A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 30 de abril de 2011

A Irresponsabilidade do PS e do PSD

O compromisso político em torno de um torno de um determinado objectivo é essencial para a estabilidade interna do País, mas também para a visão que o exterior tem de Portugal. E, neste momento, Portugal está inteiramente dependente da visão que o exterior tem da estabilidade política em Portugal. Desde logo das agências de rating. Vimos o que se passou recentemente nos Estados Unidos em que a tensão entre o Partido Democrata e o Partido Republicano e o impasse político colocou já em causa a estabilidade do rating, agora sob vigilância negativa das agências.


Sabemos que a quebra do compromisso do PSD com o PEC para 2012 foi o principal motivo a descida sucessiva do rating da República nos dias seguintes. O nosso rating, no entanto, para já, não deverá descer. Mas também as instituições europeias e internacionais não são alheias ao bate-boca que por cá se vai mantendo; a constante troca de acusações entre PS e PSD aos olhos da opinião pública não é desconsiderada pelas instituições europeias e internacionais que, em breve, nos irão salvar da bancarrota. E o que hão-de pensar estas instituições que nos irão abrir a torneira do dinheiro, dos responsáveis de um País que se encontra numa crise da qual não consegue sair, por si mesmo, há mais de uma década e que depois de solicitar ajuda externa permanecem indiferentes às consequências inerentes a esse acto?


E, no entanto, sabendo tudo isto PS e PSD entretém-se a jogar xadrez político pelo lado mais mesquinho: as acusações pessoais. O PSD continua sem apresentar o seu programa de Governo a cerca de um mês das eleições. O PS apresentou-o esta semana: e a primeira parte do somatório de ideias produzido por um conjunto de cabeças rangendo, a teoria que delas foi espremida para as primeiras páginas – é precisamente dedicada ao PSD e a relembrar aos portugueses a responsabilidade política do PSD nesta crise. Como se o programa de Governo do PS se destinasse a atazanar a vida do PSD. Um programa de Governo formulado por um partido é destinado aos Portugueses – não ao PSD. Um partido que se queira afirmar na cena política fá-lo pelos seus valores, pelas suas ideias, pelas suas inspirações, pelos seus sistemas, pelas suas teorias: e fá-lo afirmando-se positivamente em relação aos outros: porque as suas ideias são melhores que as ideias dos outros e, por isso, mais positivas e benéficas para o País. Poderá decerto criticar-se as ideias de um outro Partido, mas sem nunca deixar de afirmar as suas, sem nunca deixar de as colocar em contraponto com as nossas próprias convicções. É o processo natural pelo qual se afirma a superioridade das Ideias: o seu debate e a sua discussão, após o qual se procede à sua selecção. O exercício da Política faz-se pela elevação das Ideias, não pela afirmação da mediocridade.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Trabalho

A escolha, à primeira vista, pareceria óbvia: hoje há noivado real - como o leitor deve ter constatado sempre que lançava um fugaz olhar ao televisor - mas não: o Opinador hoje não irá falar de noivados. Não queremos aumentar a indisposição do leitor. Pelo contrário: patrióticos - ao contrário do nosso Primeiro-Ministro que ao mesmo tempo que chama o FMI e a UE para nos darem uma ajudinha, concede tolerância de ponto aos funcionários públicos porque enfim...é tradição, o Opinador, diziamos nós, patriótico, vem ao leitor falar de Trabalho. Sim, de Trabalho. Seja porque se acusam os trabalhadores portgueses de serem pouco produtivos, mas sobretudo porque se aproxima o seu dia - o dia 1 de Maio. Assim, aqui ficam algumas coisas engraçadas sobre o Trabalho:

De Lord Nelson


Reparai no quão irado está este querubim... E de que forma descarrega sua fúria, contra um aparelho totalmente diferente. Mas o melhor são mesmo os últimos segundos de um embaraço monumental! Isto sim é trabalhar!



De Madame Pompadour







De Letícia, a Marquesa

Diferentes perspectivas sobre a realidade laboral:









De Carlos Jorge Mendes

Para o Progresso e a Glória dos Sindicatos Portugueses, o Opinador sugere a substituição do Sr. Carvalho da Silva pelo Sr. Homer Simpson à frente da CGTP. Greves? Coisa ineficaz quando se pretende reclamar melhores direitos para os trabalhadores.



quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Foleirice do Presidente segundo o Sr. José Lello

Na sequência das comemorações do 25 de Abril, este ano da responsabilidade do Sr. Presidente da República, o Sr. José Lello, destacado membro do PS, proferiu as seguintes declarações na sua página do Facebook:



Ao que Sua Excelência se desculpou, dizendo:
- Eu estava a enviar mensagens a um colega meu de bancada e, naturalmente, a utilizar uma linguagem que entre amigos é corrente.


Resulta, pois, que em privado o Sr. José Lello é uma pessoa; em público, o Sr. José Lello é uma pessoa completamente diferente; assim caluniar alguém no recato do lar, na obscuridade, para Sua Excelência, tudo correcto; fazê-lo, porém, em público, ai!, isso não! Isso é indecente! Ora, caluniar alguém em privado soa a intriguice. Isso que V. Ex.ª é? Uma fofoqueira? Imaginamos, pois, V. Ex.ª numa esquina obscura da Assembleia da República cochichando sobre os podres dos deputados, soltando risinhos. Na minha pequena terriola – como é costume de todas as pequenas terras – existe uma fofoqueira. Diariamente é encontrá-la prostrada contra a vidraça, com a cara vermelha (do vinho) colada à janela: vai daí a Sra. recebeu a delicada alcunha de «Cola». A intriga pessoal é a apenas a iniciação na arte da intriga política; e da intriga política é um curto passo para a mentira. E a procura da verdade, meu caro José Lello, nos ensinamentos de Cícero, é uma das quatro fontes das quais dimana a honestidade.

Repare V. Ex.ª: nós também gostaríamos de insultar o Presidente da República. Não é esse o grande motivo pelo qual as suas declarações são estapafúrdias. A causa do seu spleen, meu caro Lello, é que é extraordinária: V. Ex.ª está aborrecido, ou melhor, enciumado, por o Sr. Presidente da República ter convidado muita gente – mas não o tenha convidado a V. Ex.ª. V. Ex.ª caluniar o Sr. Presidente da República por ele nada ter feito para evitar uma crise política, V. Ex.ª criticar o Sr. Presidente da República por ele não puxar devidamente as orelhas dos partidos, V. Ex.ª criticar o Sr. Presidente da República por se estar marimbando para o País depois de ter ganho a sua eleiçãozinha – isso tudo bem. Agora caluniar o Presidente da República por ele não lhe ter mandado pelo correio um convite para comparecer na cerimónia do 25 de Abril? Oh, Sr. Lello! Isso até parece vaidade! Até parece coisa de um Narciso avidamente debruçado sobre o lago, não apaixonado da sua beleza, mas da sua autoridade intelectual. Mas tem V. Ex.ª razão: sabemos que a verdadeira força das democracias se encontra no Parlamento, a Assembleia Representativa de todos os portugueses. E o 25 de Abril democratizou Portugal. E que diabos! Quem mais pode personificar a Assembleia da República do que V. Ex.ª? O Sr. José Lello confunde-se com a Assembleia da República! O Sr. José Lello anda lá há tanto tempo que o tomam já como um dos pilares do próprio edifício sem o qual ela poderá funestamente desabar! Vai daí não arrancam V. Ex.ª da Assembleia da República há 26 anos. E não o convocarem para uma cerimónia que devolveu a verdadeira democracia a Portugal? V. Ex.ª provavelmente (não o podemos dizer com certeza) não teve qualquer papel relevante no 25 de Abril; mas V. Ex.ª é deputado há 26 anos! Da Câmara representativa de todos os portugueses! Recebeu condecorações e louvores! Que importa que V. Ex.ª não tenha tido papel relevante na cerimónia que se celebra? V. Ex.ª foi já Ministro e Secretário de Estado: que obras relevantes deixou nos seus cargos? De que forma contribuiu para o enriquecimento da Nação? Mas isso que importa? V. Ex.ª é deputado há 26 anos – mesmo que nesses 26 anos não tenha deixado uma marca relevante pela qual possa ser meritoriamente lembrado.

Mas além do mais diz V. Ex.ª: sim, eu insultei-o, mas a culpa é do raio das tecnologias. Isto é louvável da parte de V. Ex.ª. Com efeito, V. Ex.ª chama foleiro ao PR – o que é uma coisa desagradável, mas, convenhamos, podia ser pior. Mas logo em seguida, V. Ex.ª num acto de louvável penitência, agarra do cilício e castiga-se a si próprio, chamando-se de idiota. O que V. Ex.ª diz é isto:
- Não, meus amigos! Eu, com efeito, insultei o Sr. Presidente da República. Mas isso é porque eu sou idiota! Não consigo lidar com estas tecnologias! Estas coisas do Facebook deixam-me arreliado! Irra!

terça-feira, 26 de abril de 2011

Sampaio de 2003 a 2011 – Revoluções no entendimento



Neste 25 de Abril, por motivos de saúde, não pudemos ir para um qualquer destino exótico para escapar ao já tradicional desfile de berraria inconsequente e proclamações de inspiração marxista-leninista – as efemérides servem muito poucas vezes para debates racionais e vezes demais para manifestações, comemorações e outras palhaçadas.


Assim limitados a Portugal, de manta e chinelos lá assistimos ao desfile mediático das coisas. (E permitam-me uma nota: a prova que não existe debate sério – muitos jornalistas disseram que este ano o 25 de Abril “teve” que ser em Belém porque a AR está dissolvida. Teve? Porquê? É assim tão categórico? Mas lá está, ninguém questiona).


