A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A perspicácia dos observadores da Liga Árabe

Segundo noticia o jornal Público, os observadores da Liga Árabe enviados à Síria para avaliar imparcialmente as acções do regime do Sr. Assad sobre o seu próprio povo, chegados a Homs, cidade onde se tem manifestado de forma mais veemente e expressiva o movimento revolucionário, os observadores dizíamos nós, pararam, olharam e viram:
Facto n.º 1: Edifícios severamente destruídos;
Facto n.º 2: Veículos blindados patrulhando as ruas.


Apurados estes dois factos objectivos, suas excelências cofiaram a barba, coçaram a cabeça, reflectiram gravemente uns minutos, ponderaram seriamente os factos e concluíram:
Conclusão n.º 1: Há, de facto, edifícios severamente destruídos, mas nada de assustador;
Conclusão n.º 2: Há, de facto, veículos blindados patrulhando as ruas, mas não há tanques;
Conclusão n.º 3: Logo, e porque não há confrontos, e pessoas dizendo expressamente o contrário, a situação é normal.
Esta a conclusão a que chegaram os observadores. A esta conclusão de que nada de assustador se passa em Homs não será, certamente, alheio o facto do chefe da missão, o Sr. Mustafa al-Dabi, ser sudanês e, portanto, estar, infelizmente, habituado a conviver familiarmente com situações assustadoras. Pelo que, qualquer situação perante tais atrocidades não rivalize com as mesmas, mesmo tratando-se de um regime que repele violentamente as singelas aspirações democráticas do seu povo, parece uma delicada candura na sua experimentada escala do horror.
Como se, primeiro, o facto de haverem edifícios severamente destruídos não fosse a representação fiel de que um conjunto de tanques governamentais tivessem efectuado um conjunto de disparos contra esses mesmos edifícios provocando o seu desmoronamento e, segundo, o facto de haverem veículos blindados patrulhando as ruas não fosse o sinal mais transparente e inequívoco de que o governo monitoriza escrupulosamente o exercício do direito de livre manifestação e reunião dos seus cidadãos. Como porém, suas excelências não observaram um tanque disparando, ou uma pessoa protestando, suas excelências só podem concluir uma coisa: que ali não se passa nada.

Além do mais, do que estavam à espera suas excelências? Que o Sr. Assad tivesse a gentileza de empacotar uns tanques, os enlaçasse, os colocasse diante da população, os desenlaçasse quando V. Exas. se dignassem a chegar a Homs, e uma vez aí chegados, ordenasse os disparos sobre a população?



sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Votos de um feliz Natal...

porque com isto do policamente correcto cada vez mais vamos tendo festas felizes...


terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Kim Jong-Il

Segundo tem sido noticiado, terá falecido, no passado sábado, o Grande Líder da Coreia do Norte, Kim Jong-Il.


A maior contribuição que este chefe de Estado terá dado ao seu país, foi com toda a ceterza, a capacidade nuclear que pemite ao regime sobreviver ao completo arrepio da comunidade internaciona, já que, com tal arsenal, dificilmente uma potência regional como a Coreia do Sul arriscará em tentar quaquer medida mais arrojada para forçar uma mudança democrática.



Olhando, agora, para players mais importantes importa notar que os Estados Unidos da América, que têm o seu território fora do alcance dos mísseis norte-coreanos, estão, politica e economicamente, impossibilitados de qualquer medida eficaz para derrubar a ieologia Juche. Por sua vez, a República Popular da China, o único país que, nas actuais condições pode influenciar a política norte-coreana tem-se mostrado amigável para com o regime (que lá mantém a sua única embaixada), afirmando já estar disponível que quer apoiar o filho mais novo de Kim Jong-Il, que lhe vai suceder.

Afastada que está a possibilidade de mudança de regime na Coreia do Norte, por via externa, importa pois equacionar a possibilidade de a mesma ocorrer por via intern, um pouco à semelhança do que se passou na Tunísia ou do que ainda ocorre no Egipto.


Mas aqui, também não parece existir essa possibilidade, por duas ordens de razões: primeiramente, nos últimos dois anos de govenro de Kim Jong-Il, procedeu-se a uma verdadeira pública nos mais altos lugares do Estado e no seio do exército nacional, organização que controla uma grande parte do território daquele país e que gasta cerca de 15% do PIB. Por outro lado, fruto do regime repressivo e fechado, inexiste propriamente um movimento de oposição, cristalizando-se toda a opinião política na ideologia Juche e aglomerando-se em torno da figura do querido líder, numa devoção quase religiosa o que permitirá mesmo a um líder mais tímido e apagado conseguir suceder sem grandes convulsões.

