Os adeptos das cartas de amor acharão esta semana uma ocasião pródiga para visitarem O Opinador de Veludo. Com efeito, às nossas mãos, chegaram algumas cartas que nós consideramos dignas de serem reveladas aos olhos do leitor para que o seu perfume não se mantenha enclausurado apenas entre duas almas que se amam. Shakespeare, no final do seu Romeu e Julieta afirma que no mundo nunca houvera história tão dolorosa igual à dos dois amantes de Verona. Não cuidaremos de dores aqui. Somente dos amores…
A primeira carta trata do primeiro encontro romântico entre F. e J. Neste caso, a carta foi escrita por F. tendo como destinatária J. Eis o que ela reza:
A J.
A primeira carta trata do primeiro encontro romântico entre F. e J. Neste caso, a carta foi escrita por F. tendo como destinatária J. Eis o que ela reza:
A J.
Porto, Março
“Minha adorada,”
“Foi ontem ainda, de noite, minha J., mas, nesta manhã já estou eu positivando numa letra bem concreta e real o sonho que vivi contigo nesse dia. Compreende o quanto a tua presença é, a meus olhos, tão necessária e, assim, se não posso ter-te fisicamente presente, eu idealizo-te literariamente… Foi ontem ainda, nesse dia em que te levei a um castelo porque eu sou como aquele Romeu que transpunha as muralhas com as asas do amor que o Cupido lhe emprestara para voar para junto da sua Julieta. E a noite, a boa conselheira dos amantes, nos envolvia dardejando as estrelas fulvas do seu cume; e uma dessas Luas que descem rebrilhando de brancuras, e inflamando a Terra da cor do âmbar e da opala… E, no entanto, ao olhar ambas – as estrelas e a Lua – eu surpreendia nelas o ciúme. Era o ciúme pela claridade que verte do teu olhar e que aquelas estrelas cobiçavam; o ciúme da brancura que transparece do teu rosto e que aquela Lua invejava. Fomos a esse Castelo porque tinha palavras para te dizer. Todas aquelas que ainda não tinham sido ditas, positivadas, concretizadas, mas que a linguagem dos gestos, dos olhos, dos rostos, dos risos dispensam e que não escondem.”
“Havia decorado palavras para te dizer. Todas elas cheias de lampejos e de veludos…Mas, depois, na tua presença, na tua imponente presença, fiquei assim – quedo e mudo. Apenas te pude dizer e apenas te soube dizer a única palavra que não me esquecera – amo-te. E não me esquecera porque esse é o único propósito da minha vida – amar-te. Vê tu bem, meu amor, a simplicidade em que se reduz a minha vida e, contudo, nunca eu encontrei um desígnio tão alto e tão digno de merecimento. Se eu sou todo aquele ser imperfeito e cheio de venalidades junto a ti – que és Deusa. Vê tu bem a essência a que se reduz todo o meu ser se, na verdade, eu sou como aquele que diz “só em ti penso, e só em ti vivo!...” E porque hei-de negá-lo? Se tal é a verdade e a Lei suprema em que assentam os alicerces do meu mundo. E não concebo outro Mandamento mais maravilhoso em que possa assentar uma vida de pureza do que ter a minha alma cativa da tua adoração. “
“E, ainda assim, tu – que és bondosa e misericordiosa – perdoaste-me pois mesmo diante do rústico verbo que te balbuciara – mas que resumia em tudo o meu espírito – tu sorriste. E um daqueles sorrisos que te é tão próprio e que neles abarcam todo a visão de um Paraíso idílico, branquejando, num céu azulado entre as altas nuvens, lá, no Etéreo…”
“E eu soube…Na verdade sempre soube – a ilusão foi minha companheira de viagem. Se “o amor é um fumo feito do vapor dos suspiros” e uma satisfeito “é fogo a brilhar nos olhos do amante”, como dizia Shakespeare, nos teus eu sempre encontrei o lume onde aquecia as minhas esperanças; a fogueira onde alimentava o meu idílio. E eles sempre foram condescendentes para com os meus desejos.”
“Uma lágrima, então, correu esse teu rosto de cera e ofereceste-me o vivo nácar que habita nesses teus lábios e eu neles colhi um pequeno e lento mas delicioso beijo. Mais do que um encontro cúmplice de lábios foi, para mim, um encontro cúmplice de almas pois no momento em que eu os senti foi como se toda a tua essência se revelasse a mim com uma nitidez tão palpável e tão tangível e eu, docemente, recebia essa tua influência… Conheces a perfeição, minha Deusa? Eu senti-a ontem – quando os meus lábios se encontravam presos nos teus, o vento nos soprava, suave e meigamente, ramalhando as folhas das árvores, e tendo, sobre as nossas cabeças, um céu negro e silencioso com o resplendor das estrelas e a claridade da Lua…”
“Conheces Hemingway, minha Deusa? Foi ele que disse que escrevia as melhores páginas da sua vida quando estava enamorado…E também eu sou assim…De minha vontade, também eu estaria todo o meu tempo ideando e certificando todas as coisas que penso de ti. E, no entanto, o relógio toca. As mais belas páginas eu abandono para no conforto da tua presença eu, ternamente, te murmurar ao ouvido os verbos desta minha paixão.”
