A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Família

Controlada por um qualquer espírito elevado, daqueles que me fazem pensar nas coisas valiosas da vida apercebi-me que passamos a maior parte do tempo a gozar aquilo que somos, crentes de que somos alguma coisa de jeito e crescemos segundo um modelo bonito e super interessante de pessoa e temos enormes lapsos no que diz respeito a bater aquela salva de palmas à base de tudo, a nossa família.
Pois bem... Porque o Natal é quando um Homem quiser e porque não se deve deixar para amanhã aquilo que se pode fazer hoje, não passará deste momento! Essa falha que a todos nos assiste será suprimida agora mesmo tornando-se este num dia de ovação e homenagem a esse bem mais precioso.

Carlos Jorge Mendes
"Quando pensámos em família, pensámos na ausência de valores que pulula na nossa televisão. É, por isso, que séries como Family Guy são tão importantes - porque nos relembram dos valores fundamentais do sangue. Considere o leitor os seguintes exemplos, tais como este..."





"...ou este."





M. Pompadour
"Família está sempre lá. Para os bons e maus momentos."




Leticia a Marquesa
"As famílias são nichos de partilha. Partilha de alegrias, tristezas, boas e más notícias, abraços, beijos e às vezes até de umas discussões mais acesas com direito a tabefes. A família não se escolhe, mas, apesar de tudo e de todos, ainda bem que todos temos uma. Vá, agora que a lamechice já me passou, ficai com o n.º 1 do TOP norte-americano... dos esquilos!"

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Lições do Banco Inglaterra para o BCE

A Inglaterra tem uma economia estagnante, elevado endividamento privado, elevada inflação e um défice público inchado. E, no entanto, apesar de tudo isto, a taxa de juro das suas obrigações a 10 anos nunca esteve tão reduzida – 2,2%. Porquê?

Os problemas orçamentais da Inglaterra são graves: o seu défice público é da ordem dos 10%; só a Grécia e a Irlanda na zona euro a superam. É verdade que o Governo inglês colocou em prática um exigente plano de consolidação orçamental, nem o poderia ser de outra forma. Mas a Inglaterra não se esqueceu de uma coisa fundamental – o crescimento. A política de crescimento da Inglaterra não está sobretudo na responsabilidade do Governo, mas no seu Banco Central. Ciente das exigências da grave crise económica, o Banco Central de Inglaterra mantém a taxa de juro em 0,5%, apesar da inflação ser de 4,4%. Por aqui bem se vê o erro nefasto do BCE: a inflação da zona euro é estável, mas o crescimento da sua economia é penoso: no lugar de descer as taxas de juro, o BCE aumenta-as. Ora, um dos problemas actuais da economia é o endividamento privado e nomeadamente o sobreendividamento para aquisição de habitação. Sempre que o BCE aumenta a taxa de juro, agrava este problema porque agrava o crédito mal parado.

Outra diferença fundamental entre a política do BCE e a do Banco de Inglaterra é a aquisição de dívida pública. Se o Banco de Inglaterra através da técnica do quantitative easing (criar dinheiro para comprar obrigações do Governo) conseguiu empurrar para baixo as taxas de juro da Inglaterra para baixo, o BCE sempre que o faz com o mesmo desígnio relativamente aos países aflitos da zona euro, é severamente criticado, faz marcha atrás – então os mercados tremem, as bolsas caem, o risco agrava-se, a incerteza adensa-se e a zona euro afunda-se.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Cheer up!


Regressados de férias há já umas semanas, entramos a pés juntos numa fase de contenção que ninguém pediu e que muito se prometeu ao longo do ano que passou. Os jovens batem a portas que não abrem e maldizem a vida, dizem-se à rasca. Os mais velhos querem aquilo para que trabalharam toda a vida, mas agora, nem isso lhes podem prometer. Portanto, de um ponto de vista geral a coisa não é bonita, ninguém está a gostar e repetem-se até à exaustão os avisos de que vai ser pior ainda e que vêm aí dias dramáticos. Os que podiam ter feito alguma coisa trazem os baús das soluções tarde demais e brindam-nos com uns: ”Devia ter-se feito assim!... Mas fez-se assado.”.

