A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quinta-feira, 25 de março de 2010

Obesidade curricular

A Educação tem por fim a perfeita adaptação do Homem às realidades da vida. Ela é central para o funcionamento de uma sociedade – senão vejamos. Se a grandeza de uma sociedade depende, em último grau, da natureza dos seus cidadãos, e como a natureza dos cidadãos é, sobretudo, definida na tenra idade e no treino desenvolvido para tal, devemos concluir que o bem-estar de uma sociedade, em última instância, depende de uma correcta Educação.
Isto constitui uma verdade e uma lei em diversos países – Portugal é, contudo, uma excepção. Dentro desta excepcionalidade, há uma regra geral: é que Portugal é a excepção, mas pelas razões erradas. Noutros países, o cerne da Educação está na Matemática, nas Ciências, nas Línguas ou nas Artes. Em Portugal, o cerne da Educação está no Estudo Acompanhado, na Formação Cívica e na Área Projecto. O Estudo Acompanhado tem por objectivo a organização dos métodos de estudo e de trabalho dos alunos. Não se pretende que os alunos estudem, mas pretende demonstrar-se como os alunos devem estudar de acordo com um modelo infalível pré-definido e sem o qual não é possível estudar correctamente. Estudar tornou-se uma Arte. A Formação Cívica pretende dotar os alunos das competências necessárias para que eles se revelem cidadãos exemplares no futuro. Actualmente, os cidadãos portugueses são uns embrutecidos e uns incivilizados. E porquê? A conclusão é lógica – porque não tiveram Formação Cívica à semelhança do que agora acontece. Esperamos com grande ansiedade ver os resultados dos alunos saídos do sistema de Educação e que tiveram essa honrosa possibilidade de frequentarem aulas de Formação Cívica para que guiem os futuros deste País. É ela a chave para untar os adolescentes de civismo para que eles no futuro se tornem cidadãos respeitadores, cumpridores, educados e tolerantes. Obviamente que tal ensinamento não é, de modo algum, susceptível de ser retirado senão for dito, directamente aos alunos que eles devem ser o modelo de cidadãos que se espera deles e, portanto, é necessário uma disciplina autónoma para tal. É necessário que o professor, com o indicador em riste, com um ar sério e ameaçador diga ao aluno, até então desrespeitador dos valores da sociedade, que ele seja uma pessoa séria e dedicada à causa pública. Obviamente, tal lição será facilmente esquecida quando um outro aluno, mais rebelde e desobediente, que não escutara a lição da professora, aplicar ao aluno que a escutara, uma lição de bullying no recreio. O seu amor pelo civismo irá, então, desvanecer-se. A Área Projecto pretende auxiliar o aluno na organização de trabalhos e desenvolvimento das capacidades de autonomia. Em termos percentuais, Portugal dedica 14% do tempo de aulas a estas disciplinas. A Matemática, por exemplo, ocupa 13%. Qual então a utilidade daquelas disciplinas para a perfeita adaptação do Homem às realidades da vida? Tendo em conta as limitações de tempo existentes para a aquisição de conhecimento, não deveríamos nós estar a empregá-lo em actividades que desenvolvam o máximo de vantagens para o indivíduo? Como nota Spencer, a questão está em como fazer uso das nossa faculdades para beneficiar os outros e nós mesmos – como viver absolutamente? A preparação para uma vida completa deve ser a função da Educação. E qual é a definição de vida completa para o Ministério da Educação em Portugal? Dedicar os alunos ao Estudo Acompanhado, a Formação Cívica e à Área Projecto. Tudo o restante é dispensável e acessório.
O mesmo Spencer nota que na Educação se deve proceder do mais simples para o mais complexo. O ensino básico em Portugal é composto por 14 disciplinas – número que poderá ser elevado para 15, caso se opte pela Educação Moral e Religiosa. O espírito que, inicialmente, é dotado de um pequeno número de faculdades que vão sendo, continuadamente, aumentadas, é, neste caso, fortemente posto à prova. O currículo do ensino ao invés de se fixar num conjunto de disciplinas centrais, dispersa as suas atenções pelo essencial mas, sobretudo pelo acessório. Qual a importância de disciplinas como aquelas que referimos na vida real das pessoas? O que pretendemos dizer é que, mais tarde, no desempenho efectivo da sua função na sociedade, todas aquelas disciplinas – Estudo Acompanhado, Formação Cívica ou Área Projecto – são de tão reduzida utilidade, que todo o conhecimento que foi então adquirido será, facilmente rasurado da memória. É, neste sentido, que as Ciências, a Matemática, as Línguas e as Artes devem constituir o cerne do currículo de qualquer Educação.
Foi, assim, com alegria que recebemos a notícia de que o Ministério da Educação prepara alterações na estrutura curricular do Ensino Básico, no sentido de o reduzir e de o dedicar às disciplinas verdadeiramente importantes na formação dos nossos alunos às realidades do seu futuro. Isabel Alçada equaciona a alteração do currículo do 7º, 8º e 9º anos com o intuito de haver uma menor dispersão das atenções por áreas que não são consideradas como fundamentais.

2 comentários:

M. Pompadour disse...

Se em vez de educação cívica os miudos levassem umas lambadas quando se armam em espertos tinhamos alunos mais civilizados e futuros adultos com competências que realmente interessam à sociedade.

Nelson disse...

Ora assim é que é falar! Mais autoridade é o que é preciso... Eu levei reguadas e não morri! Só me fizeram bem...

(Peço desclp por andar a comentar nos posts de outros)