Uma onda de demagogia e populismo têm chegado às praias portuguesas este Verão. A Oposição é o responsável pela espuma que a onda traz e que chega ao areal. O motivo? A suposta polémica entrevista de Isabel Alçada, Ministra da Educação ao jornal “Expresso” em que, sanguinolentamente, a Ministra jurava jorrar o sangue dos chumbos! A Oposição tremeu e, aterrada, murmurava numa prece contínua:
- Valha-nos Deus! Valha-nos Deus!
A Ministra, mais grave, mais furiosa, mais escarlate, gritava:
- Há-de jorrar! Por minha palavra de honra, há-de jorrar! E sem ouvir ninguém! Sorrateiramente, hei-de fazê-lo jorrar!
Por motivos de dignidade intelectual, reproduzimos, portanto, as palavras da Ministra da Educação ao jornal “Expresso”, para que o leitor retire a sua conclusão:
Também vai definir metas quantitativas de sucesso a atingir pelos alunos?
O que é importante é termos os instrumentos que permitam às escolas e aos professores perceber se estão a melhorar. Temos uma monitorização externa, com os exames e as provas de aferição, e temos a repetência, que é uma fórmula aplicada sobretudo nos países do Sul da Europa e que não tem contribuído para a qualidade do sistema. As crianças repetem o não e essa repetição quase nunca é benéfica em termos da evolução da aprendizagem.
Qual é a alternativa?
O que todos os países do Norte da Europa fazem. Se disser a um inglês que o seu filho passou, ele nem percebe do que está falar. A alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado. E nós já temos muitas: temos aulas de apoio ao aluno, estudo acompanhado, projectos especiais com mais professores e técnicos.
Pondera então alterar as regras de avaliação durante o seu mandato?
Pondero. Mas ainda não chegamos a um consenso. Deve haver uma audição dos parceiros sociais, das escolas e dos docentes para encontrar uma alternativa em que as pessoas se reconheçam.
E está disposta a lançar esse debate para acabar com os chumbos?
Sem dúvida. As reformas impostas, concebidas por um grupo de pessoas que propõem uma alternativa radical e em que as pessoas não se revêem, não são compreendidas.
“Deve haver uma audição dos parceiros sociais, das escolas e dos docentes para encontrar uma alternativa em que as pessoas se reconheçam”. A tirania e o absolutismo reinam no Ministério da Educação – a Ministra tem uma ideia própria relativamente à repetência, pretende ouvir os parceiros sociais, as escolas e os docentes para saber as suas ideias, e a Ministra é Luís XIV. Que os portugueses não têm por hábito ler os jornais é um hábito facilmente compreensível; que os políticos portugueses não tenham o hábito de estar actualizados sobre o assunto do seu dia-a-dia – a política – é já lamentável. Pelos vistos, suas excelências não foram correctamente educados pelo sistema de ensino e faltaram à lição de português: à interpretação. Isto explica, em grande parte, o estado latrinário do País. Porque, minhas caras excelências, vocês só fazem borrada. Das palavras “deve haver uma audição dos parceiros sociais”, a oposição portuguesa nota uma férrea e intratável vontade de estabelecer o fim dos chumbos, sem escutar a opinião de ninguém. Este sistema foi adoptado há uns anos pela antecessora de Isabel Alçada, que tentou fazer algo pelo sistema de ensino português – a avaliação dos professores – mas que chocou no corporativismo duma classe. Querer premiar o mérito entre os professores? Poder distinguir entre bons e maus professores? Velar atentamente pelo funcionamento das aulas do nosso sistema de ensino? Estabelecer padrões de excelência nas aulas? Afrontar os interesses da classe dos professores e vigiar a boa execução das aulas? Impossível, impossível! Escândalo, escândalo o querer avaliar as pessoas do nosso País! Gritou em uníssono a oposição.
