A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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domingo, 5 de fevereiro de 2012

Todos diferentes, todos diferentes...

Nos últimos tempos, e por circunstâncias várias pessoais e profissionais, tenho conhecido muitas pessoas. Tenho dado conta que, com a crise que vivenciamos, cada vez maiores são as assimetrias existentes entre os seres humanos.

De um lado, estão aqueles que vão ficando cada vez mais pobres e miseráveis. Subitamente sem emprego, com prestações múltiplas para pagar e com crianças para cuidar, deambulam pelas ruas, de olhar perdido, em busca de uma nova oportunidade, rezando para que a vida lhes traga a felicidade de outrora. Procuram todos os dias no jornal aquele anúncio que lhes trará de novo “o pão nosso de cada dia”, enquanto as últimas moedas que trazem nos bolsos vão desaparecendo.

Do outro, estão aqueles que cada vez têm mais dinheiro. Como podem pagar os mais altos honorários a bons advogados e TOCs, as manobras contabilísticas são rainhas e potenciadoras dos seus elevados saldos bancários. As suas manifestações de fortuna multiplicam-se e dão-se ao luxo de, em plena crise conjuntural, fazer férias várias vezes ao ano e de viver faustosamente.

Acreditem ou não, esta é a mais pura das verdades. O dinheiro que uns perdem é o mesmo dinheiro que outros ganham.

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 28 de janeiro de 2012

A letargia da Europa

A cada dia que passa torna-se cada vez mais evidente a cegueira, a ausência de visão e a cobardia dos governantes europeus. A mais recente projecção do FMI revela que as economias avançadas deverão crescer 1,2% este ano, uma previsão significativamente mais baixa do que a última apresentada há quatro meses atrás. Perante este cenário de estagnação, o Sr. Martin Wolf, em coluna assinada no Financial Times, olhando para a Ásia, apontava: a economia chinesa entre 2007 e 2012 deverá expandir-se cerca de 60% e o continente asiático 50%. Conclusão: ou a Europa acorda do seu estado letárgico e age rapidamente e age como um todo que é ou que deveria ser, ou arrisca-se a um lugar menor na geopolítica mundial que se desenha.
O pior é que a unidade europeia em lugar de se solidificar, fracciona-se cada vez mais: no último Conselho Europeu, o Reino Unido conseguiu mesmo afastar-se significativamente da Europa e as perspectivas para o próximo Conselho a realizar-se brevemente são ainda menos animadoras. O Sr. Cameron no Forum Económico Mundial, a decorrer em Davos, considera que a Alemanha deve contribuir com mais recursos para resolver a crise europeia. Esqueçamos o facto do Sr. Cameron em algumas ocasiões ter estado relutante em participar economicamente no aumento do FEEF, o que bem demonstra a sua coerência e a seriedade das suas declarações. Mais do que isso, o Sr. Cameron disse muito claramente que os agentes políticos estão longe de encontrar a resposta adequada com que lidar com a actual crise - e esqueçamos também a ausência de contributos do Sr. Cameron. O Sr. Cameron apenas critica os restantes líderes europeus com tanta veemência e de forma tão clara porque o seu orgulho foi esmagado e é um homem amargurado por ter sido enxovalhado no último Conselho Europeu. Um político que vai para o último Conselho Europeu com a única intenção de proteger os interesses financeiros da City e que posteriormente vem criticar os líderes europeus pela sua falta de acção, não pode ser levada a sério e só pode merecer a gargalhada da opinião pública. Isso não impede que o Sr. Cameron tenha razão naquilo que diz.
É verdade que a Europa progrediu bastante nos últimos meses, mas esse progresso é realisticamente escasso quando comparado com a amplitude e a dimensão de uma crise que não é apenas de dívida pública: é uma crise bancária, é uma crise financeira, é uma crise de competitividade, é uma crise social. Mas mais do que isso é uma crise política porque tem faltado vontade e firmeza política dos seus agentes para agir conforme a exigência deste momento da história o pede. Porque se este nosso tempo é o mais crítico e o mais delicado das últimas oito décadas, também é verdade que ele pode ser resolvido e pode ser ultrapassado, desde que haja vontade política para o efeito. Muitas vezes, porém, os políticos europeus têm sido mesquinhos e pequenos e colocam o seu ego e o seu percurso político à frente do interesse dos seus países e do da Europa. Assim, a Sra. Merkel, durante muito tempo, andou mais preocupada com as suas eleições regionais do que em encontrar uma solução rápida e consistente para a Grécia; ou o Sr. Sarkozy, que parece mais empenhado em exibir-se e pavonear-se perante a Europa para retirar dividendos para as próximas eleições presidenciais francesas.

domingo, 15 de janeiro de 2012

Menos feriados, mais aborrecimentos...

