A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

A UE e a Grécia

A bancarrota amanhã ou a bancarrota no próximo ano: eis o que decidiram hoje os membros do Parlamento Grego. Os Gregos optaram pela bancarrota no próximo ano. Tal como se encontra, o acordo celebrado entre os responsáveis da UE e da Grécia resume-se a isto. Um ano depois, acumulando erro atrás de erro na gestão da crise da dívida pública, a União Europeia prossegue no mesmo caminho. À Grécia, podemos até desculpar: aos seus responsáveis políticos não lhes resta outra opção senão aceitar o cenário que lhe colocam porque desde há um ano atrás a Grécia tornou-se um protectorado dependente das decisões das instituições europeias. Portanto, os responsáveis gregos vão aceitando as decisões europeias passivamente, até que elas se decidam firmemente. Tem sido assim com o Sr. Papandreou, mas se o actual Governo grego cai, a conversa com o seu eventual sucessor, o Sr. Samaras, poderá ser mais dura.
O plano proposto pela UE, mais uma vez, permite adiar a bancarrota por mais algum tempo, mas não a elimina. Os alemães, os holandeses e os finlandeses, pressionados pelas oposições nacionais internas buscam o menor envolvimento possível nos programas de resgate. É um objectivo legítimo, não fosse a via escolhida para o fazer, aquela que poderá ser precisamente a mais custosa para os seus cofres. Aquilo que a Europa e que sobretudo os economistas alemães contestam é o que se vai verificando: em função do seu dogmatismo, dum nacionalismo cego, todos receiam que a União se constitua como um centro de transferências de rendimentos em que países do centro sustentam os países periféricos. E é isso que se vem sucedendo. A ideia de que Irlanda e Portugal dentro de dois anos estarão de volta aos mercados, financiando-se normalmente e a condições sustentáveis, é utópica. Tal como aconteceu com a Grécia, dentro de algum tempo discutiremos novos programas de ajuda para Portugal e a Irlanda, transferindo novamente rendimento para os países periféricos. A questão é – quando quer a Europa terminar de uma forma definitiva com o problema? Aliás: como quer a Europa convencer os mercados da sustentabilidade das dívidas dos países periféricos, quando ela mesmo concede empréstimos cujas taxas de juro reflectem um montante de risco elevado? A Europa não pode prosseguir num caminho revanchista em relação a estes países, querendo-os castigar pela sua falta de disciplina orçamental. A Grécia cometeu erros; e cometeu ainda erros no seu processo de consolidação orçamental. A Grécia continua ainda a ser um Estado paternalista e clientelar. É esse Estado que se precisa de combater e de se refundar: pretender fazer isso sem dispor da indispensável coesão social é impensável: as greves sucedem-se; o divórcio entre o povo e os seus representantes é evidente; as classes jovens alheiam-se da política. Pretender refundar um Estado sem obter o apoio, a força e a vitalidade dos seus membros é impossível.
É isso que tem faltado à Europa: visão. Numa União que se pretende de solidariedade, apenas tem havido lugar para os interesses nacionais. Dos Estados mais activos nos planos de resgate apenas se pretende uma coisa da ajuda aos países periféricos – vingança. Antes de desejar em primeiro lugar a sua recuperação, o seu crescimento e a sua moralização, desejam primeiro o castigo, a recessão e a austeridade.
Por alguns semanas deixaremos de ouvir falar na Grécia com tanto ruído; talvez as taxas de juro dos países periféricos desçam timidamente; mas em breve, de certeza, voltaremos a ouvir o rumor inquieto dos mercados e talvez mais uma resposta inconsequente da União Europeia como reacção a esse rumores.

terça-feira, 28 de junho de 2011

Aos mais esquecidos

É com algum espanto que observamos os moldes em que o debate intelectual se realiza nos nossos dias. Tomemos como exemplo a seguinte situação: a sacudidela governativa das forças de esquerda que, na óptica da direita, é a grande responsável pela desorganização europeia e pela desarmonia que se verifica entre centro e periferia na Europa. A simplicidade com que esta ideia vem sendo plantada triunfalmente entre a imprensa é assustadora e, no entanto, nada de mais falso. O leitor recorda-se da forma como começou esta crise? Pois bem, caro leitor: a crise que eclodiu em 2008 não começou como uma crise de dívida pública soberana; evoluiu, certamente, para o estádio que actualmente se lhe conhece. Mas os verdadeiros contornos foram bem diferentes: nessa altura, os fervorosos conservadores liberais que hoje tanto apregoam contra o Estado Social andavam com a viola metida no saco, confessando até alguma simpatia com a intervenção estadual que, recorde-se, salvou o sistema bancário da falência e que a economia mundial mergulhasse numa crise semelhante à vivida em 1929. E o leitor recorda-se da causa que desencadeou uma eminente falência do sistema bancário mundial? A desregulação, caro leitor! Alan Greenspan! Este nome ao leitor não deve agora ser familiar. Pois bem: em 2008, este senhor, ilustre representante da escola conservadora liberal dos Estados Unidos, era religiosamente venerado. O Sr. Greenspan, antigo Presidente da Reserva Federal dos EUA, fruto da filosofia em que acreditava, de que cada agente actuando por si mesmo, conduziria igualmente a um acautelamento dos interesses públicos e colectivos, caiu em desgraça em 2008. Os liberais conservadores ficaram órfãos. Mas eis que numa reviravolta surpreendente, três anos volvidos, eles estão mais fortes que nunca – orgulhosos, altivos, briosos.
Com efeito, depois da intervenção concertada dos Estados haver salvo o sistema bancário da falência, de os haver recapitalizado com dinheiro dos contribuintes, de haver evitado uma crise com os moldes da crise de 1929, mas não haver evitado a maior crise económica desde então, os conservadores liberais vêm acusar esse mesmo processo de haver salvo o Mundo da filosofia que eles mesmos advocam! De uma crise do sistema bancário passamos então para uma crise de dívida pública soberana.
Mas esta surge como consequência daquela. Naturalmente que os Estados estruturalmente sobreendividados como o português, foram a essa crise mais expostas, ou seja: outras causas agravaram-na. Mas foi uma filosofia liberal, crente na desregulação dos mercados, fiel a uma concepção extremista do interesse individual e egoística que nos conduziu à actual conjuntura. A crise de dívida pública apenas apareceu posteriormente e em resultado daquela e da sua filosofia. Não deixa, por isso, de parecer algo estranho, diria mesmo cínico, o modo feliz como alguns liberais olham o seu umbigo, vendo o declínio das forças de esquerda no Governo.
Isso não significará, certamente, que a esquerda se possa imobilizar no tempo. As profundas transformações que se vão verificando nos nossos tempos obrigam a uma constante adaptação de posições de modo a se harmonizar também com a realidade das eras – mas isso sem nunca esquecer os valores fundamentais do legado que nos é transmitido. E este sim, parece-me o principal defeito que pode ser apontado às forças de esquerda: é realisticamente e economicamente impossível permanecer agarrado a certos preconceitos ideológicos contra o mercado. Sem recair na deriva neoliberal, as forças de esquerda têm de encontrar o meio caminho entre a liberdade individual e as necessidades colectivas públicas e refundarem a sua ideologia.

domingo, 26 de junho de 2011

Copiar

Veio a público a notícia de que alegadamente terão sido apanhados a copiar no teste de Investigação Criminal e Gestão de Inquérito os auditores de Justiça (futuros procuradores do Ministério Público e magistrados judiciais) que se encontram neste momento a frequentar o curso de formação do Centro de Estudos Judiciários.