A demagogia foi tal que, em algumas ocasiões, juntaram a sua voz na própria rua e não apenas na Assembleia da República. É que, ao contrário do que o Governo julga, a Assembleia da República ainda tem poder. Assim, se uma classe de 130 000 pessoas berra estridentemente ao ouvido do partido político «Isto é uma afronta! Uma afronta quererem avaliar o nosso trabalho, tal como se faz em qualquer empresa privada! Isto ainda é o Estado! E o Estado português, ainda por cima, caramba!». O partido político, esfregando as mãos, faz os seus cálculos. Chega à conclusão que seria uma boa medida para o melhor funcionamento do sistema de ensino. Mas depois faz outro raciocínio fatal – toma em consideração o seu próprio interesse e realiza o cálculo eleitoral. Desprezar o apoio de 130 000 votantes seria politicamente estúpido. Ruinoso para o País, mas politicamente estúpido. Prevalece então a espertice política e a ruína do País. Esta é a perfídia do nosso Governo – velar pelos interesses do País. E foi assim que no decurso da nova legislatura, o esforço de quatro anos foi pela latrina abaixo.
A OCDE tem recomendando a redução dos chumbos pelos motivos apontados pela Ministra – os benefícios produzidos por este sistema de retenção são nulos; este facto tem sido demonstrado por diversos estudos. Além do mais, o sistema de chumbos representa um elevado e dispendioso custo para o País Ao contrário, a solução deve passar por outro tipo de intervenção, nomeadamente pelo desenho de estratégias individualizadas e direccionadas para os alunos com maior dificuldade de aprendizagem. Este é o caminho que tem sido seguido pelos países nórdicos. Um problema – o sistema de ensino nórdico não é o português. Não é possível implementar uma realidade particular - a redução dos chumbos - inserida numa realidade geral – o exigente sistema de ensino nórdico - noutra realidade geral completamente diferente – a barafunda facilitista do sistema de ensino português. Realizar reformas, imitando e copiando realidades pontuais de outros sistemas de ensino que têm as suas virtudes, sem alterar, em primeiro lugar, o pano de fundo do sistema de ensino português é inócuo. Há, por isso, que pensar em realizar outras alterações em primeiro lugar – a remodelação dos currículos; a focalização nas disciplinas essenciais e a eliminação do acessório; introduzir uma maior exigência no ensino e findar com o facilitismo. Enquanto um conjunto de mudanças no panorama geral da educação portuguesa não for efectuada, a reles imitação de certas particularidades do sistema de ensino de outros países nunca produzirá os devidos efeitos – porque Portugal não é a Finlândia em termos de ensino; há que atender à realidade concreta do País. É, por isso, que somos contra a eliminação dos chumbos em Portugal, sem primeiramente, serem efectuadas outras alterações que coloquem ordem no sistema. Não possuímos, portanto, uma posição dogmática sobre o assunto depois de realizadas as respectivas mudanças.
- Valha-nos Deus! Valha-nos Deus!
A Ministra, mais grave, mais furiosa, mais escarlate, gritava:
- Há-de jorrar! Por minha palavra de honra, há-de jorrar! E sem ouvir ninguém! Sorrateiramente, hei-de fazê-lo jorrar!
Por motivos de dignidade intelectual, reproduzimos, portanto, as palavras da Ministra da Educação ao jornal “Expresso”, para que o leitor retire a sua conclusão:
Também vai definir metas quantitativas de sucesso a atingir pelos alunos?
O que é importante é termos os instrumentos que permitam às escolas e aos professores perceber se estão a melhorar. Temos uma monitorização externa, com os exames e as provas de aferição, e temos a repetência, que é uma fórmula aplicada sobretudo nos países do Sul da Europa e que não tem contribuído para a qualidade do sistema. As crianças repetem o não e essa repetição quase nunca é benéfica em termos da evolução da aprendizagem.
Qual é a alternativa?
O que todos os países do Norte da Europa fazem. Se disser a um inglês que o seu filho passou, ele nem percebe do que está falar. A alternativa é ter outras formas de apoio, que devem ser potenciadas para ajudar os que têm um ritmo diferenciado. E nós já temos muitas: temos aulas de apoio ao aluno, estudo acompanhado, projectos especiais com mais professores e técnicos.
Pondera então alterar as regras de avaliação durante o seu mandato?
Pondero. Mas ainda não chegamos a um consenso. Deve haver uma audição dos parceiros sociais, das escolas e dos docentes para encontrar uma alternativa em que as pessoas se reconheçam.
E está disposta a lançar esse debate para acabar com os chumbos?
Sem dúvida. As reformas impostas, concebidas por um grupo de pessoas que propõem uma alternativa radical e em que as pessoas não se revêem, não são compreendidas.
