A mais bela, a mais pura e a mais duradoura glória literária de prosa da blogosfera

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terça-feira, 2 de agosto de 2011

A CGD e sus muchachos!

Mudou a cor do governo, mudaram os administradores da Caixa Geral de Depósitos. Até aqui tudo bem, tudo normal.


O que já não está bem, nem pode ser considerado normal é o facto de dois partidos que se apresentaram a eleições com programas de austeridade e controlo da despesa aumentarem o número de administradores do banco público. Tal aumento é completamente absurdo e envia uma imagem errada aos eleitores num período que, por causa das medidas de austeridade que se vão adoptar, pode ser de agitação social. Muito honestamente, esperava outra coisa de Passos Coelho. Agora vamos ter 11 administradores, cada um a ganhar o dobro do salário da chanceler alemã.


Mas não criticamos as escolhas para o banco público (excepto uma) – o conceito de interesse público é amplo e indeterminado. Numa democracia ele é definido pelo grupo que teve maior votação em eleições livres. Se queremos um banco público, orientado pelo interesse público, temos que aceitar que o executivo (que, juntamente com o parlamento) que define as grandes linhas desse conceito possa nomear pessoas que partilhem da sua visão estratégica.
Se não se gosta disto que se defenda (como nós defendemos) a privatização total da banca, sem interferências do poder político a não ser para efeitos de regulação (numa supervisão estritamente jurídica).

Os partidos que criticam o facto de Passos Coelho ter nomeado gente da sua área são tudo menos sérios – mas há duvidas que se o BE ou o PCP, por exemplo, tivessem ganho as eleições, nenhum liberalzito entraria na direcção do banco público? Se se defende bancos nacionais tem que se admitir a interferência do poder político – não o fazer é ser pouco sério.

Antes dissemos que não concordamos com um dos nomes – e trata-se de Nogueira Leite. Não está em questão o curriculum do indigitado nem a sua seriedade. Este vice-presidente do PSD (e ex-Secretário de Estado dos tempos do Guterres – há coisas fantásticas, não há?) trabalhou até recentemente no Grupo Mello, um dos grandes players no campo do sistema privado de saúde. Ora sucede que a Caixa Geral de Depósitos vai alienar, a breve prazo, a sua participação no negócio da saúde, pelo que esta nomeação parece, no éter dos valores, pouco acertada pois dificilmente conseguirá o indigitado passar uma imagem de total independência: não basta ser sério, é também preciso parecê-lo.


Pode ser que esta trapalhada possa servir para mostrar que um banco público serve sempre o interesse do grupo político mais votado e não o tal do “interesse público”, seja lá o que isso for. Pelo bem da democracia, vamos lá a defender (e exigir) a privatização total da CGD.

Antes de terminar gostaria de dar ainda uma vergastada no CDS – este partido conseguiu a nomeação de Nuno Fernandes Thomaz para a comissão executiva da Caixa (repetimos, se não se gosta destas interferências políticas não se pode concordar com um banco público).


Ora, há uns tempos atrás o CDS andava com um bonito powerpoint acerca do salário dos administradores da Caixa que, para efeitos de ilustração, comparava com o salário da chanceler alemã. Aqueles ganhariam o dobro desta, situação que foi muito criticada. Por coerência, esperamos pois que agora, o nomeado pelo CDS para a Caixa venha propor uma redução salarial. Se não vier, shame on them!

E é isto – gostaria ainda de abordar o caso BPN mas o post já vai longo… Fica para uma outra oportunidade. As 3as e 5as vão fechar n’ Opinador para descanso do pessoal até Setembro.


Boas férias para todos, e vemo-nos depois da silly season!

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