Segundo o “Expresso”, o Sr. Presidente da Causa Real, o Dr. Paulo Teixeira Pinto, num jantar ocorrido no Porto há duas semanas declarava, com a mão na ilharga, numa voz vaga, repassada da solenidade e de nobreza da noite, o seguinte:
- Não queremos fracturas, títulos, honrarias, não somos uma classe, uma casta. O maior título que podemos ambicionar é o de vassalo, do rei e do país.
Estimado Dr. Paulo Teixeira Pinto, se o intimo ideal que brota do seu peito é ser um subordinado do rei – nós achamos muito bem, nós achamos lindamente. Agora, caro Doutor, não nos queira obrigar a dobrar o espinhaço para nos tornar um subalterno de Sua Alteza. Com efeito, como V. Ex.ª sublinha e bem, que a Causa Real não quer fracturas – ela desejará manter a sociedade portuguesa tal como está: esfacelada; a Causa Real não deseja honrarias: a Causa Real deverá pregar a sevandijaria; a Causa Real afirma não ser uma classe: porventura será uma anarquia.
Em suma, o que V. Ex. diz é:
- Nós queremos o vazio! Ajoelhem perante o vazio!
O que Sua Excelência fez foi pegar na monarquia, sacudir-lhe o pó, lava-la, seca-la, penteá-la, colocar-lhe um pesseguinho, vesti-la, traze-la à praça pública, dizendo:
- Vede, povo! Esta é a Monarquia! Ajoelhai perante ela!
E porquê, V. Ex.ª? Por nada, V. Ex.ª! Nós sacudimos o jornal à procura de um qualquer motivo, nós reviramos o jornal, nós – valha-nos Deus! – ajoelhamos, prostrados, escarafunchando no chão à procura do motivo que poderia ter escorregado do jornal, buscamos no tecto alguma ideia que poderia ter saltado para lá, relemos o texto – e nada V. Ex.ª! Não encontramos nenhum motivo! V. Ex.ª deseja, portanto, a monarquia – porque sim.
A Causa Real nada deseja na verdade a não ser que o português se curve perante Sua Majestade e se torne seu vassalo. Além disso, a Causa Real nada deseja nem nada possui – não possui doutrina, não possui sistema, não possui ideias, não possui teorias: a Causa Real possui apenas a nobre aspiração de ser vassala do Rei. A Causa Real não se pretende erguer à altura do Rei: a Causa Real pretende lamber os pés do Rei. A Causa Real não pretende olhar os olhos do seu semelhante: a Causa Real pretende olhar as peúgas de El-Rei. A Causa Real não pretende eleger, democraticamente, um dos seus concidadãos para ser a voz do Povo: a Causa Real pretende que um individuo, sobre o qual, arbitrariamente, desceu o Espírito Santo e, por isso, é dotado de poderes divinos, se aproprie, sucessoriamente, do trono como um filho se apropria da espreguiçadeira do jardim do pai falecido.
Porém, meu caro Dr. Teixeira Pinto, não queremos ser acusados de injustiça – afinal de contas, a sua declaração ocupa umas míseras três ou quatro linhas de uma coluna de jornal. V. Ex.ª então perguntará:
- Como posso eu construir um sistema sólido em três linhas de jornal?
V. Ex.ª interroga-se e interroga-se mais uma vez lindamente. Fomos então, sorrateiramente, furtivamente, consultar a mensagem de Sua Alteza Real, Dom Duarte de Bragança, e as suas ideias. Sua Alteza Real defende, pois:
“Saibamos apoiar as organizações de voluntários que generosamente trabalham para resolver os problemas, desde as mais antigas, como as Santas Casas da Misericórdia, até às mais recente, leigas ou religiosas”.
Mas que queria Sua Alteza? Que o Estado esbofeteasse as organizações de voluntários? Que lhes pedisse para virar costas e, enquadrando o pé às nádegas das organizações dos voluntários e pregasse um pontapé nas ditas?