Parece que esta substituição não trará nada de novo à cena internacional... Excepto numa coisa: Kim Jong-Il era um lider que sabia olhar para coisas - e fazem falta políticos com esta capacidade, já que permite excelentes fotografias.


O amigo leitor não deixe de clicar no link que aqui deixamos e maravilhe-se com tal interesse pelo ex-Grande Líder da Coreia do Norte, por coisas, no geral.

http://kimjongillookingatthings.tumblr.com/

A posição da FENPROF na Reforma da Estrutura Curricular

Na semana anterior, o Governo revelou os seus planos para a reforma da estrutura curricular; agora falta saber o que pensa a Federação Nacional dos Professores acerca da proposta de reforma do Governo. Na verdade, saber o que pensam os Sindicatos não constitui um desafio aliciante. A reacção do Bloco de Esquerda e do PCP à proposta do Governo foi a seguinte: é necessário haver um período mais alargado de tempo para que se ouçam os parceiros sociais. Mas ouvi-los para quê? Senão vejamos: qual é a resposta à reforma da estrutura curricular? Sobre os méritos da reforma da estrutura curricular e dos seus benefícios para os alunos, único fim do sistema de educação, a digníssima Federação nada tem a dizer. Por outro lado, e embora não lho perguntem, a Federação diz, que antes de qualquer coisa, a proposta não lhe agrada porque «de uma primeira leitura, resulta uma clara configuração do aumento do desemprego docente». Note-se bem: se a reforma é, em primeira linha, benéfica, vantajosa, meritória para os alunos, a Federação nada diz; mas para os Professores ela é claramente incomportável. E incomportável porquê? Porque irá criar obstáculos ao ensino dos alunos? Porque irá constituir um empecilho na educação física, moral e intelectual dos alunos? Não sabemos porque a digníssima Federação não nos diz. Do seu silêncio, retiramos tacitamente a conclusão de que esta reforma apenas beneficia a educação dos alunos.

Ora, ao demitir-se ela própria de se pronunciar sobre o teor da reforma, cujo único fim deverá ser promover a melhoria do sistema da educação em Portugal, ao promover apenas o seu interesse egoístico e corporativista, a Federação Nacional dos Professores demite-se ela mesma de participar em qualquer tipo de reforma que tenha por fim educar os alunos. Porque na lógica da Federação, o sistema de ensino não existe para ensinar os alunos – existe para promover o emprego dos professores, mesmo que professores de determinadas áreas nada ensinem, e sirvam de jarra decorativa no sistema de ensino português.
A posição da Federação Nacional dos Professores, infelizmente, não é uma posição singular no sindicalismo português. Pulula pela sociedade portuguesa a demagogia dos sindicatos portugueses, que clamando pelo progresso e pela reforma das instituições portugueses, são eles próprios, muitas vezes, o óbice ao Progresso da sociedade portuguesa. Foi a Federação Nacional dos Professores com a sua posição sobre a avaliação dos professores; é agora novamente a Federação Nacional dos Professores com a questão da reforma da estrutura curricular; tem sido assim com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores do Sector Ferroviário. A posição deste Sindicato tem sido uma das mais aberrantes casmurrices que a paciência pode tolerar: em nome da defesa de salários inexplicáveis, estes senhores tem promovido greves sucessivas para defender os seus interesses corporativos, prejudicando pessoas que não têm os seus privilégios e que necessitam dos transportes públicos para receberem parte do salário que esses senhores reivindicam. Foi ainda recentemente, não um Sindicato, mas uma Associação – a ANAFRE – que vaiou o Ministro dos Assuntos Parlamentares porque aquele pretende fazer uma indispensável reforma administrativa em Portugal. Como é que sua ministerial excelência se atreve a fazer uma reforma ao arrepio daquelas venerandas instituições e sem o seu beneplácito? Que reforme, mas à custa dos outros.

