Estimado leitor,
Não se deixe iludir pela fanfarra eleitoral. Desde logo, estimado leitor, não se acredite em promessas vãs como esta: o Sr. José Sócrates decreta oficialmente que não serão necessárias mais medidas de austeridade. Pois se Sua Excelência diz porque haveríamos de duvidar? Como? O Sr. José Sócrates já o havia dito vezes e vezes sem conta? E não cumpriu com a promessa? Como? Disse-o mesmo na campanha das últimas legislativas? Ora essa, quem de nós já não mentiu uma ou outra vezita? Como? O Sr. Sócrates vem-no fazendo sucessivamente nos últimos anos? Pois...
Ora bem: dizíamos ao leitor – não acredite nestas promessas. E sabe porquê? Porque o futuro Governo não está em condições de se comprometer fielmente a essas promessas, mesmo tendo Portugal acordado um conjunto de medidas e de reformas em contrapartida da ajuda externa que começou ontem a chegar a Portugal.
E não está em condições de se comprometer porque a Europa é, neste momento, um barril de pólvora, prestes a explodir. O leitor não o sabe porque a campanha vai sendo discutida em torno de mesquinhices, em torno do acessório; os problemas fundamentais do País, esses ignoram-se. Um Governo, portanto, comprometendo-se num tal cenário de instabilidade é demagogia: não se fie eleitor! Mas voltando ao que dizíamos: alguém conhece a posição de algum partido no que esta problemática diz respeito? Tem algum candidato a Primeiro-Ministro vindo a público dissecar as consequências da turbulência da Europa para Portugal? E a forma como isso irá afectar o nosso País? Pois, de facto...Entramos na última semana de campanha: é aquela altura em que a seriedade é particularmente esquecida.
Mas nós não esquecemos o assunto e hoje trazemos ao olhos e ao cérebro do leitor aquilo que os nossos futuros representantes pretendem desprezar. A situação na Grécia é muito grave e a bancarrota iminente. Isto porque as metas com que o Governo grego se comprometeu para a redução do défice através do aumento das receitas não estão a ser cumpridas. Falámos aqui no plano de privatizações do Governo, bem como o seu programa de combate à evasão fiscal, que ficou aquém das expectativas. Em função disso, e porque o Governo grego esperaria uma nova tranche de ajuda para Junho, esse montante encontra-se dependente da aprovação pelo Governo de novas medidas de austeridade. Ora, como sabemos, a Grécia tem enfrentado graves convulsões sociais do seu povo, contestando essas medidas. Os partidos da oposição estão relutantes quanto à tomada de novas medidas de austeridade. Consequentemente, o futuro da Grécia está em risco: as instâncias europeias e internacionais apenas entregarão a tranche de apoio se, em contrapartida, o Governo grego reforçar as medidas de consolidação orçamental. Em função do impasse que se vive na Grécia, todo o projecto da Europa está novamente em risco. Façamos aqui o nosso mea culpa: há quanto tempo mesmo é que o futuro da Europa não está em risco? Há quanto tempo mesmo andamos a discutir a crise europeia? Pois...E deixem-me que vos diga, responsáveis europeus, porque, aparentemente, V. Exas. ainda não apreenderam na sua plenitude a realidade: o vosso plano não está a funcionar! Há mais de um ano que andamos nisto caramba! Não seria, porventura, altura de experimentarem alguma coisa de novo? E de preferência algo que resolva definitivamente o problema? Vejamos...algo como um mercado de dívida europeu? Ou preferem, porventura, ir jorrando os vossos milhões de forma intermitente?
O problema não é, obviamente, limitado à Grécia. À semelhança do que aconteceu anteriormente, o problema inicia-se na Grécia mas irá, inevitavelmente, contagiar outros países. Desta vez, porém, com uma agravante: não estamos apenas a falar de programas de ajuda externa destinados a durar um par de anos, altura em que os países regressam normalmente aos mercados. Agora, falamos numa crise de reestruturação de dívida, com todas as consequências que daí emergem: o afastamento desses países por vários anos do mercado de financiamento internacionais. Ou seja, dizemos que os Países da Zona Euro terão de financiar por vários anos Grécia, Irlanda e Portugal. Ou em alternativa, excluí-los da zona euro. Esta alternativa não me parece benéfica para a zona euro porque seria um golpe fatal para o processo de construção europeia. Mas para a Grécia não é, definitivamente, um cenário excluído. Para Irlanda e Portugal, para já, esse cenário não é colocada em cima da mesa. No futuro, com a evolução da crise, e com o impasse a que se vão remetendo as instituições europeias, esse não é um cenário a excluir. E para Portugal este cenário seria desastroso.
E aqui regressamos ao nosso ponto de partida: que acham os partidos políticos portugueses disto? O Sr. Sócrates não sabe; o Sr. Sócrates sabe, no entanto, que gosta da garra do Sr. Fábio Coentrão; o Sr. Passos Coelho também não sabe; o Sr. Passos Coelho sabe, no entanto, que não pode mais ver o Sr. Sócrates à frente; o Sr. Paulo Portas também não sabe; mas sabe, porque não fala de outra coisa, que os agricultores portugueses não podem continuar a ser desprezados; o Sr. Jerónimo de Sousa e o Sr. Louçã também não sabem, mas isso não importa porque há muito que defendem que Portugal não necessita da Europa.
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