“Deve haver uma audição dos parceiros sociais, das escolas e dos docentes para encontrar uma alternativa em que as pessoas se reconheçam”. A tirania e o absolutismo reinam no Ministério da Educação – a Ministra tem uma ideia própria relativamente à repetência, pretende ouvir os parceiros sociais, as escolas e os docentes para saber as suas ideias, e a Ministra é Luís XIV. Que os portugueses não têm por hábito ler os jornais é um hábito facilmente compreensível; que os políticos portugueses não tenham o hábito de estar actualizados sobre o assunto do seu dia-a-dia – a política – é já lamentável. Pelos vistos, suas excelências não foram correctamente educados pelo sistema de ensino e faltaram à lição de português: à interpretação. Isto explica, em grande parte, o estado latrinário do País. Porque, minhas caras excelências, vocês só fazem borrada. Das palavras “deve haver uma audição dos parceiros sociais”, a oposição portuguesa nota uma férrea e intratável vontade de estabelecer o fim dos chumbos, sem escutar a opinião de ninguém. Este sistema foi adoptado há uns anos pela antecessora de Isabel Alçada, que tentou fazer algo pelo sistema de ensino português – a avaliação dos professores – mas que chocou no corporativismo duma classe. Querer premiar o mérito entre os professores? Poder distinguir entre bons e maus professores? Velar atentamente pelo funcionamento das aulas do nosso sistema de ensino? Estabelecer padrões de excelência nas aulas? Afrontar os interesses da classe dos professores e vigiar a boa execução das aulas? Impossível, impossível! Escândalo, escândalo o querer avaliar as pessoas do nosso País! Gritou em uníssono a oposição.
A demagogia foi tal que, em algumas ocasiões, juntaram a sua voz na própria rua e não apenas na Assembleia da República. É que, ao contrário do que o Governo julga, a Assembleia da República ainda tem poder. Assim, se uma classe de 130 000 pessoas berra estridentemente ao ouvido do partido político «Isto é uma afronta! Uma afronta quererem avaliar o nosso trabalho, tal como se faz em qualquer empresa privada! Isto ainda é o Estado! E o Estado português, ainda por cima, caramba!». O partido político, esfregando as mãos, faz os seus cálculos. Chega à conclusão que seria uma boa medida para o melhor funcionamento do sistema de ensino. Mas depois faz outro raciocínio fatal – toma em consideração o seu próprio interesse e realiza o cálculo eleitoral. Desprezar o apoio de 130 000 votantes seria politicamente estúpido. Ruinoso para o País, mas politicamente estúpido. Prevalece então a espertice política e a ruína do País. Esta é a perfídia do nosso Governo – velar pelos interesses do País. E foi assim que no decurso da nova legislatura, o esforço de quatro anos foi pela latrina abaixo.
A OCDE tem recomendando a redução dos chumbos pelos motivos apontados pela Ministra – os benefícios produzidos por este sistema de retenção são nulos; este facto tem sido demonstrado por diversos estudos. Além do mais, o sistema de chumbos representa um elevado e dispendioso custo para o País Ao contrário, a solução deve passar por outro tipo de intervenção, nomeadamente pelo desenho de estratégias individualizadas e direccionadas para os alunos com maior dificuldade de aprendizagem. Este é o caminho que tem sido seguido pelos países nórdicos. Um problema – o sistema de ensino nórdico não é o português. Não é possível implementar uma realidade particular - a redução dos chumbos - inserida numa realidade geral – o exigente sistema de ensino nórdico - noutra realidade geral completamente diferente – a barafunda facilitista do sistema de ensino português. Realizar reformas, imitando e copiando realidades pontuais de outros sistemas de ensino que têm as suas virtudes, sem alterar, em primeiro lugar, o pano de fundo do sistema de ensino português é inócuo. Há, por isso, que pensar em realizar outras alterações em primeiro lugar – a remodelação dos currículos; a focalização nas disciplinas essenciais e a eliminação do acessório; introduzir uma maior exigência no ensino e findar com o facilitismo. Enquanto um conjunto de mudanças no panorama geral da educação portuguesa não for efectuada, a reles imitação de certas particularidades do sistema de ensino de outros países nunca produzirá os devidos efeitos – porque Portugal não é a Finlândia em termos de ensino; há que atender à realidade concreta do País. É, por isso, que somos contra a eliminação dos chumbos em Portugal, sem primeiramente, serem efectuadas outras alterações que coloquem ordem no sistema. Não possuímos, portanto, uma posição dogmática sobre o assunto depois de realizadas as respectivas mudanças.
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