O Primeiro-Ministro português, o Sr. José Sócrates, reúne-se hoje com a Chanceler alemã, a Sra. Merkel. Segundo apuramos, na muda de roupa que o Sr. José Sócrates leva para Berlim não consta um fato, mas sim um andrajo. Foi assim, roto e sujo, que o nosso Primeiro-Ministro, em frente ao espelho, de mão estendida, com o olhinho pisco e lacrimejante, a voz tremida, foi declamando a sua ladainha:
- Uma esmolinha, Sra. Merkel…
Eis o que resta a Portugal, eis o que resta de uma Nação que, como os nossos políticos a todo o tempo nos recordam, tem oito séculos de história. Eis o que resta de uma Nação que no século XV foi o grande farol da Civilização para o qual todos os olhos benevolamente se dirigiam. No início do século XXI, Portugal resume-se a isto: a uma Nação encabeçada por um pedinte.
A misericórdia alemã irá, no entanto, dificilmente ser concedida. Toda a opinião pública interna da Alemanha se opõe à flexibilização do FEEF: desde o Presidente alemão, o Sr. Christian Wulff, ao Bundestag, ao antigo Presidente do Bundesbank, o Sr. Axel Webber, a um conjunto de 189 economistas alemães em carta enviada ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, ao próprio povo alemão. Todas as circunstâncias se opõem às pretensões portuguesas.
O que resta, pois, a Portugal? Apenas apelar à vaidade da Sra. Merkel: não perante o povo alemão, mas sim perante os europeus e perante o futuro da Europa. A Sra. Merkel não tem sido alvo apenas da crítica interna da sua imprensa: a imprensa europeia tem criticado fortemente a Chanceler pelas suas hesitações, pela sua lentidão e frouxidão na resposta à crise europeia. Os seus próprios pares mostraram, por vezes, o seu desagrado com a sua conduta, como o Sr. Juncker. A Sra. Merkel tem, por isso, ao seu dispor uma oportunidade de ficar na história da construção europeia: é por ela que passa o futuro da Europa e as suas mais relevantes decisões – a flexibilização do FEEF, contribuindo para acalmar a pressão dos mercados sobre a zona euro, e o Pacto de Competitividade, coordenando as economias da zona euro, representando um passo sem precedentes na Europa. A Sra. Merkel poderá gabar-se de ter liderado esta fase marcante da construção europeia. As seis eleições regionais alemãs a disputar ainda este ano pareceram então curtas quando comparadas com um lugar cimeiro de destaque na história da construção europeia: falamos de perpetuidade e não de efemeridade.
Tendo em conta estes factos facilmente se compreende a bajulação entusiástica com que o Primeiro-Ministro português recebeu a proposta franco-alemã em torno do Pacto da Competitividade. Na nossa opinião, o reforço da coordenação da economia na zona euro é positivo, mas o Pacto deve ser negociado entre os Estados-membros e não arrogantemente imposto, como fez a Alemanha. Portugal prontamente manifestou o seu apoio à proposta. A esperança é que revelando este apoio, a Alemanha ceda na questão da flexibilização do FEEF. Caso esta cedência não aconteça, Portugal deve rejeitar o Pacto. A perda de soberania com o reforço da coordenação económica tem de ser contrabalançada pela flexibilização do Fundo, nota o Sr. Munchau. Esta tem de ser a mensagem: quid pro quo.
Segundo a imprensa, o resultado desta reunião será apenas uma declaração de confiança da Sra. Merkel na política de redução do défice do Governo português. É pouco. É verdade que pela primeira vez em diversas sessões os juros da dívida pública voltaram a descer na sequência desta reunião – mas uma mera declaração de confiança é estreita: acalma os mercados apenas por uns dias.
Os custos da reunião do Conselho Europeu resultarem num fracasso, sem Pacto de Competitividade e sem flexibilização do FEEF são elevados e aumentarão o pânico nos mercados. No entanto, se da reunião resultar apenas avanços na questão do reforço da governação económica da Zona Euro, o pânico, é certo, acalmará nos primeiros dias, mas regressará nos dias seguintes.
- Uma esmolinha, Sra. Merkel…
Eis o que resta a Portugal, eis o que resta de uma Nação que, como os nossos políticos a todo o tempo nos recordam, tem oito séculos de história. Eis o que resta de uma Nação que no século XV foi o grande farol da Civilização para o qual todos os olhos benevolamente se dirigiam. No início do século XXI, Portugal resume-se a isto: a uma Nação encabeçada por um pedinte.
A misericórdia alemã irá, no entanto, dificilmente ser concedida. Toda a opinião pública interna da Alemanha se opõe à flexibilização do FEEF: desde o Presidente alemão, o Sr. Christian Wulff, ao Bundestag, ao antigo Presidente do Bundesbank, o Sr. Axel Webber, a um conjunto de 189 economistas alemães em carta enviada ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, ao próprio povo alemão. Todas as circunstâncias se opõem às pretensões portuguesas.
O que resta, pois, a Portugal? Apenas apelar à vaidade da Sra. Merkel: não perante o povo alemão, mas sim perante os europeus e perante o futuro da Europa. A Sra. Merkel não tem sido alvo apenas da crítica interna da sua imprensa: a imprensa europeia tem criticado fortemente a Chanceler pelas suas hesitações, pela sua lentidão e frouxidão na resposta à crise europeia. Os seus próprios pares mostraram, por vezes, o seu desagrado com a sua conduta, como o Sr. Juncker. A Sra. Merkel tem, por isso, ao seu dispor uma oportunidade de ficar na história da construção europeia: é por ela que passa o futuro da Europa e as suas mais relevantes decisões – a flexibilização do FEEF, contribuindo para acalmar a pressão dos mercados sobre a zona euro, e o Pacto de Competitividade, coordenando as economias da zona euro, representando um passo sem precedentes na Europa. A Sra. Merkel poderá gabar-se de ter liderado esta fase marcante da construção europeia. As seis eleições regionais alemãs a disputar ainda este ano pareceram então curtas quando comparadas com um lugar cimeiro de destaque na história da construção europeia: falamos de perpetuidade e não de efemeridade.
Tendo em conta estes factos facilmente se compreende a bajulação entusiástica com que o Primeiro-Ministro português recebeu a proposta franco-alemã em torno do Pacto da Competitividade. Na nossa opinião, o reforço da coordenação da economia na zona euro é positivo, mas o Pacto deve ser negociado entre os Estados-membros e não arrogantemente imposto, como fez a Alemanha. Portugal prontamente manifestou o seu apoio à proposta. A esperança é que revelando este apoio, a Alemanha ceda na questão da flexibilização do FEEF. Caso esta cedência não aconteça, Portugal deve rejeitar o Pacto. A perda de soberania com o reforço da coordenação económica tem de ser contrabalançada pela flexibilização do Fundo, nota o Sr. Munchau. Esta tem de ser a mensagem: quid pro quo.
Segundo a imprensa, o resultado desta reunião será apenas uma declaração de confiança da Sra. Merkel na política de redução do défice do Governo português. É pouco. É verdade que pela primeira vez em diversas sessões os juros da dívida pública voltaram a descer na sequência desta reunião – mas uma mera declaração de confiança é estreita: acalma os mercados apenas por uns dias.
Os custos da reunião do Conselho Europeu resultarem num fracasso, sem Pacto de Competitividade e sem flexibilização do FEEF são elevados e aumentarão o pânico nos mercados. No entanto, se da reunião resultar apenas avanços na questão do reforço da governação económica da Zona Euro, o pânico, é certo, acalmará nos primeiros dias, mas regressará nos dias seguintes.
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