Os Sindicatos são essenciais à igualdade das sociedades, mas também são essenciais ao seu Progresso – e não pode haver igualdade sem que a sociedade progrida; porque a sociedade fica emperrada no tempo e atrasa-se face às outras nações que avançam na luta da Civilização.
Os Sindicatos portugueses pararam no tempo; são egoístas porque não pensam senão no seu interesse corporativo. Assim também Portugal parou no tempo; e assim também Portugal atende ao interesse de uns, sacrificando o interesse de outros e jamais promovendo o interesse geral e do País, o único pelo qual o Estado deve velar.
No caso particular da reforma da estrutura curricular, observamos como ela é essencial para o País. Reformar o sistema de ensino português é a missão mais vital do Governo. Uma correcta, sistemática, organizada, metódica reforma muito fará pela sociedade portuguesa. Como apenas com esta reforma se eliminarão muitos dos fantasmas que pairam sobre a economia portuguesa. O seu problema de falta de produtividade? Resolve-se com pessoas mais qualificadas e mais competentes. O seu crónico défice comercial? Resolve-se com a maior produtividade. O desemprego? Resolve-se com o prosperar da indústria, do comércio e da agricultura, que não se faz sem que as empresas portuguesas possuam os trabalhadores mais capazes e mais habilitados para competir numa economia global. O seu problema de desigualdades? Um relatório da OCDE divulgado a semana anterior, di-lo de forma clara e cabal: é a educação a defesa mais forte para combater as desigualdades. A pobreza? Que melhor arma do que uma educação superior para adquirir o direito a um salário justo e digno?
A reforma da estrutura curricular poderá condenar centenas ou milhares de professores ao desemprego. Quando o poder absoluto reduz sem justificação plausível, em desrespeito do direito e com sacrifício do interesse geral os direitos e os interesses de uma classe, ela terá todo o direito e toda a razão para a defesa dos seus interesses e a sociedade estará ao seu lado. Não é isso que sucede com este caso: que direito pretende invocar a Federação? O direito ao emprego? Estão setecentos mil portugueses a reclamarem esse direito; mas o Estado não existe para empregar: o Estado existe para servir. Que interesse defende a Federação? Defende o interesse dos seus sindicalistas e não o interesse da escola pública.

domingo, 18 de dezembro de 2011

A auditoria ou a vergonha do Ministério da Justiça

Os advogados portugueses exigem a demissão da actual Ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz, em virtude da sua vinda a público apelidar os advogados de burlões e enganadores do Estado.

Ora, os advogados portugueses podem inscrever-se no âmbito do acesso ao Direito, sendo nomeados defensores oficiosos/patronos de quem recorre ao apoio judiciário ou no âmbito das defesas oficiosas (casos em que a parte não tem advogado constituído no processo, embora a sua presença seja obrigatória). Após o trânsito em jugado de uma decisão (via de regra, porque podem ocorrer outras vicissitudes), o advogado assim nomeado requer, através de uma plataforma on-line, o pagamento dos seus honorários, inserindo informações relativas ao processo no qual interveio.

O Estado português não paga à grande maioria dos advogados portugueses estes honorários desde Janeiro, há quase precisamente um ano! Apesar de a Ministra ter vindo à praça pública informar que procedeu ao pagamento de quase cerca de 6 milhões de euros pelas intervenções dos advogados nas oficiosas, o que é certo é que os advogados com quem me relaciono, inclusivé todos os advogados da comarca na qual me insiro, não viram nem um cêntimo ser-lhes depositado nas suas contas.

Como se isto não bastasse, a Ministra resolveu levar a cabo uma auditoria a todos os pedidos de pagamento e alegadamente terá detectado 17.000 irregularidades, entregando inclusivamente à Procuradoria Geral da República alguns destes processos, a fim de ser verificada a possível existência de ilícitos penais. Ademais, veio ainda para a imprensa denegrir a imagem dos advogados, colocando todos no mesmo saco e apelidando todos de modo grotesco de burlões.

Sra. Ministra, há bons e maus profissionais em todo o lado, sim?

Sra. Ministra, se não coloco de parte que tenha havido advogados que, de modo fraudulento, exigiram honorários indevidos, também houve advogados que apenas se limitaram a exigir o meramente devido, sim?

Sra. Ministra, os advogados têm despesas fixas como todos os cidadãos, cumprindo escrupulosamente os seus serviços, pondo dinheiro do seu próprio bolso para custear fotocópias, certidões e deslocações e desde Janeiro que os seus serviços não lhes são pagos!