Quem trouxe este assunto a público, ainda não se sabe. Mas sabe-se que a história do copianço extrapolou os seus contornos e está a ser aproveitada da pior forma possível para, mais uma vez, tentar fazer desacreditar a justiça e os agentes judiciários.

Ao longo do período de formação dos auditores de justiça (9 meses) no CEJ, muitos são os exames que terão de ser feitos para que eles consigam concluir a sua formação. Este foi mais um dos testes, desta vez do tipo americano ou com cruzes, se preferirem. Aquando da sua correcção, os examinadores verificaram que existiam perguntas em que quase todos erraram, tendo escolhido a mesma opção incorrecta. Face à incredulidade de se poder estar perante uma pura coincidência, e tudo apontando para um mais que provável copianço, o Conselho Pedagógico do CEJ, decidiu atribuir a todos os 137 examinandos uma mesma classificação de 10 valores.

Foi nesta altura que a notícia veio a público e, após tantos Opinadores emitirem as suas declarações a propósito e a despropósito sobre o assunto, o Conselho Pedagógico decidiu fazer repetir o referido teste, deliberando ainda anular a classificação anterior de 10 valores, não sem antes esclarecer que seria abandonado como método de avaliação o teste tipo americano.

A Directora do CEJ acabou mesmo, perante tamanha exposição mediática da instituição a que presidia, por pedir a sua demissão do CEJ, tendo sido tal pedido aceite pela actual Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz.

Não deixo, a ser mesmo verdade, de condenar tal atitude de futuros titulares de um dos mais importantes órgãos de soberania do nosso país, sendo tal comportamento (a ser realmente verdade, ressalvo sempre!) lamentável e totalmente desprestigiante, não só para a classe dos magistrados em si, mas também para toda a Justiça portuguesa. Todavia, não consigo deixar de colocar algumas questões muito indiciadoras de toda esta situação:

1)Se nos exames nacionais, em questões do tipo americano, existe mais do que uma versão do mesmo exame, com as mesmíssimas questões, embora ordenadas de modo diferente, porque é que não se fez o mesmo neste teste do CEJ?

2)Se em todos os exames existem vigilantes para efeitos de controlo da realização do exame, onde é que eles se encontravam neste teste?

3)Como é que se pode afirmar de modo tão seguro que TODOS os 137 auditores de justiça que realizaram tal prova copiaram quando, por fonte segura, sei que existiram respostas iguais em provas de alunos que se encontravam numa das salas do 1.º andar e em provas de alunos que estavam numa sala dois andares acima? Terá sido copianço por telepatia?

4)Acima de tudo, será que era realmente necessária tanta especulação e alarido em redor do assunto, mormente numa altura em que o país precisa de estabilidade e de reforço da confiança nos seus órgãos de soberania? Uma coisa é noticiar, outra é aproveitar a deixa para azucrinar e espezinhar a Justiça portuguesa!


Caríssimos, não sejam assim tão ingénuos! Mesmo que estes magistrados, no pior dos cenários, tenham copiado, tal não significa que TODOS os magistrados actualmente em funções nos nossos tribunais o tenham feito. Como é possível tomar o todo pela parte?

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 25 de junho de 2011

Então e a dívida, caramba?

Após o Conselho Europeu desta semana no qual participava pela primeira vez na qualidade de Primeiro-ministro o Sr. Passos Coelho, a imprensa portuguesa logo anunciava com estrondo – o Conselho Europeu foi um sucesso para Portugal! E entretanto os juros da dívida pública portuguesa batiam recordes – andam agora nos 16%! É caso para perguntar para perguntar: - Mas anda tudo maluco? Ou tornamo-nos assim tão medíocres que nos contentámos com nada?
No Conselho Europeu foi, de facto, reafirmado o compromisso perante a Grécia de ajuda externa com uma condição: a aprovação no Parlamento grego de um amplo programa de privatizações e um conjunto de severas medidas de restrição e controlo orçamental. Ora, na Grécia o Governo do Sr. Papandreou sobreviveu com dificuldade a uma moção de confiança no Parlamento, apenas graças aos votos favoráveis dos seus correligionários do PASOK, tendo a oposição em uníssono votado contra, além de ter recusado integrar um Governo de salvação nacional; cá fora, na Praça Syntagma, o povo rebelava-se; as greves gerais sucedem-se; a coesão nacional é inexistente; a dívida agrava-se; a recessão acentua-se…E o que faz a Europa? Insiste na mesma resolução apresentada há um ano atrás e que apenas agravou a crise grega, fazendo-a depender de um consenso num Parlamento cada vez mais fraccionado. E no entanto – esta cimeira foi um sucesso para Portugal. Se o problema grego se mantém inalterável na sua base e na sua conjuntura, se o perigo de contágio não é eliminado, se a crise europeia se protela indefinidamente, se os mercados continuam a roer freneticamente as unhas – como é que este Conselho Europeu pode ser considerado como um sucesso para Portugal?
Muito bem: reafirmamos pela voz do nosso Primeiro-ministro o nosso forte compromisso com o memorando celebrado com a troika. E daí? Agora para além de falidos, somos também falsos perante os nossos compromissos? Não é a nossa palavra e a nossa honra suficiente como penhor do nosso compromisso? Necessitamos de reafirmá-lo todas as semanas para que verdadeiramente acreditem em nós? Ou terá sido antes o anúncio de que o Governo pretende alargar e ir mais além das medidas constantes do Memorando que levou a imprensa a classificar de sucesso para Portugal este Conselho Europeu? Também aqui nada de novo – o Sr. Passos Coelho já o havia afirmado durante a campanha eleitoral. E pior – as suas declarações não acalmaram os mercados porque os juros da dívida continuam regularmente a subir, como dissemos. Mas mais – sabemos que a consolidação orçamental de 2011 até agora está ser escrupulosamente cumprida; ou seja, o nível do défice com o qual nos comprometemos irá, em princípio, ser cumprido. O que nos leva a outra questão – e a divida, que diabo?! Que pretende o Governo fazer em relação à dívida? Então anda toda a Europa ralada com a sustentabilidade da dívida grega, com a sua reestruturação, com os rumores de contágio a Irlanda, Portugal e Espanha, e agora que o nosso défice está a ser reduzido, ninguém se preocupa com a sustentabilidade da nossa dívida que anda pela casa dos 100% do PIB? Para provarmos da sustentabilidade da nossa dívida é preciso pôr o País a crescer numa base regular e sólida; certamente, isso exigirá tempo. O que decerto não impedirá que o Governo raciocine sobre o assunto. Raciocinar sobre este problema não é anunciar meia dúzia de privatizações que permitam a estagnação da dívida – é preciso um crescimento sustentado para que a dívida se torne também ela sustentável. E para o fazermos precisamos também de uma Europa unida e sobretudo solidária: em nenhuma destas vias seguiu Portugal no Conselho Europeu. Senão existem ainda medidas destinadas a promover o crescimento económico e se a situação europeia não é ainda de harmonia e de solidariedade e de união – como é possível, pois, falar em sucesso?