Já foi tornado público que o Governo decidiu, de entre todo um leque de feriados disponíveis no nosso calendário civil, extinguir os feriados 5 de Outubro e o 1 de Dezembro. A Santa Sé, por seu turno, prescindiu do feriado móvel do Corpo de Deus e do 15 de Agosto.

Quando soube da notícia, os meus olhos arregalaram-se de espanto, não por ter pensado que eu iria ficar sem 4 dias de dolce fare niente, mas porque o argumento usado para tal abolição foi justamente o de que “é preciso trabalhar mais, para Portugal poder andar para a frente!” (onde é a frente, mesmo?)

Senhores, pergunto, mas onde é que está o trabalho? Se as empresas declaram insolvência, se o número de desempregados aumenta assustadoramente e se não há procura para tamanha oferta, como é que os portugueses poderão trabalhar mais?

A um desempregado deve fazer uma diferença inestimável que um dia deixe de ser feriado, para ser tido como dia de laboração… E a quem trabalha todos os dias, de sol a sol, incluindo todos os feriados santos e menos santos, também deve fazer uma diferença considerável…

Enfim, eu só tenho mesmo pena de deixar de poder ir a duas Missas para ir trabalhar!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

A qualidade da democracia na Europa

O ano de 2011, visto daqui a um século, será lembrado por dois grandes acontecimentos – a crise europeia e a Primavera Árabe. Se a alternância de ciclos económicos nas economias capitalistas é uma constante, as revoluções no Magrebe merecerão da História um olhar mais atento por se tratar de um acontecimento memorável. E é num momento em que regimes historicamente ditatoriais, desrespeitadores das liberdades individuais, são abolidos e que a liberdade avança, que a Europa, onde nasceu a Revolução Francesa, regride. Este facto claro, embora pouco discutido pela opinião pública, é da maior gravidade.
Prova clara disso é a negligência e a leveza com que a comunicação social reputou uma recente análise da revista “The Economist” à democracia portuguesa, rotulando-a prestigiosamente de democracia com falhas. Prova clara disso são também as mudanças ocorridas há pouco tempo nos Governos da França e da Grécia que, embora não discutindo as capacidades dos seus líderes, são dirigidos por Primeiros-ministros não eleitos pelo seu povo, em função das contingências dos mercados. Ou o abastardamento do Conselho Europeu, do Parlamento Europeu ou da Comissão Europeia nas decisões sobre o futuro da Europa, relegada para obscuros encontros bilaterais, em que os mais fortes dominam os mais fracos.
Por todos estes factos, à medida que outras nações vão progredindo e avançando no tempo, a Europa, estranhamento, vem regredindo. A subversão dos mais eminentes valores e princípios do Estado de Direito está à vista no próprio seio da União Europeia – na Hungria. Durante um ano, a UE assistiu tranquilamente, passivamente, confortavelmente, ao rolar da marcha autoritária sobre o Estado de Direito, e agora, que a subversão está consumada, ela ergue-se corada e escandalizada. O Sr. Barroso, furioso, escreve cartas ao Sr. Orban; o Sr. Orban abre-as, amarrota-as, e ignora-as. E pior: se um Estado-membro da UE se deita à noite como uma democracia, e acorda de manhã como um regime despótico, a UE nada pode fazer.
De resto, qual tem sido a arma que a UE tem usado para sensibilizar e arguir com a Hungria, tentando chamá-la à razão? Essa coisa extremamente retórica e democrática apelidada de chantagem. É que a Hungria, severamente atingida pela crise económica, necessita de auxílio económico do FMI na ordem dos 15 a 20 mil milhões de euros, e a UE, enquanto a Hungria não se dignar a escutá-la, suspendeu as negociações para a ajuda.
O que se passa na Hungria é uma situação da maior gravidade. Os protestos de cerca de 100.000 húngaros nas ruas de Budapeste contra a nova Constituição aprovada pelo Parlamento não são suficientes para tranquilizar a Europa. Porque se existem 100.000 húngaros publicamente protestando contra o Sr. Orban, exprimindo os seus ideais democráticos, outros há que embora igualmente descontentes com o Sr. Orban, refugiam as suas preferências num partido de extrema-direita, xenófobo e racista, que é actualmente a segunda força política na Hungria.
Por tudo isto, os problemas da Europa não são apenas económicos e financeiros – são também políticos e democráticos. E se a Europa não o reconhece e não se consegue enxergar, a opinião pública tem o dever de lhe voltar o espelho, e mostrar-lhe os defeitos e os vícios para que ela se regenere.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