“Teu “
F.
“Minha adorada,”
“Foi ontem ainda, de noite, minha J., mas, nesta manhã já estou eu positivando numa letra bem concreta e real o sonho que vivi contigo nesse dia. Compreende o quanto a tua presença é, a meus olhos, tão necessária e, assim, se não posso ter-te fisicamente presente, eu idealizo-te literariamente… Foi ontem ainda, nesse dia em que te levei a um castelo porque eu sou como aquele Romeu que transpunha as muralhas com as asas do amor que o Cupido lhe emprestara para voar para junto da sua Julieta. E a noite, a boa conselheira dos amantes, nos envolvia dardejando as estrelas fulvas do seu cume; e uma dessas Luas que descem rebrilhando de brancuras, e inflamando a Terra da cor do âmbar e da opala… E, no entanto, ao olhar ambas – as estrelas e a Lua – eu surpreendia nelas o ciúme. Era o ciúme pela claridade que verte do teu olhar e que aquelas estrelas cobiçavam; o ciúme da brancura que transparece do teu rosto e que aquela Lua invejava. Fomos a esse Castelo porque tinha palavras para te dizer. Todas aquelas que ainda não tinham sido ditas, positivadas, concretizadas, mas que a linguagem dos gestos, dos olhos, dos rostos, dos risos dispensam e que não escondem.”
“Havia decorado palavras para te dizer. Todas elas cheias de lampejos e de veludos…Mas, depois, na tua presença, na tua imponente presença, fiquei assim – quedo e mudo. Apenas te pude dizer e apenas te soube dizer a única palavra que não me esquecera – amo-te. E não me esquecera porque esse é o único propósito da minha vida – amar-te. Vê tu bem, meu amor, a simplicidade em que se reduz a minha vida e, contudo, nunca eu encontrei um desígnio tão alto e tão digno de merecimento. Se eu sou todo aquele ser imperfeito e cheio de venalidades junto a ti – que és Deusa. Vê tu bem a essência a que se reduz todo o meu ser se, na verdade, eu sou como aquele que diz “só em ti penso, e só em ti vivo!...” E porque hei-de negá-lo? Se tal é a verdade e a Lei suprema em que assentam os alicerces do meu mundo. E não concebo outro Mandamento mais maravilhoso em que possa assentar uma vida de pureza do que ter a minha alma cativa da tua adoração. “
“E, ainda assim, tu – que és bondosa e misericordiosa – perdoaste-me pois mesmo diante do rústico verbo que te balbuciara – mas que resumia em tudo o meu espírito – tu sorriste. E um daqueles sorrisos que te é tão próprio e que neles abarcam todo a visão de um Paraíso idílico, branquejando, num céu azulado entre as altas nuvens, lá, no Etéreo…”
“E eu soube…Na verdade sempre soube – a ilusão foi minha companheira de viagem. Se “o amor é um fumo feito do vapor dos suspiros” e uma satisfeito “é fogo a brilhar nos olhos do amante”, como dizia Shakespeare, nos teus eu sempre encontrei o lume onde aquecia as minhas esperanças; a fogueira onde alimentava o meu idílio. E eles sempre foram condescendentes para com os meus desejos.”
“Uma lágrima, então, correu esse teu rosto de cera e ofereceste-me o vivo nácar que habita nesses teus lábios e eu neles colhi um pequeno e lento mas delicioso beijo. Mais do que um encontro cúmplice de lábios foi, para mim, um encontro cúmplice de almas pois no momento em que eu os senti foi como se toda a tua essência se revelasse a mim com uma nitidez tão palpável e tão tangível e eu, docemente, recebia essa tua influência… Conheces a perfeição, minha Deusa? Eu senti-a ontem – quando os meus lábios se encontravam presos nos teus, o vento nos soprava, suave e meigamente, ramalhando as folhas das árvores, e tendo, sobre as nossas cabeças, um céu negro e silencioso com o resplendor das estrelas e a claridade da Lua…”
“Conheces Hemingway, minha Deusa? Foi ele que disse que escrevia as melhores páginas da sua vida quando estava enamorado…E também eu sou assim…De minha vontade, também eu estaria todo o meu tempo ideando e certificando todas as coisas que penso de ti. E, no entanto, o relógio toca. As mais belas páginas eu abandono para no conforto da tua presença eu, ternamente, te murmurar ao ouvido os verbos desta minha paixão.”
“Teu “
F.
2 comentários:
Lindíssimo :) Haja looove!!
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