A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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sábado, 30 de janeiro de 2010

O Estado - Forreta

Prezado leitor,
Nos últimos tempos temos atraiçoado parte das nossas resoluções íntimas e, após uma reflexão do nosso percurso editorial recente chegamos a uma conclusão: negligenciámos o PSD. Ora, uma vez que o PSD nos merece todo o respeito, queremos, desde já, demonstrar a esse partido o nosso apreço, a nossa homenagem, a nossa vénia. O Opinador de Veludo sentindo que o próprio PSD vem desprezando-se a ele mesmo, vem pelo presente erguer esse partido das cinzas em que se encontra repousadamente estouvado.
Infelizmente, O Opinador de Veludo não tem boas linhas para dispensar ao PSD. Ainda assim, nos tempos presentes a vaidade não enjeita a que se lhe dispensem umas breves linhas, mesmo que essas linhas não lhe sejam meritórias. Como nos dizia Eça de Queiroz “nem é mesmo necessário que as sete linhas contenham muito mel e muito incenso: basta que ponham o nome em evidência, bem negro, nessa tinta cujo brilho é mais apetecido que o velho nimbo de ouro do tempo das santidades”.
No decorrer desta semana, o PSD em algumas questões foi um partido dócil, manso, submisso, afável e amoroso; noutras questões, o PSD foi um cavalheiro feroz, impetuoso, fogoso, veemente e arrebatado. Enquanto de dia, no Parlamento o PSD assumia o seu lado dócil de Mr. Hyde; à noite, no Ministério das Finanças, o PSD assumia o seu lado feroz de Dr. Jekyll. Ao Opinador de Veludo, desperto e curioso apenas nas questões malévolas, interessa somente o Mr. Hyde do PSD. E qual é o Mr. Hyde do PSD? A Lei das Finanças Regionais, caro leitor.
Escutamos com atenção as explicações de sua excelência mecenática, o deputado Guilherme Silva, grande porta-voz do PSD nesta questão, aquando da discussão da supracitada lei. O bom e altruísta Guilherme Silva afirmava então que o Governo deveria facultar ao benévolo e económico Governo da Madeira a módica quantia de 0,04% do PIB (divergindo de Alberto João Jardim que considera aquele montante modesto, pedinchando 0,05%). O Governo, impregnado de um espírito Luís XIV, absoluto e tirano, não pretendia satisfazer as intenções do PSD. O Opinador de Veludo, pouco forreta no que toca a questões económicas, enquanto escutava sua excelência Guilherme Silva, e passava a mão pensativamente pelo queixo, abanava com a cabeça em sinal de conformidade com as palavras do deputado. Que caramba! 0,04% do PIB?! Numa altura em que o Estado prepara a mão firme para as contas públicas achámos deveras adequado que o Continente se mostre grato à Madeira pelos seus relevantes serviços públicos prestados e, portanto, bem que podia abrir uma excepçãozinha.
Dedicados ao estudo como somos fomos então averiguar concretamente os motivos da recusa de avarento Governo. Os factos que diligentemente apurámos são os seguintes: entre empréstimos e outras operações financeiras já à vista a divida do Governo da Madeira ultrapassará os 5 mil milhões de euros em 2010. Para o amigo leitor ter uma ideia esta redonda quantia representa o PIB anual da Madeira. Então, essas bestas irredutíveis e avaras do Governo não consentem que o Governo Regional da Madeira se continue a endividar…e a endividar…e a endividar! O Opinador de Veludo compreende os motivos do espanto e do pasmo da Madeira…Afinal de contas,
Ainda no conforto da nossa biblioteca lemos as palavras do responsável madeirense pelo Plano e Finanças, sua excelência Ventura Garcês, que garante e passo a citar “criar divida não é problema desde que a região consiga honrar os seus compromissos com as instituições financeiras”. A sua excelência Ventura Garcês temos a dizer: Brilhante! Brilhante o raciocínio de sua excelência! Brilhante! De facto, desconhecíamos nós, idiotas e lorpas que somos, que a divida só se torna um problema quando não se consegue pagá-la! Gratos a sua excelência! Porém, meu caro Ventura Garcês (se nos permite a ousadia), o problema reside, precisamente, em pagar a divida! É que, justamente, à medida que ela se acumula ela, normalmente, se torna mais difícil de pagá-la. E, neste momento, ela ultrapassa o PIB anual da Madeira e com certeza seria um óptimo sinal que o Governo de Lisboa fornecesse ao Governo do Funchal a módica quantia dos 0,04% do PIB para que a Madeira se continua a endividar. Afinal de contas, o problema português nos últimos tempos tem sido a sua forretice e a sua sovinice, e não a sua poupança. Seguramente não existe nenhum outro modo mais justificável do que empregar o dinheiro público que, por esta altura, jorra em abundância do Estado, do que empregá-lo de forma a que a Madeira se continua a endividar.

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