A crise da zona euro parece entrar numa nova fase. Aparentemente restrita aos seus três parentes pobres, ela ataca agora em força os grandes tubarões: os olhares estão agora virados para Itália cujas taxas de juro das obrigações vêm galopando desde sexta-feira passada. Isto foi o suficiente para assustar a cúpula da União Europeia que se reuniu de emergência na segunda-feira. Obviamente que dessa reunião resultou aquilo que seria expectável dos altos responsáveis da UE – nada. Assim são os responsáveis da UE – rápidos a reunir, frouxos a decidir. E isto levanta-me sérias preocupações. Que a UE não se ralava com Grécia, Irlanda e Portugal já todos sabíamos; mas todos pensavam que quando a crise alastrasse a Espanha ou Itália, a resposta da UE seria mais firme. E até agora não tem sido. Se a UE se pode dar ao luxo ainda de ser mole nas decisões com a Grécia, com a Irlanda e com Portugal, o mesmo não se passa com a Espanha e menos ainda com a Itália. Se todos duvidavam da existência da disponibilidade de fundos para um resgate à Espanha, para a Itália não há dúvidas: não há dinheiro. E só perante o desalento desta resposta, eu posso compreender a atitude da UE: torcer o nariz e coçar a cabeça. Ou melhor...Não posso compreender: senão há dinheiro para um resgate da Itália, para quê esperar que essa ameaça se torne assustadoramente real?
A Itália surge agora no centro da tormenta graças ao énnui do Sr. Berlusconi. O Sr. Berlusconi pensa: - Não posso agora promover relaxadamente as minhas festas bunga bunga; não posso fazer sexo com prostitutas menores sem que a imprensa me aborreça; não posso ter um escândalozito de fraude fiscal sem que os italianos logo peçam a minha demissão: que hei-de eu então fazer para fugir deste tédio de vida? Vai daí, o Sr. Berlusconi concede uma entrevista em que desautoriza o Sr. Ministro das Finanças, o Sr. Tremonti, na adopção de medidas de controlo e restrição orçamental. Óptima ideia tendo em conta a conjuntura que se vive e o fetiche da UE com o sadomasoquismo da austeridade. E assim se explica como a Itália se vê agora nesta situação aflitiva.
Aqui um pequeno aparte. O Sr. Berlusconi concede uma entrevista em que compromete a aplicação de um rigoroso programa de contenção orçamental e os mercados castigam-no. Por outro lado, os EUA, sempre prosseguiram numa política expansionista, com a Administração americana a jorrar dinheiro sobre a economia sem grandes resultados práticos, com um elevado défice e endividamento público, um elevado endividamento externo, com uma forte crispação política entre Democratas e Republicanos que faz com que os EUA possam estar a um mês da bancarrota porque não há entendimento quanto ao aumento do limite do endividamento público e, no entanto, os mercados estão sereníssimos, bem como as agências de notação.
Sim, é verdade que a Itália tem o segundo endividamento público mais elevado da Zona Euro, logo atrás da Grécia, com 120% do PIB; também é verdade que o crescimento económico da Itália registado no primeiro trimestre foi modesto. Mas a Itália faz parte do G7, do grupo das sete nações mais industrializadas do mundo; nas suas fronteiras, residem várias empresas dinâmicas, empreendedoras e criadoras de riqueza; a sua economia é diversificada; a sua taxa de poupança é elevada e o seu endividamento externo é baixo quando comparado com os restantes membros da Zona Euro (55% das obrigações italianas são detidas internamente). Fará, pois, sentido este novo ataque especulativo? Não faz. O que a UE não pode fazer, porém, é seguir protelando a decisão final em torno da resolução desta crise: é preciso enviar um sinal inequívoco e claro da solidariedade europeia: e esse sinal chama-se eurobonds. Enquanto não chegarmos lá, os ataques especulativos vão continuar, e continuar, e continuar, até à desmantelamento da Zona Euro ou até que se alcance essa solução.
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