Então olhamos todos uns para os outros e, vendo a desgraça anunciada tão perto de nos tocar na ponta do nariz caímos na tentação da terra prometida, das melhores condições de vida fora destas reduzidas fronteiras e da possibilidade de fugir de um vírus económico que parece atingir todo o mundo, consumindo a gestão das contas do Estado lenta e dolorosamente.
Pois bem, eu serei a melhor pessoa para dizer um: “Vai! Aqui não vais ser muito feliz, por isso shô daqui que já somos muitos a carpir.”. É que na realidade não consigo imaginar-me emigrante, faltam-me alguns predicados pronto, por isso, quantos mais quiserem dar o salto para um estrangeiro próximo qualquer eu estarei na linha da frente a gritar o: “Força!!! Manda postais, sê feliz!”.
Afinal de contas o que temos nós aqui, para além das possíveis bases familiares e amigos? O que é que Portugal nos pode oferecer neste momento para além de escassas possibilidades de sucesso e uma carreira intermitente e imprevisível? Eu digo-vos, até porque já pensei nisso. Ponderei bastante e, receando parafrasear alguém que certamente já deve ter concluído o mesmo que eu, este é o momento ideal para sair de Portugal. É que não foi ontem, nem vai ser amanhã, é agora, neste exacto momento.
Senão atente-se:

1     1) Regressou à antena televisiva o Secret Story – Casa dos Segredos. Só isto seria motivo mais que razoável para qualquer mãe, no seu perfeito juízo ser a primeira a sugerir a um filho emigrar e evitar a possibilidade daquele cair no desespero e candidatar-se a uma próxima série do programa.
2     2) A electricidade vai aumentar um balúrdio por cento, ou seja, não tarda acabam-se os computadores e vamos voltar a ler livros à luz da vela. Não sei, para os mais românticos até pode ser bonito, mas acho que já que compramos as coisas era giro poder usá-las.
3     3) Da maneira como proliferam buracos nas contas públicas devemos temer que se escarafunchem também as nossas contas em prol da busca do dinheiro perdido. Se em alguma altura você desviou dinheiro isso vai-se saber e vai ter de prestar as devidas contas ao Estado com possível inflação e juros e semelhantes.
4     4) O Sr. Alberto João Jardim ainda não desistiu…

Será ou não sensato dar a fuga agora? Como alguém sábio disse um dia:



“Não há ruga que resista, nem tuga que desista!!”

domingo, 25 de setembro de 2011

Testamento vital

Esta semana foram aprovados os projectos-leis do PSD, PS, BE e CDS-PP sobre o testamento vital, para serem depois discutidos na especialidade.

Através do testamento vital, o outorgante, adulto e capaz, que se encontre em condições de plena informação e liberdade, pode determinar os cuidados de saúde que deseja ou não receber no futuro, incluindo os cuidados de alimentação e de hidratação, no caso de, por qualquer motivo, se encontrar incapaz de prestar o seu consentimento informado de forma autónoma, quando deles necessitar. Assim, a pessoa poderá estabelecer antecipadamente a sua vontade quanto aos tratamentos médicos a que está disposta ou não a aceitar no fim da sua vida.

Já desde há muito tempo que se reclama a emergência da discussão sobre esta matéria e a necessidade da existência de um consenso quanto a este assunto.

Julgamos dever ser sempre respeitado o direito de decidir livre e responsavelmente sobre que cuidados médicos alguém deseja receber no futuro, mas partindo em todo o caso do pressuposto que, chegado o momento de os receber, a pessoa não goze de capacidade séria, livre e esclarecida.

Todavia, entendemos ser de arredar qualquer tipo de equiparação desta discussão a uma eventual abertura ao tema da eutanásia, porquanto estaremos sempre perante realidades diametralmente opostas. Além disso, terá ainda sempre de estar presente a necessidade de que tal vontade seja formalizada e registada de forma a que dúvidas não existam e a que os Serviços de Saúde tenham um rápido e fácil acesso aos testamentos vitais existentes.

