A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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segunda-feira, 28 de novembro de 2011

True Story

Quando há muito muito tempo me perguntavam o que eu gostaria de ser quando fosse grande a minha resposta era sempre a mesma, veterinária. Acho que todas as meninas em alguma parte da sua infância querem ser veterinárias por causa da suave ideia de poderem estar todos os dias rodeadas de animais tão peludos e dóceis que a vontade é de os encher de mimos. Animais que, ainda por cima, se encontrarão debilitados e tristes e, portanto, a merecer toda a atenção e conforto do mundo.
Mais tarde, quando a percepção da realidade começa a mudar e o centro da nossa vida passamos a ser nós e não as brincadeiras que esperamos ansiosamente repetir todos os dias no recreio da escola, os voos mudam radicalmente de direcção. Provavelmente quando comecei a ter consciência dos espelhos e da necessidade que todos temos, nem que seja momentaneamente, de nos agradar e agradar aos outros sonhava ser cabeleireira. Assim podia fazer madeixas em mim mesma sem que a minha mãe me bloqueasse a vontade e seria como brincar o dia inteiro com tesouras e secadores.

Durante o Secundário, quando é preciso realmente saber o que fazer a seguir e ter a noção perfeita do passo que se quer dar em prol de um desenvolvimento pessoal e profissional tão essencial, não fazia ideia que caminho seguir. Ser veterinária foi sendo posto de parte ao longo dos anos, quando me apercebi que a queda que tenho para a matemática e as ciências não chegaria para tal e, ser cabeleireira ou qualquer outra coisa dedicada à indústria da beleza, afastada por ter a feliz oportunidade de me formar numa Universidade. Mais do que qualquer outra coisa, a nossa sociedade vive de títulos e, a partir de determinado momento da história, parece que se construiu a ideia de que, quem não tem um diploma carimbado por uma qualquer Faculdade, não deve esperar ter sucesso. Corri então todas as hipóteses que se adequariam de alguma forma ao meu perfil pessoal e acabei por escolher aquele que, pela opinião geral, era considerado um dos cursos mais abrangentes da lista: Direito. Advocacia não era opção, mas tendo do meu lado a prova de que formalismos e leis (coisas tão apreciadas no nosso burocrático país) faziam parte das minhas capacidades achei que não seria complicado contornar a situação e arranjar um emprego.
Parece que tirei o curso tarde demais, porque afinal não é assim uma área tão abrangente. Visto que neste momento corre por aí um vírus que afecta umas mais outras menos, mas, todas as áreas de formação começo a conjecturar... O mundo sempre foi generoso para com os melhores, mas hoje em dia não só é generoso com esses, como exige que todos o sejam! Ora, eu, não para ter sucesso mas sim para ter sustento, tenho de ser a melhor em qualquer coisa, porque se for simplesmente banal ou vir a minha capacidade medida pela regra geral não tenho qualquer hipótese de sobrevivência na minha área.
Pois que seja do capitalismo, da crise ou da evolução natural da sociedade que se vem vestindo de egoísmo e competitividade exacerbada, o que é certo é que agora não há espaço para "mais do mesmo".

E foi nessa expectativa de um dia me poder encaixar em qualquer tarefa rotineira e limpa ou atrás de uma qualquer secretária envolta de papeis que fiz a escolha que fiz e hoje, consciente de que ainda não sou a melhor em nada para me fazer valer nesta arena constato que, se tivesse escolhido ser cabeleireira em vez de me deixar seduzir pela elegância de um diploma talvez hoje não tivesse tempo para escrever este texto, ou se calhar nem teria as capacidades que tenho para o fazer, mas pelo menos teria anúncios de oferta de emprego a que responder.


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