentando o Estado, ocultando os custos do seu funcionamento pago com o dinheiro dos contribuintes.
Mas não é tudo – como dissemos, da criação de grupos de trabalho podem resultar projectos sérios que se podem traduzir em importantes reformas. Aqui, o “Público” refere um exemplo salutar. A 12 de Fevereiro, o Sr. Ministro da Agricultura criou um grupo de trabalho para promover a internacionalização das empresas agrícolas e agro-industriais, fileira florestal e pescas. Oito meses mais tarde, Sua Excelência criou uma comissão para promover a internacionalização dos sectores agrícolas, florestal e a das pescas.
Instada a comentar esta sobreposição de comissões com a mesma natureza, eis o que poderia ter dito a Porta-voz do Sr. Ministro da Agricultura:
“Meus senhores, depois de um estudo sério sobre a questão para a qual o grupo de trabalho foi criado, os seus membros chegaram a um conjunto de conclusões, formularam sugestões pertinentes ao Ministério, estando as suas opiniões a ser devidamente estudadas pelo Sr. Ministro que brevemente anunciará um plano concreto de internacionalização dos sectores agrícola, florestal e das pescas, tendo presentes as sábias observações que resultaram da elaboração desse grupo de trabalho”.
Isto poderia ter dito a Porta-voz. Nada disto disse a Porta-voz. Eis antes o que a Sra. Porta-voz proferiu. Citando:
“Da estratégia definida pelo Grupo de Trabalho para a promoção da Internacionalização resultaram muitas acções que estão a ser implementadas. Uma delas foi precisamente a criação da Comissão para a internacionalização. A comissão criada é consequência do trabalho apresentado pelo Grupo de Trabalho para a Promoção da Internacionalização”.
Ou seja, segundo a Porta-voz do Sr. Ministro, criou-se um grupo de trabalho cujo ponto de chegada foi precisamente o ponto de partida.
Ponto de partida – criação de grupo de trabalho.
Ponto de chegada – criação de comissão.
A semântica poderá, com efeito, ser diferente. A natureza é, no entanto, a mesma. Não queremos imaginar sequer o hercúleo esforço mental e de raciocínio com que se debateram os membros do grupo de trabalho para concluírem que era necessária a criação de uma nova comissão! Não! Tal está para além das nossas capacidades e gostaríamos nós de compreender essas complexas e finas habilidades do raciocínio! Debalde! Só a delicada tarefa de tentar surpreender o seu conteúdo nos causa uma tremenda dor de cabeça! Pois bem: não pensemos! Uma coisa, a nossa estreita capacidade de pensamento nos permite saber – é que os grupos de trabalho em Portugal são parteiras não de ideias, mas de novas comissões. E assim se vai reproduzindo sucessivamente Portugal no Progresso da Civilização.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Humores à 6a: Estupidez

O tema escolhido para esta semana foi a estupidez. Não que as pessoas sejam estúpidas, mas fazem e dizem cada coisa... Só vendo:


Por Letícia, a Marquesa:

Contrariamente a outras semanas em que ainda levo algum tempo a tentar encontrar algo verdadeiramente humorístico para colorir as nossas sextas-feiras, esta semana, não encontrei dificuldade alguma para este tema. Estupidez é dizer o óbvio. Estupidez é repetir a todo o tempo o mesmo discurso. Estupidez é reiterar a argumentação de há dois minutos atrás quando os argumentos começam a escassear. Estupidez é arrogância a olhos vistos. Estupidez é a fraude camuflada. Estupidez não é para todos. Só para alguns, em particular.




Por Madame de Pompadour:

Que o mundo está constantemente a dar provas do seu mau-humor para com os seres humanos, que levam os dias a destruí-lo, já todos sabemos. Agora, que essa arrelia se centre em particular grupo de pessoas, neste caso adeptos do Benfica, já acho injusto. Somos mais porcalhões que os outros é?




Por Lord Nelson:

Churchill dizia que o melhor argumento contra a democracia era passar cinco minutos a falar com um eleitor. Se está a tentar tornar-se um autocrata (ou a manter-se um) veja e divulgue.



Por Carlos Jorge Mendes:
Acrobacias? Quando bem sucedidas são, defintivamente, uma prova de coragem, que demonstra a verdadeira essência do homem. Quando mal sucedidas são mesmo um acto de estupidez em que nos arriscámos a ficar sem a dita essência do homem, como o caso que segue demonstra...