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terça-feira, 3 de maio de 2011

Porque matámos Bin Laden?



Na noite de dia 1 para dia 2 de Maio, o presidente norte-americano anunciou ao mundo que o líder da Al-Qaeda tinha sido abatido a tiro por uma equipa de militares na casa onde se encontrava (cerca a 90km da capital do Paquistão).
Alguns regozijaram com a notícia, alegrando-se pela morte do “ogre”. Eu não, e por dois motivos:


Primeiramente, é de muito mau gosto celebrar a morte de alguém, mesmo que esse alguém tenha sido responsável pela morte de inúmeras pessoas. A superioridade axiológica que caracteriza o Ocidente reside no facto que, toda a vida, toda mesmo, é preciosa. Este é o entendimento que nos foi legado depois da aventura do III Reich.


Em segundo lugar, note-se que Bin Laden foi assassinado e não capturado.
O julgamento do chefe daquela organização terrorista seria uma tarefa bem complexa, com atentados, pressões e chantagens e, provavelmente, custaria a vida a inocentes. Porém, mesmo com isso tudo presente é inadmissível para uma democracia ocidental ordenar o assassínio de quem seja.
O mandato que o povo confere aos líderes políticos no nosso espaço civilizacional é um mandato limitado. Conhece limitações, desde logo, nos direitos fundamentais de todos: nacionais, estrangeiros e apátridas. O poder executivo não pode ordenar assassinatos: isso passava-se na política italiana da idade média e do renascimento, mas não se pode passar agora.
A morte de Bin Laden, desta forma, é uma grande entorse aos princípios estruturantes do nosso sistema politico.

A vingança virá aí. Os que agora cantam, depois chorarão. Mas pior que tudo é o facto de as pessoas que se preocupam com a necessidade de um julgamento para todos serem em tão pouco número.
Bin Laden foi assassinado. E foi, por uma democracia que diz respeitar o Estado de Direito. Se Bin Laden morreu assim, levou com ele uma parte da nossa liberdade. Se Bin Laden morreu assim, desculpem-me por não celebrar a sua morte.


Pena é a atitude de Cavaco Silva em que, dirigindo-se ao presidente Obama, numa atitude subserviente, vem afirmar que comunga do sentimento norte-americano. Tal comportamento, para além de obviamente inútil (Obama nem deve saber que é esse tipo chamado Cavaco) é bastante infeliz: por um lado, nada ganhamos em colarmo-nos a este ataque norte-americano (se é que os nossos interesses em países islâmicos não poderão ser postos em causa), por outro lado revela a profundidade de pensamento que vai nas cabeças dos nossos líderes: nem uma palavra quanto à inviolabilidade da vida humana, nem uma palavra quanto ao Direito.


Sobre o porquê que a morte de Bin Laden foi ilegal, recomenda-se a leitura deste artigo da New Yorker.


Antes de terminar, uma pergunta para os socialistas da nossa praça: pois que vós, os arautos da saúde pública estais tão empenhados em atacar o perigo liberal, sabeis o que estais a defender? Tendes noção?
Eu vos digo – um sistema obsoleto, gordo, ineficaz e incapaz de socorrer todos. É isto que andais a defender. Não defendeis os pobres, não defendeis quem precisa. O silêncio que fazeis sobre isto é imenso:



Falai agora. Clamai pela saúde pública e com que lata atacai os tais liberais! Que vergonha…

2 comentários:

Carlos Jorge Mendes disse...

Vejamos se compreendemos o raciocíno do Lord em toda a sua magnificência: o Lord vê um desmesurado número de portugueses correndo, espezinhando-se
para marcar uma consulta oftalmológica num hospital público. O Lord vê a azáfama e repugna-se. Os sacanas dos socialistas defendem esta trapeira
de hospital que, dentro das suas possibilidades, não acorrendo a todos, acorre à maioria. Que belo coração tem o Lord! Que coração solidário! Altruísta!O Lord indigna-se: isto não é universalidade, isto não é
igualdade. O que sugere então esse coração solidário e altruista do Lord? Raios! Que diabos!Senão há para alguns, não há para ninguém! Assim toda a gente fica sem nada!Todos iguais!Ah! Espere: não é bem assim pois sabemos
que os mais afortunados na sua algibeira tem com certeza os seus seguros de saúde pelos quais confortavelmente recebem a sua consulta oftalmológica. Assim,
de um sistema incapaz de defender a todos, o Lord defende que é melhor um sistema capaz de não acudir a ninguém.E repare, meu caro Lord: sabe qual é a causa
para a azáfama que ele ali se viveu e que a própria notícia para a qual V. Ex.ª remete, indica? Não, meu caro Lord: não é um sistema gordo, como você diz:
é antes um sistema magro porque apenas existem 52 especialistas em oftalmologia que só conseguem dar 60 mil consultas por ano. Aqui desaba toda a coerência
da argumentação de V. Ex.ª. Mas se não fosse assim, como iria você propagandear com estrondo a sua agenda?

Nelson disse...

Não, V. Exa. não percebeu o raciocínio. Com efeito, anda longe, muito longe...

Então eu explico: defendo que todos, todos mesmo, devem ter acesso a cuidados de saúde de qualidade, em tempo útil e com conforto. Julgo que aqui concordamos (mas tenho dúvidas porque para V. Exa. parece ser aceitável que, se houver algumas pessoas que fiquem sem consultas num universo amplo, tal nem é mau... É uma questão de números! É a governação da estatística à boa maneira estalinista).

Onde discordamos, certamente, é no caminho para lá chegar. V. Exa. defenderá que o Estado deve confiscar os rendimentos dos cidadãos para impor uma oferta única de saúde: a sua - uma saúde enquadrada no Estado, gorda (sim gorda porque apesar de grande fatia de orçamento que leva nem consegue dar consultas de oftalmologia a todos), ineficaz, arrogante e prepotente. Quem não quiser que vá ao privado mas que continue a pagar.

Eu? defendo a liberdade! Defendo que o Estado deve dar a quem não tem, os meios necessários para escolher onde quer ser tratado, optando de entre vários players, actuando em concorrência directa e aptos a proporcionar um serviço de qualidade. A gestão privada é sempre mais eficiente que a pública, não se esqueça disso.
Defendo a liberdade de escolha. Defendo que se a pessoa não gostar do sítio, do atendimento, dos óculos do médico, pegue no seu cheque saude (ou euros, como quiser) e vá a outra unidade.

Orgulho-me de nesta matéria ser mais coerente que V. Exa. que, alegando defender os mais necessitados, deixa-os desprotegidos.

Agora pergunto eu: se a saúde do Estado é assim tão boa porque é que os seus servidores - que têm ADSE - vão todos para o privado, a expensas do público? Se este tipo de cheque saúde vale para os funcionarios públicos porque não vale para os privados? Acaso ha portugueses de categorias diferentes?

Se quiser isto resumido, eu (mais democrata) quero é a ADSE para todos!