É com a voz embargada que hoje nos dirigimos ao leitor. Com efeito, ainda estamos de ressaca das comemorações pela demissão daquele que foi (e ainda é) uns dos piores primeiros-ministros do pós 25 de Abril.
Toda a retórica deste José Sócrates contribuiu decisivamente para um alheamento e até uma antagonização dos eleitores com os eleitos – promessas vãs, mentiras, coisas mal explicadas. Tudo foi apto a gerar um enorme cepticismo com os detentores do poder. Mas pior: a forma como o primeiro-ministro demissionário mentia descaradamente, a forma criminosa como aumentou os salários da função pública em ano de eleições para os baixar no ano seguinte, toda a corja que gravitava naquele círculo e que agora se vê acusada pelo Ministério Público e pronunciada pelo Juiz de Instrução, tudo isto vilipendiou e fez esquecer a ética necessária ao governo da coisa pública. (Mas aqui Cavaco também não é isento de culpa, especialmente nas suas relações com figuras como Dias Loureiro que muito devem ao conceito de governo justo).
Este primeiro-ministro encontrou o país economicamente mal, é certo, mas deixa-o pior. Encontrou uma classe política desacreditada mas deixa-a com fama de máfia. Afastou os portugueses e tratou-os como imbecis. Haverá ainda alguém capaz de o defender?
Portugal, diga-se com frontalidade, segue há muitos anos (com PS ou PSD) uma linha social-democrata, protectora de uma ideia de Estado Social bastante forte. Aqueles dois partidos alternaram na governação mas a linha ideológica seguida foi a mesma – as diferenças foram apenas na execução política, não na definição das suas linhas orientadoras.
Agora, finalmente, o nosso país pode reencontrar-se com o seu passado liberal. Temos, pela primeira vez em muitos anos, uma nova direita, que não tresanda a sacristia e sem qualquer tipo de ligação ao antigo regime – esta nova direita é liberal, tanto na economia como nos costumes, e está aqui para romper com a tradição socializadora da economia que tem marcado o tom das últimas décadas, tenha sido com Soares, Cavaco, Guterres, Durão, Santana ou Sócrates.
Temos agora uma oportunidade única para nos reinventar: urge repensar o nosso sistema político e as nossas grandes escolhas enquanto país e a próxima campanha eleitoral pode ser decisiva. Os eleitores, martirizados por 6 anos de um primeiro-ministro sem qualquer tipo de ética, precisam de superar esse divórcio e participar activamente de forma a evitar que uma pessoa com tão pouca formação moral possa voltar a ocupar São Bento.
Pelo fim dos tirantes e por uma democracia participada, vamos lá então reassumir o papel que nunca devia ter sido tirado aos cidadãos por gente mal formada, arrogante, prepotente e, salvo melhor opinião, mentirosa (e não falo só do PS).
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