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Exames

Pois cá estamos nós para mais uma rubrica dos já famosos Humores de Sexta, aqui no nosso Opinador. O tempo lá fora já começa a aquecer, mas os exames não deixam as consciências estenderem uma toalha na praia, de forma animosa e descansada. Eles são os exames nacionais para os mais novos. Eles são os exames de aferição da Ordem dos Advogados (seis em três dias, num autêntico acto de martírio para todos os que os têm de realizar! A Marquesa está solidária convosco.). Eles são os exames de Mestrado. Eles são os exames do CEJ, que vieram para a ribalta nos últimos dias, embora por motivos muito pouco explícitos (a clarificar, no nosso post de domingo).

Ora, como muito se fala em exames, aqui estamos nós a corroborar, mas desta vez com o nosso habitual tom humorístico. Resta-nos desejar boa sorte a todos os que estão mergulhados nesta azáfama examinadora, desejando-vos muito boa sorte.


Por Carlos Jorge Mendes

Da nossa parte, só esperamos que o exame nacional de Matemática a realizar na segunda-feira, não coloque questões tão complexas e de tão elevado grau de dificuldade como a que se segue.





Por Leticia, a Marquesa

O texto infra foi retirado de uma prova de aferição de Língua Portuguesa do 9.º ano (do 9.º ano, relevo, Caríssimos!). E agora fiquei na dúvida... Será motivo de riso ou de choro? Como diria a minha vizinha: " Anda uma mãe a criar filhos para isto!..." (para os mais incrédulos, até poderei revelar em que Escola portuguesa tal texto foi redigido... Mas afinal, o que vem a ser isto?)


REDAXÃO

"O PIPOL E A ESCOLA"

Eu axo q os alunos n devem d xumbar qd n vam á escola. Pq o aluno tb tem Direitos e se n vai á escola latrá os seus motivos pq isto tb é perciso ver q á razões qd um aluno não vai á escola. Primeiros a peçoa n se sente motivada pq axa q a escola e a iducação estam uma beca sobre alurizadas.

Valáver, o q é q intereça a um bacano se o quelima de trásosmontes é munto Montanhoso? Ou se a ecuação é exdruxula ou alcalina? Ou cuantas estrofes tem um cuadrado? Ou se um angulo é paleolitico ou espongiforme? Hã?

E ópois os setores ainda xutam preguntas parvas tipo cuantos cantos tem 'os Lesiades''s, q é u m livro xato e q n foi escrevido c/ palavras normais mas q no aspequeto é como outro qq e só pode ter 4 cantos comós outros, daaaah.

Ás veses o pipol ainda tenta tar cos abanos em on, mas os bitaites dos profes até dam gomitos e a Malta re-sentesse, outro dia um arrotou q os jovens n tem abitos de leitura e q a Malta n sabemos ler nem escrever e a sorte do gimbras foi q ele h-xoce bué da rapido e só o 'garra de lin-chao' é q conceguiu assertar lhe com um sapato. Atão agora aviamos de ler tudo qt é livro desde o Camóes até á idade média e por aí fora, qués ver???

O pipol tem é q aprender cenas q intressam como na minha escola q á um curço de otelaria e a Malta aprendemos a faser lã pereias e ovos mois e piças de xicolate q são assim tipo as pecialidades da rejião e ópois pudemos ganhar um gravetame do camandro. Ah poizé. Tarei a inzajerar?


Bom fim-de-semana.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Da Democracia

As democracias são construídas para responder às ambições do povo, para que a sua vontade seja respeitada através dos seus representantes eleitos, forma pela qual se harmonizam o interesse individual e o interesse colectivo. Algures pelo caminho, o ideal perdeu-se: hoje, temos uma democracia que é uma mera sombra desse ideal. Há dias, o Sr. Paul Krugman, anunciava: os representantes do povo não governam para o povo, para o interesse colectivo: governam para os rentiers, para o interesse de uns quantos. Os representantes corromperam-se; e se os representantes do povo respondem, não perante o povo, mas perante grupos de interesse, podemos ter, com efeito, uma democracia – mas apenas na forma, não na substância. A actual democracia material carece de ideias e de dignidade; sem isso, não se distingue de um regime arbitrário, dominado pelos fortes, oprimindo os fracos. Às câmaras electivas falta-lhes tanto o génio, como a justiça; falta-lhes a influência fecunda pela qual possam conduzir o povo pela força e pela autoridade do seu exemplo; falta-lhes ser a instituição altiva na qual o povo se possa moralizar.
Em Portugal, os partidos sucedem-se revezadamente no poder; as ideias, no entanto, mantém-se as mesmas de há três décadas atrás. Os portugueses bocejam de tédio; não vêem na Política motivo de interesse; alheiam-se. Olham para o lado e vêem as outras nações europeias avançando, prosperando; e Portugal sempre o mesmo desde há uma década – continuamente estagnado. A vontade e a força popular afrouxa-se, torna-se passiva; a sociedade esteriliza-se, as forças vivas adormecem – não há dinâmica, tudo é inércia. Não existe iniciativa privada que puxe pelo País; todos esperam pelo Estado.
Não creio que estejamos numa daquelas eras que prenunciem tremendas movimentações na evolução das sociedades, mas a verdade é que os políticos se têm revelado incapazes de responder às ambições e às aspirações do povo. E quando os representantes do povo não se revelam à altura da missão que o povo lhes delega, o povo torna-se insatisfeito. Essa insatisfação pode demorar anos a amadurecer – foi o que aconteceu no Médio Oriente. Foi necessário esperar a conjugação necessária de factores que permitisse desencadear a revolução e o elemento fundamental que permitiu essa eclosão de liberdade foi o aparecimento de uma juventude educada, culta, enérgica e livre. Nenhum déspota a conseguiu parar; pode atrasá-la, mas não abafá-la. Nas democracias ocidentais a conjuntura é claramente diferente, mas os mesmos ventos de desarmonia entre o povo e os seus representantes. Mais uma vez, também aqui essa insatisfação poderá levar o seu tempo a sedimentar. Mas conjugados os factores, na altura certa ela eclodirá. E os actores políticos têm desprezado os ventos de mudança, têm negligenciado os protestos do povo. Certamente que esses protestos resultam da degradação das economias nacionais e da incapacidade dos políticos inverterem esse ciclo de uma forma definitiva e cabal. Decerto esses protestos resultam da fragilização da qualidade de vida dos cidadãos, da austeridade da tributação, do elevado desemprego, da ausência de uma perspectiva de futuro. Tudo isso é verdade – mas nada disso impede que se reconheça a existência de um problema de fundo – a qualidade da democracia. Mais uma vez – certamente que a qualidade não resulta apenas da valia dos representantes do povo; o próprio povo, os próprios cidadãos, pela sua intervenção, pela sua dinâmica, pelo seu inconformismo, pelo seu trabalho, pela sua cultura, pelo seu estudo, pelo seu interesse pela dignidade da causa pública são também responsáveis. Mas os actores políticos são sempre, em última instância, os executores das decisões e é sobre eles quem recai a última e a decisiva das responsabilidades.
O perigo para a verdadeira democracia material não virá, decerto, deste tipo de movimentos – eles são antes benéficos para a democracia (acontecimentos, no entanto, como os que sucederam no Parlamento da Catalunha são verdadeiramente condenáveis); os riscos virão antes de uns quantos demagogos populistas que, com o discurso político certo, poderão aproveitar-se do descontentamento popular, fortalecer os seus movimentos e implementá-los e enraizá-los solidamente junto das sociedades. Aos poucos, as suas ideias vão prosperando. Na Europa, é a emergência da extrema-direita. Foi o que sucedeu, por exemplo, nas recentes eleições legislativas finlandeses com o resultado alcançado pelo partido dos “Verdadeiros Finlandeses”. O mesmo sucede na Holanda; na França onde o Partido da Sra. Le Pen vai ganhando um apoio crescente; na Suécia onde, recentemente, se elegeram deputados para o Parlamento. Por todo o lado, lentamente, mas progressivamente, os movimentos de extrema-direita vão prosperando. Também nos Estados Unidos – é o Tea Party com o seu discurso radicalista.