No entanto, cremos ainda que será sempre da maior importância a criação de uma rede de cuidados paliativos, com todos os recursos e meios disponíveis, para um melhor e efectivo acompanhamento da pessoa, pois todo o sofrimento deve ser sempre dignificado.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Sobre a Dívida da Madeira

A semana passada, foi dada a conhecer uma inesperada surpresa – o Governo Regional da Madeira ocultou dívidas na ordem dos 1200 milhões de euros. Estes são os factos e como eles são bem conhecidos do domínio público, dissequemo-los.

Primeiro: responsabilidades. O responsável por esta ilegalidade, por esta falcatrua, por esta arte mágica de varrer dívida para debaixo do tapete, ou de ocultá-la entre duas pregas de gordura da barriga do Sr. Jardim, tem de ser punido. Esta responsabilidade é política – e essa responsabilidade de punição é, antes de mais, do povo da Madeira. O povo da Madeira tem de punir severamente o Sr. Alberto João Jardim nas próximas eleições regionais e essa resposta tem de ser dada de uma forma bastante clara. O desgoverno do Sr. Jardim e dos seus compinchas terá graves repercussões na vida dos madeirenses com a imposição de graves sacrifícios adicionais. Se o povo da Madeira não o punir politicamente, então do povo só se pode dizer uma coisa – que é complacente com o Sr. Jardim. E se as ideias do Sr. Jardim se baseiam na mentira, na ilegalidade, no roubo, na corrupção, no compadrio, na baixeza, na saloiice, na demagogia e na intriga – assim também será a índole do povo porque se reconhece em todas estas ideias e em todo este modo de proceder. Nós temos do povo da Madeira uma boa opinião, excepto dos idiotas bajuladores que ainda comparecem nos comícios do Sr. Jardim. Facilmente os reconhecemos – são aqueles que apresentam uma corcunda nas costas de tanto se dobrarem e nas pregas que têm em volta dos lábios pelos sorrisos falsos e moles que ensaiam para agradar. Mas do povo da Madeira temos uma boa opinião – é um povo honesto, digno, trabalhador, recto, sério. E porque assim o representamos, estamos em crer que o povo se dissociará do Sr. Jardim nas próximas eleições.

Segundo: num outro país com uma cultura política séria e de interesse público, esta situação não aconteceria. Depois, e caso acontecesse, o responsável por essa mesma situação, sentindo o sangue abrasar-lhe a face de vergonha, ter-se-ia demitido e remetido ao canto obscuro mais próximo, longe da censura pública. No entanto, o Sr. Alberto João Jardim não é um indivíduo qualquer: o que lhe sobra em termos de volume corporal, falta-lhe em termos de vergonha na cara. Porque sua excelência é bastante volumoso e bem dotado fisicamente, notando-se esta característica sobretudo pela ausência de pescoço, sua excelência não tem nenhuma vergonha na cara e nenhuma noção de decência. A estes senhores que não têm vergonha na cara ou decência, a lei só pode fazer uma coisa: impingir-lha – antecipar-se à vontade do povo e prescrever consequências políticas imediatas, nomeadamente a remoção deste fungo público sob pena de contágio.

Terceiro: a culpa deste regabofe é do Sr. Alberto João Jardim e não do povo madeirense. Se é indispensável a definição de um programa de reajustamento financeiro da Madeira, esse programa não deve ter tiques vingativos. Se nós o exigimos dos nossos parceiros europeus aquando do nosso pedido de ajuda externa, não o podemos fazer agora ao povo da Madeira.