De tudo o que se passou o que mais chamou a atenção foi o discurso de Jorge Sampaio. Os discursos deste antigo presidente têm fama de ser bastante esotéricos, inacessíveis quase ao comum dos cidadãos. Porém, no dia de ontem, isso não se verificou.
Com efeito, num discurso claro e acessível, Sampaio pediu uma campanha séria e que não impossibilite os eventuais consensos que se venham a mostrar necessários. Apesar de não sermos adeptos do “bloco central” (expressão infeliz que agrega as forças democráticas nacionais), concordamos com Monseiur le ex-president. Mas o que nos chamou a atenção foi a afirmação que a nossa situação actual se deve a falta de sustentabilidade das contas públicas.
Ora recorde-se que, em 2003, Sampaio nas comemorações do 25 de Abril afirmava que "há[via]mais vida para além do Orçamento". Lembremo-nos que na altura existia uma maioria de direita que, pelo menos publicamente, revelava uma grande preocupação com as finanças públicas. Estas declaraçoes presidenciais caíram na altura como uma bomba, paralizando (já que lhe retirou toda a autoridade) as hipóteses de reforma.


Tal entendimento, pode ter sido interpretado como um frete ao PS para as eleições que aquele mesmo Chefe de Estado viria a provocar. Independentemente do mérito das declarações, uma coisa é certa - o que valeu então não vale agora. Jorge Sampaio contribuiu para o desvio de atenções da importância de um orçamento equilibrado, pelo que também terá a sua quota-parte no actual estado de coisas.
Neste 25 de Abril disse o que deveria ter dito em 2003. Neste 25 de Abril, faltou um pedido de desculpas – Sampaio, voluntariamente ou não, tem responsabilidades: sob pena de ser incoerente (para não usar um adjectivo mais forte) não pode ignorar o peso que as suas declarações tiveram em 2003.
Não se pode pugnar por mais ética com comportamentos pouco éticos.
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Reservamos o final deste post para pedir a opinião (não só) aos juristas que nos seguem relativo a um problema que temos já vindo a discutir com alguns colegas.


A celebou com B um contrato por via do qual, aquela ficava obrigada a prestar um serviço e B a pagar o preço.
A realizou a prestação, mas B, reportando-se ao resultado, considerou o cumprimento defeituoso, recusando o pagamento acordado e exigindo a redução do preço.
Quid juris?
Pode o credor da prestação opor a exceptio non rite adimpleti contractus quando a frustração do interesse da obrigação não pode ser, pelo menos directamente, assacada a contra-parte? E num contrato de prestação de serviços estamos perante uma obrigação de resultado ou de meios?

Aguardamos contributos para a solução deste complexo problema:



domingo, 24 de abril de 2011

Páscoa

Hoje é dia de Páscoa.

Páscoa vem do hebraico "Pessach" que significa "Passagem". E é justamente isso. Hoje celebramos a Festa da Páscoa, comemoramos o dia em que Jesus Cristo ressuscitou, a sua passagem da morte para a vida eterna.

Desde pequenos que sabemos que é neste Domingo que recebemos o folar de ovos, ovos esses que são símbolos de vida e de fertilidade. Ao longo dos tempos, em virtude do incentivo e espírito desenfreado consumista, o folar tem vindo a ser substituído pelas prendas da moda, relegando-se o tradicional e simbólico e privilegiando-se o material e o banal.

Também o Compasso costumava visitar as nossas casas, de portas abertas àqueles que recebíamos com tanta alegria e que transportavam a cruz de Cristo. A sua vinda era notada em virtude daquele sino característico cujo som anunciava a sua passagem e todas as portas encontravam-se assinaladas com as mais belas flores. Hoje raras são as famílias que abrem as suas casas ao Compasso, porque muitas delas "aproveitam a Páscoa" para ir de férias, outras porque não respeitam nem estão interessadas nas mais antigas tradições cristãs.

No Domingo de Páscoa, logo pela manhãzinha, cumpre-se a tradição dominical de ir à Missa. Os mais pequenos, alegres e vivazes, vão pela mão de seus pais. Os maiores envergam roupa nova pelo caminho. Hoje se perguntarmos a muitas crianças porque é que é dia de Páscoa, logo nos retorquirão com um "não sei, nem me interessa".

Depois da Eucaristia, toda a família se reúne, à volta da mesa, para almoçar o saboroso cabrito, e a refeição é lugar de conversa, de partilha, de sorrisos e de felicidade. Infelizmente, nos dias que correm, tal momento já não acontece em muitos lares, pautados por famílias desfeitas pelo divórcio, pela inveja e por ódios impensáveis.

A Páscoa é tempo de renascimento, de renovação do nosso espírito, deste interior que se encontra tão negro e cheio de cicatrizes, onde não deixamos entrar o mais ínfimo raio de luz, de esperança, de perdão e de recomeço. É sempre tempo de mudança, de repensar a vida que levamos e de avançarmos para o lado da luz e deixarmos as sombras, os lados lunares.

Saibamos viver as tradições cristãs da Páscoa não apenas porque parece bem e saibamos respeitá-las e respeitar quem as vive verdadeiramente. Porque, acima de tudo e de todos, sabemos que há Alguém que nos quer lembrar que é sempre Páscoa, é sempre tempo de Passagem.

Uma Santa Páscoa.

sábado, 23 de abril de 2011

Notas pré-eleitorais

O debate político que antecede as eleições legislativas de 5 de Junho tem sido pobre e centrado em torno de ataques pessoais mesquinhos.
O Congresso do PS realizado em Matosinhos serviu apenas para responsabilizar o PSD pela crise política em que o Pais mergulhou; o PSD, por sua vez, entretém-se discutindo a Presidência da Assembleia da República.
O debate político não se tem centrado na discussão de ideias. Certamente o espaço para as discutir é reduzido face ao pedido de ajuda externa e o amplo protagonismo que a EU/FMI assumirão na definição do programa económico, financeiro e social dos próximos anos. Ainda assim, o que distingue os partidos políticos entre eles são os valores e as ideias por que se pugnam. O grande problema de Portugal não é verdadeiramente o défice e a dívida pública: é o crescimento. Se em 2011 Portugal respeitar a meta de 4,6% de défice público, o défice português será inferior ao da França, por exemplo; a dívida pública portuguesa – apesar de elevada – encontra-se na média da UE – a Bélgica e a Itália, por exemplo, têm uma dívida pública de cerca 120% do PIB. O problema de Portugal é que não cresce de forma sustentada para fazer face aos seus compromissos: 0,7% na última década. Este é o mal português. O programa da UE/FMI irá ajudar reduzir quer o défice, quer a dívida pública. Segundo a imprensa, reformas económicas e sociais para promover o crescimento económico têm sido abordadas nas reuniões dos representantes da UE/FMI com os representantes das instituições portuguesas. A liberdade de decisão do próximo Governo está, pois, certamente condicionada, mas não eliminada. Nas próximas eleições legislativas está em causa a definição do modelo de desenvolvimento que deverá sustentar o crescimento económico. E qualquer modelo de desenvolvimento tem de assentar numa coisa: num conjunto de ideias. E isso não vem sendo discutido até ao momento. O debate político resume-se a isto: o PS atira lama à cara do PSD e o PSD atira lama à cara do PS. O PSD não apresenta ideias; o PS critica o PSD por não apresentar ideias, sem, no entanto, formular nenhuma em resposta, caindo no erro que pretende apontar.
Mas mais do que a ausência de ideias, a actual crispação política entre PS e PSD prejudica o cenário pós-eleitoral que passará, inevitavelmente, por uma um governo alargado que terá de envolver PS, PSD e CDS. O ataque pessoal entre os partidos e não a discussão de ideias, a crítica das ideias, complica os entendimentos pós-eleitorais que terão de ser feitos.


Uma recente sondagem do Diário Económico demonstrava uma assinalável recuperação do PS nas percentagens de voto: a 6 semanas das eleições, o PS reunia 36%, contra 35% do PSD. Uma bela bofetada à aselhice política da cúpula política do PSD que julgava a vitória eleitoral de tal maneira garantida pela segurança que as sondagens lhe vinham conferindo, que decidiram provocar uma crise política a qualquer preço – mesmo à custa do País. Mas dizia eu - imaginemos então que o PS vence as eleições de 5 de Junho. Caso vença será seguramente sem maioria absoluta. O Sr. Passos Coelho, dificilmente, terá condições políticas para se manter como líder do PSD – demite-se. Isto seria positivo: o Sr. Passos Coelho sempre se mostrou indisponível para governar conjuntamente com o Sr. José Sócrates. Mas o problema não se resolve com a demissão do Sr. Passos Coelho. Qual será a personalidade do PSD que, vencendo as correspondentes eleições internas, estará disponível para participar num Governo liderado pelo PS do Sr. José Sócrates? O debate político está de tal maneira crispado que a margem de manobra é estreita. Do mesmo modo, o CDS-PP. O Sr. Paulo Portas por diversas vezes pediu a demissão do Sr. José Sócrates; por diversas vezes manifestou a disponibilidade do CDS para uma coligação com o PSD e o PS – mas sem o Sr. José Sócrates. A estabilidade política caso o PS vença as eleições afigura-se complicada. E mesmo a intervenção do Presidente da República poderá não ser suficiente.


O que me parece, pois, importante é que os partidos políticos recentrem o debate em torno da discussão de ideias não só porque é em torno delas que deve assentar uma campanha eleitoral, como também para não comprometer irremediavelmente os consensos que terão de existir entre PS, PSD e CDS. A estabilidade e o consenso político em torno de um compromisso mínimo é essencial para a negociação com a UE/FMI no imediato, mas também no futuro face às exigências na aplicação desse mesmo programa.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Sexta-feira que é Santa

Hoje é Sexta-feira Santa, feriado religioso e dia pelo qual todos os católicos nutrem grande respeito.

Pois quis o destino que os habituais "Humores de Sexta" d' Opinador fossem feitos logo hoje pela Marquesa, católica convicta.

Assim sendo, sugeri aos meus Caros Colegas como tema: "A Religião no século XXI", ressalvando o facto de não aceitar contribuições pecaminosas.

Pois bem, conhecendo-os eu de gingeira, logo vi que o resultado final só poderia ser este...

(Deus lhes perdoe!)


