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quarta-feira, 31 de março de 2010

Saúde para os idiotas

Caro leitor,
Idiotas existem por todo o lado. Enganam-se as pessoas que pensam que tal é um fenómeno exclusivo em Portugal ou predominante neste pedaço do mapa-múndi. Mesmo na “Terra das Oportunidades” há oportunidades para as pessoas concretizarem os seus sonhos, mas igualmente para os idiotas viverem as suas idiotices. E sendo idiotas, escolhem igualmente um nome idiota para intitular o seu movimento – o idiótico movimento Tea Party.
Na sequência da aprovação pelo Congresso da Reforma de Saúde do Presidente Obama, diversos congressistas democratas receberam ameaças de morte. Apoiados no argumento de que os Estados Unidos caminham para um estado comunista liderados por um Presidente com tendências colectivistas, estes movimentários acham-se no direito de recorrer a todo o tipo de medidas para fazerem valer os seus pontos de vista. A América resvala para o extremismo. Não deixa de ser algo curioso que uma nação formada por imigrantes, que a partir do trabalho dessas pessoas se tornou na Nação mais poderosa do Mundo e sempre na vanguarda da abertura ao Exterior e dos seus correspondentes valores esteja agora neste limbo. Talvez sejam as consequências duma Guerra Aberta ao Terror promovida por Bush filho e que aumentaram ódios ao mundo árabe, da mesma forma que dividiu profundamente os americanos. A apologia da violência passou a fazer parte do vocabulário comum do povo americano e esse discurso tornou-se vulgar, comum e banal. Esse mesmo ódio profundo se revela agora em relação a um Presidente que julgam não ter nascido na América, um muçulmano encapotado, um comunista travestido que foi enviado por Alá himself para destruir a América. O idiotismo atinge a cúpula da América – segundo o Expresso, a ex-governadora do Alasca e aliada de McCain na corrida à Casa Branca, Sarah Palin “publicou na sua página do Facebook um mapa com 20 miras de espingarda, indicando os locais onde quer derrotar os democratas em Novembro”. As mensagens subliminares são perigosas e o clima de extremismo que se vive neste momento aconselha a prudência e não ao incitamento à violência.
Não deixa de ser algo curioso que algo que é generalizadamente aceite na Europa, provoque tamanha divisão na América. Embora o conceito do intervencionismo estatal seja altamente alarmante para os Americanos, não deixa de ser curioso que após uma época em que o Estado foi chamado a ocupar um papel central na Economia e que salvou o sector financeiro da bancarrota, uma Reforma que promove uma igualdade entre os cidadãos no que toca a cuidados de saúde cause tamanha apreensão. Isto apesar da ideologia reinante nos EUA apelar a um Estado muito menos Social do que aquilo que impera na Europa. Os Americanos são um povo activo, laborioso e audaz. A intervenção do Estado é vista como algo anormal. Mas a presença do Estado em alguns sectores deve ser vista como indispensável E a saúde é uma das áreas em que os privados não podem ser chamados a actuar da mesma forma que o sector público – veja-se, por exemplo, que os EUA têm uma esperança média de vida de 77,7 anos; Portugal tem uma esperança média de vida de 78 anos, não obstante as diferenças de avanços científicos entre os dois países. E o Sistema de Saúde promovido por Obama irá permitir que 32 milhões de pessoas, até agora excluídas e que não possuíam seguro, possam usufruir de cuidados médicos. Quem faz uso de argumentos de excessivo intervencionismo do Estado na vida dos cidadãos não deve estar bem ciente do papel do Estado. Para que serve o Estado senão para ajudar aquelas pessoas que não têm os meios necessários para assegurar os seus tratamentos de saúde? Ou deve ele estar refém dos argumentos que sustentam um excessivo intervencionismo e assistir, impávido e sereno, à morte daqueles que não têm seguro de saúde porque não dispõem de condições financeiras ou porque as seguradoras se recusam a segurar aquela pessoa?
A verdade é que Obama consegue uma vitória retumbante. Consegue algo que vários outros antecessores tentaram mas não conseguiram. O mesmo é afirmado por Thomas L. Friedman no New York Times: “President Obama’s winning passage of national health care is both exhilarating and sobering. Covering so many uninsured Americans is a historic achievement”. Os Republicanos apenas fazem uso de uma retórica inflamada, vazia de conteúdos e de argumentos. Como disse Obama, “os EUA são uma nação que faz o que é difícil, o que é necessário, o que está certo”.

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