Quarto e último ponto – finalmente o Sr. Presidente da República apareceu em público, balbuciando e afirmando timidamente que «a situação da Madeira afecta a reputação e credibilidade de Portugal.» E mais não disse. Extraordinário, excelência, extraordinário! É tudo isso que V. Ex.ª investido em todas as suas prerrogativas de soberania, autoridade e inteligência sabe dizer – afirmar uma evidência de la Palice? Extraordinário, excelência! Uma vénia a V. Ex.ª pelo seu génio presidencial inventivo e criativo. Mas note V. Ex.ª uma outra coisa – foi noticiado pelo “Público” que V. Ex.ª já conhecia as dívidas da Madeira há um par de meses. Ora, V. Ex.ª nada disse e segundo o ditado popular «quem cala, consente.» Por isso, daqui lançamos o repto a V. Ex.ª – V. Ex.ª conhecia ou não o montante real da dívida da Madeira?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Animais

Esta semana, estava eu lendo o Jornal de Notícias, quando me deparo nas últimas páginas do jornal com uma imagem da Sra. Elisabetta Canalis, despida, com a mensagem "I'd rather go naked than wear fur", da campanha da conhecida organização People for the Ethnical Treatment of Animals" - PETA. Imediatamente pensamos duas coisas: primeiro, que para o tema desta semana do regresso das Sextas-Feiras poderíamos fazer alguma coisa socialmente útil, falando sobre os animais; e segundo, que com isso os nossos leitores (especialmente as leitoras) se apiedassem dos animais e seguissem o conselho da Sra. Elisabetta - que andassem despidas em vez de vestidas com pelo. Por isso, sem mais demoras, aqui fica o nosso tema para hoje: Animais.

De Madame Pompadour




De Letícia, A Marquesa

Touros e touradas são um dos temas favoritos dos nossos políticos. Não apenas porque gostam de andar sempre a mostrar o seu porte e a tourear entre si, como também não se eximem a demonstrar por gestos os seus gostos por touradas. Quem não se lembra do nosso não-querido Ministro da Economia a fazer da Assembleia da República o Campo Pequeno?


De Carlos Jorge Mendes



De Lord Nelson

Senhor Coelho, cuidado porque por este caminho é apenas uma questão de tempo.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O verdadeiro problema de Portugal

Na última quarta-feira rebatemos o ponto de vista do Sr. Schauble quanto ao problema que na óptica de sua excelência a zona euro enfrenta – o endividamento. Como vimos, isso não é verdade, a não ser para a Grécia. Para Portugal isso será verdade, mas apenas em parte: o problema português não está no endividamento – está na falta de crescimento. O endividamento é a consequência directa da ausência de crescimento. Ora, para se solucionarem os problemas, combatem-se directamente as causas, não os seus efeitos. Anulando-se a causa, eliminam-se os efeitos.

Porque Portugal estagnou uma década inteira, com um crescimento económico anémico, o país sobrefinanciou-se nos mercados. Porque não crescia o suficiente para manter o seu estilo de vida, o país endividou-se. Mas note-se: o endividamento não é exclusivamente público: o endividamento privado é bem mais grave do que o endividamento público e, no entanto, ninguém fala dele. Quando o faz, a imprensa logo atira as culpas para cima dos mutuantes – pretendiam habitação, pretendiam o recheio da habitação, pretendiam carro, pretendiam tudo. Mas então e os bancos, excelências? Esses mesmos que agora sufocam a economia com as suas apertadas restrições no acesso ao crédito? Os bancos não sabiam perfeitamente dos riscos que corriam ao concederem este tipo de empréstimos? A ganância reparte-se em igual medida entre os dois – mutuantes e mutuários.

Mas voltando ao que estávamos a dizer – porque é o que o endividamento não é o principal problema de Portugal: façamos uma análise comparatistica. Bélgica: dívida pública de 120% do PIB. E, no entanto, os mercados não pressionam as taxas de juro das obrigações belgas. Porquê? Porque a Bélgica cresce. Em sentido inverso: a Itália. A Itália tem um nível de dívida pública semelhante ao da Bélgica, mas os mercados pressionam como nunca as obrigações italianas. Qual é a diferença? A Itália não cresce e os seus responsáveis políticos não são capazes de seriamente se comprometer com uma responsabilidade orçamental a médio longo prazo.