Por M. Pompadour

Atendendo à complexidade que domina hoje o mundo, será que Jesus Cristo está preparado para atender a tanta exigência?




Por Carlos Jorge Mendes

Bem à frente do Pai Natal, Jesus Cristo é uma das lendas infantis mais extraordinárias que os papás e as mamãs desde cedo nos convenceram. Eis como isso funcionou com Ricky Gervais.





Por Letícia, a Marquesa

............................................................................... (Como acérrima católica, cumpro à risca todas as tradições eclesiásticas. Deste modo, abstenho-me de contribuir. Estou a jejuar!)



Por Lord Nelson

Falar de Semana Santa é falar do Catolicismo e dessa nobre instituição que foi a Inquisição (agora Congregação para a Doutrina da Fé, da qual Bento XVI já foi o prefeito). Ora há por ai muitas mentiras sobre a Inquisição... O Opinador esteve lá e viu:

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Crise Europeia - para quando o fim?

Para os líderes europeus que julgavam que os problemas de contágio da crise da dívida pública soberana se estancaram com o pedido de ajuda externa solicitado por Portugal – desenganem-se. Decerto – e ao contrário do que sucedera quando a Portugal quando a Irlanda fez o mesmo – o pedido de ajuda português não teve grande influência nos juros da dívida pública espanhola. É, no entanto, o receio de uma reestruturação da dívida pública grega que assombra os investidores e aí temos novo pânico nos mercados. E de pânico em pânico, a Europa continua adiando o mecanismo definitivo para a resolução desta crise: a criação de uma agência europeia de dívida. Parece cada vez mais claro que os 160% de dívida pública grega face ao PIB terão de ser reestruturados, apesar dos desmentidos das instituições europeias. Com efeito, a questão já não é «se» a dívida pública será reestruturada, mas «quando» será reestruturada.


Que consequências tem a reestruturação da dívida pública grega? A Sra. Lagarde, Ministra das Finanças de França, numa ingénua sinceridade afirmou publicamente que isso seria «catastrófico». E, de facto, o é. A reestruturação da dívida pública grega significa que a Grécia permanecerá fora dos mercados de financiamento por mais alguns anos; ou seja, novo pacote de ajuda por parte do Mecanismo de Estabilização será necessário. Isto, por si só, é já um problema. Problema maior será quando os mercados iniciarem a especular seriamente sobre quando sucederá o mesmo à Irlanda e a Portugal – e esse trabalho já começou a ser feito, embora de forma ténue.


No imediato, porém, se o pedido de ajuda de Portugal não teve um impacto significativo nos juros da dívida pública espanhola, a especulação em torno da reestruturação da dívida grega está a ter influência nos juros espanhóis, aumentando-os, intensificando os rumores de que Espanha será o senhor que se segue a recorrer ao auxílio internacional. Como se sabe, enquanto o problema permanecer restrito a Grécia, Irlanda e Portugal, os problemas para a Europa não são significativos já que estes três países têm uma importância marginal no PIB da União Europeia. O mesmo não pode ser dito em relação a Espanha: não só a Espanha contribui para 12% do PIB da UE, como um montante de ajuda a ser definido seria incomportável para os países europeus. O actual Mecanismo de Estabilização foi dotado de maior capacidade financeira é certo, mas não tem capacidade para resgatar a Espanha. Mais: a Itália, por exemplo, nem sequer poderia participar na ajuda sob pena de comprometer irreversivelmente as suas finanças públicas.


E aqui voltamos ao ponto de partida. Os líderes europeus, a começar pela Sra. Merkel e o Sr. Sarkozy, com o auxílio da Holanda e da Finlândia adiaram até hoje a resolução definitiva da crise com a recusa da criação das eurobonds. Essa solução parece cada vez mais inevitável à medida que se vai caminhando progressivamente para o abismo; e a certa altura, a Europa irá deparar-se, definitivamente, com uma escolha: a desintegração ou a criação de uma agência europeia de dívida. Por desintegração queremos dizer a saída do Euro de Grécia, Irlanda e Portugal e o consequente desmoronamento do processo de integração europeu – porque se a união monetária falha, falha também a união política, bem como todo o projecto de solidariedade europeia. Se a isto adicionarmos os mais recentes receios nos investidores mundiais provocados pela perspectiva negativa em torno do rating dos EUA pela S&P, poderemos caminhar rapidamente para um novo cenário de profunda crise mundial. Os mercados têm sido irracionais nas suas actuações, mas os líderes europeus não se têm encarregado de demonstrar que os seus receios não têm qualquer tipo de fundamento, optando por decisões frouxas, em lugar de resoluções firmes.
E tal não terá apenas consequências desastrosas para os países periféricos – embora, evidentemente, seja mais bem grave para estes. A Europa, no mundo global, é cada vez menos um actor decisivo. A emergência dos países asiáticos liderados pela China, de um Brasil cada vez mais pujante, obriga a que a Europa para poder manter a sua influência se organize. Actuando por si só no mundo global, a Alemanha está longe de ter o poder que tem quando considerado como a maior potência económica da Europa. Não são, portanto, apenas os países periféricos que têm a perder com o desmembramento do projecto europeu.

A curto prazo não nos parece que este cenário se vá alterar e os ataques especulativos contra o euro vão continuar. Em 2012, porém, creio que acontecerá um acontecimento muito importante para o futuro europeu: falamos das eleições presidenciais francesas. Recentemente, o Sr. Dominique Strauss-Kahn criticou a mole actuação das instituições europeias na resolução da crise de dívida pública. Ora, o Sr. Strauss-Kahn é um possível candidato às eleições presidenciais de 2012 pelo PS. Mais: as sondagens colocam-no em posição bastante favorável em relação ao actual Presidente, o Sr. Sarkozy. Pelo que a verificar-se este cenário, a Alemanha perderia um aliado importante na sua estratégia para a Europa e isso abriria portas a uma mudança de política por parte das instituições europeias.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Factos

Ultimamente, com o aproximar das legislativas o spinnig socrático tem andado ultra-excitado, disparando em todas as direcções. Como temos memória e não gostamos de calimeros que andam por aí a dizer que tudo isto se deve à rejeição do PECIV, contrapomos factos a todo o soundbite que por aí circula:

1) Na última década, Portugal teve o pior crescimento económico dos últimos 90 anos;


2) Temos a pior dívida pública (em % do PIB) dos últimos 160 anos. A dívida pública este ano vai rondar os 100%;


3) Esta dívida pública histórica não inclui as dívidas das empresas públicas (mais 25% do PIB nacional);


4) Esta dívida pública sem precedentes não inclui os 60 mil milhões de euros das PPPs (35% do PIB adicionais), que foram utilizadas pelos nosso governantes para fazer obra (auto-estradas, hospitais, etc.) enquanto se adiava o seu pagamento para os próximos governos e as gerações futuras. As escolas também foram construídas a crédito;


5) Temos a pior taxa de desemprego dos últimos 90 anos (desde que há registos). Em 2005, a taxa de desemprego era de 6,6%. Em 2011, a taxa de desemprego chegou aos 11,1% e continua a aumentar;


6) Temos 620 mil desempregados, dos quais mais de 300 mil estão desempregados há mais de 12 meses;


7) Temos a maior dívida externa dos últimos 120 anos;


8) A nossa dívida externa bruta é quase 8 vezes maior do que as nossas exportações;


9) Estamos no top 10 dos países mais endividados do mundo em praticamente todos os indicadores possíveis;


10) A nossa dívida externa bruta em 1995 era inferior a 40% do PIB. Hoje é de 230% do PIB;


11) A nossa dívida externa líquida em 1995 era de 10% do PIB. Hoje é de quase 110% do PIB;


12) As dívidas das famílias são cerca de 100% do PIB e 135% do rendimento disponível;


13) As dívidas das empresas são equivalente a 150% do PIB;


14) Cerca de 50% de todo endividamento nacional deve-se, directa ou indirectamente, ao nosso Estado;


15) Temos a segunda maior vaga de emigração dos últimos 160 anos;


16) Temos a segunda maior fuga de cérebros de toda a OCDE;


17) Temos a pior taxa de poupança dos últimos 50 anos;


18) Nos últimos 10 anos, tivemos défices da balança corrente que rondaram entre os 8% e os 10% do PIB;


19) Há 1,6 milhões de casos pendentes nos tribunais civis. Em 1995, havia 630 mil. Portugal é ainda um dos países que mais gasta com os tribunais por habitante na Europa;


20) Temos a terceira pior taxa de abandono escolar de toda a OCDE (só melhor do que o México e a Turquia);


21) Temos um Estado desproporcionado para o nosso país, um Estado cujo peso já ultrapassa os 50% do PIB;


22) As entidades e organismos públicos contam-se aos milhares. Há 349 Institutos Públicos, 87 Direcções Regionais, 68 Direcções-Gerais, 25 Estruturas de Missões, 100 Estruturas Atípicas, 10 Entidades Administrativas Independentes, 2 Forças de Segurança, 8 entidades e sub-entidades das Forças Armadas, 3 Entidades Empresariais regionais, 6 Gabinetes, 1 Gabinete do Primeiro Ministro, 16 Gabinetes de Ministros, 38 Gabinetes de Secretários de Estado, 15 Gabinetes dos Secretários Regionais, 2 Gabinetes do Presidente Regional, 2 Gabinetes da Vice-Presidência dos Governos Regionais, 18 Governos Civis, 2 Áreas Metropolitanas, 9 Inspecções Regionais, 16 Inspecções-Gerais, 31 Órgãos Consultivos, 350 Órgãos Independentes (tribunais e afins), 17 Secretarias-Gerais, 17 Serviços de Apoio, 2 Gabinetes dos Representantes da República nas regiões autónomas, e ainda 308 Câmaras Municipais, 4260 Juntas de Freguesias. Há ainda as Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional, e as Comunidades Inter-Municipais;


22) Nos últimos anos, nada foi feito para cortar neste Estado omnipresente e despesista, embora já se cortaram salários, já se subiram impostos, já se reduziram pensões e já se impuseram vários pacotes de austeridade aos portugueses. O Estado tem ficado imune à austeridade;


Fonte: aqui.