terça-feira, 21 de junho de 2011

Um Governo em 4-4-3



Eleições feitas, Sócrates de saída, credores à entrada e temos novo Governo, desta vez, de coligação. O CDS-PP consegue três ministérios (sem surpresa), com Portas nos Negócios Estrangeiros (toda a gente o estava lá a ver). Dr. Portas, permita-nos um conselho: dedique-se, dia e noite, à luta pelas eurobonds pois só elas nos podem salvar.


Mas é nos 8 ministérios da esfera do PSD que maiores surpresas tivemos: para aqueles 8 ministérios, Passos escolheu para metade, independentes.
Comecemos pelo que mais interessa: Finanças – segundo avançado pelo Expresso, a primeira pessoa que Passos convidou foi Eduardo Catroga, talvez para a Economia, (que já tinha dado a cara nas negociações com a troika e que foi, em grande parte, responsável pelo programa de Governo que o PSD apresentou a sufrágio). Também foi convidado Vítor Bento, presidente da SIBS (para quem não sabe, é a empresa do multibanco que terá recusado por questões financeiras. O que até é lógico… Quem quer ir para ministro, ganhar chatices e perder dinheiro? E foi assim que se chegou a Vítor Gaspar. Quem é este Vítor Gaspar? Não o conhecemos n’ Opinador, mas concedemos-lhe o benefício da dúvida. Ao que parece é muito bem visto na sua área, muito competente, curriculum excelente…


Depois, nova recusa para Passos, desta vez na Educação – o primeiro nome pensado teria sido o de Paulo Rangel mas este recusou (talvez quisesse a Justiça). Veio a cair a escolha em Nuno Crato, insigne professor universitário, cujo nome deve fazer tremer os pelos do bigode de Mário Nogueira.


Uma nota positiva para a Economia: nos últimos anos este ministério esteve um pouco oco de substância pelo que a reunião das Obras Públicas, Telecomunicações e Privatizações parece ser uma aposta correcta. Álvaro Santos Pereira sofre do mesmo de Vítor Gaspar: é ao que parece um excelente académico, sem nome na praça. Para ele vai também o nosso benefício da dúvida.


Na saúde temos um excelente quadro – Paulo Macedo, muito conhecido pelo seu trabalho na DGCI. Numa altura em que será preciso contar os tostões, é um nome acertado, atendendo a que conhece bem o sector, pois já foi administrador da Medis. E assim se fecha o círculo independente.


Quanto aos militantes, Aguiar Branco na defesa (ainda nos lembramos da má reforma da acção executiva que patrocinou, por isso tem que mostrar bom serviço nesta pasta), Paula Teixeira da Cruz na Justiça (algumas reservas quanto à sua capacidade de independência, especialmente da Ordem dos Advogados), Administração Interna e Assuntos Parlamentares sem grande surpresa.


É um governo jovem o que revela capacidade de renovação geracional. Mas também é um governo inexperiente (ok, está lá o Portas) para uma altura crítica como esta. Muitos dos que lá estão, têm mérito académico e isso é bom (pena é que o mesmo não se passe, por exemplo na Justiça)… Vamos a ver é se dão bons ministros.
Só uma curiosidade: no meio de tanto convite, ao que parece houve um desconvite: Jorge Moreira da Silva estaria apontado para a Agricultura, mas Passos teve que ceder a pasta ao CDS-PP, talvez em tornas da Economia.
Um Governo pequeno (a nosso gosto), liberal (muito a nosso gosto) e jovem. Vamos a ver o que isto dá… Mas muita gente houve que ficou em logo êxtase com os nomes deste executivo, até o Medina Carreira. Ficaram, mais ou menos, desta maneira:


