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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Haiti

1. O avião militar C-130 que transportaria a ajuda humanitária portuguesa para o Haiti aterrou novamente na sexta-feira na Base do Montijo às 23h devido a avaria depois de ter deslocado nesse mesmo dia.
Eram 17 horas…Na Base de Figo Maduro corria um vento manso e o céu, mesmo cinzento e triste, não enregelava os corações dos 32 membros da Protecção Civil que, em breve, seguiriam para o Haiti, voluntariosos e prestáveis, com o fim de ajudar no terrível desastre que se abatera sobre o País das Caraíbas.
Partiram então esperançados na esperança de contribuir com a sua singela ajuda à população haitiana. Traziam no seu bondoso e condescendente coração as palavras do Primeiro-Ministro, José Sócrates, na sua mensagem de Natal de 2009, também ele doce e enternecido de comoção, suspirando gravemente:
- É também meu dever, que cumpro com satisfação e orgulho, saudar e expressar o meu profundo reconhecimento aos militares portugueses em missões no estrangeiro que, com a sua acção, têm dado um contributo ímpar para a afirmação de Portugal no mundo.
Cientes destas palavras os membros estavam orgulhosos de servir a sua nação no mundo. Com certeza que não eram militares no rigor do termo, mas eram soldados da Paz. Sim, sem dúvida. Eram Soldados da Paz. E, bravos e heróicos, iam dar o seu contributo para a afirmação de Portugal no mundo. Um laivo de orgulho enchia-lhes o rubro coração…
Mas…eis que…uma avaria acontece! Essas coisas acontecem!... Mesmo às nações que pretendem impor-se no mundo pelo carácter das missões no estrangeiro. E o avião regressou, envergonhado e corado, não a Figo Maduro, essa base madrasta mas ao Montijo, assim como a imposição do nome de Portugal.
O Opinador de Veludo sabe, de fonte segura, que os responsáveis da operação equacionaram prescindir do C-130 e asar, sob a forma de avião, o Ministro Augusto Santos Silva por ser de material mais rijo e resistente. No entanto, julgou-se incompatível o fim a que a missão se destinava com o meio beligerante e marcial de transporte que seria utilizado.

2. Os rancores do Opinador de Veludo não se manifestam, porém, apenas contra Portugal. Desengane-se o leitor. Nós, altivos, nos auto-proclamamos como cosmopolitas. Assim, gostaríamos de dirigir uma palavra simpática à União Europeia. Pois bem, esta união não é mais, por esta altura, do que o ajuntamento anárquico e desorganizado que pode existir. Enquanto os EUA se mostraram rápidos e velozes na sua ajuda ao Haiti, chefiado pelo Presidente Obama e pela Secretária de Estado, Hillary Clintom que no sábado esteve breves horas no Haiti, a União Europeia revela-se totalmente incapaz de assumir um papel digno e condizente com o seu estatuto no Mundo. Com efeito, apenas se ouvem relatos de alguns Países Europeus que, individualmente, já enviaram as suas equipas de ajuda para o território. Mas sinal da União Europeia? Nem vê-lo. Não existe simplesmente sinal de uma ajuda concertada e, efectivamente, prestável de União em relação ao Haiti. Perguntamo-nos para que servem aquelas figuras ornamentais designadas em Dezembro para liderar a União, o Sr. Rompuy e a Sra. Ashton? Aliás, nesta mesma altura, discute-se no Parlamento Europeu a competência para o Pelouro da Ajuda Humanitária da Sra. Rumiana Jeleva que enfrenta problemas no que respeita à sua declaração de interesses financeiros, para além da alegada ligação de seu esposo a redes mafiosas. Alegadamente, pelos vistos, uma Sra. com o perfil perfeitamente adequado para a pasta da Ajuda Humanitária na Comissão de Durão Barroso. Na sua audição no PE, a Sra. Rumiana Jeleva foi, ainda, rotulada de incompetente pelos eurodeputados. Com certeza, a UE vem dando os sinais do papel que pretende ocupar no mundo. Somente hoje haverá uma reunião no sentido de desbloquear 100 milhões de euros para o Haiti.

3. Em Novembro do ano passado realizou-se em Itália a cimeira da FAO, organização das Nações Unidas para a alimentação e agricultura. A cimeira foi um fiasco. As nações acordaram num daqueles documentos vagos e inúteis em que todos se comprometem em acções para erradicar a fome. Essas acções raramente passam do texto acordado na Cimeira para actos efectivos ou, pelo menos, tanto quanto deveriam. Os líderes do G8 estiveram ausentes dessa cimeira. Os objectivos do Milénio das Nações Unidas estão em risco de virem a não ser cumpridos. Caro leitor, esta história vem no sentido da gigantesca e comovente operação de salvação, meritória e que se saúda por certo, por parte do mundo em relação ao Haiti. Mas estas nobres e ricas acções não se contentam apenas quando o mal se encontra já, irremediavelmente, concretizado. É importante as nações mais desenvolvidas do mundo não sejam hipócritas e que em outras alturas se dêem os passos efectivos no sentido de se cumprirem com os objectivos do Milénio. Quem sabe se esses, agora, Messias, não levassem mais seriamente essas cimeiras e o Haiti não poderia, nesta altura, se encontrar guarnecido de uma estrutura mínima que servisse de suporte à acção humanitária que decorre? Caro leitor, não pretendemos ser demagógicos mas como é público, as deficiências de organização do Estado do Haiti têm sido, especialmente notadas nesta altura de ajuda à população. Existem certas zonas do globo que são particularmente sensíveis à pobreza e compete aos Estados mais ricos, é da sua responsabilidade também a ajuda a estas nações, não apenas nestas alturas, mas em outras alturas, como foi o caso da Cimeira da FAO e que desses encontros resulte um documento com soluções efectivas e vinculativas. Não são apenas as cimeiras em que está em jogo o futuro do sistema financeiro mundial que devem ser levadas seriamente.

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