Da próxima vez que ouvir o Sr. Sócates a falar (ou um dos seus muchachos) lembre-se, pelo menos, de dois destes pontos... Só para não passarmos por lorpas.


Quem nos meteu nisto, disto não nos tira!

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Dos grandes argumentos (dito com sotaque espanhol)

Com tanta coisa má e desagradável que se passa no mundo (e estou a falar do regabofe das contas públicas portuguesas e da sovinice da Finlândia que agora não nos quer ajudar nem por estarmos na Páscoa, que é uma época de genuínos sentimentos de fraternidade, ou assim se espera) as verdadeiras boas notícias acabam por passar discretamente e sem graça na comunicação social. Desde já o meu reparo aos canais generalistas, que não andam a trazer ao povo os assuntos que realmente importam.

Pois bem, ao que parece em Madrid (capital do próximo país que, com sorte, até pode ser que se livre dos contabilistas do FMI) a controvérsia estalou na campanha à presidência da Câmara de Ciutadella. Já me tinha apercebido que, quando cheira a poder político, não há limites à imaginação para passar a mensagem do desejo de sentar o rabiosque no poleiro, mas não há necessidade de mostrar as carnes! Nós acreditamos na entrega!

Ora então, nesse Município de que se fala, a candidata (sim, a lady) Soledade Sánchez Mohammed decidiu-se a criar uma campanha exótica onde, em diversos cartazes, apareciam os seus seios nus apenas cobertos por duas poderosas mãos masculinas. Após a ideia fazer saltar a tampa a toda a gente e de Sánchez se ver obrigada a retirar os cartazes das ruas, explicou que aquela foi a forma que encontrou de incentivar os cidadãos, principalmente os mais jovens, a interessarem-se pela política alegando que, esses, não se interessam por políticas, mas sim por seios. Não sei…eu sou mulher e quanto a seios não me vou pronunciar, mas suspeito que a senhora esteja certa.

Posteriormente à denúncia da Esquerda Unida ao Instituto da Mulher das Ilhas Balneares (entenda-se, instituto que procura assegurar os direitos de igualdade de participação das mulheres na vida civil e, nomeadamente, política) a Sra. Mohammed defendeu-se sublinhando que as pessoas são livres de se expressarem como querem e que ela utiliza o corpo e os seios como bem lhe apetece. Não poderia estar mais de acordo consigo minha cara! Que é isso de agora não nos deixarem usar os peitinhos para passar ideias políticas? Cambada de retrógrados… Mas, já agora, ouvi dizer que há sítios mais indicados para as senhoras que só conseguem passar mensagens com o corpo serem bem sucedidas.

Por curiosidade gostava só de saber quantos destes senhores que levantaram voz contra a ousada candidata, não se deleitaram e fantasiaram, mesmo que por instantes momentos, com as imagens da campanha.



domingo, 17 de abril de 2011

Notas breves sobre dinheiro

1) Alguns países da União Europeia colocaram-se do outro lado da barricada agora que consta que o FMI injectaria cerca de 80 mil milhões de euros em Portugal, impugnando tal empréstimo por ser impensável e incomensurável.

2) O grupo alemão Europolis instaurou mesmo uma providência cautelar de modo a que fossem suspensas as negociações atinentes a tal empréstimo, sobretudo no que tange à eventual ajuda alemã, alegando que a única solução para Portugal é o abandono da moeda única.

É caso para dizer: obrigada, amiguinhos, quando eu mais preciso de vocês, é quando vocês me voltam costas!

3) Os combustíveis conhecem por estes dias máximos históricos, apesar do barril do crude estar já há duas semanas em queda vertiginosa. E se rapidamente, há uns tempos atrás, remediámos o assunto, voltando a abraçar os transportes públicos, agora que tais transportes vão conhecer novas subidas de preços, mais vale voltarmos é a abraçarmos os pedais da bicicleta ou os nossos lindos pés.

4) A minha mãe diz que as moedas que habitualmente lhe povoam os pequenos bolsos já não lhe chegam para ir comprar pão. É que se há cerca de 5 anos atrás, um pão custava cerca de uns actuais 2 cêntimos, agora um pão já custa, no mínimo, 11 cêntimos, pasme-se!

5) Apesar das atractivas taxas de juro que por aí pululam em algumas instituições bancárias para depósitos a prazo (que só poderão ser levantados quando já estivermos com cento e cem anos), os portugueses começam proceder à retirada das suas parcas poupanças e a investi-las em ouro ou em adubo, numa qualquer caixa introduzida sub-repticiamente num buraco do seu jardim.

6) A (des) Ordem dos Advogados resolveu anunciar aos seus estagiários, em pleno curso de estágio, que afinal enganaram-se a fazer contas (pelo menos, não é só o Governo demissionário que comete grandiosos lapsos!) e os € 150 que cada advogado-estagiário pagou para assegurar o seu estágio (sim, porque os advogados-estagiários não são remunerados e ainda têm de pagar pela sua formação!) não são suficientes para fazer face às despesas da OA. Assim sendo, cada advogado-estagiário ainda terá de pagar mais € 1400! Coisa pouca, vá!

7) Quem foi o célebre criador da frase: “O dinheiro não traz a felicidade”? A atender à veracidade da premissa, o célebre criador ainda devia ter decerto um grau de parentesco qualquer com o nosso Primeiro!


A vida está má, está! Até para os marqueses!


Tenham um bom domingo ou, pelo menos, tentem!

sábado, 16 de abril de 2011

Do Sr. Marinho e Pinto

Segundo noticia o Público, o Sr. Marinho e Pinto, bastonário da Ordem dos Advogados, recomenda a todos os portugueses como forma de retribuição terrena para com a mediocridade, o oportunismo e incompetência dos políticos portugueses, que os cidadãos, nas eleições legislativas a realizar no dia 5 de Junho, façam uma espécie de «greve à democracia», ao não votar.

Estranho não deixa de ser a finalidade desta greve. Segundo o Sr. Marinho e Pinto, ela destinar-se-ia a uma «refundação da República, sem velhos recursos a estereótipos revolucionários». Vejamos se compreendemos bem: V. Ex.ª pretende pegar naquele que é o estandarte da democracia – o voto, decretar-lhe greve e ao mesmo tempo refundar a República? Compreenderemos bem? V. Ex.ª pretende refundar a República e a Democracia, abolindo aquilo que a distingue dos regimes tiranos e autoritários? Ou melhor: V. Ex.ª, recusando as revoluções sanguinárias, sugere aos portugueses que façam greve ao meio pelo qual se estabelecem as mudanças em democracia, a forma pela qual o povo expressa de forma soberana a sua vontade, mas tudo isso como forma de refundar a República. Ora, se V. Ex.ª decreta a greve ao voto, o instrumento pelo qual se efectuam e concretizam as mudanças em democracia como quer V. Ex.ª que se faça a refundação? V. Ex.ª exclui a via democrática e ao mesmo tempo exclui a via revolucionária. Assim sendo, como se operará o processo que V. Ex.ª deseja? Compreendemos o seu silêncio, Sr. Dr. De maneira nenhuma, não é verdade? V. Ex.ª limitou-se a produzir uma declaraçãozinha oca e sem sentido, não é verdade?


De facto, com maior insistência vimos aflorando à costa portuguesa meia dúzia de tribunos popularuchos e demagogos que não são apenas exclusivos à restante Europa. Vimos a Sra. Le Pen na França ou o Sr. Wilders na Holanda, por exemplo. Em Portugal, não sendo um representante da extrema-direita, temos, no entanto, igualmente, um fala-barato na figura do Sr. Marinho e Pinto. Estas figuras, pelo lugar de destaque que ocupam na sociedade portuguesa, regularmente são forçadas a emitir opiniões sobre o Estado actual da sociedade portuguesa. O problema destas figuras é que têm, de facto, bastantes opiniões; ideias, no entanto, têm poucas. E é assim que aparecem produzindo estas declarações que são tristemente reproduzidas com destaque pela nossa imprensa na ânsia do rumor.



O Sr. Marinho e Pinto é Bastonário da Ordem dos Advogados. A Lei para o advogado é, usualmente, um instrumento importante, bem como para o Estado de Direito: é através dela que se assegura o respeito do Estado pela liberdade e os direitos dos indivíduos, impedindo o Estado de cometer arbítrios e caprichos para com os cidadãos. O voto, em democracia, é a figura pela qual os cidadãos expressam livremente o modo como desejam ver conduzidos os destinos do País, o modo pelo qual escolhem os representantes que serão a sua voz nas instituições políticas. O que acharia o Sr. Marinho e Pinto se o Estado decidisse fazer uma greve à Lei? Não era bonito, pois não, Sr. Doutor? O Sr. Marinho e Pinto, no entanto, um homem das leis, encabeçando a Ordem dos Advogados e, portanto, um dos pilares do Estado de Direito, considera o voto uma coisa desprezível e o instrumento ideal para que a Europa se aperceba da idiotice da nossa classe política. Seria através da greve às eleições – no entender do Sr. Marinho e Pinto - que a Europa olharia para a sem vergonhice de políticos que temos. Como se neste momento Portugal necessitasse de atrair ainda mais a atenção do resto da Europa com um conjunto de acontecimento surreais como um boicote às eleições em vez do regular funcionamento das instituições democráticas. E aqui remetemos V. Ex.ª para o Estatuto da Ordem dos Advogados que V. Ex.ª parece desconhecer. V. Ex.ª de acordo com o art. 5.º, n.º 1 do Estatuto é um representante da Ordem, certo? Certo. V. Ex.ª concede e isso nós registamos com apreço. Agora siga o nosso raciocínio: art. 3.º, alínea a), Excelência: lá consta que uma das atribuições da Ordem é defender o Estado de Direito! Oh, Excelência! Pois então o Dr. como representante da ordem anda por aí a apregoar que se faça greve a um dos pilares do Estado de Direito quando V. Ex.ª está estatutariamente vinculado a defendê-lo? Oh, Excelência! Não lhe fica bem, Doutor! V. Ex.ª a desancar na praça pública no Estado de Direito, aos pontapés!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O FMI não entrava aqui

Para quem dizia que não ia haver FMI para ninguém, que o nosso país era menino para se safar sem ajudas externas e negou, estrebuchou, bateu o pé e fez birra parece que, agora, em vez de "O FMI não entra aqui" tem de cantar "Oh pf FMI, senta aqui" (e faz as contas por
nós que toda a gente sabe que Portugal é país de poetas, não de contabilistas).
Pois enquanto eles andam à nora com as contas públicas, nós brincamos com o assunto, porque não há nada com maior audácia e arrojo do que gozar com a própria desgraça, assim nos livramos do peso da realidade.


