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quarta-feira, 20 de abril de 2011

A Crise Europeia - para quando o fim?

Para os líderes europeus que julgavam que os problemas de contágio da crise da dívida pública soberana se estancaram com o pedido de ajuda externa solicitado por Portugal – desenganem-se. Decerto – e ao contrário do que sucedera quando a Portugal quando a Irlanda fez o mesmo – o pedido de ajuda português não teve grande influência nos juros da dívida pública espanhola. É, no entanto, o receio de uma reestruturação da dívida pública grega que assombra os investidores e aí temos novo pânico nos mercados. E de pânico em pânico, a Europa continua adiando o mecanismo definitivo para a resolução desta crise: a criação de uma agência europeia de dívida. Parece cada vez mais claro que os 160% de dívida pública grega face ao PIB terão de ser reestruturados, apesar dos desmentidos das instituições europeias. Com efeito, a questão já não é «se» a dívida pública será reestruturada, mas «quando» será reestruturada.


Que consequências tem a reestruturação da dívida pública grega? A Sra. Lagarde, Ministra das Finanças de França, numa ingénua sinceridade afirmou publicamente que isso seria «catastrófico». E, de facto, o é. A reestruturação da dívida pública grega significa que a Grécia permanecerá fora dos mercados de financiamento por mais alguns anos; ou seja, novo pacote de ajuda por parte do Mecanismo de Estabilização será necessário. Isto, por si só, é já um problema. Problema maior será quando os mercados iniciarem a especular seriamente sobre quando sucederá o mesmo à Irlanda e a Portugal – e esse trabalho já começou a ser feito, embora de forma ténue.


No imediato, porém, se o pedido de ajuda de Portugal não teve um impacto significativo nos juros da dívida pública espanhola, a especulação em torno da reestruturação da dívida grega está a ter influência nos juros espanhóis, aumentando-os, intensificando os rumores de que Espanha será o senhor que se segue a recorrer ao auxílio internacional. Como se sabe, enquanto o problema permanecer restrito a Grécia, Irlanda e Portugal, os problemas para a Europa não são significativos já que estes três países têm uma importância marginal no PIB da União Europeia. O mesmo não pode ser dito em relação a Espanha: não só a Espanha contribui para 12% do PIB da UE, como um montante de ajuda a ser definido seria incomportável para os países europeus. O actual Mecanismo de Estabilização foi dotado de maior capacidade financeira é certo, mas não tem capacidade para resgatar a Espanha. Mais: a Itália, por exemplo, nem sequer poderia participar na ajuda sob pena de comprometer irreversivelmente as suas finanças públicas.


E aqui voltamos ao ponto de partida. Os líderes europeus, a começar pela Sra. Merkel e o Sr. Sarkozy, com o auxílio da Holanda e da Finlândia adiaram até hoje a resolução definitiva da crise com a recusa da criação das eurobonds. Essa solução parece cada vez mais inevitável à medida que se vai caminhando progressivamente para o abismo; e a certa altura, a Europa irá deparar-se, definitivamente, com uma escolha: a desintegração ou a criação de uma agência europeia de dívida. Por desintegração queremos dizer a saída do Euro de Grécia, Irlanda e Portugal e o consequente desmoronamento do processo de integração europeu – porque se a união monetária falha, falha também a união política, bem como todo o projecto de solidariedade europeia. Se a isto adicionarmos os mais recentes receios nos investidores mundiais provocados pela perspectiva negativa em torno do rating dos EUA pela S&P, poderemos caminhar rapidamente para um novo cenário de profunda crise mundial. Os mercados têm sido irracionais nas suas actuações, mas os líderes europeus não se têm encarregado de demonstrar que os seus receios não têm qualquer tipo de fundamento, optando por decisões frouxas, em lugar de resoluções firmes.
E tal não terá apenas consequências desastrosas para os países periféricos – embora, evidentemente, seja mais bem grave para estes. A Europa, no mundo global, é cada vez menos um actor decisivo. A emergência dos países asiáticos liderados pela China, de um Brasil cada vez mais pujante, obriga a que a Europa para poder manter a sua influência se organize. Actuando por si só no mundo global, a Alemanha está longe de ter o poder que tem quando considerado como a maior potência económica da Europa. Não são, portanto, apenas os países periféricos que têm a perder com o desmembramento do projecto europeu.

A curto prazo não nos parece que este cenário se vá alterar e os ataques especulativos contra o euro vão continuar. Em 2012, porém, creio que acontecerá um acontecimento muito importante para o futuro europeu: falamos das eleições presidenciais francesas. Recentemente, o Sr. Dominique Strauss-Kahn criticou a mole actuação das instituições europeias na resolução da crise de dívida pública. Ora, o Sr. Strauss-Kahn é um possível candidato às eleições presidenciais de 2012 pelo PS. Mais: as sondagens colocam-no em posição bastante favorável em relação ao actual Presidente, o Sr. Sarkozy. Pelo que a verificar-se este cenário, a Alemanha perderia um aliado importante na sua estratégia para a Europa e isso abriria portas a uma mudança de política por parte das instituições europeias.

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