Esta semana, o popularismo fácil, barato e demagógico triunfou. Não, estimado leitor: não falamos a propósito do debate de ontem do Sr. José Sócrates e do Sr. Passos Coelho. Ou melhor: a nossa afirmação não é sobretudo dirigida a eles: é antes dirigida a uma Chanceler que governa os destinos da quarta maior potência económica mundial e que, honrando esse título, supostamente, não deveria ser populista nem demagógica – mas é. A culpa é das eleições: esqueçam os argumentos sofisticados, as teses altamente complexas, as ideias laboriosamente trabalhadas: para ganhar eleições, importa reproduzir espalhafatosamente o sentimento geral que se percepciona do Povo: mesmo que esse sentimento não tenha qualquer tipo de fundamento. Sabemos que os alemães têm uma ideia estereotipada dos países periféricos: em curtas palavras, que somos uns preguiçosos, uns mandriões, uns malandros que nada mais gostam do que ressonar ao sol. O que a Sra. Merkel fez foi replicar este mesmo sentimento, mas adornando-o numas palavras mais simpáticas, mas reproduzindo o mesmo conteúdo. O que a Sra. Merkel disse foi que os trabalhadores dos países periféricos têm demasiados dias de férias e que se reformam demasiado cedo. E disse isto discursando perante os seus correligionários partidários. Pois é, caro leitor. Agora você quer saber a verdade dos factos? A verdade dos factos é que os Portugueses têm a mesma idade de reforma legal dos alemães – 65 anos. Mas mais: apesar de ser essa a idade oficial, as estatísticas demonstram que, em geral, os portugueses se reformam mais tarde que os alemães: enquanto os alemães se reformam em média aos 62 anos, os portugueses só se reformam aos 67. Ah pois! Quem são os mandriões agora Sra. Merkel? É verdade, por outro lado, que os portugueses têm um mínimo legal de 22 dias de férias, enquanto os alemães têm apenas 20. Mas é nisso que a Sra. Merkel se baseia?
E o desnorte pela Alemanha por esta hora é tal que foi (pasme-se o leitor!) a oposição alemã a criticar a Sra. Merkel. A mesma oposição que a tinha criticado por apoiar, ainda que relutantemente, os pedidos de ajuda externa de Grécia, Irlanda e Portugal.
É verdade que num dado estatístico em particular Portugal perde irremediavelmente para a Alemanha: o descontrolo nos custos do factor trabalho. O aumento dos custos sem a devida contrapartida em termos de produtividade explica grande parte do problema português e aquilo que terá de ser mudado no futuro: Portugal terá de maior disciplina no controlo dos custos do trabalho de modo a não prejudicar a competitividade das empresas. E sabemos que o problema português é de crescimento: ora, o crescimento não se consegue sem que as empresas adquiram competitividade e isso explica o debate em torno da taxa social única, por exemplo.
Sem comentários:
Enviar um comentário