Carlos Jorge Mendes




M. Pompadour

Da minha parte apenas quero deixar patente a seguinte ideia: não vale a pena fugir da desgraça quando ela começa a entrar-nos pelo nariz e a não deixar o povo respirar devidamente.




Lord Nelson

E então, chegou o FMI, não foi? Lá se foi a nossa reputação e a pensão da Dona Alzira! Mas sempre vamos ter a nossa agenda liberal cumprida... Do mal o menos!


E, porque quem nos meteu nesta, desta não nos tira... Votem, não votem, votem em branco no PSD, no PCTP-MRPP, no Pato Donald, mas neste PS é que não...e não sou o único a dizer.




Leticia, a Marquesa

O Sócrates é tão mau menino, tão mau menino, tão mau menino que até nem comeu a sopa toda...


...Por isso é que o nosso triste FIM é a vinda do FMI!


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Nobre à (Outra) Presidência

Correndo o risco de ser arrolhado, até porque faltam menos de 60 dias para um acto eleitoral, tenho de me pronunciar sobre este tema. Não há machado (ou estatuto) que corte a raiz ao pensamento e, como sou, antes de tudo o resto um democrata, tenho uma necessidade intrínseca em exercer a minha liberdade de expressão.

Como já deve ser do conhecimento geral, Fernando Nobre é cabeça de lista do PSD por Lisboa e putativo presidente da Assembleia da República. Soubemos desta notícia no Alfa, por SMS e, muito honestamente, na primeira leitura, não percebi de quem se tratava, não por andar alheado da política nacional, mas por tão estapafúrdia circunstância. Analisemos pois a evolução do candidato:


“Sou contra o sufoco partidário na vida pública. Não acredito num saco de gatos onde todos cabem”, 19/02/2010;


“Desde já vos garanto: não aceitarei nenhum cargo ou mandato político-partidário e não fundarei nenhum partido político” 31/12/2010


“Partidos políticos? Nem pensar, nunca. Não peço nada, nunca pedi. Eu não aceitarei nenhum cargo partidário nem governativo” 01/03/2011


E podíamos continuar com as citações, que qualquer um pode googlar, mas não queremos maçar o leitor. Melhor do que esta revolução coperniciana de Nobre na sua vida política é o motivo que causou tal mudança: sua excelência, o senhor doutor, quer reformar o regime!


Eu não sou médico e, como tal, quando me dói alguma coisa, em vez de me por a inventar, pergunto a quem saiba. Seria bom ver que o dr. Nobre também o fizesse… E como jurista lhe digo, desde já: caso seja eleito presidente da AR muito pouco (um tão pouco que é um quase nada) poderá fazer para reformar o regime, motivo que o move. Mas diz o ilustre candidato “[estou] a preparar um programa que submeterei aos futuros líderes parlamentares para gerar mais consensos, para reforçar o regime e a Democracia”. Mas que programa é este? Acaso desconhece V. Exa. que as funções que almeja não servem para isso? A AR é a casa dos partidos… Não é a casa dos independentes – e é assim, não só porque esse foi o seu sentido originário, mas porque está plasmado na lei (os independentes só se podem candidatar pelas listas de um partido concorrente). O PSD teve uma atitude compreensível (a de querer captar votos) e até certo ponto (até, refira-se) positiva pois lançou a atenção da forma como se processam as eleições legislativas em Portugal, contribuindo para a nossa cultura cívica. Já a atitude de Nobre teve pouca nobreza… Deu o dito por não dito, mostrou que não sabe ao que vai, e ainda (soube-se hoje) se não for para presidente, não quer ir para deputado o que é uma posição muito triste para quem lidera a lista pelo maior círculo eleitoral.


Termino com uma questão: por Nobre ser candidato vão vir charters de independentes para o PSD?

terça-feira, 12 de abril de 2011

Fernando Nobre é o cabeça de lista do PSD por Lisboa

Estrondosamente, no domingo, o Sr. Pedro Passos Coelho revelou o cabeça de lista do PSD pelo círculo de Lisboa – o Sr. Fernando Nobre. Mas não só – para além de cabeça de lista do PSD por Lisboa, o Sr. Nobre será também o candidato do PSD à Presidência da Assembleia da República, o segundo lugar mais importante do Estado. Que dizer disto? Antes de mais, recomendamos ao leitor que ouça.



Diz, pois, o Sr. Fernando Nobre – “As ideias que defende o Bloco de Esquerda são as ideias que eu tenho defendido nos meus livros, nos meus editoriais, blá, blá, blá…”. Isto disse o Sr. Fernando Nobre há dois anos atrás quando aceitou ser mandatário nacional do Bloco para as Eleições Europeias de 2009. Quando simpatizamos com um determinado grupo que perfilha um determinado conjunto de valores, de regras, de princípios, de ideias é porque, de alguma forma, vemos o nosso próprio conjunto de valores íntimos retratado nesse grupo. Foi isso que o Sr. Nobre expressou orgulhosamente em 2009 quando afirmou partilhar das ideias do Bloco. Dois anos volvidos, V. Ex.ª comunica que afinal adere às ideias do PSD. Daqui a dois anos sabe Deus onde estará V. Ex.ª…Entretanto o Sr. Pedro Passos Coelho mostrou-se muito honrado por o Sr. Fernando Nobre ter aceitado o convite do PSD para encabeçar as listas do partido por Lisboa – isto depois da Sra. Manuela Ferreira Leite o ter recusado, tal como o Sr. Marques Mendes, e ainda o Sr. António Capucho. O quadro de valores do Bloco e do PSD é radicalmente distinto; são dois modos totalmente inconciliáveis de funcionamento do Estado. Como explicar então a mudança do Sr. Nobre? Não existe aqui uma mudança marginal no quadro de valores do Sr. Fernando Nobre. Compreendemos a tendência social-democrata de iniciar a sua carreira política pela esquerda, antes de, um dia, batendo com a mão na testa, se lembrar que afinal são mesmo do PSD. Mas isso sucedeu a um Durão Barroso ainda mancebo, ainda revolucionário, na sua casta ingenuidade se deixava iludir pelas palavras do Sr. Garcia Pereira. O Sr. Fernando Nobre deixou-se enganar aos 59 anos…Os cabelos grisalhos revestindo as têmporas são, geralmente, associadas à prudência, à rectidão; no caso do Sr. Fernando Nobre são associadas à polaridade. Assim, no seu ziguezaguear de valores, à segunda, à quarta e à sexta, o Sr. Nobre é um defensor de uma economia estatizada; nos restantes dias, o Sr. Nobre é defensor de uma economia amplamente liberal, ao estilo do século XIX, do «laissez faire, laissez passer». E mais grave é este Sr. que não conhece o seu próprio quadro de valores, os seus princípios íntimos, as suas referências, os seus ideais – é que este Senhor poderá ser a segunda figura do Estado português. Falamos de um Sr. que se candidatou à Presidência da República sendo monárquico…Não está em causa o Sr. Fernando Nobre não ter um passado ligado à vida política activa, sendo, portanto, uma virgem impoluta que ainda conserva a sua tunicazinha branca. Está em causa que, neste momento, o Sr. Fernando Nobre constrói um presente ligado à vida política quando não manifesta nenhuma aptidão para o efeito. É, por isso, que depois V. Ex.ª produz declarações deste tipo:



Não lhe deram um tiro na cabeça, nem V. Ex.ª foi para Belém…V. Ex.ª vai, no entanto, para a Assembleia da República depois de uma campanha em que desancou em todos os partidos, afirmando-se ser absolutamente livre e independente para apenas cair nos braços do Sr. Passos Coelho e deixar de ser a virgem impoluta que era. E o que dizer ainda do PSD? Que dizer de um partido que tem marcadamente vincado o seu conjunto de valores e que se associa ao Sr. Fernando Nobre, fazendo dele um estandarte eleitoral? Que dizer quando o partido mais liberal da história da democracia portuguesa se associa ao Mandatário Nacional do Bloco para as Eleições Europeias? Despreza-se todo o conjunto de princípios pelos quais o PSD se submete à escolha dos portugueses pela gula do voto? Pela gula de uns 14% de votos nas presidenciais? Os votos estão para o PSD acima dos seus próprios valores? Curioso…Faz-me lembrar uma certa crise política que foi provocada à custa de um certo interesse nacional…

domingo, 10 de abril de 2011

Confissões

Só vejo televisão duas breves vezes por dia. Uma, enquanto almoço, no restaurante mesmo ao lado do escritório, entre dois dedos de conversa e um prego no prato. Outra, quando chego a casa, já quando a tarde acabou e a noite está a começar. Mas, nos curtos intervalos de tempo em que olho para ela, só vejo e ouço falar na crise, no FMI que virá/vem/claro que vem para Portugal, em ratings, taxas de juro que disparam até ao infinito, na mãezinha má chamada Merkel que puxa bem as orelhas a Portugal, no que aconteceu/está a acontecer à Irlanda e à Grécia (medo!), de que vamos ser declarados insolventes, vamos todos para a bancarrota, vai ser o descalabro ou, se preferirem, o fim do Mundo.