segunda-feira, 20 de junho de 2011

Anita vai à Escola


Desencadeou-se esta semana passada um sururu desgraçado à conta de uma prova da fraca competência dos nossos futuros magistrados para copiar. Isto, para além de muito ofender toda a classe jurídica portuguesa, abre portões à discussão popular acerca da falta de idoneidade daqueles, idoneidade essa que deveria ser nome do meio de qualquer juiz que se preze.
Uns dizem que é inadmissível que se observem comportamentos desta índole no seio da magistratura que zelará pela ordem e justiça globais desde a conclusão da sua formação em diante, outros consideram uma falha condenável por parte dos examinadores responsáveis pela vigilância do teste, que não estiveram à altura de vislumbrar a fraude que se consumia durante a execução daquele. Uns dirão também que a culpa é desta geração mal qualificada e precoce para lidar com carreiras de reconhecida responsabilidade, outros tantos garantirão que a primeira resolução para o caso (a da atribuição da nota positiva mínima a todos para não prejudicar os formandos competentes) é uma manifestação bruta da intocabilidade que caracteriza os juízes do país e, outros dirão aquilo que bem lhes apetecer, porque a democracia é para isto que dá jeito: liberdade de opinião.
Como tal, também eu tenho uma, ou não fizesse parte de um Blog cujo título é, de entre outras coisas, Opinador. Pois bem, a minha ideia não releva nem deve ser colhida por aqueles que atendem a todas as possíveis opiniões que atrás expus, mas, sob o meu ponto de vista tem, igualmente, a sua pertinência.
Antes de mais parece-me de extrema nabice que os vigilantes da prova que tanto barulho levantou não se tenham apercebido que, debaixo dos seus importantes narizes, um copianço em massa estava a ser levado a cabo. Meus senhores, se se permite que recém-licenciados que ainda agora trazem o bichinho das cábulas tão confortavelmente instalado no colo tenham acesso à magistratura, com certeza não se espera que, por livre e espontânea força espiritual sejam brindados de algum tipo de maturidade excepcional que os torne exemplos perfeitos da noção de bom pai de família e capazes de renegar veementemente ao poderoso pecado do copianço.
Se me dizem: Ah e tal, mas um juiz deve ser assim e assado e não se admites que isto e aquilo aconteça! Eu direi: Pois está muito bem, mas então vocês não têm noção de como a sociedade está corrompida até ao tutano? Ainda acreditam na ingenuidade e pureza dos jovens licenciados? (E soltarei uma sonora gargalhada de desdém....)
Mas sim senhor, esse acordo inicial de votarem tudo a 10 para ninguém sair demasiado prejudicado foi coisa bonita de se ver... Isso sim é aprender noções bonitas de justiça!
No entanto, se condenável foi o facto de estes formandos terem copiado à confiança num teste em pleno Centro de Estudos Judiciários (feito que, só por si, acobardaria os mais nervosos e medrosos estudantes), muitíssimo mais condenável será o facto de não o terem sabido fazer e virarem motivo de vergonha pública!
Caríssimos formandos, a minha vénia vai directinha para vocês porque, sim senhor, foram de raça... Mas para a próxima vejam lá a melhor maneira. É que serem assim desmascarados e rotulados de portentos da incompetência não me parece que fiquei muito bem no currículo.

domingo, 19 de junho de 2011

Porque quando se morre, deixa-se cá tudo...

No ano passado, foram registados no nosso país cerca de 25.000 testamentos. Esta realidade é cada vez mais comum nos dias que correm e começa a ser um meio utilizado pelos portugueses para acautelar e prevenir determinadas circunstâncias post mortem.

Há cada vez mais pessoas que, sabendo de antemão que os seus herdeiros estão sobreendividados e que com toda a probabilidade irão utilizar os bens herdados para o pagamento de tais dívidas, contemplam a impossibilidade de estes bens serem usados para aquele fim num testamento que terá, à data do óbito, de ser conhecido e obviamente respeitado.

Muitas outras decidem já através do testamento o modo de distribuição dos bens pelos seus herdeiros para que, mais tarde, não existam quezílias familiares e porque era essa a vontade do testador.

Legalmente, os herdeiros imperativos são o cônjuge e os filhos ou os pais. Isto só pode ser afastado por testamento, tendo em vista a deserdação de um destes herdeiros legitimários/forçosos. Todavia, a deserdação só pode ser realizada quando ocorrer alguma das circunstâncias previstas na lei (como ter sido o herdeiro condenado por algum crime doloso contra a pessoa, bens ou honra daquele que pretende deserdar, seu cônjuge ou seu descendente).

Além disso, um terço do património de todas as pessoas também está disponível para ser entregue a quem o testador quiser. Normalmente este 1/3 é entregue ao filho que mais apoiou os pais ou a alguém que esteve presente de modo especial na vida do testador. Quando não existem aqueles herdeiros imperativos, todas as pessoas podem dispor de todo o património em testamento.

Os testamentos podem ser elaborados por um notário e lá ser aprovados ou então podem ser elaborados pelo próprio testador, sem necessidade de recurso ao notário, o que acontece no caso dos testamentos cerrados.

A ideia de receber uma herança por testamento está associada ao ganho de quantias monetárias e a mais património, mas quando o falecido deixa dívidas, os herdeiros pensam duas vezes antes de aceitarem a herança, podendo, nestes casos, repudiá-la.

Como a grande maioria dos testamentos é feita em notários, pelo menos, vai dando para os notários se arremediarem. É que a profissão está de tal modo a ser esvaziada (veja-se o facto de em muitos contratos antes passíveis de serem reduzidos apenas a escritura, agora poderem ser feitos através de documento particular autenticado, num qualquer advogado; todos os actos contendentes com compras e vendas e doações de imóveis poderem ser já feitos nas Conservatórias, bem como as respectivas habilitações e partilhas de bens) que, qualquer dia, a vida também vai estar má, vai… Até para os notários!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Popularices

Junho, entre muitas outras coisas, é o mês das Popularices. É quando o tempo ajuda a que o povo saia à rua para confraternizar, fazer churrascos e assar sardinhas, beber uns copitos e umas cervejas, esquecer a crise e festejar os Santos Populares. É tempo de Santo António, São Pedro, São João...basicamente, santos em geral.
Ora, como sempre atentos ao panorama social português, decidimos esta semana debruçarmo-nos sobre a arte do popularuxo que o nosso povo tão habilmente defende.

Leticia, a Marquesa

Todos nós, na qualidade de portugueses de gema, adoramos a nossa música popular portuguesa. Quem é que nunca dançou o maior hit de sempre numa qualquer pista de dança nas festas da aldeola?



M. Pompadour

Não haverá nada mais fiel à arte do popular, do que as respectivas marchas que todos os santos anos nos entopem a pupila sem sequer termos tempo de as evitar.



Lord Nelson

Como o leitor decerto saberá, este ilustre painel opinativo tem muito pouco de plebeu... Daí que tenhamos tido imensa dificuldade em falar sobre popularices (isto, apesar de sermos todos super amigos dos pobrezinhos). Como estamos em época de santinhos e crenças deixamos aqui uma amostra do imaginário cultural do povinho.



