A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 3 de dezembro de 2011

A acção desta semana do BCE, da Reserva Federal Americana, do Banco de Inglaterra, do Banco do Japão, do Banco do Canadá e do Banco da Suíça é um bom exemplo de como as instituições internacionais deveriam lidar com a crise mundial – de forma concertada.
Porque não se pense que a crise, apesar de se fazer sentir de uma forma mais visível na Europa, e mais concretamente na zona euro, não se pense, dizíamos nós, que esta é uma crise europeia. É uma crise mundial e especialmente das economias ocidentais.
Os Estados Unidos continuam com níveis de crescimento anémicos; a Inglaterra, apesar de manter a sua libra, continua com um elevado défice público e uma baixa taxa de crescimento; o Japão, afectado por uma recente catástrofe natural, apenas agora revela os primeiros sinais de crescimento, ainda que um crescimento ténue.
Cada uma destas economias necessita da vitalidade dos seus aliados. A fraqueza de um será igualmente a fraqueza do outro. Porque os Estados Unidos não podem crescer sem que a Europa resolva a sua crise de dívida pública soberana e a Europa não poderá solucionar os seus problemas sem que os Estados Unidos recuperem o seu vigor económico.
Numa economia global, a realidade é esta. E é, por isso, que a acção conjunta das entidades inicialmente referidas é benéfica. A revelação de que os principais bancos centrais do mundo decidiram levar por diante uma intervenção conjunta que injecte liquidez nos mercados causou uma subida de 4% nas bolas nesse mesmo dia, noticiou o Público esta quinta-feira. O PSI-20 fechou a semana a subir mais de 7%, noticiou o Jornal de Negócios. Os juros da dívida pública espanhola e italiana desceram acentuadamente.
O que nos leva à nossa segunda questão: de que mais provas necessita o eixo Berlim-Paris de que a solução particular da crise da zona euro não passa apenas por medidas de austeridade, mas a forma como se coadunam reformas estruturais com políticas de crescimento?
Desenganem-se aqueles que pensam que esta semana animadora nos mercados se deve ao discurso do Sra. Merkel no Bundestag em que prometeu criar uma verdadeira união orçamental para a Europa. O que verdadeiramente animou os mercados são os rumores de que o BCE poderá assumir, em breve, nos mercados de dívida e o modo como se poderá estar a aproximar, a pequenos passos, do que foi proposto pelo Sr. Soros para que a Europa possa resolver a sua crise.
Face à intransigência do Governo alemão em aceitar as eurobonds, o Sr. Soros sugeriu que o BCE actuasse como entidade financiadora da zona euro, dando tempo aos Estados para concluírem as negociações para a reforma dos Tratados Europeus, para a criação de uma verdadeira união orçamental, para o reforço da coordenação económica e, mais tarde, como último passo de todo este caminho, e como exigido pelos alemães, a criação das eurobonds.
Esta solução não me agrada não porque receie uma subida da inflação. O que é a inflação, ainda que algo acentuada, quando comparada com um cenário de desagregação da zona euro, e por arrasto, de desagregação da União Europeia que nos lançaria para uma gravíssima crise de contornos imprevisíveis? Na verdade, esta solução não nos agrada porque remete para o BCE uma responsabilidade que os Estados deveriam assumir. Ainda assim, esta solução será um mal menor.
A euforia dos mercados poderá, no entanto, ser breve. É que na próxima semana haverá Cimeira Europeia o que, normalmente, significa desvanecimento de ilusões e, portanto, nova semana de quebra nas bolsas, de subida das taxas de juro das obrigações dos países em maiores dificuldades e o perpetuar da crise europeia.

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