Numa das reviravoltas mais inverosímeis da história, o Sr. Papandreou, depois de haver aplicado sobre os seus conterrâneos sucessivos pacotes de austeridade para assegurar a permanência do seu país na zona euro e o financiamento à sua economia, lembrou-se, um ano e meio depois do pedido de ajuda externa de referendar essa mesma permanência e esse mesmo financiamento. Com esta resolução conseguiu duas coisas extraordinárias – colocar a Europa novamente em ebulição e fragilizar a sua própria posição como Primeiro-Ministro da Grécia. Então não é que Sua Excelência anda consecutivamente há um ano e meio a fazer sofrer o seu povo com severas medidas de austeridade para que não ele não sofra agruras maiores e a meio do processo lembra-se de colocar um ano e meio de sacrifícios em causa? Isto depois de Sua Excelência haver implorado sucessivamente ao Parlamento Grego para aprovar sucessivos programas de reforma em nome da permanência no euro? A Europa caminha com a cabeça e pensa com os pés.
Embora continue a centrar atenções, e seja por si só bastante grave, a situação grega poderá em breve ser secundarizada face ao novo desastre que se avizinha. Falamos, claro está, da Itália. A Itália, a terceiro maior economia da zona euro, representando 17% de todo o produto (Grécia, Irlanda e Portugal valem conjuntamente apenas 6%) parece ter entrado naquela espiral irreversível que termina apenas com um pedido de ajuda externa. As suas taxas de juro não param de subir nos mercados e já entraram no limite fatal dos 6%; o seu programa de reformas já terá a supervisão do FMI. As consequências dum pedido de ajuda externa da Itália e as suas repercussões nos mercados internacionais são imprevisíveis, mas uma coisa é certa: não vai ser uma coisa bonita de se ver.
Os analistas económicos estimam que, em caso de pedido de ajuda externa, um bilião de euros não é suficiente para assegurar as necessidades de financiamento da Itália. Isto significa que as recentes decisões da Cimeira Europeia tomadas na semana passada, entre as quais saliente-se o aumento do FEEF, estão já desactualizadas face aos desenvolvimentos nos mercados internacionais. Pior: ainda nem sequer se sabe como se irá efectuar o aumento do FEEF para um bilião de euros. Demonstrando a sua altruística solidariedade e o seu firme compromisso em resolver a crise europeia, os líderes europeus presentes na recente Cimeira do G20 organizada em Cannes requereram aos países mais desenvolvidos do mundo e aos países emergentes que contribuíssem monetariamente para o FEEF. Estes tentaram demonstrar à Europa uma realidade que parece evidente mas que os europeus têm dificuldade em compreender: o problema é da Zona Euro, logo, deve ser a Zona Euro a primeira a contribuir para a resolução do problema.
Todos estes tristes acontecimentos apenas vêm reforçar as incertezas do mercado e nomeadamente a incerteza sobre um problema fundamental – tem a Europa capacidade para resolver os seus problemas e simultaneamente não se desagregar? O derradeiro teste, no meu entender, poderá já nem passar pela Grécia, mas sim pela Itália. É que havendo um pedido de ajuda externa, estarão os países europeus e nomeadamente a Alemanha e a França, mas também a Holanda, a Finlândia ou a Áustria disponíveis para ajudar a Itália?
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