Posto isto, nos ínfimos intervalos em que me permito a respirar, saio à rua e parece-me que o Homem continua a (sobre) viver. As esplanadas estão cheias e este Verão antecipado convida a sentar e a apreciar a paisagem entre um cafézinho de 60 cêntimos e um sorriso que lançamos quando vemos uma criança adorável que passeia com os seus pais, junto à praia. Temos praia, sol, montanhas, paisagens lindas e muito ar puro para respirar. A senhora da mercearia queixa-se da crise, mas até parece que esta lhe trouxe mais clientes, porque os supermercados dos cartões e das músicas venha cá não vendem fiado.

Não compramos tanto, compramos menos música, livros, comida e aquelas sandálias lindas vão ter de continuar na montra e não no meu armário. Fazemos contas até aos cêntimos para que, chegados ao fim do mês, ainda possa sobrar uns euritos para pôr no mealheiro. Arrendamos casa em vez de a comprarmos, andamos mais tempo com o mesmo carro e as férias já não são passadas em Santo Domingo ou em Varadero. O gasóleo sobe a olhos vistos e temos de andar mais a pé e de autocarro. Pelo menos, combatemos a celulite de graça e já não precisamos de nos enfiar nos caros ginásios. Mas olho para a minha cidade-aldeia, como carinhosamente lhe chamo, e vejo filas intermináveis de automóveis, todos os fins-de-semana, rumo à beira-mar para assolhar as roupas e as cabeças.

Tenho muitos conhecidos que continuarão a viver à custa dos paizinhos durante anos incontáveis, porque, de canudo na mão, não encontram (ou não querem?) emprego, estão à rasca. Levantam-se para almoçar e têm como companhia o resto do dia a televisão. Não abrem um jornal para ver os classificados e só procuram emprego na sua área, porque lavar escadas ou ir para uma caixa não é para eles, pessoas que se julgam no pedestal, mas que não são santos. E depois é vê-los ao fim-de-semana nos bares da moda, em todos os concertos e festivais e nas Stradivarius e Zaras que por aí abundam a comprar o vestidinho que disfarça a gordura acumulada de tantos dias no sofá.

Estamos mais pobres, trabalhamos mais, dormimos menos, ganhamos mal, mas temos o nosso fim-de-semana para fazermos caminhadas, temos as conversas com os amigos a propósito de tudo e de nada, temos o cheiro daquele que adormece a nosso lado e que nos faz sorrir, temos os bons resultados nos empregos, temos o bolo de chocolate da nossa mãe, temos aquela música preferida que nos faz dançar até à exaustão. Temos cada vez mais filmes e séries para ver, temos passeios para dar, temos jornais online gratuitos para ler, temos a Internet que nos mostra o Mundo e que nos tira as dúvidas.

Trabalhamos sempre a olhar para o relógio, chateamo-nos com as horas extras que temos de fazer e temos a acéfala de unhas sempre impecavelmente pintadas e voz esganiçada a querer lixar-nos a vida. Trememos de cada vez que pensamos que os amanhãs são incertos e que podemos ficar sem meios para sustentar os nossos investimentos. Pensamos duas, três, quatro vezes antes de nos atirarmos de cabeça e gastar dinheiro em alguma coisa. Mas depois continuamos a sorrir com o namorado que nos mata de elogios, com a irmã que traz o novo namorado a jantar a casa, com o novo caso da vizinha do lado.

E depois páro e penso: que cacofonia é esta, que histerismo é este que a televisão me traz? O futuro é uma incógnita? Vamos passar ainda por mais dificuldades? Temos menos dinheiro e mais medos? Os políticos amedrontam-nos com os seus terríveis prognósticos? Sim, sim, sim!

Todo o Mundo anuncia que Portugal vai eclipsar-se, mas ninguém nos tira as praias, o sol, os pratos do dia, o cheiro a pão e a café logo pela manhã, as esplanadas e os olhos daquele que amamos que olham os nossos.

Não é vulgaridade, é a realidade!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 9 de abril de 2011

Mas afinal...De quem é a culpa?

Quarta-feira, 6 de Abril, a resistência portuguesa quebrou: o Primeiro-Ministro, o Sr. José Sócrates, anunciou o recurso português ao FEEF.

Sabemos hoje, naturalmente, que o pedido de ajuda externa implicará sacrifícios bem mais duros do que aqueles contemplados no PEC para 2012; sabemos, da mesma forma, que a descida das reformas superiores a 1500€ será o ponto de partida do novo programa de ajuda a Portugal. Mas isto não é nada de surpreendente; tudo isto era previsível no momento em que a oposição se juntou para chumbar o PEC. Entendemos o PCP e o BE. Ou melhor, há muito que desistimos de o fazer – não são partidos vocacionados para o poder. O PCP já o demonstrou ao longo da história da democracia partidária portuguesa; o BE, desde a sua fundação, também. Agora o que leva o CDS e, sobretudo, o PSD a fazê-lo?

O PSD acusa o Governo de ser o principal responsável pela situação em que o País se encontra; que este Governo lidera os destinos do País há 6 anos. Mas retrocedamos no tempo. Maio de 2010: altura do primeiro PEC. Responsavelmente, consciente da situação do País, o PSD apoia o Governo na tomada de medidas de consolidação das finanças públicas; e o mesmo viria a suceder com as medidas adicionais que viriam a revelar-se necessárias no segundo e terceiro PEC face ao descontrolo orçamental que se verificava. Dezembro de 2010: negociação do Orçamento. O PSD ciente da má execução orçamental, acusando mesmo o Governo desse facto, aceita negociar o Orçamento para 2011; e fá-lo impondo, não negociando – porque nada propôs. E tanto assim foi que das negociações resultou um rombo no Orçamento para que o acordo fosse firmado; rombo esse que nunca foi preenchido, ficando a meta orçamental de 4,6% de défice público para 2011 em risco. Teria o PSD razões para convocar uma crise política nesta altura? Certamente teria: a execução orçamental foi um verdadeiro descontrolo apenas encoberto pela inclusão do fundo de pensões da PT. Mas ainda assim o PSD não provocou uma crise política – e bem, diga-se.

O que sucedeu desde então? Que motivos levaram o PSD, neste momento, a responsabilizar o Governo? Que motivos tem o PSD em 2011 que não tinha em 2010? Em 2011 a execução orçamental vem sendo escrupulosamente cumprida; os líderes europeus acordaram novas medidas destinadas a acalmar os mercados sobre a crise do euro, aumentado o montante do Fundo de Estabilização e flexibilizando-o parcialmente; a Comissão Europeia e o BCE encorajaram as reformas prosseguidas por Portugal. Tendo em conta, pois, a conjuntura que motivos pode o PSD invocar em 2011 que não tivesse já não disponíveis em 2010? Mais: que motivos são esses que levaram o PSD a não votar favoravelmente a moção de censura apresentada pelo Bloco um par de semanas antes de chumbar o PEC? Ora, a resposta é – absolutamente nenhuns, exceptuando o puro interesse partidário. Em 2010 o PSD elegera um novo líder; necessitava de tempo para poder recuperar a confiança dos portugueses para que isso se reflectisse positivamente nas sondagens; não pretendia responsabilidades governativas pois pretendia que o PS arcasse com as responsabilidades governativas e da imposição de sacrifícios, ao mesmo tempo que se desgastava nas sondagens. Em 2011, com as sondagens a favorecerem a criação de uma crise política, o PSD não perdeu tempo em trair o seu País. E traiu-o na pior altura de todas.

É o PEC o motivo para a queda do Governo? Como pode o PSD invocar como motivo para a criação de uma crise política a descida das reformas superiores a 1500€? Não se trata, como se o seu líder tem vindo publicamente dizer, de reformas baixas; não se trata de uma medida socialmente injusta; aumentar o IVA como o seu líder diz pretender – isso sim seria socialmente mais gravoso e mais injusto: o IVA é um imposto regressivo: não distingue entre rendimentos; além do mais, esquece-se o Sr. Pedro Passos Coelho do efeito nefasto que o aumento do IVA teria no aumento do preço dos bens. É isso que V. Ex.ª defende como socialmente justo? Mas não só: o PSD provocou conscientemente uma crise política, recusando o PEC para 2012, um PEC socialmente justo, obrigando o seu País a recorrer à ajuda externa com todas as consequências que daí decorrem: a Sra. Merkel já veio dizer que o programa de Portugal implicará, desde logo, aquilo que foi rejeitado pelo Parlamento português; o Ministro das Finanças da Finlândia, o Sr. Jyrki Katainen, veio também dizer que o Programa de ajustamento terá de ser “ainda mais duro e mais abrangente” do que o PEC 4. Imaginemos que o Sr. Passos Coelho vence as eleições: como irá V. Ex.ª comunicar aos portugueses a descida das reformas que V. Ex.ª agora nega que irá fazer? Sim, V. Ex.ª - porque elas terão de ser descidas; porque Bruxelas assim o deseja e Bruxelas está-se marimbando para o que V. Ex.ª disse. É, pois, V. Ex.ª assim tão nobremente distinta do Engenheiro Sócrates como V. Ex.ª tão pomposamente se gaba?

O recurso ao FEEF seria inevitável? Talvez…mas a verdade é que graças ao PSD nunca o saberemos. E diremos até que seria legítimo ao PSD provocar eleições antecipadas se o recurso ao FEEF se concretizasse; mas esse recurso teria de ser responsabilidade exclusiva do Governo. O que o PSD fez foi empurrar Portugal para esse pedido de ajuda externo, sacrificando o interesse nacional pelo interesse partidário. Veja o leitor o que se passou na Irlanda: o Governo do Sr. Cowen pediu ajuda externa; o programa de ajuda foi negociado; o Sr. Cowen demitiu-se; foram convocadas eleições antecipadas das quais a oposição, liderada pelo Sr. Kenny saiu vencedora. Eis como se procede correctamente. Inversamente, o PSD decidiu precipitar o país para a ajuda externa para satisfazer o seu interesse pessoal: empurrando o país para a ajuda externa de forma a convocar as eleições antecipadas e não o contrário.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Humores à 6a - José Sócrates

No dia em que começa o XVII Congresso Nacional do PS em que Sócrates vai ser escolhido, n' Opinador também o escolhemos para nos animar.




