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quarta-feira, 20 de julho de 2011

A Cimeira Europeia de Amanhã

Amanhã é dia de cimeira europeia. Desta vez, e para os mercados não se desiludirem a posteriori, a Sra. Merkel logo avisou: “Ainda não é desta que a Europa vai fazer alguma coisa”. Eis o estado a que chegou a política europeia e as suas comunicações: antes mesmo das suas reuniões já os líderes europeus anunciam com estrondo a sua própria incapacidade e a sua inércia. Segundo a Sra. Merkel, não é de um avanço espectacular que a Europa necessita; desenganem-se os mais ingénuos e os mais crédulos. Para a Sra. Merkel, o que a Europa verdadeiramente necessita é de um “processo controlado”, quiçá à imagem do que tem sucedido até aqui.

Entretanto, as palavras da Sra. Merkel foram rapidamente escutadas pelo mercado: novo tombo do euro face ao dólar, o que muito terá agradado ao nosso Presidente da República, o Sr. Cavaco Silva, e ao nosso Primeiro-Ministro, o Sr. Passos Coelho, que vêm com bons olhos a desvalorização do euro face ao dólar. Simplisticamente dito, isso é verdade. Analisando o assunto com maior profundidade facilmente vemos bem que não: é que a desvalorização do euro face ao dólar acontece à custa da crise da zona euro: quanto mais ela se agrava, mais se desvaloriza o euro. Ora, agravando a crise da zona euro, certamente se desvaloriza o euro; por outro lado, se a crise se continuar agravando, não teremos euro, voltaríamos ao velho escudo, a dívida pública nacional duplicaria – mas poderíamos obter o efeito da desvalorização pretendido pelo Sr. Presidente da República e o Sr. Primeiro-Ministro. Mas esqueçamos estas coisas que assumem pouca importância quando comparadas com a importância das decisões que terão amanhã de ser tomadas. E dizemos isto claramente: ao contrário do que diz a Sra. Merkel, uma decisão sobre a Grécia e, por conseguinte, sobre a crise da zona euro tem de ser tomada. Porque o futuro da Itália e da Espanha não pode ser pensado independentemente do futuro da Grécia (é o que acontece naquilo que habitualmente se designa por União, vocábulo que pretende exprimir uma certa relação de solidariedade): enquanto a crise grega permanecer aí por solucionar, a crise alastrar-se-á aos restantes países. Espanha e Itália estão já no centro da turbulência e a cada dia que passa sem que a União Europeia resolva definitivamente os seus problemas, o custo sobe. Por esta altura, todos os europeus compreenderam que a crise será dispendiosa. O que os alemães necessitam de compreender é que o desmembramento da zona euro e talvez, por arrasto, do projecto europeu, sair-lhes-á bem mais caro do que uma pequena subida nas suas taxas de juro com a criação de uma agência de dívida europeia.

E para que o leitor se aperceba que a solução eurobonds é mesmo a solução para a crise europeia recomendamos a leitura de duas colunas de opinião de hoje do Financial Times. Primeiro, diz o Sr. Mario Monti:


"A more effective strategy would be to surprise the markets with a genuinely common policy. For such response to be agreed on, the government of the leading eurozone country, Germany, has to provide leadership among the member states and at home. This means convincing Germans that they are benefiting from the European Union, its single market and the euro; that the German “culture of stability” is permeating the rest of the union; and that Germany would be the biggest loser – in terms of stability, competitiveness and the financial cost – if the eurozone were to break up.
A German government that promotes common policies focused on the long term would be better able to protect German taxpayers’ interests than one which, in focusing on their shorter-term interests, convinces neither the markets nor its citizens. It is this lack of credibility that would generate, further down the road, a disruptive ‘transfer union’ that would likely lead to acrimony domestically and across borders."

E depois o Sr. Stigltiz:

"The problem facing Europe is not so much economic as political. It is easy to see what should be done. If Europe issues eurobonds – supported by the collective commitment of all the governments – and passes on the low interest to those in need – debts are manageable. Even a 150 per cent debt to GDP ratio can be handled if interest rates are low enough, but if rates are high they cannot be. At 6 per cent it takes a primary surplus of 9 per cent just to service the debt. Europe can access capital at low interest rates; after all, its collective debt to GDP ratio is actually better than that of the US.
Those who, putting aside any sense of European solidarity, worry about creating a “transfer union” should be comforted: at such low interest rates the likelihood of a need for real subsidies is limited. But even if there were some subsidy, Europe could afford it. With a $16,000bn dollar economy, even if Europe had to bear costs commensurate with the size of Greece’s debt, these are minuscule compared to what will be lost if Europe does not come to the assistance of the countries facing trouble.
The current strategy has reached not only its economic, but also its political, limits."

Ao Governo Português representado pelo Sr. Passos Coelho o que se pede é que se bata intransigentemente por esta solução.

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