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quarta-feira, 27 de abril de 2011

A Foleirice do Presidente segundo o Sr. José Lello

Na sequência das comemorações do 25 de Abril, este ano da responsabilidade do Sr. Presidente da República, o Sr. José Lello, destacado membro do PS, proferiu as seguintes declarações na sua página do Facebook:



Ao que Sua Excelência se desculpou, dizendo:
- Eu estava a enviar mensagens a um colega meu de bancada e, naturalmente, a utilizar uma linguagem que entre amigos é corrente.


Resulta, pois, que em privado o Sr. José Lello é uma pessoa; em público, o Sr. José Lello é uma pessoa completamente diferente; assim caluniar alguém no recato do lar, na obscuridade, para Sua Excelência, tudo correcto; fazê-lo, porém, em público, ai!, isso não! Isso é indecente! Ora, caluniar alguém em privado soa a intriguice. Isso que V. Ex.ª é? Uma fofoqueira? Imaginamos, pois, V. Ex.ª numa esquina obscura da Assembleia da República cochichando sobre os podres dos deputados, soltando risinhos. Na minha pequena terriola – como é costume de todas as pequenas terras – existe uma fofoqueira. Diariamente é encontrá-la prostrada contra a vidraça, com a cara vermelha (do vinho) colada à janela: vai daí a Sra. recebeu a delicada alcunha de «Cola». A intriga pessoal é a apenas a iniciação na arte da intriga política; e da intriga política é um curto passo para a mentira. E a procura da verdade, meu caro José Lello, nos ensinamentos de Cícero, é uma das quatro fontes das quais dimana a honestidade.

Repare V. Ex.ª: nós também gostaríamos de insultar o Presidente da República. Não é esse o grande motivo pelo qual as suas declarações são estapafúrdias. A causa do seu spleen, meu caro Lello, é que é extraordinária: V. Ex.ª está aborrecido, ou melhor, enciumado, por o Sr. Presidente da República ter convidado muita gente – mas não o tenha convidado a V. Ex.ª. V. Ex.ª caluniar o Sr. Presidente da República por ele nada ter feito para evitar uma crise política, V. Ex.ª criticar o Sr. Presidente da República por ele não puxar devidamente as orelhas dos partidos, V. Ex.ª criticar o Sr. Presidente da República por se estar marimbando para o País depois de ter ganho a sua eleiçãozinha – isso tudo bem. Agora caluniar o Presidente da República por ele não lhe ter mandado pelo correio um convite para comparecer na cerimónia do 25 de Abril? Oh, Sr. Lello! Isso até parece vaidade! Até parece coisa de um Narciso avidamente debruçado sobre o lago, não apaixonado da sua beleza, mas da sua autoridade intelectual. Mas tem V. Ex.ª razão: sabemos que a verdadeira força das democracias se encontra no Parlamento, a Assembleia Representativa de todos os portugueses. E o 25 de Abril democratizou Portugal. E que diabos! Quem mais pode personificar a Assembleia da República do que V. Ex.ª? O Sr. José Lello confunde-se com a Assembleia da República! O Sr. José Lello anda lá há tanto tempo que o tomam já como um dos pilares do próprio edifício sem o qual ela poderá funestamente desabar! Vai daí não arrancam V. Ex.ª da Assembleia da República há 26 anos. E não o convocarem para uma cerimónia que devolveu a verdadeira democracia a Portugal? V. Ex.ª provavelmente (não o podemos dizer com certeza) não teve qualquer papel relevante no 25 de Abril; mas V. Ex.ª é deputado há 26 anos! Da Câmara representativa de todos os portugueses! Recebeu condecorações e louvores! Que importa que V. Ex.ª não tenha tido papel relevante na cerimónia que se celebra? V. Ex.ª foi já Ministro e Secretário de Estado: que obras relevantes deixou nos seus cargos? De que forma contribuiu para o enriquecimento da Nação? Mas isso que importa? V. Ex.ª é deputado há 26 anos – mesmo que nesses 26 anos não tenha deixado uma marca relevante pela qual possa ser meritoriamente lembrado.

Mas além do mais diz V. Ex.ª: sim, eu insultei-o, mas a culpa é do raio das tecnologias. Isto é louvável da parte de V. Ex.ª. Com efeito, V. Ex.ª chama foleiro ao PR – o que é uma coisa desagradável, mas, convenhamos, podia ser pior. Mas logo em seguida, V. Ex.ª num acto de louvável penitência, agarra do cilício e castiga-se a si próprio, chamando-se de idiota. O que V. Ex.ª diz é isto:
- Não, meus amigos! Eu, com efeito, insultei o Sr. Presidente da República. Mas isso é porque eu sou idiota! Não consigo lidar com estas tecnologias! Estas coisas do Facebook deixam-me arreliado! Irra!

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