Byron via na mulher “o efeito mais deslumbrante da natureza”, como dizia Schopenhauer. Apreciava as suas formas, as suas sensualidades, as suas linhas e os seus ardores. Baudelaire olhava a mulher e via, simultaneamente, um ser carnal e descarnado – via a carne e as suas negras volúpias, os seus vícios de ópio, os seus néctares inebriantes e todo um interior que o arrastava para os mais negros abismos nos quais contemplava a sua alma perdida, venal e satânica. Em Baudelaire, tudo são festins de carne – as orgias. Ao sentir a pele de uma mulher, ele sente o esfriamento do túmulo e o apodrecimento da alma. Em Byron, esses festins aparecem cobertos de sedas, de veludos, de doirados, de cristais. A Baudelaire é impossível ver essas claridades – ele é o Poeta do Mal. Tudo são desvairamentos febris, loucuras incessantes, violências lascivas e corpos despedaçados. Ele era incapaz de resistir aos simples encantos de uma Medeia matizada pelos raios de Sol, que aos seus olhos, não era mais do que um corpo negro e devasso. Era essa a causa dos seus males, dos seus desvarios – o prazer pelo prazer, aquele prazer mundanal, cru, despido de encantos, a apologia do luxo fácil, do erotismo trivial. Mas todo esse prazer, toda essa apologia, todo esse erotismo que, mesmo sendo mundanal, que mesmo sendo fácil, que mesmo sendo trivial, o atingiam com a força arrebatadora dum tumulto. Byron não tem essa nervosidade, essa intensidade, essa cadência, esse relevo de verso – mas tem o cultivo do prazer requintado, refinado, apurado e delicado – a opulência luxuosa. Baudelaire era o homem do prazer puro e imediato, o homem que se encobre com as vestes de Satanás, que se olha ao espelho e que sorri por se ver assim, terrível e escarlate, segurando na pena e sobre um papel branco e imaculado derramar e proclamar as aflições e os males da carne, as febres do sangue, em ebulição. Byron era o homem das sensualidades requintadas, dos seios de âmbar das mais belas Ladys inglesas – a sua loucura era meticulosa e laboriosa. Ele é o D. Juan refinado, o cinzelador de versos tendo por alcova uma nuvem, branca, num céu azul-ferrete, nos Etéreos…Em Byron, as mulheres são de feições serenas, de traços calmos e eloquentes, um sorriso puro e casto, um passado de bondade, uma alma transparente, um coração de amores inocentes…Em Baudelaire, as mulheres são demónios, são terríveis harpas que lhe caçam o coração, que o pisam e que se mostram indiferentes, são mulheres altivas, uivando, desprezando e escarnecendo daqueles homens covardes que se deixaram seduzir pelos seus feitiços e encantos…
E, assim, temos dois homens cantando as pancadas do Coração de uma maneira absolutamente oposta.
E, assim, temos dois homens cantando as pancadas do Coração de uma maneira absolutamente oposta.
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