Mais, Sua Alteza! Mostre-nos mais!
“Saibamos defender o equilíbrio do meio ambiente e da nossa paisagem humanizada”
Inspirador, Sua Alteza. Do alto do seu tribuno Sua Alteza, implora aos portugueses:
- Não escarrem para o chão! Não atirem papéis para o chão! Recolham o cocó do vosso cãozinho! Deixem de poluir os rios! Por favor, portugueses: isso é feio!
E que mais, defende Sua Alteza?
“Saibamos lutar pela promoção da Lusofonia e solidariedade entre os países membros da CPLP, como uma causa de importância decisiva do nosso futuro comum.”
Sim, sua Alteza! Abracemo-nos irmãos angolanos! Apertemos as mãos amigos moçambicanos, num comovido handshake! Venha de lá esse lombado, prezado cabo-verdiano! Se demonstrássemos mais vezes esta afecção, como Portugal estaria melhor…
E da União Europeia, que diz Sua Alteza?
“Com a União Europeia temos um válido projecto político e económico comum, mas falta-lhe uma “ alma “, porque, infelizmente, quem decidiu recusou-se a reconhecer a matriz cristã da nossa cultura…”
Oh! Terrível, Sua Alteza! Pois a União Europeia, essa desalmada, quando fenecer ao peso dos anos não irá ter lugar no Céu e terá de suportar as chamas sulfurosas de Lúcifer? Tudo isto porque os decisores não lhe deitaram água benta quando era pequena? Terrível, terrível, Sua Alteza!...
Mas, por favor, por quem sois, Sua Alteza, ilumine-nos com a autoridade do seu saber.
“Saibamos preservar instituições fundamentais da Sociedade como a Família.”
Ah! A Família, Sua Alteza. Essa maltratada instituição pelos portugueses. Outras instituições não têm a mesma importância da Família – são elas a verdade, o dever, a justiça, a honra, a rectidão, o carácter, a coragem. Não, Sua Alteza. Com efeito, Sua Alteza. É o facto do Papá não beijar a Mamã quando sai, de manhã, para o trabalho que é a causa dos males do País.
- Não queremos fracturas, títulos, honrarias, não somos uma classe, uma casta. O maior título que podemos ambicionar é o de vassalo, do rei e do país.
Estimado Dr. Paulo Teixeira Pinto, se o intimo ideal que brota do seu peito é ser um subordinado do rei – nós achamos muito bem, nós achamos lindamente. Agora, caro Doutor, não nos queira obrigar a dobrar o espinhaço para nos tornar um subalterno de Sua Alteza. Com efeito, como V. Ex.ª sublinha e bem, que a Causa Real não quer fracturas – ela desejará manter a sociedade portuguesa tal como está: esfacelada; a Causa Real não deseja honrarias: a Causa Real deverá pregar a sevandijaria; a Causa Real afirma não ser uma classe: porventura será uma anarquia.
Em suma, o que V. Ex. diz é:
- Nós queremos o vazio! Ajoelhem perante o vazio!
O que Sua Excelência fez foi pegar na monarquia, sacudir-lhe o pó, lava-la, seca-la, penteá-la, colocar-lhe um pesseguinho, vesti-la, traze-la à praça pública, dizendo:
- Vede, povo! Esta é a Monarquia! Ajoelhai perante ela!
E porquê, V. Ex.ª? Por nada, V. Ex.ª! Nós sacudimos o jornal à procura de um qualquer motivo, nós reviramos o jornal, nós – valha-nos Deus! – ajoelhamos, prostrados, escarafunchando no chão à procura do motivo que poderia ter escorregado do jornal, buscamos no tecto alguma ideia que poderia ter saltado para lá, relemos o texto – e nada V. Ex.ª! Não encontramos nenhum motivo! V. Ex.ª deseja, portanto, a monarquia – porque sim.
