A França do século XXI é uma sombra da França do século XIX. No Paris do século XIX havia Musset, Baudelaire, Chopin, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud, Balzac, Renan, Michelet; na França do século XXI há Woerth e Le Pen. De mais não nos lembramos.
No século XIX, Paris era a notícia; no século XXI, os subúrbios são a notícia; no século XIX, Paris era a luz; no século XXI, os subúrbios são a sombra.
Sarkozy descobriu o motivo para todos os males da França – é o imigrante! Ora aí está! A França bane o imigrante, os problemas são resolvidos. Falhando em todos os outros aspectos da Governação, Sarkozy aposta tudo numa questão – a delinquência. O porta-voz do seu partido, o UMP, fez o papel de papagaio ao Le Monde:
“La question des étrangers, c'est un problème majeur dans notre pays, a-t-il lancé. La délinquance, chacun sait qu'il y a des liens avec l'immigration, chacun le sait. C'est souvent pas correct de le dire, mais c'est une réalité que chacun connaît."
Uma etnia em particular tem suscitado a atenção de Sarkozy – les gens du voyage: os ciganos. Oito anos após o seu mandato como Ministro do Interior, Sarkozy não esqueceu as raízes. Esta política que rasa a ideologia de extrema-direita é perigosa – não tem por efeito acalmar a tensão social, mas tão-só agravá-la. Este agravamento resulta de decisões conscientes provenientes do Palácio do Eliseu desde há uns anos: o debate em torno da identidade francesa.
A essência do problema da delinquência envolvendo estrangeiros parece-nos bem captada pelo Courrier International:
«Si un officiel roumain avait fait de telles allégations, il aurait été immédiatement mis dos au mur par ses collègues européens et accusé de racisme. Mais, venant d'un Français, elles ont été immédiatement adoptées par les autres capitales européennes »
A propaganda nacionalista é, usualmente, arma da direita mais extremista, mas tem sido, habitualmente, usada por Sarkozy, sobretudo por um motivo: a perda de popularidade. As eleições presidenciais são apenas em 2012, mas o PS francês tem vindo a reforçar o seu posicionamento, uma vez que a controvérsia Aubry-Royal foi já ultrapassada e o partido não é já a manta de retalhos que foi. A deriva nacionalista de Sarkozy, no entanto, não deverá produzir os resultados do passado: o âmago do problema está colocado em torno da crise financeira, económica e social, e não em torno da pureza do sangue francês. A proximidade do Presidente com o ministro do Trabalho, Woerth, e a explosão do caso envolvendo Liliane Bettencourt completam o resto do cenário. A corrupção não é um problema exclusivo de Portugal, e os franceses são cépticos quanto à probidade e honorabilidade dos seus políticos. Esta missão, que Sarkozy elegeu como uma das prioridades do seu mandato, em sido um desastre completo. Todas as semanas rebentam escândalos de corrupção envolvendo políticos e abalando a cada vez mais ténue popularidade do Presidente.
Um fenómeno semelhante sucede do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos. O Partido Republicano pretende alterar a 14ª Emenda à Constituição. O objectivo? Eis as palavras do promotor da iniciativa, o Senador Lindsey Graham:
"People come here to have babies, they come here to drop a child. It's called, 'drop and leave.' To have a child in America, they cross the border, they go to the emergency room, have a child, and that child's automatically an American citizen. That shouldn't be the case. That attracts people here for all the wrong reasons."
No século XIX, Paris era a notícia; no século XXI, os subúrbios são a notícia; no século XIX, Paris era a luz; no século XXI, os subúrbios são a sombra.
Sarkozy descobriu o motivo para todos os males da França – é o imigrante! Ora aí está! A França bane o imigrante, os problemas são resolvidos. Falhando em todos os outros aspectos da Governação, Sarkozy aposta tudo numa questão – a delinquência. O porta-voz do seu partido, o UMP, fez o papel de papagaio ao Le Monde:
“La question des étrangers, c'est un problème majeur dans notre pays, a-t-il lancé. La délinquance, chacun sait qu'il y a des liens avec l'immigration, chacun le sait. C'est souvent pas correct de le dire, mais c'est une réalité que chacun connaît."
Uma etnia em particular tem suscitado a atenção de Sarkozy – les gens du voyage: os ciganos. Oito anos após o seu mandato como Ministro do Interior, Sarkozy não esqueceu as raízes. Esta política que rasa a ideologia de extrema-direita é perigosa – não tem por efeito acalmar a tensão social, mas tão-só agravá-la. Este agravamento resulta de decisões conscientes provenientes do Palácio do Eliseu desde há uns anos: o debate em torno da identidade francesa.
A essência do problema da delinquência envolvendo estrangeiros parece-nos bem captada pelo Courrier International:
«Si un officiel roumain avait fait de telles allégations, il aurait été immédiatement mis dos au mur par ses collègues européens et accusé de racisme. Mais, venant d'un Français, elles ont été immédiatement adoptées par les autres capitales européennes »
A propaganda nacionalista é, usualmente, arma da direita mais extremista, mas tem sido, habitualmente, usada por Sarkozy, sobretudo por um motivo: a perda de popularidade. As eleições presidenciais são apenas em 2012, mas o PS francês tem vindo a reforçar o seu posicionamento, uma vez que a controvérsia Aubry-Royal foi já ultrapassada e o partido não é já a manta de retalhos que foi. A deriva nacionalista de Sarkozy, no entanto, não deverá produzir os resultados do passado: o âmago do problema está colocado em torno da crise financeira, económica e social, e não em torno da pureza do sangue francês. A proximidade do Presidente com o ministro do Trabalho, Woerth, e a explosão do caso envolvendo Liliane Bettencourt completam o resto do cenário. A corrupção não é um problema exclusivo de Portugal, e os franceses são cépticos quanto à probidade e honorabilidade dos seus políticos. Esta missão, que Sarkozy elegeu como uma das prioridades do seu mandato, em sido um desastre completo. Todas as semanas rebentam escândalos de corrupção envolvendo políticos e abalando a cada vez mais ténue popularidade do Presidente.
Um fenómeno semelhante sucede do outro lado do Atlântico, nos Estados Unidos. O Partido Republicano pretende alterar a 14ª Emenda à Constituição. O objectivo? Eis as palavras do promotor da iniciativa, o Senador Lindsey Graham:
"People come here to have babies, they come here to drop a child. It's called, 'drop and leave.' To have a child in America, they cross the border, they go to the emergency room, have a child, and that child's automatically an American citizen. That shouldn't be the case. That attracts people here for all the wrong reasons."
A expressão “drop a child” deixa-nos particularmente admirados. Não sabemos se V. Ex.ª se estará a referir ao acto da cegonha, da ponta do seu largo bico, largar a criancinha. Caro Mr. Graham, sua excelência, é um conservador; porventura, ainda não estará ao corrente das leis de reprodução humana – pois bem, sua excelência, as pessoas não largam filhos, as pessoas têm filhos. Ou terá V. Ex.ª a consciência de que veio ao mundo trazido pela mesma cegonha num cabaz ornado de mantinhas cor-de-rosa, ou ocasionalmente encontrado entre a horta, guarnecido somente de uma folha de couve, resguardando as suas partes íntimas? Se tal assim pensa, comunicamos, despudoradamente, a V. Ex.ª que está equivocada.
Este discurso reflecte bem a ausência de ideias que varre a direita em dois países – os EUA e a França. A crise financeira mundial roubou-lhes o modelo económico – o seu motor – e ficaram órfãos de teorias. Vazios de ideias resta-lhes apregoar para as ideias vazias que têm.
Sem comentários:
Enviar um comentário