Caro leitor,
Estamos cientes que Lord Nelson numa das suas crónicas já abordou o tema da situação iraniana, embora resvalando, vergado à sua personal vendetta, para o socialismo, negligenciando uma análise mais profunda de uma República Islâmica cada vez mais débil. Assim, escutando o rumor jacobino e revolucionário que clama na nossa alma, sanguinolentos e furibundos, volvemos à epopeia da Revolução. E questionamos: será esta a altura da queda do Muro no Irão?
Apesar da violenta repressão com que o regime iraniano tem punido os manifestantes que, após o escândalo eleitoral provocou a morte, segundo fontes independentes do regime, a mais de 100 pessoas e, mais recentemente na Ashura, cerca de uma dezena, entre os quais o sobrinho de Mir-Hossein Moussavi, a população iraniana, bravamente, continua a ecoar a sua voz nas ruas. É um movimento que, ao início, era sobretudo jovem e que contava na sua Legião com estudantes das Universidades abertos a novas ideias, a que se aliavam intelectuais e homens do sistema com uma mentalidade reformista, como o próprio Moussavi, mas também Karroubi. No entanto, ei-lo crescendo, robusto e ruidoso, bebendo de todas as classes da sociedade, encarnando o espírito da justa desobediência civil, a Voz da Revolução. Um movimento que tem por referência central Moussavi, mas ainda anárquico a uma organização, mas agregado à ideia e desejo unificador e comum de Reforma. Admiramos especialmente estas pessoas que, mesmo sob a ameaça da sua própria vida, se manifestam na rua, honrando e respeitando o nexo que une as suas ideias e os seus actos. "O regime da obediência é o sistema da negação do carácter". Submisso a uns quantos ditados sob a forma de máximas, o homem não passa de um molde, de um instrumento de cozinha em que se cinge o seu carácter, como um mole e fofo bolo preparado no forno de uma ideologia de conteúdo vácuo em que se determina o tempo de cozedura e assim o determinam preparado para a vida. E é disso que o homem não passa: de um simples utensílio, de uma mera forma de cozinha onde se fazem os pães-de-ló.
Tomando o destino na sua mão, os iranianos enviam uma mensagem ao mundo ocidental, aquele que se julga indulgente: o mundo islâmico não é apenas o fundamento do preconceito que tem surgido contra ele e de que o referendo suiço aos minaretes foi um exemplo. Iluminados pela ideia de Justiça, o povo iraniano ergueu-se, tumultuoso, contestando o resultado fraudulento das eleições no seu país. Pela mesma região, a Aliança teve mão frouxa, indecisa e complacente quando o mesmo aconteceu no Afeganistão, com o Presidente Hamid Karzai. Com certeza que para o mundo islâmico há ainda um longo caminho a trilhar, sobretudo no campo da interpretação livre do Corão e isso não o queremos menosprezar. Porém, o Ocidente, o tal mundo que tanto apregoa a ideia de Democracia, de Respeito e de Tolerância enviou o seu sinal. Por seu lado, os iranianos, fazendo uso do seu livre arbítrio, exaltando a justiça contra a opressão, aos poucos, vão fazendo a sua escolha. Bastou, para tal, o poder da Ideia. Aliás, estimado leitor, foi pela mesma beligerante forma, a Palavra, que Obama desconstruiu um argumento muito útil a parte do mundo islâmico: o ódio ao Grande Satã. É importante que o Ocidente não evoque os seus valores fundadores apenas quando lhe é oportuno. Lead by example.
O Opinador de Veludo faz os seus votos para que a Voz da Revolução no Irão ranja, retumba e ribomba um pouco por todo o Mundo, para que se escute o quão poderosa é a voz do Homem e das suas ideias na busca pela Justiça.
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