A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Ai Europa, Europa...

Se a acção do BCE ainda vai permitindo a estabilização dos títulos da dívida italiana e espanhola, que vão recuando em todos os prazos, já o mesmo não pode ser dito quanto às quedas que se vão somando nas bolsas. Também a decisão da FED em manter as taxas de juro a níveis mínimos até 2013 não foi suficiente para acalmar os investidores e transmitir confiança aos mercados. E esta é a palavra-chave numa economia: confiança. Na Europa, não há união política: as palavras firmes dos dirigentes europeus perdem-se sempre perante as suas acções frouxas; nos EUA, a decisão da FED foi renhida: alguns membros, manifestaram a sua oposição à não alteração das taxas de juro, manifestando maiores preocupações com a inflação. Ora, com a entrada da Administração americana na era da austeridade, adivinha-se que na FED haverá pouca margem de manobra para conceder os indispensáveis estímulos a uma economia deprimida, cada vez mais em risco de recair em recessão. Dum e doutro lado do Atlântico, os líderes políticos têm falhado sucessivamente em transmitir confiança aos mercados.

Concentremos a nossa atenção sobre a Europa. A decisão de colocar o BCE actuando no mercado secundário de nada serve. Ou melhor: serve de paliativo – serve durante um par de semanas para estabilizar os títulos da dívida pública italiana e espanhola. Não mais que isso: isto porque o BCE não se pode substituir na acção aos responsáveis políticos. E os custos da inércia europeia, se não se revelam abertamente nos títulos italianos e espanhóis, revelam-se diariamente na fuga de capitais que se assiste nas praças europeias. De Paris a Frankfurt, de Milão a Madrid – os investidores não confiam na Europa e movimentam o seu dinheiro para investimentos que consideram mais seguros. E de qualquer maneira, de que serve manter as obrigações italianas e espanholas a 5 ou 6%? Obviamente que tal não permite assegurar a sustentabilidade das dívidas públicas italianas e espanholas. Para isso, é necessária uma combinação de duas coisas: baixas taxas de juro e crescimento. E nenhuma das duas se verifica agora. Ambas estão, no entanto, ao alcance de um compromisso político, embora o tempo para evitar uma nova recessão mundial com contornos graves seja cada vez mais reduzido graças à inacção dos políticos mundiais por mais de um ano.

Um compromisso político sério e credível implica uma acção conjunta dos dois lados do Atlântico. Economias tão interdependentes como a americana e a europeia não podem voltar a crescer sem a ajuda da outra. Se a Grécia atrasou, em parte, o crescimento americano, não é menos verdade que a estagnação americana atrasa o crescimento da Europa. Pelo que um compromisso conjunto da Europa e dos EUA é indispensável para que se volte a trazer estabilidade aos mercados. E para isso é necessário inverter as prioridades: é necessária responsabilidade orçamental, mas nunca sacrificando irremediavelmente o crescimento; e para que haja responsabilidade orçamental, é indispensável que haja uma responsabilidade política. E é isso que sobretudo tem faltado tanto nos EUA, como na Europa.

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