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quarta-feira, 3 de março de 2010

Essa m... em subsídios de desemprego!...

Caro leitor,
Portugal sangra. Muitas causas concorrem para esta hemorragia e não há forma de a estancar. Hoje, porém, falaremos particularmente de uma.
Na semana anterior, aquando do lançamento do Pordata, António Barreto apresentou uma realidade surpreendente: os portugueses, nos dias de hoje, demonstram um fluxo emigratório semelhante àquele dos anos 50 do século passado com a vaga francesa ou ainda em tempos mais remotos, com a vaga brasileira.
Segundo dados do IEFP, cerca de 20 mil desempregados emigraram em 2009. Tal número representa um acréscimo de 31% em relação a 2008. Este número peca somente por ser escasso face à realidade pois apenas se contabilizam aquelas pessoas que se encontravam inscritas na base de dados do IEFP e que manifestaram a sua intenção de emigrar.
Estes dados são preocupantes dado que não apresentam, no seu cerne, semelhanças com os movimentos ocorridos em tempos passados. Se em outros tempos o fluxo se caracterizava por uma perda de mão-de-obra pouco qualificada, o mesmo não se passa no presente. Embora a mão-de-obra pouco qualificada continue a ser aquela que, predominantemente, abandona o País, vimos assistindo, cada vez mais, ao fenómeno inverso – a perda de mão-de-obra qualificada. E isto, estimado leitor, é preocupante. Os optimistas, à semelhança de Marcos Perestrello, dirão “essa m… em subsídios de desemprego!...”. Poupar-se-ia, portanto, o aborrecimento da protecção social. Esses mesmos optimistas dirão ainda que existem as remessas como meio de salvação da economia, tal como o foram nos tempos passados do Eldorado francês e brasileiro. Mas esses optimistas esquecem-se de um pormenor que nós, pessoalmente, achamos relevante e que tem sido escamoteado. Senão vejamos – se a mão-de-obra qualificada que o País produz nas suas universidades e depois nos seus empregos abandonar o País quem restará, então, para a produzir? Parece-nos um aspecto relevante e para o qual não achamos resposta. Talvez esses optimistas olhem para o País no futuro como nós olhamos presentemente para uma região específica do País – o Interior, esquecido e envelhecido. Talvez o problema do Interior seja mesmo a falta de mão-de-obra pois a sua população activa, à falta de oportunidades, ou desloca-se para o Litoral ou para fora do País. E, assim, fica o Interior – envelhecendo e nada produzindo. Caro optimista, concluindo, nós não tomamos o Interior como a região mais rica do País. É assim que sua excelência, o Optimista, quer ver o resto do País? Não fossem os pólos universitários, essas defuntas instituições do saber que albergam essas tristes almas que terminadas as suas licenciaturas irão emigrar, dando o seu dinamismo e o labor do seu trabalho a outro País, enriquecendo-o, mas poupando Portugal ao embaraço e ao aborrecimento da protecção social, que era feito dessas terras? Caro optimista, essas terras estão definhando, fenecendo lentamente, mas irreversivelmente. É isso que vossa excelência pretende para o País?
É verdade que, nos últimos anos, em Portugal a massificação do ensino superior pode contribuir para o desenvolvimento do País – não obstante a sua fraca qualidade, disso não trataremos aqui. Se, porém, o País não for capaz de fixar nas suas fronteiras os indivíduos mais capazes e dinâmicos que forma, todo esse esforço é inútil. Assim, Portugal não passa dum país exportador de serventes. Se as remessas dos emigrantes podem ser importantes do ponto de vista económico, nós julgamos mais significativo que essas pessoas não só enviem a sua contribuição sob a forma de cifrão. É que o mais importante - o saber dessas pessoas – dificilmente, nos chegará, fecundo e frutuoso, sob a forma de remessas.
São esses lorpas que não pretendem outra coisa senão o trabalho que o País deve exportar para outros países que se saibam, efectivamente, mostrar agradecidos. Enquanto isso, Portugal continua a coleccionar os seus percevejos, acumulando os indivíduos que nada desejam, a não ser a mãozinha auxiliante do Estado. Enquanto aqueles preguiçosos abandonam o País em busca de trabalho (essas bestas!) e, muitas vezes, a família para irem empregar o saber dos seus cérebros ou o labor dos seus braços para outras bandas visto que desses indivíduos Portugal não precisa, outros permanecem por cá roncando, bufando, coçando e cabeceando.

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