Sra. Ministra, faça as auditorias que quiser, passe noites e noites a fio a engendrar planos miraculosos de salvação do Ministério da Justiça, mas pague aos advogados que imaculadamente têm os seus honorários pedidos, sim?

Agora sacar de expedientes dilatórios para evitar o pagamento dos honorários devidos... Ai, Sra. Ministra! Qualquer dia ainda vem dizer que os honorários já prescreveram, até aposto... E olhe que a Marquesa não possui dotes adivinhatórios!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

As Políticas do Ministério da Educação

No Opinador já havíamos dito – a Educação tem por fim a perfeita adaptação do Homem às realidades da Vida. Havemos dito isto em Março de 2010. Por essa altura, corriam rumores acerca da reforma curricular do ensino português e da extinção do Estudo Acompanhado, da Formação Cívica, do Estudo Acompanhado e da Área Projecto e, num sentido inverso, do reforço do Português, da Matemática e das Ciências. Um ano e seis meses depois, com dois Governos a mediar tal espaço de tempo, o Ministério da Educação, depois de destruir todos os seus neurónios num esforço hercúleo, concluiu esta evidência – que realmente é preciso reformar o currículo do ensino português e reforçar as horas de ensino da Matemática, do Português e das Ciências. Deveríamos antes dizer: o Governo sacudiu o pó duma intenção de reforma que entretanto fora atirada para o obscuro duma gaveta, e polindo-a, anunciou novamente a sua firme intenção de reformar como se de uma novidade estrondosa se tratasse.
Durante esse período, o Governo português olhava de soslaio para os seus parceiros europeus, com altivo desprezo, pensando:
- Olha para aqueles idiotas a perder tempo a ensinar os seus alunos a Matemática que lhes dão a base da Economia e da Gestão; a ensinar a sua língua materna que lhes dão a mais perfeita capacidade de compreensão e de expressão; a ensinar uma língua estrangeira que permite que esses mesmos alunos interajam com gente de outras Nações, enriquecendo-os pelo contacto com outras culturas; a ensinar as Ciências que lhes dão o mais perfeito conhecimento dos fenómenos do Mundo que os rodeia.
Assim pensava o Governo português. E depois, olhando para si, com orgulho, dando palmadas na barriga gorda, sentenciava:
- Que bestas! E aqui os nossos alunos a aprender a cidadania através da Formação Cívica, a aprender o modo pelo qual devem correctamente estudar através do Estudo Acompanhado (sem sequer terem aprendido nada) e a aprenderem os valores civilizacionais da autonomia e da independência através da Área Projecto (quando nem sequer eles têm as bases que lhes permitem pensar pela sua própria cabeça).
Porque, com todo o respeito, o que é o homem sendo um bruto incivilizado (porque é isso que ele é sem a Formação Cívica), sem ter método de estudo (porque será assim se ele não tiver Estudo Acompanhado) e sem ser autónomo (porque sem Área Projecto jamais o homem poderá considerar-se verdadeiramente livre)? O homem poderá viver de consciência tranquila sem saber quem é Eça de Queiroz, quem é Fernando Pessoa, quem é Florbela Espanca; o homem poderá até orgulhosamente dar erros ortográficos e escrever em calão; o homem poderá, quiçá, viver sem compreender as bases da Matemática.
Mas sem a Formação Cívica, sem o Estudo Acompanhado e sem Área Projecto, o que seria o homem? E perante este cenário aterrador, o Ministério da Educação vela. Ah! Isso não! Isso seria a suprema das imbecilidades! E o Governo português, paternalmente, não pode considerar tal ultraje!
Este é hoje o quadro do ensino português em pleno século XXI. Numa época em que as diferenças entre as nações se fazem pela Educação, pelas qualificações dos seus cidadãos, pelos seus conhecimentos, os portugueses apresentam essa tremenda qualidade perante a qual todas as empresas e investidores se curvam assombradas e espantadas: somos cívicos, sabemos como estudar e somos independentes. Enquanto isso, as outras Nações nutrem os seus alunos com a Matemática, com o ensino das Línguas e das Ciências.

domingo, 11 de dezembro de 2011

A 18 de Maio...




... A Marquesa vai estar no Golden Circle para ver bem de perto a melhor banda deste Mundo e do outro!

