A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

SUPER mário

Caro leitor,

A Assembleia da República poderá, por certo, ser acusado de muitas coisas. Nós que somos, malevolamente, oportunistas aguardamos apenas (e ansiosamente) que o momento chegue, se proporcione, para podermos atacá-la, inclementemente. Segundo o padrão de comportamento da AR, tal momento não deverá tardar.

Não é, contudo, propriamente da AR que trataremos hoje. Ou, pelo menos, não directamente. O cenário de fundo é, de facto, a AR, mas não tem por protagonistas habituais os deputados. O leitor atento e zeloso da liberdade de imprensa saberá que na Comissão de Ética têm sido realizadas audiências de forma a apurar do grau da dita liberdade. Precocemente, uma vez que ainda não foram realizadas muitas audiências, diremos que ela parece estar de boa saúde, segundo apuramos. Já a liberdade de comédia, essa, está óptima e recomenda-se. Alive and kicking, como dizem os ingleses.

José Manuel Fernandes, uma das personalidades escutadas, antigo director do Público, manteve a seriedade e rigor de comportamento a que nos habituou nos tempos em que chefiava a direcção daquele jornal (beliscada apenas no célebre caso das escutas a Belém). Apontou casos concretos de comportamentos incorrectos do Governo. Factos portanto, e não delírios exponenciados.

O nosso alvo não é, todavia, José Manuel Fernandes, mas sim Mário Crespo e Felícia Cabrita. Mário Crespo, jornalista que admiramos pela seriedade e acutilância incisiva do seu trabalho, foi, no entanto, na sua audição, tudo o contrário do que mencionámos. Ele era o único colunista do JN que, habitualmente, líamos pela construção da sua opinião com independência, autonomia e propriedade, pelo seu estilo próprio e olhar atento às situações que mereciam ser referenciadas. E fazia-o num estilo agressivo, mas reportando-se sempre a factos concretos e, expondo sempre, dentro de um fundamento justificável, os seus pontos de vista.
Desde o episódio da crónica não publicada, Mário Crespo encadeou-se. E porquê? Subitamente, trazido para a ribalta dos holofotes televisivos do País (e não só como colunista do JN, ou como participante do Plano Inclinado, ou como a face do Jornal das 9), Mário Crespo enamorou-se das luzes e baqueou. Viu as luzes iluminadas, claras e brancas, mas tudo nele escureceu, e agora, nada enxerga.

O número produzido na Comissão foi ridículo – entre a distribuição de fotocópias da crónica aos deputados, a promoção gratuita do seu novo livro ou a sensualidade do seu pijama, o leitor escolha.

Felícia Cabrita, excepto a crítica ao BCP e seu comportamento com o Sol (que nos pareceu bem esclarecida depois por Armando Vara) também nada apontou. Apenas foi capaz de dizer aos deputados do PS que estes eram racistas por estarem demasiado interesses na identidade dos accionistas do jornal. Lamentável. Positiva foi a pronta actuação de Marques Guedes a sanar a situação.

A concorrência entre as pessoas que vão sendo ouvidas na Comissão para apurar aquela que produz a declaração mais ventosa e triunfante tem comprometido o sucesso dos trabalhos. Ao contrário do que diz Pacheco Pereira, a culpa disso não é do PS. A culpa está na sede de protagonismo, em aparecer, por parte dos intervenientes que ao invés de basearem as suas perspectivas em factos concretos e auxiliarem no esclarecimento da matéria, procuram apenas o Destaque.

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