Por aqui bem se vê que a actual política seguida pelos responsáveis políticos europeus está errada: austeridade só não chega. Responsabilidade orçamental sim, mas a médio prazo, e conjugada com uma política de crescimento da economia.

Mas só isto também não chega: é necessário que os líderes europeus se apercebam claramente das tremendas dimensões desta crise sistémica. Exemplo: o Reino Unido. O Reino Unido tem um dos mais elevados défices públicos da União Europeia e a sua dívida pública é também elevada. E todavia, as taxas das obrigações do Reino Unido nunca estiveram tão baixas. Porquê? Porque o Reino Unido tem moeda própria e não faz parte da zona euro; depois porque o Governo do Sr. Cameron tem, de facto, seguido uma forte política de contenção e restrição orçamental. No entanto, o Reino Unido tem o seu próprio Banco Central que não é uma entidade frágil como o BCE: o seu Banco Central pode facilmente adquirir a dívida do Reino Unido com dinheiro recém-criado sem que a sua política seja fortemente criticada como vem sendo a do BCE e que recentemente levou à demissão do Sr. Stark. Mas mais: ao contrário de uma decisão que se revelou desastrosa do BCE, o Banco de Inglaterra mantém as suas taxas de juro perto do zero. Inflação? Que se lixe a inflação com a economia neste estado! O que acham V. Exas. mais gravoso – a inflação ou a bancarrota de uma série de Estados?

O que pretendemos dizer é que a crise da zona euro é uma crise sistémica porque neste momento abrange países que valem um cerca de um terço da economia da zona euro. A ausência de uma resposta firme e cabal permitiu que a crise se alastrasse da periferia para o centro e a cada dia que passa o preço do resgate da zona euro é cada vez mais caro e cada vez menos provável.

Dito isto: todos sabemos o que se passa na Grécia. Porque os governantes europeus (que para todos os efeitos asseguram a nossa solvabilidade) apenas vêem no endividamento o cancro da zona euro, Portugal não tem outra alternativa senão cumprir escrupulosamente o memorando da troika sob pena de se tornar insolvente. Como Portugal não tem acesso aos mercados em condições sustentáveis, essa seria a consequência directa do incumprimento do programa. Porque sejamos claros: no actual estado de coisas, parece que os políticos europeus vêem de bons olhos que o pecador pague pelos seus pecados, mesmo que isso encaminhe a Europa e com ela o Mundo, para uma recessão profunda.

Atentas as exigentes metas de consolidação orçamental que nos são impostas, resta-nos pouca margem de manobra para pôr em prática um conjunto de medidas: seja porque elas implicam um aumento da despesa ou uma diminuição da receita e assim, logo ficam irreversivelmente comprometidas as metas de consolidação orçamental. A descida da TSU, por exemplo, não pode ser feita senão à custa de uma compensação no aumento de receita através do IVA para compensar a perda de receitas da Segurança Social. E ainda assim, a redução da TSU seria marginal. Isso não impede, porém, o Governo de reflectir e pensar, desde já, num plano estratégico de crescimento da economia a colocar em prática e em execução em breve. Mas sobre isso falaremos numa próxima oportunidade.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Fome e Fartura


Num excelente artigo (publicado no jornal The East African de Naiorobi e com tradução disponível no último número do Courrier Internacional) Charles Obbo chama a atenção para os efeitos nefastos da ajuda internacional dada pela comunidade internacional às nações do corno de África.

Inicialmente, poderíamos colocar a questão da legitimidade dos nossos governantes para dar o que não é seu, mas da comunidade que os elegeu – os nossos governantes têm de orientar a sua actividade para a gestão da coisa pública, pois foi para isso que foram eleitos. Assim enquadrada a sua actividade pode, em bom rigor, ser pouco defensável as “doações” que a comunidade internacional, rectius, os Estados costumam fazer – esta posição é politicamente incorrecta, bem o sei, mas compensa na coerência.

