Estimado leitor,
A imprensa portuguesa tem sido condescendente. Queira o amigo leitor saber porquê. V. Ex.ª que nos lê tem ouvido falar abundantemente de uma crise política, certo? Crise política essa protagonizada por PS e PSD ou, se preferir, entre o Governo e o maior partido da oposição, certo? Pois bem: o que o leitor não tem ouvido falar estranhamente é de uma certa pessoa que actualmente reside em Belém e que é um dos principais responsáveis pela situação política que vivemos: o Sr. Presidente da República. Da actuação do Sr. Presidente da República em todo este processo a imprensa nada tem dito. O PS atira as culpas para cima do PSD; o PSD atira a lama para cima do PS; a imprensa é respingada por um pouco da lama – e assim vai a mula arrastando a carga. E o Sr. Presidente da República? Que dizer dele?
Caro leitor, antes de mais deixe-me dizer-lhe que o decoro, a decência e sobretudo o receio de um processo judicial por difamação impedem-nos, porém, de dizer tudo o que achamos do Sr. Presidente da República. Este Sr. tomou posse no dia 9 de Março de 2011 na sequência das eleições realizadas no dia 23 de Janeiro. Nesse mesmo dia, consciente do clima político crispado que se viveu durante cerca de um ano e meio desde as eleições legislativas de Setembro de 2009, e que resultaram na formação de um governo minoritário do PS, Sua Excelência, o Sr. Presidente da República, chega à AR e esbandalha tudo. Este senhor que promulgou o casamento homossexual por a ética da responsabilidade se sobrepor às suas convicções pessoais, para evitar um confronto institucional com o Governo, foi um dos instigadores da crise política; este senhor que nas vésperas das eleições presidenciais, aquando das negociações para o Orçamento de Estado para 2011, teve um papel decisivo como mediador entre PS e PSD, obrigando-os a atingir um consenso em nome do interesse do País; este senhor que aquando da questão do Estatuto Político-Administrativo dos Açores, convocou uma conferência de imprensa, interrompendo o jantar dos portugueses, para dizer absolutamente nada; este senhor que fez campanha há um par de meses acusando o seu principal adversário, o Sr. Manuel Alegre, de prejudicar os interesses de Portugal face às suas posições quanto aos mercados – este senhor nada faz, depois de eleito, para evitar uma crise política que mergulha Portugal numa crise económico-social profundíssima. Este senhor, primeiro pela sua acção, pelo discurso que fez no Parlamento, pelo tom, pela retórica, pela agressividade, logo instigou nos deputados do PSD a vontade de provocar uma crise política; imediatamente, os deputados do PSD, esfregando as mãos, se sentiram tentados a votar favoravelmente a moção de censura do Bloco com o empurrãozinho presidencial que lhes fora dado. Não o fizeram, mas uma semana depois a crise reapareceu. Este mesmo senhor, depois, pela sua inacção foi um dos responsáveis directos pela situação que vivemos – porque nada fez, nada disse, nada interveio, nada mediou para contrariar a crise política que se desenhava.
Em lugar de ser factor de união e de consenso na vida política, o Sr. Presidente da República assumiu-se como facção, como parte, como desestabilizador; em lugar de fomentar a estabilidade política, forçando os partidos políticos a entenderem-se quanto aos interesses do País, dividiu-os. Este senhor que prometeu uma magistratura activa para a sua legislatura que agora se iniciou estridentemente a cumpriu no seu discurso da tomada de posse, e depois, nos bastidores, numa jogada palaciana, prosseguiu os seus desejos com o derrube do Governo em funções. Com que credibilidade fica o Sr. Presidente da República quando age de modo tão contrário, perante situações semelhantes como a negociação do Orçamento e a negociação do PEC, tendo como única diferença o factor temporal uma vez que sobre esses acontecimentos decorreu precisamente a eleição do Sr. Presidente da República? Ficou V. Ex.ª ressentido por o Governo não o ter informado da negociação com Bruxelas? O ressentimento pessoal não lhe fica bem, V. Ex.ª, sobretudo quando colocado à frente do interesse do País…Se V. Ex.ª ficou rancoroso, V. Ex.ª convocava o Sr. Primeiro-Ministro a Belém e como menino malcomportado que é, dava-lhe um puxão de orelhas e quiçá, uma reguada em cada uma das nádegas. Agora aceitar tácita e expressamente uma crise política por amuo, V. Ex.ª? Não lhe fica bem…
E agora em que ficámos, Sr. Presidente? Com certeza, V. Ex.ª. Vamos ter eleições; entretanto, vamos ter aí o FMI também. Mas e se das eleições antecipadas não resultar um governo de maioria absoluta? Que fará, V. Ex.ª? Tem legitimidade depois para pedir um governo de maioria, por iniciativa presidencial? Pois se não o fez até agora… Pois se V. Ex.ª em vez de unir, apenas dividiu…
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