Por Carlos Jorge Mendes:

Tudo o que desejamos para que Portugal consiga obter um pacote de ajuda razoável junto da União Europeia e do FMI é que as negociações não sejam conduzidas pelo Primeiro-Ministro e pelo Primeiro-Ministro, expressando-se e negociando em inglês.



Por Letícia, a Marquesa:

"Depois de tantas mentiras e falsidades, confesso, Caríssimos, que ainda tenho dúvidas acerca do pedido de ajuda externa. Será que foi mesmo feito? É que tudo o que sai da boca do nosso ex-Primeiro é sempre dúbio. É que se não o fosse, então também teríamos actualmente mais 150 mil empregos, um défice menor, as taxas de impostos ter-se-iam mantido, um Primeiro-Ministro Engenheiro... Será que Sócrates foi concebido a 1 de Abril?"



Por Madame Pompadour:

Porque se ele é mentiroso, dissimulado, irrealista entre outras coisas susceptíveis de ferir as sensibilidades mais frágeis, se há coisa que ele não é, é abandalhado e descuidado. Safado sim, mas parecer feio não!



E, por Lord Nelson:

Sócrates, Sócrates, Sócrates... És boa pessoa porque tens bons amigos: quiseste fazer casitas, eles contrataram; quiseste ser engenheiro, eles arpovaram-te; quiseste uns trocos, eles arranjaram-te; quiseste ser ministro, eles nomearam-te; quiseste ser primeiro-ministro, eles escolheram-te, quiseste aldrabar, eles acreditaram... Quando é que te vais querer ir embora? Mas de vez?



Deixamos só este para lembrar o eleitor... Já que o tipo parece que não se vai lembrar e (mais uma vez) vai dar o dito por não dito.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

βοήθεια! (Ajuda)




"Não estou disponível para governar se o FMI vier a entrar em Portugal".
José Sócrates, 19 de Março de 2011




Apesar de ontem o primeiro-ministro ter começado a manhã a aldrabar os seus concidadãos, dizendo que não ia pedir ajuda, acabou o dia, pedindo. Tocas e baldrocas a que já estamos habituados.


Começa agora uma nova etapa (e de importante trabalho) em que vão ser definidos os termos da intervenção externa. Desta vez, e ao contrário do que sucedeu na Irlanda e na Grécia, as negociações serão mais difíceis pois é necessário incluir na equação a oposição. No entanto, o principal partido da oposição está com uma postura colaborante, pelo que, não deve haver grande entrave.


Aqui chegados importará pensar porque motivo a ajuda não foi pedida o ano passado ou no primeiro trimestre deste ano: o PS queria bem usar a retórica do "nós" (PS) contra "eles" (PSD+CDS+FMI/FEEF):


"Este é o momento dos portugueses escolherem se querem um Governo com o FMI ou sem o FMI"

José Sócrates, 27 de Março de 2011

E foi por este motivo (ou então por pura incompetência) que o Sr. Sócrates endividou o nosso país, com juros inéditos na nossa História, a rondar os 11% (Lembram-se dos 7% do Teixeira?). É fundamental penalizar (até pela saúde da nossa democracia) este indivíduo nas próximas eleições: por ter posto o seu interesse pessoal à frente do nacional, por ter persistido na sua teimosia até ao ponto de um leilão de dívida pública não ter procura suficiente, mas por cima de tudo, por ser um político sabujo que, dias após ter dito que não sabe governar com a ajuda do FMI (ou FEEF que é a mesma coisa, acrescentamos nós), pede-a e mantém-se como putativo candidato. Uma vergonha!

O consulado de Sócrates vai decerto ficar na História como um dos piores momentos da Nação: daqui a 20 anos, quando olharem para estes tempos, verão um país que perdeu uma década, que nada deixou de construtivo, sem ética, sem participação cívica, com um governo irresponsável e irresposabilizado.


Permitimo-nos levantar a duvida acerca da legitimidade que um Governo de gestão tem para pedir esta ajuda. O politicamente correcto não gosta desta questão. Mas, se há Direito, é para ser cumprido como tal, até por argumentos de segurança e certeza. Ignorar esta questão é abandonar o princípio do Estado de Direito. Se a Constituição está mal feita, com buracos e pejada de ideologias bacocas, há que mudar. Não defender o que está perdido.


Antes de terminar, chamamos a atenção para esta coisa caricata: o país olha para Cavaco! Vamos pois a um exercício histórico:


Em 1980, o governo da AD tinha por ministro das finanças Cavaco Silva. Este foi responsável por medidas como a valorização do escudo (dificultando as exportações), subida dos gastos orçamentais e subida das importações: o défice das transacções correntes subiu 5% (do PIB) em 1980 para 11,5% em 1981 e 13,2% em 1982. A dívida externa disparou de 467 para 1199 milhões de contos. A somar a tudo isto, o Prof. Cavaco Silva foi também responsável por um clima de crispação contra a liderança de Francisco Balsemão o que levou ao fim da AD e, nas eleições de Abril de 1983, à vitória do PS.


Depois de medidas gravosas tomadas por aquele partido e da eleição de Cavaco como presidente do PSD na Figueira da Foz, rompeu-se o Bloco Central, foi a eleições (1985) e ganhou, beneficiando da estabilização feita por outros. Depois, a maioria cavaquista, foi o que se sabe: o engordar da função pública, a política do betão e a rejeição da meritocracia no Estado (já para não falar dos Dias Loureiros e Oliveiras e Costas).


É pois este o mais alto magistrado da Nação para quem olha o país. Nós, já não vamos em cantigas e pouco ou nada esperamos de Monseiur le President.


O consulado de Sócrates não foi mau. Foi péssimo, tanto quanto que questão que se coloca é: sobreviverá Portugal a Sócrates? Sim claro, mas a que preço?



quarta-feira, 6 de abril de 2011

O Recurso ao FEEF

Noticia hoje o Financial Times que Portugal está já a negociar com a União Europeia um pacote de ajuda. O Jornal de Negócios reproduz declarações do Ministro das Finanças, afirmando que Portugal tem de pedir ajuda já. Isto não constitui novidade nenhuma. O momento da rejeição do PEC para 2012 na AR foi o momento em que Portugal recorreu ao FEEF. Portugal juntou à já sua debilitada situação económico-financeira, uma crise política que colocou em causa o já frágil compromisso político que assegurava as necessidades de financiamento. Os mercados, sobressaltados, deram um pulo da cadeira, levaram as mãos à cabeça e os juros da dívida dispararam, e dispararam precisamente no par de meses onde Portugal enfrenta maiores desafios de vencimento de dívidas – 10 mil milhões de euros em dois meses.

Nesta altura, o pedido de ajuda tornou-se inevitável; e tornando-se inevitável, o pior que Portugal pode fazer é adiá-lo, continuando a fomentar a instabilidade dos mercados que, a cada dia que passa, castigam os juros da dívida pública portuguesa. Não há reforma europeia no horizonte ou uma brilhante execução orçamental que nos valha. A situação é bem diferente da situação de há uns meses atrás: por essa altura ainda se discutiam os contornos da resposta europeia à crise, falava-se de eurobonds, as taxas de juro a que Portugal se financiava eram elevadas, mas suportáveis no curto prazo, com o fim de recorrer ao pedido de ajuda externa. Nada disso existe agora.

O Sr. Fernando Ulrich tem uma opinião ligeiramente diferente. Este senhor que durante meses defendeu que Portugal devia, a todo o custo, evitar o pedido de ajuda externo, vem agora afinal dizer que Portugal já devia ter pedido ajuda há muito. Não estranhamos – como o fez o Sr. Ricardo Salgado – que os banqueiros digam que Portugal tem de pedir ajuda agora. Estranhamos sim que o Sr. Fernando Ulrich diga uma coisa há uns meses atrás, dizendo outra agora, retroagindo essa afirmação a esse tempo. O que justifica esta posição? Esmiucemos… Os bancos, claro, receando os stress tests que se aproximam não querem afectar os seus resultados que podem ficar seriamente comprometidos se expostos em demasia à dívida pública de um País como Portugal; por outro lado, a notação da dívida da República Portuguesa vem rolando por aqui abaixo, aproximando-se agora da classificação de «Junk». E isto não é um dado da menor importância. A partir desta classificação, a banca não poderá apresentar os títulos da dívida pública portuguesa como colateral no BCE, sem que primeiro Portugal recorra ao FEEF. A partir desta altura, do ponto de vista dos bancos, obter liquidez junto do BCE a 1% e depois financiar o Estado português a 6 ou 7% já é definitivamente mais arriscado. Compreendemos, portanto, a perspectiva da banca que não pode, eternamente, sustentar a gula do Estado português; agora, não podemos concordar com o tom quase angelical e patriótico dos banqueiros que durante um ano andaram a reboque do Estado português, financiando-se a 1%, e emprestando a 6%, vindo agora quase dizer que o financiamento do Estado Português vinha sendo feito por razões patrióticas. A banca não financia mais o Estado português porque isso tornou-se-lhe arriscado, não por patriotismo. E não podemos concordar sobretudo com estas declarações do Sr. Fernando Ulrich que durante um ano financiou de uma forma muito lucrativa para a sua instituição o Estado português, afirmando, então, que Portugal devia resistir até ao último português a um pedido de resgate, e agora, convenientemente, olhando para a conjuntura, vem descaradamente dizer que Portugal já devia ter pedido ajuda há muito.