Uma boa semana para todos.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

A Cimeira Europeia de 8 e 9 de Dezembro

Uma vez mais, a opinião pública considera a Cimeira Europeia a realizar a 8 e 9 de Dezembro como uma cimeira decisiva, uma cimeira do tipo «make or break» em que os líderes europeus jogam o futuro da Europa. No entanto, uma coisa é o plano do dever-ser, outra o plano do ser; e no plano da substância, da matéria concreta, das decisões palpáveis e das acções criadoras, esta Cimeira irá ser uma farsa. E é uma farsa porque entre realizar-se esta Cimeira nos moldes em que ela se irá realizar ou não se realizar simplesmente, conduziria ao mesmo ao resultado – à manutenção das tensões nos mercados financeiros.
O extraordinário avanço e progresso que a Sra. Merkel e o Sr. Sarkozy propõem para esta Cimeira é uma revisão dos Tratados Europeus, ou mais concretamente, uma revisão do Pacto de Estabilidade e Crescimento, com regras mais exigentes em termos de disciplina orçamental e com sanções mais duras e de aplicação automática para os países incumpridores.
A proposta do Sr. Van Rompuy, que é de resto a única que merece a atenção dos mercados, de tornar o BCE o famoso lender of last resort dos países membros da zona euro irá cair no esquecimento e será votada ao ostracismo. É esta única expectativa que vem tendo um efeito positivo nas bolsas nos últimos dias. Com o desvanecimento dessa expectativa, os efeitos nos mercados serão imediatamente sentidos, especialmente junto da taxa de juro das obrigações italianas.
Na prática, a proposta da Sra. Merkel e do Sr. Sarkozy, ou direi, da Sra. Merkel com o dobrar de costas do Sr. Sarkozy, pretende dar maior corpo ao espírito vertido no Pacto Estabilidade e Crescimento que, no passado, se ficara apenas pelo espírito (curiosamente, essa violação do corpo iniciou-se precisamente pelos signatários da proposta). Ironias de parte, não negamos que uma revisão dos Tratados é necessária, e que é imperioso cumprir com o que não foi realizado em Maastricht, mas será esta sequer a componente mais importante para a resolução da crise e permitirá ela proteger os países da zona euro contra a instabilidade dos mercados? A resposta é um rotundo não.
A questão mais imediata, mais premente para a Europa é a seguinte: convencer cabalmente os mercados da firmeza da solidariedade europeia e assegurar o financiamento dos membros da zona euro a taxas de juro sustentáveis. Isso faz-se por uma de duas vias: a actuação em larga escala do BCE ou através da emissão de eurobonds. Nenhuma das duas opções estará em discussão na Cimeira Europeia desta semana.
A proposta da Sra. Merkel e do Sr. Sarkozy representa o triunfo da visão da opinião pública alemã sobre as origens da crise: a incompletude de Maastricht. Mas essa é uma visão estreita: não se trata apenas da violação objectiva de um limite de endividamento e de défice público; é também a ausência de uma verdadeira governação económica, de uma coordenação fiscal, de falta de liderança política, e sobretudo de falta de competitividade cujo remédio, ao contrário do que sugeriu o Sr. Westerwelle num recente artigo de opinião no Público, não passa pela fantochada da Agenda Europa 2020 que não é mais do que a mera enunciação de propósitos, objectivos e aspirações vagas, sem qualquer concomitância e concretização prática.
Se compreendemos a preocupação alemã em torno da necessidade de se reformarem as instituições europeias para que estas se adaptem às exigências de uma progressiva integração europeia e, portanto, de uma maior responsabilização dos Estados nacionais perante as instâncias europeias, evitando-se, assim, cometer os erros do passado, a verdade é que com as hesitações do seu Governo e a obsessão da disciplina orçamental, no momento em que se pretenda dar o passo final em termos de integração europeia, arriscamo-nos a que nos falte um requisito indispensável para tal – a Europa.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Jobs for the boys

Qualquer Governo que contradiga pelos seus actos, a natureza das suas palavras só pode merecer da opinião pública o descrédito. O leitor recorda-se do Sr. Rui Pedro Soares? O leitor julgava esses senhores uma espécie em vias de extinção? Pois desengane-se. Esses senhores continuam a pulular por aí, gravitando em torno do Estado, aproveitando qualquer réstia de sangue ainda não exaurido do Estado Português.



