A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 28 de janeiro de 2012

A letargia da Europa

A cada dia que passa torna-se cada vez mais evidente a cegueira, a ausência de visão e a cobardia dos governantes europeus. A mais recente projecção do FMI revela que as economias avançadas deverão crescer 1,2% este ano, uma previsão significativamente mais baixa do que a última apresentada há quatro meses atrás. Perante este cenário de estagnação, o Sr. Martin Wolf, em coluna assinada no Financial Times, olhando para a Ásia, apontava: a economia chinesa entre 2007 e 2012 deverá expandir-se cerca de 60% e o continente asiático 50%. Conclusão: ou a Europa acorda do seu estado letárgico e age rapidamente e age como um todo que é ou que deveria ser, ou arrisca-se a um lugar menor na geopolítica mundial que se desenha.
O pior é que a unidade europeia em lugar de se solidificar, fracciona-se cada vez mais: no último Conselho Europeu, o Reino Unido conseguiu mesmo afastar-se significativamente da Europa e as perspectivas para o próximo Conselho a realizar-se brevemente são ainda menos animadoras. O Sr. Cameron no Forum Económico Mundial, a decorrer em Davos, considera que a Alemanha deve contribuir com mais recursos para resolver a crise europeia. Esqueçamos o facto do Sr. Cameron em algumas ocasiões ter estado relutante em participar economicamente no aumento do FEEF, o que bem demonstra a sua coerência e a seriedade das suas declarações. Mais do que isso, o Sr. Cameron disse muito claramente que os agentes políticos estão longe de encontrar a resposta adequada com que lidar com a actual crise - e esqueçamos também a ausência de contributos do Sr. Cameron. O Sr. Cameron apenas critica os restantes líderes europeus com tanta veemência e de forma tão clara porque o seu orgulho foi esmagado e é um homem amargurado por ter sido enxovalhado no último Conselho Europeu. Um político que vai para o último Conselho Europeu com a única intenção de proteger os interesses financeiros da City e que posteriormente vem criticar os líderes europeus pela sua falta de acção, não pode ser levada a sério e só pode merecer a gargalhada da opinião pública. Isso não impede que o Sr. Cameron tenha razão naquilo que diz.
É verdade que a Europa progrediu bastante nos últimos meses, mas esse progresso é realisticamente escasso quando comparado com a amplitude e a dimensão de uma crise que não é apenas de dívida pública: é uma crise bancária, é uma crise financeira, é uma crise de competitividade, é uma crise social. Mas mais do que isso é uma crise política porque tem faltado vontade e firmeza política dos seus agentes para agir conforme a exigência deste momento da história o pede. Porque se este nosso tempo é o mais crítico e o mais delicado das últimas oito décadas, também é verdade que ele pode ser resolvido e pode ser ultrapassado, desde que haja vontade política para o efeito. Muitas vezes, porém, os políticos europeus têm sido mesquinhos e pequenos e colocam o seu ego e o seu percurso político à frente do interesse dos seus países e do da Europa. Assim, a Sra. Merkel, durante muito tempo, andou mais preocupada com as suas eleições regionais do que em encontrar uma solução rápida e consistente para a Grécia; ou o Sr. Sarkozy, que parece mais empenhado em exibir-se e pavonear-se perante a Europa para retirar dividendos para as próximas eleições presidenciais francesas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Menos feriados, mais aborrecimentos...

Já foi tornado público que o Governo decidiu, de entre todo um leque de feriados disponíveis no nosso calendário civil, extinguir os feriados 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. A Santa Sé, por seu turno, prescindiu do feriado móvel do Corpo de Deus e do 15 de Agosto.

Quando soube da notícia, os meus olhos arregalaram-se de espanto, não por ter pensado que eu iria ficar sem 4 dias de dolce fare niente, mas porque o argumento usado para tal abolição foi justamente o de que “é preciso trabalhar mais, para Portugal poder andar para a frente!” (onde é a frente, mesmo?)

Senhores, pergunto, mas onde é que está o trabalho? Se as empresas declaram insolvência, se o número de desempregados aumenta assustadoramente e se não há procura para tamanha oferta, como é que os portugueses poderão trabalhar mais?