Entretanto, por cá, enquanto se negoceia um pacote de ajuda externa com todas as consequências gravosas daí decorrentes para o povo português, quer o estimado leitor como se vai entretendo parte dos políticos portugueses? Quer o leitor saber que exemplo pretendem dar nesta altura aos portugueses os políticos? Ora bem, o Sr. Bagão Félix, recém-chegado ao Conselho de Estado, seguiu o velho ditado romano: veni, vidi, vici. O Sr. Bagão Félix acusou o Sr. Primeiro-Ministro de mentir na entrevista que concedeu recentemente à RTP, quando afirmou que um pedido de empréstimo de curto prazo não fora abordado na reunião do Conselho de Estado; o Sr. Almeida Santos veio desmentir o Sr. Bagão Félix; o Sr. António Capucho veio por sua vez dizer que o Sr. Bagão Félix falou a verdade; e o Sr. Carlos César veio depois dizer que não – que o Sr. Primeiro-Ministro e o Sr. Almeida Santos é que falaram a verdade. À luz destes episódios, quer o leitor adivinhar o triste debate intelectual que vai anteceder as eleições de Junho?

domingo, 3 de abril de 2011

Real esperança

Na passada semana, o PSD apresentou ao seu Conselho Nacional as linhas gerais do seu programa eleitoral para as próximas eleições legislativas, a realizar a 5 de Junho.

Neste programa, são definidos 5 grandes pilares estratégicos para as políticas a levar avante por um Governo liderado por Passos Coelho. Ora vejamos alguns dos seus principais traços:


- Pilar 1: Sociedade Civil e Instituições – fomento da cidadania; reforma do sistema político; aprofundamento dos regimes de autonomia dos Açores e da Madeira; renovação do sistema judicial; transparência nas relações do Estado para com os cidadãos;

- Pilar 2: Crescimento Económico e Emprego – programa de estabilização financeira orientado para os problemas do endividamento externo e da dívida pública e para o fortalecimento do sistema financeiro e do tecido empresarial;

- Pilar 3: Estado Eficiente e Sustentável – racionalização e dignificação do Sector Público Administrativo; reavaliação dos investimentos na base da lógica custo-benefício no Sector Empresarial e do Estado; qualificação dos recursos humanos e sistema de saúde;

- Pilar 4: Sustentabilidade, Inclusão e Solidariedade Sociais – reafectação de fundos do actual QREN, reduzindo a componente afecta às infra-estruturas; criação de mais empregos; reforço da solidariedade social;

- Pilar 5: Política Externa ao Serviço do Desenvolvimento – promoção das exportações, de apoio à internacionalização das empresas portuguesas e na captação de investimento dos portugueses não-residentes.



Tal como Passos Coelho afirmou, aquando da apresentação deste programa, vai ser aberta “uma janela de esperança e confiança”.

O Presidente do PSD assegurou ainda que o partido não subirá os impostos, contrariamente ao que o PS tem feito questão de veicular através da imprensa. A confusão (propositadamente) causada pelo PS, que teima em reafirmar que o PSD vai aumentar os impostos, apenas revela a sua tentativa de muito mau tom de derrube do PSD da ribalta que merece. Denota-se, ainda, por parte do PSD, uma (intencional) dificuldade de interpretação. Passos Coelho não disse vez alguma que iria aumentar os impostos, mas sim que, “para cumprir as metas de redução do défice – com a qual se compromete – preferia uma subida dos impostos sobre o consumo do que ir às pensões”.

Passos Coelho reitera que o último pacote de austeridade não iria potenciar o crescimento, mas impor sacrifícios inaceitáveis aos membros mais vulneráveis da sociedade, com demasiados impostos e uma redução de despesa insuficiente.

O PSD apresenta um programa claro e realista para responder aos graves e emergentes problemas de Portugal, dizendo que uma ampla coligação ajudará à confiança dos mercados e ao próprio processo político.

Passos Coelho aponta-nos, assim, uma luz ao fundo deste túnel escuro e sombrio que estes longos anos de governação PS nos tem feito calcorrear! Oxalá!

A vida está má, está! Até para os marqueses!

sábado, 2 de abril de 2011

A Reforma de Portugal (I)

O triunfo da próxima geração de estadistas assenta num desafio: como reformar o Estado Social, diminuindo o alcance da sua intervenção conformadora, e ainda assim, garantir a prosperidade da sua Nação. Este é o desafio de toda a Europa e em particular de Portugal onde o Estado Social assumiu uma configuração extremista, resvalando para um Estado paternalista. A iminência de um resgate europeu e do FMI em nada contribuirão para as reformas indispensáveis ao Estado Social em Portugal: sacrificando o crescimento pela austeridade, um resgate apenas se destina a evitar a bancarrota de Portugal; retira Portugal do mercando de financiamento onde o País não consegue obter liquidez a uma taxa de juro sustentável apenas para o submeter a uma outra pouco menos que isso. E pior: o pedido de ajuda externa apenas se limitará a um apertado escrutínio do cumprimento de um conjunto de medidas de austeridade para consolidação das finanças públicas. O futuro e as reformas que o consolidarão serão essencialmente da responsabilidade da classe política portuguesa. E, estimado leitor, este aspecto deixa-me preocupado. O desafio do próximo Governo será, portanto, tremendo: decerto o seu mandato político estará fortemente condicionado pela consolidação das finanças públicas e as imposições das instituições europeias e internacionais; mas esse Governo está não só livremente mandatado, como obrigatoriamente mandatado para arquitectar as reformas que invertam o caminho fatalista que Portugal segue há três décadas e que três décadas de laxismo político não alteraram.


Nesse período de tempo o mundo evoluiu extraordinariamente; e enquanto as outras nações se preparavam para o progresso da Civilização, aumentando a sua competitividade, reformando-se, Portugal adormeceu. Este período de tempo em que Portugal permaneceu tranquilamente no seu leito, ressonando, assobiando, coincidiu com o período da globalização – fenómeno pelo qual as economias se abriram e as barreiras ao comércio mundial foram eliminadas. Algumas nações prepararam-se para esse combate e enriqueceram. Portugal, como dissemos, colocou confortavelmente a cabeça sobre o travesseiro, adormeceu e empobreceu; umas nações cresceram, outras ficaram para trás – nós, claro, ficamos para trás. O capital, como sabemos, é móvel; com a globalização deslocou-se para as regiões que lhe ofereciam possibilidade de rentabilizar o seu investimento. Portugal porque adormeceu, porque não se preparou para os modernos desafios não é uma dessas regiões. Consequentemente, o capital rodou sobre os calcanhares e fugiu de Portugal, terreno inculto para o investimento. O capital – esse sacana para a extrema-esquerda (sobretudo o grande) que cria emprego, investimento, indústria, prosperidade, riqueza – por ter deixado Portugal, deixou-o precisamente sem emprego, sem investimento, sem indústria, sem prosperidade, sem riqueza e foi para outros lados onde o recebam mais condignamente. Porque o capital é móvel, e porque se escapuliu para outras terras, resta apenas um meio para o Estado financiar as suas despesas: aumentar o imposto sobre o rendimento das pessoas singulares que não é móvel. Porque Portugal não consegue atrair o capital – repetimos: esse sacana para a extrema-esquerda – e porque tem uma carrada de despesa para financiar, o que o Estado faz é sufocar os contribuintes de impostos para suportar a sua máquina. Sufocar os contribuintes de impostos tem um efeito nefasto: diminui-lhes o rendimento disponível e, portanto, menos espaço para consumir aquilo que a economia produz. Por conseguinte, a economia estagna. Para complicar tudo isto sucede que os investimentos do Estado realiza à custa da receita arrecadada são todos falhados: nenhum tem efeito multiplicador sobre a economia. E assim a economia permanece estagnada; porque a economia estagna e o Estado não diminui os seus gastos, antes os aumenta, ele não consegue com a receita fazer face à despesa. Até que um dia, um iluminado bate com a mão na testa e lembra-se: - E se subíssemos os impostos? Todos à sua volta batem com a palma da mão na coxa: - Nunca me teria lembrado disso! Brilhante! Portugal segue neste ciclo vicioso há três décadas porque adormeceu, porque não se preparou para as lutas modernas da civilização e porque se mantém com a mesma configuração de há três décadas atrás quando o mundo mudou radicalmente desde então.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

George W. Bush

O leitor não ignorará que hoje é o dia das Mentiras - é o dia 1 de Abril. Mas não caro leitor: a Administração deste senhor apesar de anedótica, não foi nenhuma mentira. Este senhor nos anos em que presidiu aos Estados Unidos conseguiu colocar a maior potência mundial na maior crise económica desde a Grande Depressão pela falta de regulação financeira; o seu mandato coincidiu com a subida do défice e da dívida pública dos EUA para níveis astronómicos; com o período em que centenas de milhares de americanos perderam o seu emprego; pelo meio, conseguiu ainda colocar os Estados Unidos em duas guerras contra o terror, sendo que uma delas se baseia em informações secretas que afinal….não eram verdadeiras. Tudo isto nos serve para lembrar que as eleições são, de facto, alturas críticas e relembram-nos da importância de escolhermos idiotas para o mais importante cargo da Nação. E pensar que o Al Gore quase ganhava...Sacana da Florida! Falamos é claro de Geroge W. Bush. Aqui ficam alguns dos seus momentos best-of.

De Madame Pompadour


Se há coisa que claramente aborrece os políticos são os protocolos e os encontros oficiais com outras figuras de Estado. E isso é tão notório, que basta qualquer comum mortal pôr-se nessas situações para pensar: "Bolas...que grande seca!", mas convenhamos, são ossos do ofício. No entanto o saudoso Bush não era de engolir os sapos viscosos e a sua fenomenal expressividade falava por si.





De Letícia, a Marquesa


George W. Bush foi um Presidente que deixou saudades. Os seus discursos eram miraculosos, sobretudo para os jovens que padecem daquele mal chamado insónias. Não é que curou muitos? Quando falecer, decerto será beatificado...




De


Lord Nelson


Não sabemos dizer mal de George W. Bush... Por isso vamos dar-lhe a palavra... ficam aqui os 10 melhores momentos do seu consulado!




De Carlos Jorge Mendes


Da nossa parte, confessamos abertamente: sentimos falta de George W. Bush. A Casa Branca está mais séria, mas muito menos divertida...E o Daily Show não se aguenta só com o Glenn Beck. Por isso, adiantamos em primeira mão ao leitor notícias que nos chegam dos States: George W. Bush está a preparar o seu regresso, inspirado no "Discurso do Rei". Vejam só quem é o seu inesperado conselheiro.