Carlos Jorge Mendes

Nós cá não gostamos das festas populares não porque sejamos snobs, não porque sejamos ferozes ateus, mas simplesmente porque somos homens. Basta olhar, caro leitor, para as recentes festas em Lisboa, em homenagem ao Santo António: desde quando é que uma marcha daquelas pode agradar a um homem? E não me venham dizer que a recusa em celebrarem-se casamentos gays serve de desculpa! Enquanto em Portugal andam as mulheres a desfilar em saiotes e com xailes enrolados ao pescoço, andam as brasileiras no Carnaval aí todas descacadas para gáudio dos homens...e das receitas do turismo...É necessário repensar o modelo de desenvolvimento português...Menos festas populares e menos melhores de saiote; mais festas carnavalescas e mais mulheres despidas.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Casmurrice Europeia

Como qualificar ainda a atitude da Europa e dos seus representantes governativos para com os problemas que a vêm afligindo há mais de um ano? Casmurrice? Estupidez? Ontem, depois de uma reunião de emergência dos Ministros das Finanças em Bruxelas, a propósito da recente versão 2.0 da crise grega, o resultado não podia ser mais desolador: nem uma declaraçãozita vaga, anunciando um qualquer propósito indefinido – nada! Tudo o que resultou dessa reunião foi um adiamento da decisão para a próxima semana. Na prática, isto significa que a reunião foi um desastre e que as divergências se mantêm profundas: que o Sr. Trichet faz beiçinho e que o Sr. Schauble faz birra. Ora, o resultado de uma reunião de emergência terminando com o adiamento de uma decisão tão premente apenas indica que a resolução da crise grega 2.0 ainda está para durar. E com todos os custos que isso acarreta para a Europa. Portugal irá hoje aos mercados para arrecadar cerca de mil milhões de euros. A taxa de juro a que nos iremos financiar irá mais uma vez reflectir a desorganização europeia. A Espanha vai pagando o mesmo preço: a sua taxa de juro vai já nos 5,5%. E relembramos se a espiral de contagio não for limitado e se a Espanha for envolvida num pedido de ajuda externa, sérios problemas se levantarão para a Europa.

E tudo isto pelas cebaçadas que vão trocando a Alemanha e o Banco Central Europeu acerca do envolvimento dos credores da Grécia no novo plano de resgate grego. A Alemanha está errada por um simples motivo: o plano que apresenta não é baseado no seu mérito; o plano da Alemanha é desenhado a pensar no Bundestag; é desenhado a pensar no que irão os seus deputados pensar dele e não o que é conveniente para a Grécia e para a Europa. Este tem sido o problema da Europa desde o início: a acção dos Estados-Membros não tem sido feita a pensar no interesse europeu: tem sido feita a pensar no seu interesse egoístico e individual. O envolvimento compulsivo dos credores da Grécia no novo empréstimo irá desencadear o pânico nos mercados e o alargamento de que o mesmo vá suceder com Irlanda e Portugal. O plano do Banco Central Europeu é bem mais sensato: haverá uma extensão das maturidades apenas no caso dos credores se envolverem voluntariamente no plano. Outro aspecto que não deve ser esquecido são os custos que o novo empréstimo irá acarretar. Mais uma vez, os Estados-Membros irão exigir novas medidas de austeridade em troca do empréstimo. Esta política da União Europeia tem-se revelado desastrosa. Após um ano de austeridade imposta pela União Europeia, a crise grega agravou-se e aproximou-se ainda mais da bancarrota. O povo grego não suporta mais austeridade.

Aproxima-se cada vez mais o momento em que a Europa é confrontada com uma escolha final: a exclusão de determinados países da zona euro, prosseguir com planos intermitentes de milhares de milhões de euros que nada resolvem ou criar uma agência europeia de dívida. A primeira solução é definitiva mas desastrosa para a Europa; a segunda não é solução nenhuma; a teceira é a verdadeira solução para o problema. Porque prossegue então a Europa resistindo a essa solução?
Após o eclodir da crise mundial, oficialmente anunciada com a falência do Lehman Brothers, os países mais ricos do mundo, reunidos em Londres, concertaram a sua acção de forma a evitar que a crise iniciada em 2008 resultasse numa crise semelhante vivida em 1929. Todos juraram em fazer tudo o que estava ao seu alcance para que a economia mundial mergulhasse numa recessão profunda. Aos primeiros sinais de retoma, o egoismo prevaleceu e cada País passou a olhar para o seu umbigo, como se o desemprego não afectasse milhões de pessoas e como o risco de uma double-dip recession estivesse totalmente afastado.
São os países emergentes que vêm sustentando a recuperação da economia mundial; a Europa e os Estados Unidos prosseguem um caminho penoso. Prosseguindo neste mesmo rumo, a Europa arrisca-se a ser reduzida à marginalidade. E é bom que os líderes europeus não se esqueçam disso: juntos são uma voz poderosa na geoplítica mundial; separados, são apenas mais uma voz.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Choque Liberal

Sócrates Confiante? Empate técnico? Pois sim… É por isto que não leio o JN! Devem pensar que o povo é lorpa e que podem fazer propaganda à vontade…




Anyway, Luís Amado, já o dissemos, foi o melhor ministro deste governo. E arrisca-se a ser o fundador de uma nova corrente política: o socialismo não socialista! Isto, porque não teve pejo em afirmar que a economia portuguesa precisa de um choque liberal. Bravo!:



E tudo o que diz, diz bem porque é verdade! Portugal, todos o sabemos, está endividado. E está assim porque gasta demasiado principalmente em apoios sociais e em operar em sectores de mercado onde poderiam operar os privados, como a saúde e a educação (e obviamente nos juros do dinheiro emprestado).

É preciso cortar, para reduzir o endividamento e por a economia a crescer - se persistíssemos nessa nossa quimera, estaríamos em contra-ciclo com toda a Europa – ou numa dessincronia evidente que criou uma situação de esquizofrenia política para o PS no último ano e meio, nas palavras do ilustre governante.

Ah, e que evitaria a situação da ajuda externa… Já não foram os PEC’s aprovados e reprovados, mas sim a orientação seguida pelo Sr. Sócrates. Concordamos em absoluto com o governante.
É evidente a hegemonia dos partidos liberais na Europa e a insustentabilidade do actual modelo de Estado Social(ista). É por aí que temos de ir se quisermos cumprir as metas que nos foram fixadas.

Mas notem que é preciso muita coragem para alguém admitir que a ideologia que perfilha é um empecilho e que está a torcer pelo outro lado da barricada! Eu defendo o Estado Social, eu estou com o Sócrates! PS! PS! PS! - gritava o ministro no comício… Mas lá no fundo pensa: bem, espero que o PS perca porque se vamos com estas ideias, lixamos o país! Ainda vou votar no Passos… Bravo!


Pena é que o choque liberal pretendido pode estar em perigo por causa do CDS que, mais uma vez, com um enorme jogo de cintura se transformou – desta vez posicionando-se à esquerda do PSD. O mesmo líder, os mesmos deputados, os mesmos militantes, mas ideias diferentes… Ok! Aguardemos serenamente o resultado das conversações. Mas se o CDS for um obstáculo temos que saber para podermos castigar o partido correcto.


Por fim, é notícia que José Sócrates, o nosso “ex” vai estudar filosofia para Paris, mas só durante um ano. Só um ano? Ainda não é desta que ele tira uma licenciatura a sério…




domingo, 12 de junho de 2011

A Moedinha

Esta semana terminou mais cedo dada a existência do nosso muy importante dia de Portugal, dia 10 de Junho, feriado nacional. Os festejos continuam do outro lado do blog, por razões atinentes à vida de Marquesa e, por isso, presenteio-vos hoje com um post invulgar.