A um desempregado deve fazer uma diferença inestimável que um dia deixe de ser feriado, para ser tido como dia de laboração… E a quem trabalha todos os dias, de sol a sol, incluindo todos os feriados santos e menos santos, também deve fazer uma diferença considerável…

Enfim, eu só tenho mesmo pena de deixar de poder ir a duas Missas para ir trabalhar!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A qualidade da democracia na Europa

O ano de 2011, visto daqui a um século, será lembrado por dois grandes acontecimentos – a crise europeia e a Primavera Árabe. Se a alternância de ciclos económicos nas economias capitalistas é uma constante, as revoluções no Magrebe merecerão da História um olhar mais atento por se tratar de um acontecimento memorável. E é num momento em que regimes historicamente ditatoriais, desrespeitadores das liberdades individuais, são abolidos e que a liberdade avança, que a Europa, onde nasceu a Revolução Francesa, regride. Este facto claro, embora pouco discutido pela opinião pública, é da maior gravidade.
Prova clara disso é a negligência e a leveza com que a comunicação social reputou uma recente análise da revista “The Economist” à democracia portuguesa, rotulando-a prestigiosamente de democracia com falhas. Prova clara disso são também as mudanças ocorridas há pouco tempo nos Governos da França e da Grécia que, embora não discutindo as capacidades dos seus líderes, são dirigidos por Primeiros-ministros não eleitos pelo seu povo, em função das contingências dos mercados. Ou o abastardamento do Conselho Europeu, do Parlamento Europeu ou da Comissão Europeia nas decisões sobre o futuro da Europa, relegada para obscuros encontros bilaterais, em que os mais fortes dominam os mais fracos.
Por todos estes factos, à medida que outras nações vão progredindo e avançando no tempo, a Europa, estranhamento, vem regredindo. A subversão dos mais eminentes valores e princípios do Estado de Direito está à vista no próprio seio da União Europeia – na Hungria. Durante um ano, a UE assistiu tranquilamente, passivamente, confortavelmente, ao rolar da marcha autoritária sobre o Estado de Direito, e agora, que a subversão está consumada, ela ergue-se corada e escandalizada. O Sr. Barroso, furioso, escreve cartas ao Sr. Orban; o Sr. Orban abre-as, amarrota-as, e ignora-as. E pior: se um Estado-membro da UE se deita à noite como uma democracia, e acorda de manhã como um regime despótico, a UE nada pode fazer.
De resto, qual tem sido a arma que a UE tem usado para sensibilizar e arguir com a Hungria, tentando chamá-la à razão? Essa coisa extremamente retórica e democrática apelidada de chantagem. É que a Hungria, severamente atingida pela crise económica, necessita de auxílio económico do FMI na ordem dos 15 a 20 mil milhões de euros, e a UE, enquanto a Hungria não se dignar a escutá-la, suspendeu as negociações para a ajuda.
O que se passa na Hungria é uma situação da maior gravidade. Os protestos de cerca de 100.000 húngaros nas ruas de Budapeste contra a nova Constituição aprovada pelo Parlamento não são suficientes para tranquilizar a Europa. Porque se existem 100.000 húngaros publicamente protestando contra o Sr. Orban, exprimindo os seus ideais democráticos, outros há que embora igualmente descontentes com o Sr. Orban, refugiam as suas preferências num partido de extrema-direita, xenófobo e racista, que é actualmente a segunda força política na Hungria.
Por tudo isto, os problemas da Europa não são apenas económicos e financeiros – são também políticos e democráticos. E se a Europa não o reconhece e não se consegue enxergar, a opinião pública tem o dever de lhe voltar o espelho, e mostrar-lhe os defeitos e os vícios para que ela se regenere.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Acerca do limite constitucional ao endividamento público

Como sabemos, a Sra. Merkel e o Sr. Sarkozy defenderam recentemente que os membros da zona euro deveriam incluir nas suas constituições travões ao endividamento público, à semelhança do que se encontra contemplado na Constituição alemã.


Pois bem: ao que parece, a convicção alemã e a fé no mérito deste travão é de tal ordem, que o Sr. Schauble parece estar já a considerar uma forma de contornar este mecanismo constitucional, em caso de necessidade.


Segundo noticia a Der Spiegel, citando o diário Bild:


"Under Schäuble's plan, the government is to be given a loophole to exceed the debt limit once the permissible level of borrowing has been reached, mass-circulation Bild newspaper reported on Tuesday. All the government would have to do would be to draft a plan for repaying the debt and secure parliamentary approval for it."


Depois dos alemães e dos franceses haverem violado o Pacto de Estabilidade e Crescimento e desprezado as respectivas sanções, e ao mesmo tempo que exigem que os outros países membros constitucionalizem o travão ao endividamento, esta notícia só pode ser vista como encorajadora.

domingo, 1 de janeiro de 2012

E aos quatro, eu disse sim!...

... Porque 2012 começou memoravelmente nos teus braços e porque o anel que me puseste no dedo tem o mesmo brilho que trago nos olhos desde que te conheci.



Amo-te. Encantadamente tua.

Um Feliz 2012 para todos.