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quarta-feira, 15 de junho de 2011

Casmurrice Europeia

Como qualificar ainda a atitude da Europa e dos seus representantes governativos para com os problemas que a vêm afligindo há mais de um ano? Casmurrice? Estupidez? Ontem, depois de uma reunião de emergência dos Ministros das Finanças em Bruxelas, a propósito da recente versão 2.0 da crise grega, o resultado não podia ser mais desolador: nem uma declaraçãozita vaga, anunciando um qualquer propósito indefinido – nada! Tudo o que resultou dessa reunião foi um adiamento da decisão para a próxima semana. Na prática, isto significa que a reunião foi um desastre e que as divergências se mantêm profundas: que o Sr. Trichet faz beiçinho e que o Sr. Schauble faz birra. Ora, o resultado de uma reunião de emergência terminando com o adiamento de uma decisão tão premente apenas indica que a resolução da crise grega 2.0 ainda está para durar. E com todos os custos que isso acarreta para a Europa. Portugal irá hoje aos mercados para arrecadar cerca de mil milhões de euros. A taxa de juro a que nos iremos financiar irá mais uma vez reflectir a desorganização europeia. A Espanha vai pagando o mesmo preço: a sua taxa de juro vai já nos 5,5%. E relembramos se a espiral de contagio não for limitado e se a Espanha for envolvida num pedido de ajuda externa, sérios problemas se levantarão para a Europa.

E tudo isto pelas cebaçadas que vão trocando a Alemanha e o Banco Central Europeu acerca do envolvimento dos credores da Grécia no novo plano de resgate grego. A Alemanha está errada por um simples motivo: o plano que apresenta não é baseado no seu mérito; o plano da Alemanha é desenhado a pensar no Bundestag; é desenhado a pensar no que irão os seus deputados pensar dele e não o que é conveniente para a Grécia e para a Europa. Este tem sido o problema da Europa desde o início: a acção dos Estados-Membros não tem sido feita a pensar no interesse europeu: tem sido feita a pensar no seu interesse egoístico e individual. O envolvimento compulsivo dos credores da Grécia no novo empréstimo irá desencadear o pânico nos mercados e o alargamento de que o mesmo vá suceder com Irlanda e Portugal. O plano do Banco Central Europeu é bem mais sensato: haverá uma extensão das maturidades apenas no caso dos credores se envolverem voluntariamente no plano. Outro aspecto que não deve ser esquecido são os custos que o novo empréstimo irá acarretar. Mais uma vez, os Estados-Membros irão exigir novas medidas de austeridade em troca do empréstimo. Esta política da União Europeia tem-se revelado desastrosa. Após um ano de austeridade imposta pela União Europeia, a crise grega agravou-se e aproximou-se ainda mais da bancarrota. O povo grego não suporta mais austeridade.

Aproxima-se cada vez mais o momento em que a Europa é confrontada com uma escolha final: a exclusão de determinados países da zona euro, prosseguir com planos intermitentes de milhares de milhões de euros que nada resolvem ou criar uma agência europeia de dívida. A primeira solução é definitiva mas desastrosa para a Europa; a segunda não é solução nenhuma; a teceira é a verdadeira solução para o problema. Porque prossegue então a Europa resistindo a essa solução?
Após o eclodir da crise mundial, oficialmente anunciada com a falência do Lehman Brothers, os países mais ricos do mundo, reunidos em Londres, concertaram a sua acção de forma a evitar que a crise iniciada em 2008 resultasse numa crise semelhante vivida em 1929. Todos juraram em fazer tudo o que estava ao seu alcance para que a economia mundial mergulhasse numa recessão profunda. Aos primeiros sinais de retoma, o egoismo prevaleceu e cada País passou a olhar para o seu umbigo, como se o desemprego não afectasse milhões de pessoas e como o risco de uma double-dip recession estivesse totalmente afastado.
São os países emergentes que vêm sustentando a recuperação da economia mundial; a Europa e os Estados Unidos prosseguem um caminho penoso. Prosseguindo neste mesmo rumo, a Europa arrisca-se a ser reduzida à marginalidade. E é bom que os líderes europeus não se esqueçam disso: juntos são uma voz poderosa na geoplítica mundial; separados, são apenas mais uma voz.

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