Reservei-vos umas linhas neste domingo soalheiro para vos contar um caricato episódio que me aconteceu esta semana que passou. Já estou a ouvir alguns Leitores mais atentos a lembrar-me que os Humores de Sexta não são obviamente ao Domingo, mas como estamos todos a precisar de dar umas valentes gargalhadas, continuemos.

Ora estava eu sozinha no escritório, embrenhada nos processos, quando batem à porta. Lá vou eu abri-la, dando de caras com um senhor de cinquentas e alguns anos, meio coxo e com um aspecto, digamos, estranho. Cordialmente, mando-o entrar e sentar-se.

Ele começa então a falar da filha que “lhe levou o dinheiro todo” e que nunca mais viu, das contas que chegam e que não tem como pagar. Diz ainda que a mulher anda fugida, com outro homem. Bem, penso eu, deve ter vindo aqui ao escritório para tratar do divórcio, ou então para tentarmos um acordo de pagamento dos débitos… Hum… se calhar já tem execuções pendentes. Ou será que pretende apresentar queixa contra a filha? Coloco algumas questões, mas ele continua.

Conta-me que esteve na Venezuela e que, com o dinheiro que conseguiu juntar, comprou um terreno na santa terrinha, mas que já se chateou com um vizinho por causa do referido terreno e que esteve mesmo para o matar “à machadada” (bem, ponderei eu, e eu aqui sozinha no escritório com este serial killer!). Volto a perguntar-me acerca do motivo que o terá trazido até ao escritório. Terá pendente algum processo-crime por causa do vizinho? Quererá registar o terreno? Pretenderá resolver aquele tal problema que tem com o terreno ou serão questões fiscais que o trazem por aqui? Lá volto eu a fazer-lhe mais algumas perguntas.

Como eu via que o senhor já recomeçava a contar mais pormenores da sua vida, resolvi finalmente ser directa e perguntei-lhe:

- Mas afinal, diga-me, por favor, o que é que o levou a vir cá? O que é que pretende que eu faça?

Ao que ele me respondeu, pura e simplesmente:

- Ó doutora, eu só vim aqui para ver se me dava uma moedinha!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Humor às 6as: Casamento

Caríssimo leitor,


Eis que o nosso painel opinativo volta junto de V. Exa.. A ausência de todos nós ficou-se a dever à ressaca eleitoral - uns a comemorar, outros a tentar esquecer.

E é acerca das eleições ainda este post. Face aos resultados, parece certo que vamos assistir a um casamento entre o PPD-PSD e o CDS-PP. Tal casamento, para o bem geral da Nação, é bom que corra bem. Daí que é com os olhos postos em tal união que nos dirigimos a quem nos lê:

Por Carlos Jorge Mendes:

Eu só espero que quando Passos Coelho e Paulo Portas derem o nó a coisa não corra tão mal como neste casamento:





Por Lord Nelson:

Vem aí um casamento nada fácil... Desde a RTP à REN, da Justiça e Administração Interna às águas, muita coisa separa os noivos... Mas espermos que tudo vá pelo melhor! Mas o que é mesmo fundamental é sermos convidados para o copo de água onde podemos fazer figuras destas:



Por Madame de Pompadour:

Uma vez "casados" esperemos bem não ver os drs. Coelho e Portas aos beijinhos e abraços porque é capaz de ser um bocado excêntrico.




Bom final de semana!

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Campanha Eleitoral

E como amanhã é dia de reflexão; e como dia 5 é dia de eleições legislativas, hoje trazemos ao leitor, alguns momentos bonitos desta campanha de duas semanas. Desde já fazemos um apelo ao leitor: ao contrário do Lord e da Marquesa, não pedimos ao leitor que voto em X ou Y. Pedimos apenas que vote. E que senão quiser votar em nenhum partido em particular, então vote em branco. Não se abstenha. Dito isto - aqui ficam alguns momentos interessantes desta campanha. 

Lord Nelson 

Não há eleições em eleitores indeciso...E até estes já têm hino!



Letícia, a Marquesa

Quando Sócrates, ao fazer campanha, começa a discorrer sobre o sentimento mais nobre de todos, mas não o consegue definir, todas as meninas pensam: "Coitadinhas das namoradas dele, devem ter ouvido muitas mentiras e sofrido tanto, que insensível que ele é, nem consegue dizer o que é o amor! O meu voto para ele não vai!". E assim é a vida, Zé, nem vitórias, nem miúdas! Nada porreiro, pá!



De Carlos Jorge Mendes

E o Carlos Silva disse-me assim: - Sabes pela primeira vez, enchi-me de coragem e fui-me inscrever…e fui-me inscrever…Ai Jesus que a voz até me treme toda…e tirei o décimo segundo ano…Isso…Isso…Ai Jesus que é agora…Ai que o meu beicinho está a tremer…Raios! Devia ter cheirado mais cebola! Isto não parece nada convincente…





De Madame Pompadour

Amigos (e)leitores, eu sei que a imagem é pequena, mas está ao nível da nossa campanha eleitoral, ou não é? Por isso se quiserem realmente ver o lado piadético da coisa é só regularem o zoom da vossa janelinha da internet e pronto, é diversão assegurada por moi même!

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Mudar!




Amigos leitores:

É já no próximo domingo que somos chamados às urnas para eleger os nossos parlamentares. Dessa eleição sairá, nos termos constitucionais, o governo de Portugal que será responsável por nos guiar por um dos momentos mais difíceis da nossa história recente.


O actual governo deixa uma pesada herança, disso não tenham dúvidas: 700.000 desempregados, uma grave dívida pública (que atinge os 100% do PIB), um deficit monstruoso, uma Justiça inoperante, uma Educação descredibilizada e em clima de guerra, um Estado Social em risco, o tecido produtivo do país arruinado, a classe política desacreditada, os cidadãos deprimidos e descrentes (e quantas famílias em dificuldades?).


Não há margem para erro – o próximo executivo tem que respeitar as metas formuladas pela Troika e pôr a economia a crescer, de forma a poder amortizar a dívida nos prazos convencionados: não haverá um segundo resgate! Esta é a nossa última oportunidade. Urge escolher alguém com sentido de responsabilidade, com visão de Estado e de futuro para a Nação! Alguém que nos possa tirar do atoleiro onde nos encontramos! O PS foi incapaz de apresentar um programa eleitoral inovador – nada mais é que um reportório de intenções; pelo contrário, o PSD apresenta um caminho de ruptura com a situação actual.


Urge mudar! Quem nos trouxe até aqui, daqui não nos tira! Não vai ser o Sócrates dos 150.000 empregos, não vai ser o Rui Pedro Soares da PT, não vai ser o Armando Vara, não vai ser a corja que gravita em torno de São Bento.