É do domínio público o quanto o actual Governo prometera reformar a decência, a competência, a honestidade, a transparência no funcionalismo público. Estas eram as palavras do Governo, este o seu discurso, cabalmente desmentido na prática pelos actos que em seguida se indicam.


Falamos das nomeações do Governo para os conselhos de administração dos centros hospitalares e para o Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP).


Eis o que noticia o Público de ontem:

"O que já gerou controvérsia foi o regresso ao Hospital de Viseu (agora Centro Hospitalar Viseu-Tondela) de Ermida Rebelo, que é militante do PSD e tinha dirigido a unidade nos governos de Durão Barroso e Santana Lopes. Com ele foi nomeado Rui Melo, dirigente do PSD de Viseu. As escolhas foram de imediato criticadas pelo vice-presidente da bancada parlamentar do CDS, Hélder Amaral, que disse, citado pelo Diário de Notícias, não estar “disponível para pedir sacrifícios aos portugueses e depois patrocinar o amiguismo da pior espécie que julgava ser uma prática do passado”. “É caricato”, lamenta António Serrano. De igual forma a escolha de três dos cinco gestores do novo Conselho de Administração do Centro Hospitalar do Médio Tejo (Tomar, Abrantes e Torres Novas) motivou acesas críticas. Os novos gestores – Joaquim Esperancinha, António Lérias e João Lourenço – tinham dirigido o centro hospitalar durante o Governo PSD/CDS, regressando depois para uma empresa de tubos de plástico com sede no Cartaxo, de onde tinham saído. O primeiro é licenciado em Engenharia Electrotécnica, o segundo, em Organização e Gestão de Empresas, e o terceiro tem um MBA em Gestão de Empresas. Entretanto, para presidir à administração do Centro Hospitalar da Cova da Beira foi convidado o médico Miguel Castelo Branco (do CDS), que ocupara o cargo entre 2002 e 2006. Vem substituir João Casteleiro, do PS."


Quando se procurar, mais tarde, indagar dos motivos inerentes à desastrosa gestão dos centros hospitalares, dever-se-á considerar esta prática larvar de substituição da competência pelo compadrio uma das causas mais nefastas para os sucessivos défices na área da saúde.


Eis agora a composição da nova direcção do IEFP, cujo presidente será o Sr. Ocávio Oliveira:


"Octávio Oliveira, de 50 anos, economista foi director do centro de formação profissional para a indústria da cerâmica das Caldas da Rainha e dos centros de emprego de Torres Novas (1987/91), Picoas (1998/2002) e vice-presidente do IEFP (2004/05). É igualmente um quadro político do PSD. Foi vereador da câmara de Torres novas. Em 2009, integrou a comissão coordenadora autárquica distrital de Santarém do PSD, presidida então por Miguel Relvas. Em Janeiro de 2010, foi escolhido para vice-presidente da distrital de Santarém e é um dos quatro membros da comissão política permanente distrital, na mesma altura em que Miguel Relvas foi eleito presidente da mesa da assembleia-geral. Dois meses depois, foi director distrital de campanha da candidatura de Pedro Passos Coelho. Em Fevereiro deste ano, tornou-se o responsável da área social da distrital do PSD. Félix Esménio, quadro do IEFP desde 1987, dos Trabalhadores Sociais-Democratas, foi director do centro de emprego de Cascais. Francisco Xavier d’Aguiar, ligado ao CDS, foi membro do gabinete de estudos Gonçalo Begonha da Juventude Popular e foi subdirector da sociedade gestora de fundos de pensões da Caixa Geral de Depósitos."

Mais do que a competência, o que une todos estes senhores é uma característica - é partilharem das cores políticas do actual Governo.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Parvoíces 2.0




“Não entendo porque não se fala em sanções para quem tem excedentes e não os coloca ao serviço da economia. Não percebo porque é que na União Europeia, os países não ajudam as exportações de economias em situação mais difícil”. Interrogado se um país da União Europeia tem ou não o direito de poupar e de acumular excedentes, o líder socialista contrapôs que as economias "são mais dinâmicas se viverem em equilíbrio"

Quem disse tal coisa foi o secretário-geral do PS, António José Seguro, numa iniciativa promovida pelo Diário Económico, coisa essa que, a nosso ver, pode ser classificada como uma bestialidade, por três grandes linhas de razão:

