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terça-feira, 12 de abril de 2011

Fernando Nobre é o cabeça de lista do PSD por Lisboa

Estrondosamente, no domingo, o Sr. Pedro Passos Coelho revelou o cabeça de lista do PSD pelo círculo de Lisboa – o Sr. Fernando Nobre. Mas não só – para além de cabeça de lista do PSD por Lisboa, o Sr. Nobre será também o candidato do PSD à Presidência da Assembleia da República, o segundo lugar mais importante do Estado. Que dizer disto? Antes de mais, recomendamos ao leitor que ouça.



Diz, pois, o Sr. Fernando Nobre – “As ideias que defende o Bloco de Esquerda são as ideias que eu tenho defendido nos meus livros, nos meus editoriais, blá, blá, blá…”. Isto disse o Sr. Fernando Nobre há dois anos atrás quando aceitou ser mandatário nacional do Bloco para as Eleições Europeias de 2009. Quando simpatizamos com um determinado grupo que perfilha um determinado conjunto de valores, de regras, de princípios, de ideias é porque, de alguma forma, vemos o nosso próprio conjunto de valores íntimos retratado nesse grupo. Foi isso que o Sr. Nobre expressou orgulhosamente em 2009 quando afirmou partilhar das ideias do Bloco. Dois anos volvidos, V. Ex.ª comunica que afinal adere às ideias do PSD. Daqui a dois anos sabe Deus onde estará V. Ex.ª…Entretanto o Sr. Pedro Passos Coelho mostrou-se muito honrado por o Sr. Fernando Nobre ter aceitado o convite do PSD para encabeçar as listas do partido por Lisboa – isto depois da Sra. Manuela Ferreira Leite o ter recusado, tal como o Sr. Marques Mendes, e ainda o Sr. António Capucho. O quadro de valores do Bloco e do PSD é radicalmente distinto; são dois modos totalmente inconciliáveis de funcionamento do Estado. Como explicar então a mudança do Sr. Nobre? Não existe aqui uma mudança marginal no quadro de valores do Sr. Fernando Nobre. Compreendemos a tendência social-democrata de iniciar a sua carreira política pela esquerda, antes de, um dia, batendo com a mão na testa, se lembrar que afinal são mesmo do PSD. Mas isso sucedeu a um Durão Barroso ainda mancebo, ainda revolucionário, na sua casta ingenuidade se deixava iludir pelas palavras do Sr. Garcia Pereira. O Sr. Fernando Nobre deixou-se enganar aos 59 anos…Os cabelos grisalhos revestindo as têmporas são, geralmente, associadas à prudência, à rectidão; no caso do Sr. Fernando Nobre são associadas à polaridade. Assim, no seu ziguezaguear de valores, à segunda, à quarta e à sexta, o Sr. Nobre é um defensor de uma economia estatizada; nos restantes dias, o Sr. Nobre é defensor de uma economia amplamente liberal, ao estilo do século XIX, do «laissez faire, laissez passer». E mais grave é este Sr. que não conhece o seu próprio quadro de valores, os seus princípios íntimos, as suas referências, os seus ideais – é que este Senhor poderá ser a segunda figura do Estado português. Falamos de um Sr. que se candidatou à Presidência da República sendo monárquico…Não está em causa o Sr. Fernando Nobre não ter um passado ligado à vida política activa, sendo, portanto, uma virgem impoluta que ainda conserva a sua tunicazinha branca. Está em causa que, neste momento, o Sr. Fernando Nobre constrói um presente ligado à vida política quando não manifesta nenhuma aptidão para o efeito. É, por isso, que depois V. Ex.ª produz declarações deste tipo:



Não lhe deram um tiro na cabeça, nem V. Ex.ª foi para Belém…V. Ex.ª vai, no entanto, para a Assembleia da República depois de uma campanha em que desancou em todos os partidos, afirmando-se ser absolutamente livre e independente para apenas cair nos braços do Sr. Passos Coelho e deixar de ser a virgem impoluta que era. E o que dizer ainda do PSD? Que dizer de um partido que tem marcadamente vincado o seu conjunto de valores e que se associa ao Sr. Fernando Nobre, fazendo dele um estandarte eleitoral? Que dizer quando o partido mais liberal da história da democracia portuguesa se associa ao Mandatário Nacional do Bloco para as Eleições Europeias? Despreza-se todo o conjunto de princípios pelos quais o PSD se submete à escolha dos portugueses pela gula do voto? Pela gula de uns 14% de votos nas presidenciais? Os votos estão para o PSD acima dos seus próprios valores? Curioso…Faz-me lembrar uma certa crise política que foi provocada à custa de um certo interesse nacional…

3 comentários:

Street Fighting Man disse...

e toda a gente a achar que o homem era apoiado pelo Soares... bem, enganou-nos bem lol

Leticia, a Marquesa disse...

Vamos discorrer sobre Manuel Alegre, o candidato que não é apoiado pelo seu próprio partido e que depois já o é?

(Ai não gosto, cruzes, credo! Ai já volto a gostar, a adorar, a venerar!...)

Se quiserem, façam o obséquio de mo dizer!

Carlos Jorge Mendes disse...

São duas situações que não se podem comparar. Quando Manuel Alegre decidiu concorrer em 2006, o PS já tinha decidido o seu apoio ao Mário Soares.

Este ano o PS apoiou o Manuel Alegre - seria normal um Partido apoiar dois candidatos? Não me parece...

Além disso, o Manuel Alegre sempre pertenceu ao PS. Sim - o BE endereçou-lhe o seu apoio nas últimas Presidenciais; mas é um apoio da esquerda, ainda que da esquerda radical. Além disso, o Manuel Alegre nunca pertenceu ao sector mais à direita do PS, por isso, nem de incoerência pode ser acusado. Podemos não concordar com as ideias dele, mas ele conhece as suas ideias, e defendeu-as ao longo de toda a sua vida.

O Sr. Fernando Nobre, pelo contrário, no período de dois anos conseguiu deslocar-se da esquerda radical, que defende uma economia estatizada, para uma direita ultra-liberal, que sente um arrepio na espinha sempre que se fala em Comunismo. E, no entanto, esse senhor é o candidato do PSD ao segundo cargo mais importante da Nação. E não sou eu apenas que o digo: o Sr. Morais Sarmento, do seu partido, também o diz.