Que ninguém tenha dúvidas que o PSD tem a Justiça Social como um dos seus pilares e como o princípio orientador das suas políticas. Não é, ao contrário do que muita propaganda quer fazer passar, um partido anarco-capitalista. É um partido de todos! de pobres e de ricos, do litoral e do interior, do poder local e do poder central, dos novos e dos velhos! E isso vê-se no seu programa onde se luta pela saúde e ensino públicos, pela meritocracia, pelo desenvolvimento harmonioso do território e pela solidariedade inter-geracional!


De tudo o que foi dito resulta que precisamos de mudar e que o PSD é quem melhor personifica essa fractura! Mas carece de estabilidade para poder implementar as reformas que são imperiosas – daí que necessite de uma maioria! Um voto pela mudança tem que ser um voto no PSD pois é apenas esse que garante que no dia 6 haverá um executivo forte, capaz e dinâmico. Um voto numa qualquer outra força política é um voto pelo actual estado de coisas, ou pior, um voto desperdiçado!

Estamos hoje mais longe da Europa, mais pobres, mais tristes… Mas estamos muito mais próximos de Mudar e de atingir o desígnio formulado por Francisco Sá Carneiro: um Presidente, um Governo, uma Maioria! Não para sermos donos de Portugal mas pela estabilidade que faz falta nestes mares turbulentos.



Nos momentos de maior aflição, Portugal sempre esteve à altura – foi assim em Aljubarrota, foi assim em 1640, foi assim nas Invasões Napoleónicas. Será assim agora!



Dia 5 vote.


Dia 5, vote PPD-PSD!


Portugal merece melhor!



Nelson

quarta-feira, 1 de junho de 2011

A Reestruturação da Dívida Grega

Estimado leitor,

Não se deixe iludir pela fanfarra eleitoral. Desde logo, estimado leitor, não se acredite em promessas vãs como esta: o Sr. José Sócrates decreta oficialmente que não serão necessárias mais medidas de austeridade. Pois se Sua Excelência diz porque haveríamos de duvidar? Como? O Sr. José Sócrates já o havia dito vezes e vezes sem conta? E não cumpriu com a promessa? Como? Disse-o mesmo na campanha das últimas legislativas? Ora essa, quem de nós já não mentiu uma ou outra vezita? Como? O Sr. Sócrates vem-no fazendo sucessivamente nos últimos anos? Pois...
Ora bem: dizíamos ao leitor – não acredite nestas promessas. E sabe porquê? Porque o futuro Governo não está em condições de se comprometer fielmente a essas promessas, mesmo tendo Portugal acordado um conjunto de medidas e de reformas em contrapartida da ajuda externa que começou ontem a chegar a Portugal.
E não está em condições de se comprometer porque a Europa é, neste momento, um barril de pólvora, prestes a explodir. O leitor não o sabe porque a campanha vai sendo discutida em torno de mesquinhices, em torno do acessório; os problemas fundamentais do País, esses ignoram-se. Um Governo, portanto, comprometendo-se num tal cenário de instabilidade é demagogia: não se fie eleitor! Mas voltando ao que dizíamos: alguém conhece a posição de algum partido no que esta problemática diz respeito? Tem algum candidato a Primeiro-Ministro vindo a público dissecar as consequências da turbulência da Europa para Portugal? E a forma como isso irá afectar o nosso País? Pois, de facto...Entramos na última semana de campanha: é aquela altura em que a seriedade é particularmente esquecida.
Mas nós não esquecemos o assunto e hoje trazemos ao olhos e ao cérebro do leitor aquilo que os nossos futuros representantes pretendem desprezar. A situação na Grécia é muito grave e a bancarrota iminente. Isto porque as metas com que o Governo grego se comprometeu para a redução do défice através do aumento das receitas não estão a ser cumpridas. Falámos aqui no plano de privatizações do Governo, bem como o seu programa de combate à evasão fiscal, que ficou aquém das expectativas. Em função disso, e porque o Governo grego esperaria uma nova tranche de ajuda para Junho, esse montante encontra-se dependente da aprovação pelo Governo de novas medidas de austeridade. Ora, como sabemos, a Grécia tem enfrentado graves convulsões sociais do seu povo, contestando essas medidas. Os partidos da oposição estão relutantes quanto à tomada de novas medidas de austeridade. Consequentemente, o futuro da Grécia está em risco: as instâncias europeias e internacionais apenas entregarão a tranche de apoio se, em contrapartida, o Governo grego reforçar as medidas de consolidação orçamental. Em função do impasse que se vive na Grécia, todo o projecto da Europa está novamente em risco. Façamos aqui o nosso mea culpa: há quanto tempo mesmo é que o futuro da Europa não está em risco? Há quanto tempo mesmo andamos a discutir a crise europeia? Pois...E deixem-me que vos diga, responsáveis europeus, porque, aparentemente, V. Exas. ainda não apreenderam na sua plenitude a realidade: o vosso plano não está a funcionar! Há mais de um ano que andamos nisto caramba! Não seria, porventura, altura de experimentarem alguma coisa de novo? E de preferência algo que resolva definitivamente o problema? Vejamos...algo como um mercado de dívida europeu? Ou preferem, porventura, ir jorrando os vossos milhões de forma intermitente?

O problema não é, obviamente, limitado à Grécia. À semelhança do que aconteceu anteriormente, o problema inicia-se na Grécia mas irá, inevitavelmente, contagiar outros países. Desta vez, porém, com uma agravante: não estamos apenas a falar de programas de ajuda externa destinados a durar um par de anos, altura em que os países regressam normalmente aos mercados. Agora, falamos numa crise de reestruturação de dívida, com todas as consequências que daí emergem: o afastamento desses países por vários anos do mercado de financiamento internacionais. Ou seja, dizemos que os Países da Zona Euro terão de financiar por vários anos Grécia, Irlanda e Portugal. Ou em alternativa, excluí-los da zona euro. Esta alternativa não me parece benéfica para a zona euro porque seria um golpe fatal para o processo de construção europeia. Mas para a Grécia não é, definitivamente, um cenário excluído. Para Irlanda e Portugal, para já, esse cenário não é colocada em cima da mesa. No futuro, com a evolução da crise, e com o impasse a que se vão remetendo as instituições europeias, esse não é um cenário a excluir. E para Portugal este cenário seria desastroso.
E aqui regressamos ao nosso ponto de partida: que acham os partidos políticos portugueses disto? O Sr. Sócrates não sabe; o Sr. Sócrates sabe, no entanto, que gosta da garra do Sr. Fábio Coentrão; o Sr. Passos Coelho também não sabe; o Sr. Passos Coelho sabe, no entanto, que não pode mais ver o Sr. Sócrates à frente; o Sr. Paulo Portas também não sabe; mas sabe, porque não fala de outra coisa, que os agricultores portugueses não podem continuar a ser desprezados; o Sr. Jerónimo de Sousa e o Sr. Louçã também não sabem, mas isso não importa porque há muito que defendem que Portugal não necessita da Europa.