Amigo leitor, leu a crónica que o Dr. Mário Soares escreveu no Diário de Notícias? Se não digo-lhe que não perdeu grande coisa, mas se quiser mesmo, mas mesmo ler carregue aqui. Não venha é depois dizer que eu não o avisei.
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É expectável que um Ex-Presidente da República defenda a forma de governo que permitiu a sua eleição e lhe teça elogios. O que nós n’ Opinador não esperávamos era esta argumentação a propósito da Comissão do Centenário, que passo a transcrever:
"O Governo decidiu - e bem - constituir uma Comissão Nacional para as Comemorações, presidida pelo Dr. Artur Santos Silva, bisneto de um dos heróis do 31 de Janeiro de 1891, revolta militar e civil frustrada que ocorreu no Porto, com a intenção de derrubar a Monarquia; neto de um ilustre médico, várias vezes ministro da I República, Dr. Eduardo Santos Silva, que deu o nome a um dos principais hospitais da cidade invicta; e filho do ilustre advogado e resistente antifascista Santos Silva, de quem tive a honra de ser amigo.
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Seu pai foi de resto, ainda, deputado à Assembleia Constituinte, que elaborou a nossa Constituição e estruturou, no plano legal, a actual II República.
O presidente da Comissão Nacional para as Comemorações não podia, portanto, ser mais bem escolhido para as suas funções, para além do seu alto mérito profissional e cívico."
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Desta forma, julgo que vamos passar a deixar de falar de ética republicana. A partir de agora fala-se de genética republicana.
Isto ajuda a provar um facto bastante evidente – nas repúblicas a propalada igualdade entre os cidadãos é meramente formal – no poder há sempre dinastias… Podemos é ser hipócritas quanto a isto.
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Mas quando pensávamos que já tinha passado o devaneio surge outro tesouro: “vivemos uma longa ditadura militar, que foi um regime de puro arbítrio, que não foi república nem monarquia” e “foi uma ditadura, pura e simples, que conduziu Portugal à beira da bancarrota”.
Colegas juristas: Queimai os vossos livros de ciência política – ou a Ditadura Militar e o Estado Novo foram uma anarquia, ou o Dr. Soares encontrou uma nova forma de governo – a “puro-arbitrocracia”. Esperam-se ensaios quanto ao tema…
E quanto ao estado das contas públicas durante a I República recomendo esta leitura.
Por fim, só queria alertar os senhores escritores para a necessidade de alterar as legendas que aparecem nos manuais escolares, pois estão claramente erradas. O Estado Novo não foi uma República… Tá bem, tá!
Haja decência nas afirmações e nas despesas, pois nesta brincadeira da comemoração do centenário de um golpe de Estado – nunca referendado - já se gastaram 10 milhões de Euros!
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