Primeiro e a nível jurídico – nada nos tratados europeus possibilita sequer uma defesa de tal argumento; nunca se previu e, exceptuando num cenário de ficção científica, será possível reunir o consenso necessário para introduzir tal alteração (porque, como é bom de ver, os povos avisados e cumpridores não gostam muito de pagar as PPP’s dos calaceiros);

Segundo e a nível político – que o senhor tenha um fetiche económico, tudo bem. Deve passar-se da cabeça sempre que vê o Estado a estimular a economia, fomentando-a. Que bom para ele… Agora querer impor a sua visão keynesiana (já nem digo aos portugueses) a todos os Estados-Membros da União Europeia, sancionando qualquer deriva à cartilha com o confisco das poupanças, é coisa para arreliar os de boas contas…

Terceiro e a nível moral – parecerá inteiramente acertado a qualquer contribuinte europeu esta visão: um Estado bom, descomprometido com os interesses económicos (quais PPP’S, qual Mota Engil, qual Grupo Mello) sabe sempre a melhor forma de promover a mais eficiente alocução de recursos (até porque tem dirigentes do calibre de Seguro)! Assim, não o fazer, guardando como um avaro, é o supremo crime! Uma traição a todos os povos da Europa!

Pois bem, o que propõe o Sr. Seguro (depois do flop da almofada orçamental desmentida categoricamente pela troika) e que os países que têm uma classe política minimamente controlada, que tem dificuldade em dissipar os recursos, seja castigada, servindo o seu pecúlio para entregar a países onde babuínos de fato, se servem da coisa pública a seu bel-prazer, investindo em obras muito duvidosas, em programas de formação inconsequentes, em PPP’S ruinosas…

Como é por demais evidente, tal medida para além de anti-democrática (pois impõe, sob ameaça de sanção uma teoria económica a ser seguida em todo um continente), para além de iníqua (pois impossibilitaria qualquer reforma em Portugal, promovendo situações de gestão ruinosa da coisa pública, fruto da promiscuidade que existe entre alguns privados e alguns políticos) é completamente absurda, porque afirma que a melhor forma de resolver o problema da dívida é atacar quem tem finanças equilibradas.

Ah, e uma coisa muito importante que o secretário-geral do PS se esqueceu: there is no such thing as public money!



Ouça e aprenda Sr. Seguro… E comece a fazer uma oposição credível pois nem o PS merece tamanha mediocridade!


Defendamos um Estado menos presente, para esta malta estar mais ausente!


Por último, e para que nunca nos esqueçamos, fica aqui a informação divulgada no recente ataque informático sobre a sociedade offshore alegadamente ligada a José Sócrates.


domingo, 4 de dezembro de 2011

Pão-de-ló e afins

Há dias ouvi uma notícia que me intrigou. Alegadamente uma mãe teria ajudado o seu filho de 10 anos num teste de Português através de SMS. Tal proeza acabou por ser descoberta pela própria professora que tratou imediatamente de confiscar o telemóvel do menino, após ter desconfiado de manobras estranhas debaixo da mesa, no decurso do teste.

Esta não é a primeira notícia de copianços, pois eles existem em todo o lado, nem é a primeira vez que deles aqui falamos (vide http://opinadordeveludo.blogspot.com/2011/06/copiar.html).

Todavia, esta notícia acaba por ser ainda mais grave que as demais, sobretudo porque terá sido muito provavelmente a própria mãe, ansiando que o seu rebento tivesse a melhor nota da turma (ou a pior, se a mãe de Letras percebesse pouco!), a propor tal façanha ao seu menino lindo.

Ora aqui está, mais uma vez, a demonstração de como só nos limitamos a “copiar” os modelos dos nossos superiores nas atitudes e comportamentos que adoptamos. Neste caso, foi o filho que pôs em prática o comportamento referenciado pela sua mãe. Noutros casos, somos nós, portugueses que também, ao desviarmos uns bons milhares, limitamo-nos a dizer que a única coisa que recebemos foi “uma caixa de robalos e pães-de-ló”, com a devida vénia para essa iguaria da ilustre santa terrinha.

