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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

O Centenário da República

Caro leitor,

Domingo, 31 de Janeiro, iniciaram-se com pompa e circunstância, na Avenida dos Aliados, Porto, as comemorações do Centenário da República. A pompa esteve de facto presente. A circunstância também. O povo é que não se dignou a aparecer.

Artur Santos Silva, Presidente da Comissão para as Comemorações do Centenário da República, no dia 30 de Janeiro concedeu uma entrevista à Revista Única do Jornal Expresso. Lord Nelson já comentou a escolha de Santos Silva para o cargo e não teve palavras simpáticas para lhe dirigir. Nós então esperávamos, caro leitor, que desta entrevista pudéssemos vislumbrar umas quantas frases luminosas que viessem a justificar a escolha de Santos Silva para presidir às comemorações do Centenário e que esbofeteassem, violentamente, o Lord no seu rosto monárquico. Pois bem, estimado leitor…O que temos a comunicar é que a nossa busca foi inglória e vã. Buscamos, amigo leitor, como Ulisses buscou a sua Penélope, ardentemente, essa frase toda cheia de efeito e de brilho, mas buscamos debalde.
No que concerne à República no seu estado presente, sua excelência presidencial, Artur Santos Silva, limitou-se a dizer o seguinte:
1. “Não tenho legitimidade para avançar opiniões”.
2. “Não estou disposto a responder a essa questão”.
3. “Não tenho legitimidade para fazer juízos comparativos”.
4. “Não é matéria sobre a qual queira dizer mais nada”.
O predomínio do advérbio não no discurso de Santos Silva é, já de si, sintomático. O que sugeríamos a sua excelência era, porém, que, por altura, do convite que lhe foi dirigido para presidir à Comissão usasse o dito advérbio com a mesma chama com que gosta de responder às questões relacionadas com a República: Não.

Na verdade, quando questionado sobre uma sua eventual candidatura a Belém (sim, caro leitor, tal questão foi efectivamente colocada), Santos Silva responde da forma que se transcreve:
- É um desafio para o qual não tenho nenhumas características e em coerência com tudo o que foi a minha vida face à politica.
Compreendemos a renitência de sua excelência em enveredar pelos meandros escabrosos da política. Aliás, Santos Silva himself o confessa. Ele que fora fundador do PPD, diz que não seguiu a carreira politica pois tal não lhe interessava. E o que interessava a sua excelência? O desapego da sua linha profissional. Aos olhos de Santos Silva esta era mais estimulante do que a boçalidade da causa pública. Optando por seguir a sua profissão, Santos Silva colocou a cartola na cabeça e decidiu que, daí em diante, seria capitalista em detrimento da maçada da res publica. Esse era o seu sonho de infância.
No que se refere ao BPI, Artur Santos Silva foi mais expansivo e entusiasta na sua entrevista e falou, dissertou, perorou longamente sobre a epopeia bancária. Afinal de contas, sua excelência republicana é bisneto, neto e filho de republicanos. Mas verdadeiramente, para além de ser bisneto do seu bisavô, neto do seu avô e filho do seu pai, Santos Silva é Presidente não executivo do BPI. É isso que ele é. Os seus antepassados foram o que foram. E tudo o que o que Santos Silva tem para dizer sobre a República é que “devemos construir e reforçar os alicerces de uma República mais moderna, participada, democrática e justa”.

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