A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 13 de março de 2010

Carta a J.

A J.

Porto, Abril

Minha querida J.,

“Que anjo te fadou o coração? Que criatura dos Céus desceu sobre ti e com a melodia harmoniosa das harpas te faz tão celestialmente encantadora? Diz-me…Nada me escondas do teu ser...Quero saber tudo – do que gostas, do que pensas, do que lês, do que cismas…Quero saber todas as maravilhas que, de alguma forma, contribuíram para a composição daquilo que és. Aquilo que eu sou já sabes a que se resume – à tua servil adulação.”
“Li algures algo que dizia: “Põe em dúvida se o sol gira; se na estrela há fulgor: se será mentira a verdade; mas tem fé no meu amor”. Minha amada, porque duvidas ainda dele? Necessitas que esgote todas as palavras para dizer o quanto te amo? Não o sentes já quando a tua cabeça está sobre o meu ombro, quando a minha cabeça está sobre o teu peito, quando as minhas mãos te cingem a cintura? Para que necessitas tu das palavras? Queres ainda mais honestidade do que aquela que eu revelo nos meus actos? Não fui eu que te escolhi – eu já era teu há muito tempo…Simplesmente ainda não te havia encontrado para me lançar aos teus divinos pés, humilhado e implorando para que deixes viver debaixo da luz que de ti emana. Porque pensas tu nas outras? Vê bem, meu amor, a insignificância a que se reduz esse termo – as outras. Vê tu bem, meu Anjo, que, primeiramente, existes Tu e depois – apenas e somente depois – existem as outras…As outras que cobiçam a tua claridade doirada de estrelas – esses teus reflexos de oiro -, mas no céu negro que eu contemplo de noite tu és a única que oferece o fulgor de que necessito. São as outras que vivem na cauda desse cometa luzente e esplendoroso – que és Tu e de ti recebendo a luz. São elas que vivem, invejosas e sombrias, na penumbra dos teus passos, desejando aquele nimbo de oiro que cada pegada tua nesta Terra deixa…Como posso eu renunciar ao Sol dos meus dias e à estrela das minhas noites?”
Que posso eu oferecer-te como prova irrefutável deste meu amor? Tomara eu ser um suserano de um qualquer reino e, feliz, eu dele abdicaria para te demonstrar este meu sentimento; tomara eu ser o amigo da Fortuna, não para te oferecer o oiro que lustra já teus cabelos, mas te cintilar, ainda mais, de diamantes, jades, safiras ou esmeraldas…Mas eu sou o pobre amante que tu vês – que tem apenas o seu amor para te oferecer, ajoelhado e de mãos erguidas para ti, esperando que tu aceites essa oferenda. E, ainda assim, minha J., crê em mim quando te digo que este meu amor é verdadeiro e não conheço outro de arrebatamento igual.”
“Por isso, os únicos tesoiros que tenho para te dar são estas minhas palavras que balbucio o melhor que posso na vã esperança de que percebas o quanto és preciosa para mim. Essas palavras eu as revisto no esmalte dos metais mais valiosos mas que, enfim, são ainda insuficientes para te mostrar a nitidez daquilo que sinto. Assim, como Florbela Espanca, que chamou a esta impossibilidade e insuficiência do verbo Tortura, também eu te digo: “Quem me dera encontrar o verso puro, o verso altivo e forte, estranho e duro, Que dissesse, a chorar, isto que sinto!”.
“Na falta dele, tudo o que te asseguro é que sou…”
“Teu do Coração”
F.

1 comentário:

M. Pompadour disse...

E que maravilha é poder sentir tudo isso mesmo que metade das coisas nem cheguemos a entender. :)