A Causa Real nada deseja na verdade a não ser que o português se curve perante Sua Majestade e se torne seu vassalo. Além disso, a Causa Real nada deseja nem nada possui – não possui doutrina, não possui sistema, não possui ideias, não possui teorias: a Causa Real possui apenas a nobre aspiração de ser vassala do Rei. A Causa Real não se pretende erguer à altura do Rei: a Causa Real pretende lamber os pés do Rei. A Causa Real não pretende olhar os olhos do seu semelhante: a Causa Real pretende olhar as peúgas de El-Rei. A Causa Real não pretende eleger, democraticamente, um dos seus concidadãos para ser a voz do Povo: a Causa Real pretende que um individuo, sobre o qual, arbitrariamente, desceu o Espírito Santo e, por isso, é dotado de poderes divinos, se aproprie, sucessoriamente, do trono como um filho se apropria da espreguiçadeira do jardim do pai falecido.
Porém, meu caro Dr. Teixeira Pinto, não queremos ser acusados de injustiça – afinal de contas, a sua declaração ocupa umas míseras três ou quatro linhas de uma coluna de jornal. V. Ex.ª então perguntará:
- Como posso eu construir um sistema sólido em três linhas de jornal?
V. Ex.ª interroga-se e interroga-se mais uma vez lindamente. Fomos então, sorrateiramente, furtivamente, consultar a mensagem de Sua Alteza Real, Dom Duarte de Bragança, e as suas ideias. Sua Alteza Real defende, pois:
“Saibamos apoiar as organizações de voluntários que generosamente trabalham para resolver os problemas, desde as mais antigas, como as Santas Casas da Misericórdia, até às mais recente, leigas ou religiosas”.
Mas que queria Sua Alteza? Que o Estado esbofeteasse as organizações de voluntários? Que lhes pedisse para virar costas e, enquadrando o pé às nádegas das organizações dos voluntários e pregasse um pontapé nas ditas?
Mais, Sua Alteza! Mostre-nos mais!
“Saibamos defender o equilíbrio do meio ambiente e da nossa paisagem humanizada”
Inspirador, Sua Alteza. Do alto do seu tribuno Sua Alteza, implora aos portugueses:
- Não escarrem para o chão! Não atirem papéis para o chão! Recolham o cocó do vosso cãozinho! Deixem de poluir os rios! Por favor, portugueses: isso é feio!
E que mais, defende Sua Alteza?
“Saibamos lutar pela promoção da Lusofonia e solidariedade entre os países membros da CPLP, como uma causa de importância decisiva do nosso futuro comum.”
Sim, sua Alteza! Abracemo-nos irmãos angolanos! Apertemos as mãos amigos moçambicanos, num comovido handshake! Venha de lá esse lombado, prezado cabo-verdiano! Se demonstrássemos mais vezes esta afecção, como Portugal estaria melhor…
E da União Europeia, que diz Sua Alteza?
“Com a União Europeia temos um válido projecto político e económico comum, mas falta-lhe uma “ alma “, porque, infelizmente, quem decidiu recusou-se a reconhecer a matriz cristã da nossa cultura…”
Oh! Terrível, Sua Alteza! Pois a União Europeia, essa desalmada, quando fenecer ao peso dos anos não irá ter lugar no Céu e terá de suportar as chamas sulfurosas de Lúcifer? Tudo isto porque os decisores não lhe deitaram água benta quando era pequena? Terrível, terrível, Sua Alteza!...
Mas, por favor, por quem sois, Sua Alteza, ilumine-nos com a autoridade do seu saber.
“Saibamos preservar instituições fundamentais da Sociedade como a Família.”
Ah! A Família, Sua Alteza. Essa maltratada instituição pelos portugueses. Outras instituições não têm a mesma importância da Família – são elas a verdade, o dever, a justiça, a honra, a rectidão, o carácter, a coragem. Não, Sua Alteza. Com efeito, Sua Alteza. É o facto do Papá não beijar a Mamã quando sai, de manhã, para o trabalho que é a causa dos males do País.
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