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segunda-feira, 1 de março de 2010

Que a Nação pense, mas que cada um pense por si!

O título do post é imperceptível à primeira leitura, bem o sabemos. Passamos pois a clarificar: este post funciona como contraditório a este, data venia, e pretende defender uma posição distinta - o Estado tem um lugar próprio na cultura que não o de agente subsidiador de espectáculos.
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Antes de mais convirá definir o que se entende por cultura para sabermos o que se discute; esta como está evidentemente ligada ao sujeito que cria, seguimos pois uma abordagem antropológica que nos parece preferível aos fins desta explanação. Neste sentido, colamo-nos muito comodamente à definição dada pelo notável Edward Burnett Tylor:
assim, por cultura entende-se "o complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade".
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Compreende-se assim que a negação do papel cultural do Estado é um erro, pois ele, nas sociedades modernas terá um lugar nela, podendo até funcionar como um agente dinamizador fundamental. Por cá não negamos evidências – há um lugar para o Estado na cultura.
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Porém, o douto post do Doutor Carlos parece justificar a ingerência do Estado em muitas vertentes, com recurso a argumentos económicos, querendo vencer essa “direita” (palavra que para aquela metade d’ Opinador equivale ao papão) no seu próprio jogo.
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Nós, que à direita nos confessamos, exercemos pois o direito de resposta (o leitor não faça caso ao desfasamento temporal):
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A moral, pelo menos a moral amplamente maioritária e aquelas que sendo minoritárias não colidem frontalmente com aquela deve ser anterior à actuação estatal. A conduta do Estado, se num mundo perfeito seria amoral, neste nosso mundo tem necessariamente de submeter-se a um conjunto de valores partilhados pela maioria dos cidadãos – os juristas falam aqui de constituição natural.
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Depois temos aquelas áreas que, por definição, existem à margem do Estado, que servem interesses diferentes e que com aquele não se devem confundir, pelo menos numa perspectiva eurocêntrica – pensamos aqui nas crenças e alguns costumes.
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Outras, pelo contrário, só ao Estado devem caber – as leis;
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Ainda haverá aquelas que tanto o Estado, como os privados, podem prosseguir de mãos dadas, em terna harmonia – o conhecimento, uns nas empresas, o outro nas suas Universidades;
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Por outro lado, vertentes há, em que por via de regra o Estado deve abster-se de intervir, de forma a garantir aos indivíduos a necessária margem de liberdade para o seu desenvolvimento pessoal e social – e aqui pensamos nas artes.
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Com efeito, não deverá ser um desígnio estatal definir o que é arte e o que não o é, o que tem lugar e o que é posto à margem. Se essa selecção é feita às claras (como na antiga URSS) ou se é pela via da subsídio-dependência, é indiferente. Compete aos cidadãos, vulgo ao público, essa tarefa. Tal se compreende dado que muitas vezes, através da arte se influencia a moral. Ora caso o Estado controle esta, conseguirá por maioria de razão controlar aquela e subverter todo o esquema lógico já enunciado. Os Clássicos estudam-se na escola, a arte aprende-se na vida.
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O Estado ao financiar uns espectáculos e não outros, subverte as regras de mercado, fazendo com que aqueles que possam até ter menos público sejam mais lucrativos (e menos arriscados). Nesta hipótese o Estado é o fuhrer do povo, que lhe indica o caminho, a estética aceite e os dogmas permitidos.
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Entende-se assim que caberá ao cidadão, votar com o seu pensamento e escolher as correntes que mais lhe convirem. Se assim não fosse, movimentos de contra-cultura e de problematização do poder instalado teriam muita dificuldade em surgir e se desenvolver.
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Se os espectáculos artísticos cresceram 2,9% neste último ano (conforme os dados do estudo encomendado pelo Ministério da Cultura para o Ministério da Cultura), ao retirarmos uns subsídios, com certeza crescerão menos, deixando pois de envergonhar milhares de operários que, apesar do suor diário, não conseguem desavancar a economia nacional. Mas é o preço a pagar pela nossa liberdade. Nesta direita não temos uma visão tão economicista como naquela esquerda.
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Uma última palavra servirá para evitar potenciais confusões: não confundimos arte com educação: que entes estatais – como uma câmara – organizem uma apresentação do Auto da Barca do Inferno, não nos repugna. Ora, até apoiamos pois é uma forma de a pequenada conhecer a literatura portuguesa. E também achamos por bem haver instalações do Estado destinadas à cultura, que podem ser cedidas aos privados.
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Não se esqueçam: Arte é dinâmica e a mudança importa resistência do que já está instalado.
Sabemos que o texto foi maçudo e nos flagelámos já por isso… prometemos ao leitor, dentro em breve, retomar temáticas mais light, isto se o Dr. Carlos não nos censurar de vez.
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P.S. – não abordamos a temática dos museus porque consideramos que estes devem ser públicos.

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