Acerca do limite constitucional ao endividamento público

Como sabemos, a Sra. Merkel e o Sr. Sarkozy defenderam recentemente que os membros da zona euro deveriam incluir nas suas constituições travões ao endividamento público, à semelhança do que se encontra contemplado na Constituição alemã.


Pois bem: ao que parece, a convicção alemã e a fé no mérito deste travão é de tal ordem, que o Sr. Schauble parece estar já a considerar uma forma de contornar este mecanismo constitucional, em caso de necessidade.


Segundo noticia a Der Spiegel, citando o diário Bild:


"Under Schäuble's plan, the government is to be given a loophole to exceed the debt limit once the permissible level of borrowing has been reached, mass-circulation Bild newspaper reported on Tuesday. All the government would have to do would be to draft a plan for repaying the debt and secure parliamentary approval for it."


Depois dos alemães e dos franceses haverem violado o Pacto de Estabilidade e Crescimento e desprezado as respectivas sanções, e ao mesmo tempo que exigem que os outros países membros constitucionalizem o travão ao endividamento, esta notícia só pode ser vista como encorajadora.

domingo, 1 de janeiro de 2012

E aos quatro, eu disse sim!...

... Porque 2012 começou memoravelmente nos teus braços e porque o anel que me puseste no dedo tem o mesmo brilho que trago nos olhos desde que te conheci.



Amo-te. Encantadamente tua.

Um Feliz 2012 para todos.

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A perspicácia dos observadores da Liga Árabe

Segundo noticia o jornal Público, os observadores da Liga Árabe enviados à Síria para avaliar imparcialmente as acções do regime do Sr. Assad sobre o seu próprio povo, chegados a Homs, cidade onde se tem manifestado de forma mais veemente e expressiva o movimento revolucionário, os observadores dizíamos nós, pararam, olharam e viram:
Facto n.º 1: Edifícios severamente destruídos;
Facto n.º 2: Veículos blindados patrulhando as ruas.


Apurados estes dois factos objectivos, suas excelências cofiaram a barba, coçaram a cabeça, reflectiram gravemente uns minutos, ponderaram seriamente os factos e concluíram:
Conclusão n.º 1: Há, de facto, edifícios severamente destruídos, mas nada de assustador;
Conclusão n.º 2: Há, de facto, veículos blindados patrulhando as ruas, mas não há tanques;
Conclusão n.º 3: Logo, e porque não há confrontos, e pessoas dizendo expressamente o contrário, a situação é normal.
Esta a conclusão a que chegaram os observadores. A esta conclusão de que nada de assustador se passa em Homs não será, certamente, alheio o facto do chefe da missão, o Sr. Mustafa al-Dabi, ser sudanês e, portanto, estar, infelizmente, habituado a conviver familiarmente com situações assustadoras. Pelo que, qualquer situação perante tais atrocidades não rivalize com as mesmas, mesmo tratando-se de um regime que repele violentamente as singelas aspirações democráticas do seu povo, parece uma delicada candura na sua experimentada escala do horror.
Como se, primeiro, o facto de haverem edifícios severamente destruídos não fosse a representação fiel de que um conjunto de tanques governamentais tivessem efectuado um conjunto de disparos contra esses mesmos edifícios provocando o seu desmoronamento e, segundo, o facto de haverem veículos blindados patrulhando as ruas não fosse o sinal mais transparente e inequívoco de que o governo monitoriza escrupulosamente o exercício do direito de livre manifestação e reunião dos seus cidadãos. Como porém, suas excelências não observaram um tanque disparando, ou uma pessoa protestando, suas excelências só podem concluir uma coisa: que ali não se passa nada.

Além do mais, do que estavam à espera suas excelências? Que o Sr. Assad tivesse a gentileza de empacotar uns tanques, os enlaçasse, os colocasse diante da população, os desenlaçasse quando V. Exas. se dignassem a chegar a Homs, e uma vez aí chegados, ordenasse os disparos sobre a população?