Morreu ontem, aos 98 anos, Otto de Habsburgo que para quem não sabe era o filho mais velho do último imperador da Áustria-Hungria.
Otto provavelmente viveu o século XX como ninguém pois esteve sempre nos sítios onde acontecia a História, assistindo de um lugar particularmente privilegiado – como herdeiro e chefe da antiga casa de Habsburgo: durante a Primeira Grande Guerra foi jurado herdeiro do trono imperial; após a derrota austríaca foi forçado ao exílio (tendo passado pela Madeira), para logo, ainda no período entre guerras ser jurado Rei da Hungria, apesar de nunca ter propriamente reinado.
Com a invasão da Áustria, na Segunda Guerra Mundial, foi condenado à morte por Hitler, pelo que teve de fugir à perseguição nazi: inicialmente para Paris. Mas como também à cidade das luzes chegaram as águias nazis, Otto fugiu para Portugal, tendo para tal contribuído o nosso conhecido Aristides de Sousa Mendes, mais ilustre diplomata, que foi quem lhe passou o visto que lhe permitiu chegar à segurança que então o nosso país simbolizava.
Mas foi talvez após a guerra que o seu contributo mais se fez sentir: europeísta convicto, foi um dos impulsionadores do sonho europeu, chegando deputado europeu pela CDU alemã, tribuna que usou para defender, energicamente, a adesão da Hungria, Croácia e Eslovénia.
Hoje a Europa fica mais pobre com a morte de um dos seus impulsionadores – este brilhante liberal, um pouco desconhecido da maioria dos europeus, mas não certamente na Áustria.
Uma curiosidade: apesar de herdeiro do trono imperial, Otto era republicano… E, porque o era, não quis ser Rei, se bem que o podia ter sido: em 1961, Francisco Franco ofereceu-lhe o trono de Espanha, que ele recusou.
Quem recusa um trono, por uma ideia (ainda que dela discordemos), merece sempre homenagem.
1 comentário:
isso havia de ser giro: um imperador austro-húngaro, republicano a reinar em espanha xD
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