Acaba de findar, há poucos instantes, o debate presidencial mais aguardado e que colocava frente-a-frente os dois maiores candidatos: Manuel Alegre e Cavaco Silva. E que dizer dele? O vencedor parece-nos claro: Cavaco Silva.
Manuel Alegre, acossado pelas sondagens desfavoráveis, é um candidato a entrar na fase do desespero. Desespero porque necessita desesperadamente de um golpe de génio que inverta a tendência cada vez mais irreversível de derrota da sua campanha. Por isso, não foi de estranhar que a sua argumentação neste debate se tenha centrado sobretudo no ataque incisivo a Cavaco. Mas o seu ataque faz lembrar os ataques de D. Quixote investindo contra inimigos imaginários. A natureza da sua argumentação é em tudo semelhante: patriótico, quimérico, literário, ideando uma Política de querubins loiros, alega como se estivesse escrevendo versos. Para ele, a Política não se distingue da Literatura: imagina os Ministros cantando ao Piano, as mulheres, em volta, bebendo o champagne, efervescendo, dos flutes, e a torneira do dinheiro jorrando, continuadamente, sem cessar…Imagem idílica para se colocar entre versos. Mas irrealista no plano politico: e este é um dos maiores defeitos de Alegre: o Alegre literário, sonhador não se separa do Alegre político. E o Alegre literário e sonhador que é, simultaneamente, o Alegre político não é o mais adequado ao momento que Portugal atravessa. Também eu, outrora, ideava Portugal governado por um concilio de génios; a Política, porém, não se compadece com os sonhos alados da Poesia. E como seria bom ter um Presidente sanguíneo e viril, desancando, dando bengaladas e esmagando o lajedo com a carcaça inerte do Presidente checo só porque este insinuara umas graçolas sobre o défice público português. Mas e o que seria da imagem de Portugal do exterior?
As suas concepções económicas que ele intitula de progressistas, são retiradas dos Manuais do Bloco de Esquerda: os nossos credores não são mais do que uma cambada de especuladores vampiros que querem sugar o doce sangue da República Portuguesa. Merkel e Sarkozy considera-os simplesmente idiotas porque não partilham das suas ideias: e não necessita de explicar o motivo da sua idiotice nem tão-pouco justificar o beneficio das suas próprias concepções para Portugal e para a União Europeia porque ele, Alegre, escreveu um livro chamado «O Miúdo que Pregava Pregos numa Tábua». A sua argumentação resume-se aos velhos chavões – desemprego, pobreza, trabalhadores: os mesmos que usa Francisco Lopes.
Cavaco esteve, por isso, naturalmente, sereno: bastou-lhe rechaçar os ataques que lhe foram feitos, sem necessidade de contra-atacar. As suas ideias, as suas teorias, o seu entendimento da função presidencial parecem mais sólidas e mais racionais. Cambaleou quando interpelado da crise das supostas escutas a Belém que envolveram o seu assessor Fernando Lima, expondo a nu algumas das suas debilidades. Hesitou, gaguejando, quando questionado sobre o que representaria a sua eleição para a estabilidade governativa – que se deseja – e uma eventual dissolução do Parlamento. É, sobretudo, neste ponto que nos mostramos mais preocupados com a reeleição de Cavaco.
Este debate, no entanto, parece-me que apenas serviu para consolidar a sua vantagem que se deverá manter, mais ponto, menos ponto percentual, até ao dia 23 de Janeiro.
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