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 3 de dezembro de 2011

A acção desta semana do BCE, da Reserva Federal Americana, do Banco de Inglaterra, do Banco do Japão, do Banco do Canadá e do Banco da Suíça é um bom exemplo de como as instituições internacionais deveriam lidar com a crise mundial – de forma concertada.
Porque não se pense que a crise, apesar de se fazer sentir de uma forma mais visível na Europa, e mais concretamente na zona euro, não se pense, dizíamos nós, que esta é uma crise europeia. É uma crise mundial e especialmente das economias ocidentais.
Os Estados Unidos continuam com níveis de crescimento anémicos; a Inglaterra, apesar de manter a sua libra, continua com um elevado défice público e uma baixa taxa de crescimento; o Japão, afectado por uma recente catástrofe natural, apenas agora revela os primeiros sinais de crescimento, ainda que um crescimento ténue.
Cada uma destas economias necessita da vitalidade dos seus aliados. A fraqueza de um será igualmente a fraqueza do outro. Porque os Estados Unidos não podem crescer sem que a Europa resolva a sua crise de dívida pública soberana e a Europa não poderá solucionar os seus problemas sem que os Estados Unidos recuperem o seu vigor económico.
Numa economia global, a realidade é esta. E é, por isso, que a acção conjunta das entidades inicialmente referidas é benéfica. A revelação de que os principais bancos centrais do mundo decidiram levar por diante uma intervenção conjunta que injecte liquidez nos mercados causou uma subida de 4% nas bolas nesse mesmo dia, noticiou o Público esta quinta-feira. O PSI-20 fechou a semana a subir mais de 7%, noticiou o Jornal de Negócios. Os juros da dívida pública espanhola e italiana desceram acentuadamente.
O que nos leva à nossa segunda questão: de que mais provas necessita o eixo Berlim-Paris de que a solução particular da crise da zona euro não passa apenas por medidas de austeridade, mas a forma como se coadunam reformas estruturais com políticas de crescimento?
Desenganem-se aqueles que pensam que esta semana animadora nos mercados se deve ao discurso do Sra. Merkel no Bundestag em que prometeu criar uma verdadeira união orçamental para a Europa. O que verdadeiramente animou os mercados são os rumores de que o BCE poderá assumir, em breve, nos mercados de dívida e o modo como se poderá estar a aproximar, a pequenos passos, do que foi proposto pelo Sr. Soros para que a Europa possa resolver a sua crise.
Face à intransigência do Governo alemão em aceitar as eurobonds, o Sr. Soros sugeriu que o BCE actuasse como entidade financiadora da zona euro, dando tempo aos Estados para concluírem as negociações para a reforma dos Tratados Europeus, para a criação de uma verdadeira união orçamental, para o reforço da coordenação económica e, mais tarde, como último passo de todo este caminho, e como exigido pelos alemães, a criação das eurobonds.
Esta solução não me agrada não porque receie uma subida da inflação. O que é a inflação, ainda que algo acentuada, quando comparada com um cenário de desagregação da zona euro, e por arrasto, de desagregação da União Europeia que nos lançaria para uma gravíssima crise de contornos imprevisíveis? Na verdade, esta solução não nos agrada porque remete para o BCE uma responsabilidade que os Estados deveriam assumir. Ainda assim, esta solução será um mal menor.
A euforia dos mercados poderá, no entanto, ser breve. É que na próxima semana haverá Cimeira Europeia o que, normalmente, significa desvanecimento de ilusões e, portanto, nova semana de quebra nas bolsas, de subida das taxas de juro das obrigações dos países em maiores dificuldades e o perpetuar da crise europeia.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Primeiro de Dezembro

Comemora-se hoje uma efeméride fundamental do nosso país: o movimento restaurador que, em 1640, devolveu a independência ao nosso país, aspiração efectivada frente ao monarca espanhol.

Numa altura em que a liberdade dos nossos governantes se encontra fortemente condicionada, é imperioso não olvidar aquele movimento, que nos deve servir de referencial para as nossas acções (ou reacções).

Compreendendo a necessidade de diminuir os custos do trabalho na economia portuguesa, parece aceitável o fim deste feriado (movimento onde se devia incluir também o 5 de Outubro, o 1 de Maio e o 25 de Abril, para além das cedências religiosas). No entanto, mesmo sem feriado é imperioso lembrar os valores da Restauração: colocar a Pátria antes de qualquer cálculo pessoal ou partidário, em respeito por um ideal de Nação independente, já plurissecular.

Como já vem sendo tradição, deixamos n`Opinador, a mensagem de Sua Alteza Real o Duque de Bragança, que convidamos todos a assistir:



Viva Portugal!