De qualquer das formas sempre se poderia colocar a questão de saber porque motivo os países do corno de África não se preparam para as situações de fome, que se conseguem prever (devido às condições climatéricas), deixando o curso dos acontecimentos seguir. Obbo, jornalista ugandês, avança desde logo um motivo extremamente simples – as elites desses países não passam fome – é um assunto que afecta primeiramente as zonas rurais e pode muito bem servir para capitalizar politicamente.


As elites daquele país chegam mesmo a beneficiar das situações de fome pois estas, por um lado, são um instrumento de alienação eficaz e, por outro, como são responsáveis, muitas vezes, pela gestão da ajuda da comunidade internacional podem muito bem beneficiar uns e não outros… O leitor já percebeu a mecânica disto.


Mas também as grandes empresas ligadas à agricultura têm muito a lucrar – basta pensar nas regras da oferta e da procura: nestas situações de emergência, em que o tempo é escasso, a comunidade internacional é obrigada a comprar milhões de toneladas de alimentos o que causa, obviamente, a subida dos preços (o que também vai aumentar o número de pessoas que deixam de poder comprar alimentos, especialmente nos países em vias de desenvolvimento – recorde-se que a revolta na Tunísia começou também por causa da subida do preço dos alimentos).


Lucram as elites que deixam os povos à fome, lucram as multinacionais que se aproveitam para maximizar os lucros e perde a comunidade internacional (que desperdiça recursos) e os pobres dos países em vias de desenvolvimento que, por causa do aumento dos preços, deixam de os poder adquirir.


Da próxima vez que ouvir falar de fome, ilustre leitor, em vez de clamar imediatamente por sacos de arroz sobre a Etiópia, comece a exigir o fim da política da caridadezinha – não é muito, mas é um começo. A caridade é para as ONG’s, não para os Estados.


Impõem-se outras soluções para estes Estados falhados (frutos das exigências politicamente correctas de “descolonização”) e a ONU é o fórum ideal, já que para de pouco serve.

domingo, 11 de setembro de 2011

Sem título

Há momentos na vida em que temos de tomar decisões. Por mais que nos custe. Por mais que teimemos em adiar o (in) evitável (vá, ainda não tem de ser hoje, ainda não pode ser, tenho mais uns anos, meses, dias…). Por mais que os múltiplos caminhos que se desdobram à nossa frente nos confundem os passos.

Sabemos de antemão que a insegurança vai ser rainha em nós e o medo, esse mal maior que tudo invade e corrói, vai ser sombra perscrutadora das nossas indecisões. Quando o sinto, os meus dedos compridos procuram imediatamente o meu brinco, aquele que penduro em mim (porque os uso sempre, taras e manias desde menina!), e começo a percorrê-lo em busca daquilo que a razão tenta encontrar e o coração não o permite.

Sou católica, mesmo muito católica. Creio em Deus, creio na Igreja e acredito que Ele nos ajuda nestes mesmos instantes em que buscamos uma resposta, não para o que somos, mas para quem nos queremos tornar. Em todos os silêncios que fazemos, a dúvida instala-se, porque não nos sentimos preparados para deixar para trás aquele caminho e para iniciarmos um novo, desconhecido, sinuoso, temido percurso.

Trocar o conhecido pelo desconhecido valerá a pena? Estaremos à altura de tal desafio? Seremos capazes de aguentar as tempestades nestes corpos frágeis de quem ainda tem tanto por conhecer e saber?

Mas teimamos em olhar para trás e para tudo o que aquele caminho nos trouxe: paz, estabilidade, pessoas, lar. E pegamos em tudo e pomos na balança. No outro prato, lá está a aventura, o risco, o sucesso, a concretização de um sonho de vida, o desconhecido (quantas vezes já te escrevi, palavra?) – escolhe-se o que pesa mais, não é? – Filha, pensa bem! – e fechamos os olhos.

