Estimado leitor,
Não se fala noutra coisa: esqueça a recente decisão do Ecofin sobre a taxa de juro a cobrar ao pedido de ajuda português; esqueça os rumores que se ouvem sobre a reestrutração da dívida grega; esqueça a crise europeia e as dúvidas sobre a real solidariedade e sustentabilidade do projecto europeu. Esqueça tudo isso: do que se fala é do Sr. Strauss-Kahn.
O Sr. Strauss-Kahn é presumivelmente inocente até prova em contrário. Dito isto: mas que raio? Algumas notícias interessantes que têm sido postas a circular merecem o nosso comentário.
Notícia um – e esta é a nossa preferida: a tese da conspiração. É do conhecimento público que o Sr. Sarkozy goza de uma baixa popularidade junto dos franceses; as eleições presidenciais aproximam-se e as sondagens são-lhe desfavoráveis: na maior parte dos casos, o UMP do Sr. Sarkozy aparece em segundo lugar atrás do PS. E aqui reside a questão: o PS é actualmente liderado pela Sra. Aubry; sucede, porém, que entre os franceses, o candidato do PS que reúne maior consenso é precisamente o Sr.Strauss-Kahn. Logo, o Sr. Sarkozy, como medida cautelar, tramou o Sr. Strauss-Kahn e afastou-o da corrida ao Eliseu. Esta foi uma tese prontamente avançada pela imprensa francesa, tocada no seu chauvinismo, sentindo as faces esbraseando de vergonha. O próprio Sr. Strauss-Kahn terá confessado a um amigo receio por um qualquer ardil preparado pelo UMP envolvendo mulheres:
- Eles vão fazê-lo! Eles fazê-lo que eu sei! Eu sinto-o! Eu sinto-o! Vão me pôr ali a jeito uma mulher bem sensual! E que posso eu fazer?! Eu, um garanhão de 62 anos?! Na flor da vida?! Que posso eu fazer?!
Esta era a parte em que o amigo do Sr. Strauss-Kahn lhe recomendava prudência, que lhe largasse os colarinhos e que fizesse amor com a sua mulher porque vistas bem as coisas, e colocadas em perspectiva – ele, para todos os efeitos, tinha uma mulher.
Continuemos então na análise da plausibilidade da teoria da conspiração. A cena decorre no Palácio do Eliseu: o céu está escuro; de quando a quando, um trovão retumba; e o Sr. Sarkozy, sentado na sua poltrona presidencial, com as suas chinelas presidenciais, afagando o pêlo do dorso do seu gato com a mão direita, e colocando o dedo mindinho sobre a boca, esboça maleficamente o seu plano. A cena seguinte decorre no Hotel Sofitel, New York.
- Room service – diz a femme de chambre, batendo cuidadosamente à porta do quarto.
De dentro, o menor rumor se levanta; a femme de chambre entra confiadamente no quarto. Então, triunfante, vindo da toilette surge o Sr. Strauss-Kahn em pelota quando nota pela presença da atraente femme de chambre. O Sr. Strauss-Kahn pensa no ardil que o Sr. Sarkozy lhe poderá ter preparado; recorda as palavras do seu amigo que lhe recomendara prudência e que fizesse amor com a sua mulher; por outro lado, ele, Strauss-Kahn, está em pelota, no seu quarto de hotel, na presença de uma femme de chambre sensual. Que fazer? Strauss-Kahn atravessa ali um dilema dilacerante: que faz um homem naquelas circunstâncias?
Hipótese 1: Ao notar a presença da femme de chambre, olhando para si reparando na sua nudez, solta um gritinho de embaraço, e então, assustado e surpreendido, recolhe ao banheiro para enrolar uma toalha à volta da cintura;
Ou
Hipótese 2: Ao notar a presença da femme de chambre, olhando para si reparando na sua nudez, assume uma postura máscula, condizente com o seu passado, e sentindo em toda a sua pungência o coup de foudre que o toma violentamente, permanece graciosamente despido e raciocina da seguinte forma: eu, nu; femme de chambre, atraente; local, meu quarto de hotel – e em função disso age em conformidade.
Notícia dois – um conjunto de personalidades têm vindo a público realçar o brilhantismo intelectual do Sr. Strauss-Kahn. Ora, as opiniões destas personalidades podem ser traduzidas da seguinte forma:
- Sim, com efeito. Ele terá alegadamente violado uma mulher…Por outro lado: que economista! Que génio! E o contributo que tem dado à Europa nesta crise? O quê? Como? Pretendia meter-se num avião depois de alegadamente ter violado a femme de chambre? Mas e as reformas que ele realizou e que trouxeram prosperidade à França?
3 comentários:
Também já me falaram dessas teorias...
Quando é alguém da direita Berlusconi) é descrito como um ogre.
Quando é alguém da esquerda (DSK) foi tudo uma cabala...
Ó Lord: largue lá a dicotomia esquerda-direita por um bocado...Irra, que até cansa!
Ó colega, sabe que eu em tempos de campanha eleitoral fico mais atiçado ;)
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