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segunda-feira, 29 de março de 2010

Maus ventos se aproximam

A vitória de Passos Coelho nas eleições do PSD tem, desde já, uma consequência directa: os próximos tempos de governabilidade não se avizinham fáceis. É bom que não se esqueça da grave crise que o País atravessa que não se compadece com atitudes irresponsáveis da Oposição, nem com queixinhas pueris por parte do Governo. Ao Governo compete governar responsavelmente e à Oposição compete opor-se responsavelmente. Tudo isto no superior interesse do País. E isto não deve ser nunca esquecido – num grau mais elevado do que os interesses partidários, está o interesse do País. José Sócrates responde, como Primeiro-Ministro, perante os portugueses. Pedro Passos Coelho, como líder recém-eleito do PSD responde perante os militantes do PSD, mas este como partido vocacionado para o poder, responde também, em última instância, perante os portugueses. Passos Coelho esteve, por isso, mal, na última semana de campanha ao afirmar, em conjunto com Paulo Rangel, que votaria contra o Programa de Estabilidade e Crescimento. Apenas Aguiar Branco mostrou posição contrária – em função do lugar de líder parlamentar que desempenha e que obriga a posições de maior sensatez e renunciar a qualquer tentação populista. Passos Coelho, por seu lado, apelou à demagogia. A sua posição agrada aos militantes do PSD ansiosos por chegar ao poder, independentemente do custo dessa Tomada de Bastilha. Ao afirmar o seu voto contra o PEC, Passos Coelho colocou os interesses do seu partido à frente dos interesses do País. Na verdade, o CDS ao definir previamente a sua oposição ao PEC não deixava outra opção ao PSD senão de viabilizar a resolução de apoio ao Programa. Os políticos não podem esquecer o contexto em que o País se encontra – na véspera, a Fitch havia reduzido o rating da República. Era imperioso que a Oposição manifestasse o apoio ao programa do Governo para demonstrar aos mercados que Portugal está comprometido no objectivo de redução do défice. Veja-se, desde logo, que após a votação da resolução de apoio ao PEC, a Standard and Poor’s decidiu manter o rating português. É certo que o PEC não responde, de todo, às necessidades do País. Mas a rejeição do Programa daria ao sinal aos mercados que o Governo não teria condições de governabilidade para levara a cabo a execução do PEC. Mas, neste aspecto, o Governo não esteve bem – ao apresentar o Programa à Oposição como um documento acabado e não sujeito a negociação reduz a margem de comprometimento dela com o Programa. Afinal de contas, ele é um Programa que conta apenas com o contributo do Governo e não negociado em conjunto com a Oposição. A responsabilidade da Oposição varia em sentido igual na disponibilidade do Governo para acolher as suas ideias. Manuela Ferreira Leite revelou estar à altura das responsabilidades e demonstrou que acima de tudo, mesmo das vozes contrárias da sua bancada parlamentar, está o interesse Portugal. Sai com grande dignidade da liderança do PSD. Já Passos Coelho, apenas mostrou, para já, que está disposto a satisfazer os interesses do seu partido, de alcançar rapidamente a liderança do País após 12 anos de Governação Socialista em 15 anos possíveis. Porém, Passos Coelho não se deve esquecer duma coisa – agora que é líder do PSD, os seus comentários acerca do País não são apenas para consumo interno dos militantes do seu partido e que está a ser avaliado por todos os portugueses como líder de um PSD que dispõe de ambições governativas. Estas ambições não são conciliáveis com posições demagógicas apenas com o intuito de colher o apoio do partido.
Se Passos Coelho pretende, um dia, ser Primeiro-Ministro de Portugal terá de demonstrar também na Oposição uma atitude de responsabilidade, colocando o interesse de Portugal à frente do interesse do seu partido; o interesse dos portugueses à frente dos seus interesses pessoais. Caso contrário, como poderá alegar ele ter a credibilidade necessária para efectuar as reformas de que o País necessita e que são, continuadamente, sine die, adiadas?

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