O mundo está cheio de problemas e a sociedade moderna é um deles. O conceito de sociedade moderna, aberta, flexível e dócil está a despertar no dia-a-dia problemas que, antigamente, quando a sociedade era fechada, rígida e austera não se observavam e muito menos eram pensáveis.
À conta de se apaziguarem conflitos aparentemente inevitáveis, tende-se a passar por cima da confrontação directa e abre-se mão do mais imediato, a cortesia. Ninguém se quer chatear, a vida não está para isso e já bastam os problemas que todos temos de encaixar na nossa pequena bolha para ainda termos de encarar o desagradável. Dá trabalho e chatices e ninguém gosta de ter de se confrontar com o pós-guerra.
Porque a nossa capacidade de encaixe cresceu a olhos vistos depois que se aceitou o novo conceito de sociedade, os sapos que engolimos passam a fazer parte de nós e já têm o próprio espaço. O sindicalismo serve para fazer barulho, organizar grandes manifestações e contestar as anormalidades do sistema, mas já ninguém lhe recorre quando as pessoas se vêem presas nesse sistema que as empurra para situações que não lhes competem, porque a mancha do dedo apontado ao que está mal fica sempre a pairar sobre quem tem essa coragem.
O facilitismo de se deixar que as coisas corram para maior conforto de quem no fim assina as contas tornou todas as actividades numa civilizada forma de escravidão. Mais politizada e limpa mas, ainda assim, uma escravidão da sociedade moderna. As filas de desempregados a baterem à porta dos escritórios onde decidem, imaculados, os patronos das pequenas, médias e grandes empresas, fortalecem-lhes os espíritos e insensibilizam-lhes a mente. Ao mínimo desconforto, à mínima legítima reivindicação, trocam-se funcionários exemplares que vão dando a cara pelo bom-nome da empresa e apenas querem sentir a merecida gratidão e o justo reconhecimento pela mera condição humana de quem dá mais horas pelo que faz do que o próprio corpo aceita, pelo primeiro da interminável fila.
Já não há tolerâncias nem mais-valias. Todos são substituíveis e ninguém, por mais que dê de si, do seu próprio corpo e da sua própria alma tem a segurança de poder apelar aos seus direitos sem que isso o torne em mais um número das tristes estatísticas. Vivemos conscientes de que nos enfiamos recorrentemente nesta polida forma de escravatura, mas ainda mais amedrontados pela possibilidade de deixarmos de depender dela.
Portugal, Séc. XXI.
À conta de se apaziguarem conflitos aparentemente inevitáveis, tende-se a passar por cima da confrontação directa e abre-se mão do mais imediato, a cortesia. Ninguém se quer chatear, a vida não está para isso e já bastam os problemas que todos temos de encaixar na nossa pequena bolha para ainda termos de encarar o desagradável. Dá trabalho e chatices e ninguém gosta de ter de se confrontar com o pós-guerra.
Porque a nossa capacidade de encaixe cresceu a olhos vistos depois que se aceitou o novo conceito de sociedade, os sapos que engolimos passam a fazer parte de nós e já têm o próprio espaço. O sindicalismo serve para fazer barulho, organizar grandes manifestações e contestar as anormalidades do sistema, mas já ninguém lhe recorre quando as pessoas se vêem presas nesse sistema que as empurra para situações que não lhes competem, porque a mancha do dedo apontado ao que está mal fica sempre a pairar sobre quem tem essa coragem.
O facilitismo de se deixar que as coisas corram para maior conforto de quem no fim assina as contas tornou todas as actividades numa civilizada forma de escravidão. Mais politizada e limpa mas, ainda assim, uma escravidão da sociedade moderna. As filas de desempregados a baterem à porta dos escritórios onde decidem, imaculados, os patronos das pequenas, médias e grandes empresas, fortalecem-lhes os espíritos e insensibilizam-lhes a mente. Ao mínimo desconforto, à mínima legítima reivindicação, trocam-se funcionários exemplares que vão dando a cara pelo bom-nome da empresa e apenas querem sentir a merecida gratidão e o justo reconhecimento pela mera condição humana de quem dá mais horas pelo que faz do que o próprio corpo aceita, pelo primeiro da interminável fila.
Já não há tolerâncias nem mais-valias. Todos são substituíveis e ninguém, por mais que dê de si, do seu próprio corpo e da sua própria alma tem a segurança de poder apelar aos seus direitos sem que isso o torne em mais um número das tristes estatísticas. Vivemos conscientes de que nos enfiamos recorrentemente nesta polida forma de escravatura, mas ainda mais amedrontados pela possibilidade de deixarmos de depender dela.
Portugal, Séc. XXI.
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