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quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

A perspicácia dos observadores da Liga Árabe

Segundo noticia o jornal Público, os observadores da Liga Árabe enviados à Síria para avaliar imparcialmente as acções do regime do Sr. Assad sobre o seu próprio povo, chegados a Homs, cidade onde se tem manifestado de forma mais veemente e expressiva o movimento revolucionário, os observadores dizíamos nós, pararam, olharam e viram:
Facto n.º 1: Edifícios severamente destruídos;
Facto n.º 2: Veículos blindados patrulhando as ruas.


Apurados estes dois factos objectivos, suas excelências cofiaram a barba, coçaram a cabeça, reflectiram gravemente uns minutos, ponderaram seriamente os factos e concluíram:
Conclusão n.º 1: Há, de facto, edifícios severamente destruídos, mas nada de assustador;
Conclusão n.º 2: Há, de facto, veículos blindados patrulhando as ruas, mas não há tanques;
Conclusão n.º 3: Logo, e porque não há confrontos, e pessoas dizendo expressamente o contrário, a situação é normal.
Esta a conclusão a que chegaram os observadores. A esta conclusão de que nada de assustador se passa em Homs não será, certamente, alheio o facto do chefe da missão, o Sr. Mustafa al-Dabi, ser sudanês e, portanto, estar, infelizmente, habituado a conviver familiarmente com situações assustadoras. Pelo que, qualquer situação perante tais atrocidades não rivalize com as mesmas, mesmo tratando-se de um regime que repele violentamente as singelas aspirações democráticas do seu povo, parece uma delicada candura na sua experimentada escala do horror.
Como se, primeiro, o facto de haverem edifícios severamente destruídos não fosse a representação fiel de que um conjunto de tanques governamentais tivessem efectuado um conjunto de disparos contra esses mesmos edifícios provocando o seu desmoronamento e, segundo, o facto de haverem veículos blindados patrulhando as ruas não fosse o sinal mais transparente e inequívoco de que o governo monitoriza escrupulosamente o exercício do direito de livre manifestação e reunião dos seus cidadãos. Como porém, suas excelências não observaram um tanque disparando, ou uma pessoa protestando, suas excelências só podem concluir uma coisa: que ali não se passa nada.

Além do mais, do que estavam à espera suas excelências? Que o Sr. Assad tivesse a gentileza de empacotar uns tanques, os enlaçasse, os colocasse diante da população, os desenlaçasse quando V. Exas. se dignassem a chegar a Homs, e uma vez aí chegados, ordenasse os disparos sobre a população?



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