Não queremos escolher, queríamos ficar com os dois. O meu coração é grande: cabem lá tantas pessoas, tantas recordações, tantas histórias, tanto eu, tanto tu. Mas sei que vai chegar aquele dia. O dia em as minhas mãos não soltam os dados, porque não gosto de aleatoriedade. Mas o dia em que vou ter de trocar o certo pelo incerto, pois “A vida é feita de nadas/De grandes serras paradas/À espera de movimento”.

E sigo viagem. Se perguntarem por mim, digam que fui ser quem eu sempre quis ser.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Sobre o limite ao endividamento público na Constituição

Aqui fica a crónica do Sr. Nuno Garoupa, professor de Direito na Universidade de Illinois, no Jornal de Negócios acerca da demagogia que varre o debate europeu nesta questão e dos efeitos práticos nulos da constitucionalização de um limite ao endividamento público.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

A Sua Excelência, o Sr. Wolfgang Schauble

Os responsáveis europeus apressam-se a negar a possibilidade de uma recessão no futuro próximo da Europa. Os responsáveis europeus falam, a realidade trata de os desmentir. É um padrão lógico e coerente de acontecimentos que vem ininterruptamente sucedendo desde há mais de um ano. No dia de ontem, o Eurostat divulgou os dados estatísticos relativos ao crescimento da zona euro no 2.º trimestre. Segundo o Eurostat, o PIB da zona euro cresceu 1,6% face ao mesmo período do ano anterior, abaixo das previsões iniciais de 1,7%. Não é este o dado mais relevante: o que o Eurostat confirma é que a zona euro cresceu 0,2% neste 2.º trimestre face ao 1.º trimestre – ou seja, estagnação e limiar da recessão. Mas mais: qual é o factor que está na origem deste abrandamento? Nada mais, nada menos do que a retracção do consumo privado. Parece óbvio o que está, por sua vez, na origem da retracção do consumo privado: o sufoco da economia com sucessivas medidas de austeridade cegas. Conclusão: meus amigos, comecem a pensar noutra coisa que isto não está a resultar.

Exemplo concreto: há pouco mais de um ano atrás, a Grécia solicitou um pedido de ajuda externa face à sua incapacidade de se financiar nos mercados em condições sustentáveis. Nessa altura, a taxa de juro das obrigações gregas situava-se nos 12%; hoje, decorrido um ano e um programa de assistência internacional e a iminência de um outro, os juros gregos estão acima dos 50% no prazo a 10 anos, e superam os 80% a 2 anos. Nova conclusão: meus amigos, comecem a pensar noutra coisa que isto não está a resultar.

No entanto nem perante as evidências que aqui expomos suportadas na cruel frieza dos números, os cegos defensores da via austeridade desarmam: segunda-feira, o orgulhoso e casmurro Sr. Schauble, assinava um artigo no Financial Times intitulado «Austeridade é a única cura para a zona euro» (aqui disponível no Diário Económico). É graças a este tipo de declarações estrondosas conjugadas com a divulgação de cenários económicos modestos que os mercados reagem, curiosamente, desta forma – caem. Ontem, Wall Street caiu 2%; Milão, 3%; Madrid, 2%.

Diz o Sr. Schauble: «Independentemente do papel desempenhado pelos mercados na catalisação da crise da dívida soberana na zona euro, é um facto incontornável que o excesso de despesa estatal gerou níveis de endividamento insustentáveis e défices. Aumentar agora o endividamento vai pôr em perigo o crescimento a longo prazo. Os governos não devem apenas comprometer-se com a consolidação orçamental e o aumento da competitividade - devem avançar imediatamente nesse caminho.»

O Sr. Schauble está, porém, ligeiramente equivocado ou parcialmente correcto. Sejamos claros: existe um problema de endividamento que necessita de ser controlado, mas tomá-lo como o único problema é errado. Dito isto, vejamos – a Irlanda. A Irlanda tem um défice público elevado, tal como um elevado endividamento. Mas não chega dizer isto: é necessário saber as causas desse endividamento. E a resposta é que o problema da Irlanda esteve e está no sistema bancário e na falta de regulação que obrigou o Estado a abrir a torneira e a jorrar dinheiro sobre o sistema bancário sob pena dele falir. Não se pode dizer que a Irlanda viveu acima das possibilidades pois as suas debilidades resultam do sistema bancário e foi tão só em função deste problema que o défice e a dívida pública cresceram. O que não se pode dizer é que há aqui um problema endémico de endividamento.

Mas mais, Excelência: veja V. Ex.ª a Espanha. A Espanha tem um dos mais elevados défices públicos, mas o seu endividamento está abaixo da média da zona euro – abaixo de V. Ex.ª, por exemplo, o que certamente o fará corar de vergonha. E, no entanto, os mercados pressionam as obrigações espanholas. Porquê? Porque a sua economia estava assente sobre o sector imobiliário que, como sabemos, colapsou com a crise imobiliária de 2008. Logo, a economia espanhola ficou sem a sua força motriz. O governo espanhol para evitar uma recessão profunda da sua economia, optou por uma política económica expansionista e estimulou economia, alargando, desse modo, o défice. O endividamento, porém, permanece sustentável. Claro que senão houver crescimento, a situação poderá tornar-se menos sustentável, mas esse é um argumento que joga contra V. Ex.ª e que não colhe a seu favor. O seu problema reside, pois, numa economia assente num sector imobiliário ainda frágil e numa taxa de desemprego de 20% que resulta da falta de competitividade do mercado laboral e da rigidez das suas leis. Não falaremos agora do caso português porque, patrioticamente, merecerá uma reflexão à parte.

Apenas a Grécia, Excelência, tem um problema estrutural: 8,6% do PIB de défice público segundo as previsões mais recentes e o tal problema de endividamento de 160% do PIB que, esse sim, parece fora de controlo. Mas note, Excelência, a sua pretensa cura que V. Ex.ª reputa como única não está a ajudar o paciente: está a matá-lo lentamente, mas fatalmente. Pelo que seria conveniente que Sua Excelência reconsiderasse os fundamentos da sua posição e suportasse-a na análise dos factos e não no domínio das quimeras.

De sua excelência um prezado e humilde amigo.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Bailes Madeirenses

Antes de mais apresento os meus cumprimentos ao caríssimo leitor, depois desta interrupção para descanso do pessoal.

Durante a silly season não costuma haver muito que falar e o que há é francamente desinteressante. Mas graças às décadas de socialismo que fustigaram o nosso país e à inerente situação de insolvência, este ano foi uma excepção – desde o anúncio quase diário de novos impostos (eu pensava que tinha votado num governo liberal) aos berros da oposição houve sempre algo para alegrar e imprensa.

Porém, talvez o mais interessante tenha sido o caso da Madeira – como o leitor deve saber, naquela região autónoma descobriu-se um “desvio colossal” (€500.000.000 de deslize) que sua excelência o presidente do Governo Regional explica assim, não tendo sequer a decência de assumir responsabilidade pelo facto, isto apesar de estar há décadas à frente dos destinos da Região:



Ora, se a actual direcção do PSD segue a linha ideológica liberal, conforme diz, não pode deixar de condenar as políticas seguidas no arquipélago, pois estas seguem uma linha rígida social-democrata onde o sector público domina a economia privada e onde a afectação dos recursos públicos conhece aplicações até na imprensa.
Numa altura em que o Governo apenas pede sacrifícios aos cidadãos, oferecendo poucas reformas concretas, é imperioso um puxão de orelhas público aos líderes que permitiram um endividamento daqueles, completamente ao arrepio de tudo quanto se passa no continente até por motivos de moralidade política.

Ora é bom que Pedro Passos Coelho se escolha um dos lados da barricada – ou se está com a linha social-democrata de Jardim, ou então assume a postura liberal que sempre disse ter. E isto até porque o colega de governo Paulo Portas não vai dar tréguas ao Governo Regional – e se quem persiste em ficar no meio acaba sempre entalado, perguntem ao Martim Moniz.